Título: Efésios — A Igreja nas regiões celestiais
Comentarista: Elienai Cabral
Lição 8: A unidade do corpo de Cristo
Data: 21 de Novembro de 1999
“Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação” (Ef 4.4).
A unidade do corpo de Cristo é manifesta na diversidade dos seus membros, os quais obedecem a cabeça que é Cristo.
Segunda — Gl 5.16,25
O andar digno do crente
Terça — Jo 14.21-23
O amor, a virtude maior
Quarta — 1Co 12.12-27
A unidade do corpo de Cristo
Quinta — Cl 3.15
O vínculo da paz
Sexta — Gl 5.22,23
O fruto do Espírito
Sábado — Ef 2.15; 4.24
A comunidade que constitui o corpo de Cristo
Efésios 4.1-6.
1 — Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados,
2 — com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
3 — procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz:
4 — há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação;
5 — um só Senhor, uma só fé, um só batismo;
6 — um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos.
Será que seus alunos já perceberam a importância que têm como parte integrante do corpo de Cristo? Eles realmente entendem que, como membros desse corpo, possuem uma função particular no desempenho do organismo? Diga-lhes que, apesar de haver um único corpo, há, porém, muitos membros, e cada um é dotado de seu próprio dom. Mas, tal como se verifica em um corpo humano, assim também se dá no caso da Igreja: todos os seus membros precisam cooperar entre si, para executarem as funções do organismo vivo. É importante lembrá-los também que, segundo o ensino de Paulo, dentro dessa unidade, no cumprimento da tarefa de cada membro do corpo é necessário pelo menos três coisas: humildade, mansidão e longanimidade.
Após esta aula seu aluno deverá estar apto a:
Resolver viver uma vida digna da vocação divina.
Destacar as qualidades espirituais da unidade em Cristo, tais como: humildade, mansidão, longanimidade e paciência.
Mencionar os fundamentos da unidade do corpo de Cristo descritos nos vv.4-6 do texto em estudo.
Nos capítulos anteriores, Paulo nos apresenta conteúdos predominantemente doutrinários: Ele mostra-nos o grande propósito de Deus em Cristo para sua Igreja; orou para que viéssemos a conhecer o seu plano maravilhoso, seu amor, seu poder e cada bênção espiritual que Ele oferece aos homens. Mas agora, Paulo escreve acerca da qualidade e tipo de vida que se requer individualmente e na comunhão da Igreja de Cristo. O apóstolo dos gentios nos convida enfaticamente a participarmos da unidade no corpo de Cristo. Se quisermos verdadeiramente conservar esta unidade em Cristo, que é a pedra de esquina, devemos perseverar na doutrina dos apóstolos e dos profetas e na obediência a seu Santo Espírito.
Utilizando o quadro de giz recomponha com a ajuda de sua classe as “sete unidades” descritas nos versículos 4, 5 e 6 do texto em estudo, a saber: um só corpo, um só Espírito, uma só esperança, um só Senhor, uma só fé e um só batismo.
Para que a aula se tome mais dinâmica, solicite a cooperação de sete alunos. Cada um deverá ir ao quadro e escrever uma das unidades.
Ainda sugerimos a seguinte atividade:
Nos versículos 1 e 2 do mesmo texto, Paulo nos faz um apelo para que andemos dignos da nossa vocação com que fomos chamados, ou seja, com toda humildade, mansidão e longanimidade. Escreva no quadro de giz ou numa cartolina estas três palavras. Depois, peça a sua classe que tente explicar o sentido de cada uma delas.
Exemplo:
Humildade ⇒ O crente precisa reconhecer que depende Deus; reconhecer a sua pequenez e a ausência de qualquer mérito diante do Senhor.
Mansidão ⇒ O crente precisa ser brando para com os homens e submisso para com Deus.
Longanimidade ⇒ O crente deve suportar a injúria e o insulto sem retaliação.
INTRODUÇÃO
No capítulo 4 Paulo faz uma transição, passando do aspecto doutrinário teológico tratado nos três primeiros capítulos, e parte para a doutrina dos deveres cristãos. Ele une doutrina e o serviço para fortalecer a praticidade do cristianismo instituído por Cristo. Portanto, o cristianismo não é constituído de um punha do de teorias, mas de deveres, isto é, a prática da doutrina ensinada. Nos primeiros dez versículos deste capítulo, Paulo sai do “todo” e parte para a individualidade.
I. O CRENTE E A UNIDADE NO CORPO DE CRISTO
1. O enfático convite para participar da unidade (v.1). O autor começa com “rogo-vos”, que, no original é parakaleo , que significa “chamar para estar ao lado de alguém para auxiliar”. Paulo faz, de fato, um apelo veemente com o sentido de encorajar e exortar aos crentes que tomem uma atitude no sentido de participarem da vida cristã em unidade. Ele se identifica, mais uma vez, como “o preso do Senhor” para fazer entender um duplo sentido. Ele era “o preso do Senhor” por amor a Cristo, mas também preso fisicamente por causa da sua lealdade a Ele, e ao evangelho que pregava. Mesmo estando distante fisicamente, Paulo sentia-se unido aos irmãos em todas as igrejas.
2. A vocação cristã (v.1). A palavra “vocação” neste versículo tem um sentido de chamamento, aquele que nos trouxe para a salvação. A Bíblia destaca três sentidos especiais sobre a “vocação com que fostes chamados”: é soberana (Fp 3.14); é santa (2Tm 1.9); é celestial (Hb 3.14).
3. A dignidade da vocação cristã (v.1). A palavra “digno” aqui refere-se ao comportamento do crente de modo a corresponder ao que Cristo tem feito por ele. Andar dignamente na vida cristã significa que, quando somos chamados do mundo para formar um povo santo e especial, Deus quer que manifestemos nossa unidade espiritual, (como é o caso de judeus e gentios), e vivamos uma vida digna da vocação divina de que fomos alvo. Agora o apóstolo Paulo passa do ensino doutrinário para a vivência desse ensino na vida diária do crente (Cl 1.10; 1Ts 2.12).
II. QUALIDADES DA UNIDADE EM CRISTO
Neste ponto encontramos as qualidades espirituais que caracterizam o crente que anda de “modo digno da vocação” (vv.1,2). São quatro qualidades da unidade em Cristo que devem ser cultivadas pelo cristão. Elas evitam que o poder da carne tome espaço na vida do crente. Elas sustentam a unidade espiritual do crente em Cristo, tais como humildade, mansidão, longanimidade e tolerância mútua (“suportando-vos uns aos outros”).
1. Humildade (v.2). É impossível que o nosso andar seja digno dessa vocação sem humildade. Essa qualidade tem a ver com a adequada e justa maneira de nos ver diante de Deus. Ninguém será digno dessa chamada com presunção e orgulho. É preciso reconhecer-se dependente de Deus. Na língua original do Novo Testamento a palavra humildade significa “modéstia”. É uma qualidade que repudia o orgulho e o egoísmo. A Igreja sempre tem unidade quando os seus membros agem com humildade (Sl 138.6; Pv 11.2; Mt 11.29; Tg 4.6).
2. Mansidão (v.2). Esse termo significa literalmente, “gentileza”, “cortesia”, “consideração”. E uma qualidade importantíssima para a preservação da unidade do corpo de Cristo, pois o inverso da mansidão é exasperação. A mansidão não discute, nem resiste, nem teima contra a vontade de Deus. A mansidão não deve ser confundida com atitude covarde nem como falta de energia para tomar decisões. A mansidão é uma virtude cristã, que pode ser produzida pelo Espírito Santo em nosso caráter para agirmos com brandura nas horas de conflitos (2Sm 16.11; Gl 6.1; 2Tm 2.25; Tt 3.2).
3. Longanimidade (v.2). Esta palavra tem sua raiz no latim longanimitate que se traduz por duas outras palavras “longo” e “ânimo”. No grego bíblico o termo é makrothumia que quer dizer “tolerância”, “paciência”, “constância”. A humildade e a mansidão transmitem a ideia de “suportar-nos uns aos outros em amor” para se viver em unidade. A longanimidade requer o equilíbrio nas ações em momentos adversos (Tg 5.10). Num mundo de tantos ódios, rancores, exasperações, a longanimidade se constitui numa qualidade vital para sobrevivência, especialmente, para a unidade do corpo de Cristo. O longânimo não se precipita em vingar o mal nem revidá-lo (Mt 5.3,5,7; 1Co 13.4; Gl 5.22; Cl 3.12).
4. Paciência (v.2). O ato de suportar as fraquezas dos outros exige do crente uma disposição altruísta, isto é, requer dele uma atitude que deseja para os outros aquilo que quer para si mesmo. É a capacidade de tolerar os mais fracos. Ela é adquirida através do Espírito Santo que vive no crente. Quando temos o verdadeiro amor tornamo-nos tolerantes, pacientes, amáveis. Paulo escreveu aos coríntios que “o amor é paciente” (1Co 13.4).
5. A preservação da unidade (v.3). São todas as qualidades apresentadas no v.2 quando produzidas pelo Espírito Santo. A prática delas fortalece a unidade da Igreja pelo Espírito mediante o “vínculo da paz”. A paz é o elo que une cada crente com os outros pelo Espírito. E o vínculo entre Deus e o crente é a unidade do Espírito, a qual não é produzida pelo homem, por esforço humano qualquer, mas pelo Espírito.
III. FUNDAMENTOS DA UNIDADE DO CORPO DE CRISTO
A “unidade do Espírito” é firmada na unidade da Trindade divina. Nos vv.4-6 encontramos algumas expressões que confirmam a unidade da Trindade, tais como “um Espírito” (v.4); “um Senhor” (v.5); “um só Deus e Pai” (v.6). Para que haja “um só corpo” (a Igreja), o exemplo maior é o da Trindade. Porém, a lição que Paulo queria ensinar nos vv.4-6 é sobre o tipo de unidade que mantém a Igreja, que é a unidade de fé e doutrina.
1. Há um só corpo (v.4). O texto de Efésios 2.15,16 apresenta o retrato da criação da Igreja, sob a linguagem figurada do “novo homem” que forma “um corpo”, o corpo místico de Jesus. A Igreja é a constituição de milhões de membros no mundo inteiro a formar “um só corpo” (Rm 12.5; 1Co 10.7; 12.12-30). Somos um só corpo, independente das diferentes denominações evangélicas, com exceção das falsas igrejas cristãs. Temos uma só cabeça espiritual: Cristo.
2. Há um só Espírito (v.4). A Igreja tem a vida do Espírito Santo. Assim como o corpo humano é dinamizado pelo espírito humano, o corpo de Cristo é dinamizado pelo Espírito Santo. É Ele, a terceira pessoa da Trindade, que dá vida ao corpo de Cristo. Só faz parte desse corpo os regenerados pelo Espírito (2Co 5.17; Rm 8.9,11; 1Co 12.12).
3. Há uma só esperança (v.4). A “esperança da vossa vocação”. Quando Deus nos chamou para a salvação tornou possível o nosso futuro em Cristo. De que valeria o cristianismo se existisse apenas o hoje, e nunca o amanhã. A obra que Cristo realizou no Calvário nos propiciou a esperança da glória. Esta esperança vem da Bíblia, a qual nos assegura que um dia teremos a libertação do corpo de pecado e a obtenção de um corpo espiritual e glorioso, o qual jamais terá dores e morte (1Ts 4.16,17; 1Co 15.44,52-54; Cl 3.4).
4. Há um só Senhor (v.5). Quem é o senhor do corpo, senão a cabeça que o comanda? Assim, Cristo é o Senhor da Igreja (Ef 1.22,23).
5. Há uma só fé (v.5). Trata-se aqui do nosso credo, aquela fé racional e espiritual que produz a vida cristã. Diz respeito ao corpo de doutrina da Bíblia que rege a vida cristã (Gl 1.23; 1Tm 3.9; 4.1; 2Tm 6.7; Jd v.3). A Igreja segue e obedece a uma só fé, isto é, tem uma só doutrina.
6. Há um só batismo (v.5). Trata-se, é evidente, do batismo como sinal físico e simbólico da nossa entrada no corpo de Cristo, e esse batismo é o realizado por imersão em água. E o símbolo da regeneração operada pelo Espírito Santo na vida do novo crente. Nós, pentecostais, cremos também no batismo no Espírito Santo como uma experiência altamente importante na vida do crente (At 2.38; 22.16; Rm 6.3,4). O batismo a que se refere à Bíblia aqui, é o batismo que dá entrada de qualquer pessoa à vida da Igreja como o corpo do Senhor.
7. Há um só Deus e Pai de todos (v.6). Há uma só família cristã abrangendo a todos os redimidos por Cristo. Deus é o Pai dessa família. Deus é Pai, tanto por geração (como Criador), quanto por regeneração (nova criação). Leia Ef 2.10; Tg 1.17,18; 1Jo 5.7.
CONCLUSÃO
Cada crente, em particular, tem responsabilidade na preservação da unidade do corpo de Cristo, colocando em prática as qualidades que sustentam essa unidade: humildade, mansidão, longanimidade e paciência.
Subsídio Teológico
“Figura bíblica da máxima relevância para representar a Igreja é o ‘corpo de Cristo’. Era a expressão predileta do apóstolo Paulo, que frequentemente comparava os inter-relacionamentos e funções dos membros da Igreja com partes do corpo humano. Os escritos de Paulo enfatizam a verdadeira união, que é essencial na Igreja. Por exemplo: ‘O corpo é um e tem muitos membros… assim é Cristo também’ (1Co 12.12). Da mesma forma que o corpo de Cristo tem o propósito de funcionar eficazmente como uma só unidade, também os dons do Espírito Santo são dados para equipar o corpo ‘pelo Espírito Santo… o mesmo Senhor— o mesmo Deus que opera tudo em todos— para o que for útil’ (1Co 12.4-7). Por esta razão, os membros do corpo de Cristo devem agir com grande cautela ‘para que não haja divisão [gr. schisma ] no corpo, mas, antes, tenham os membros igual cuidado uns dos outros’ (1Co 12.25; cf. Rm 12.5). Os cristãos podem ter essa união e mútua solicitude porque foram todos ‘batizados em um Espírito, formando um corpo’ (1Co 12.13). A presença do Espírito Santo, habitando em cada membro do corpo de Cristo, permite a manifestação legítima dessa união. Gordon D. Fee declara, com razão: Nossa necessidade urgente é uma obra soberana do Espírito para fazer entre nós o que nossa ‘união programada’ não consegue fazer” (Teologia Sistemática, CPAD, pp.544,545).
Subsídio Exegético
“A palavra grega makrothumia refere-se à paciência que temos com nosso próximo. Ser longânimo é tolerar a má conduta dos outros contra nós, sem nunca buscar vingança. Dentro em breve, os cristãos em Roma passariam por perseguições. Sob tensão e sofrimento, os cristãos podem vir a ter menos paciência uns com os outros, de modo que Paulo conclama: ‘Sede pacientes na tribulação’ (Rm 12.12). Ao ensinar sobre os dons, Paulo inicia tratando da paciência com as pessoas e termina com a paciência nas circunstâncias (1Co 13.4,7). Para nós, que formamos a Igreja, leva tempo amadurecermos através de todas as diferenças que provêm das nossas culturas, níveis educacionais e personalidades. Por isso, Paulo nos conclama a ser completamente humildes e mansos, ‘com longanimidade’ (Ef 4.2).
Para um ministério pleno no Espírito, precisamos aprender juntos e juntamente cometer enganos, crescer, perdoar e confrontar-nos com amor, sem qualquer atitude de crítica. Tudo isso, só com paciência! Sempre que o poder de Deus é manifesto é importante olharmos para Ele, e não para nossas próprias insuficiências. Assim, não agiremos precipitadamente nem iremos a extremos prejudiciais à Igreja” (Teologia Sistemática, CPAD, pp.489,490).
Altruísta: Pessoa desprendida; que tem amor ao próximo, abnegada.
Credo: Profissão de fé.
Doutrinário: Que encerra ensinamento.
Exasperar: Tornar áspero, enfurecido; irritar muito; encolerizar, enfurecer.
Longanimidade: Firmeza de ânimo.
Racional: Que usa da razão; que raciocina.
Teológico: Que diz respeito à teologia, que está conforme aos ensinamentos da teologia.
Vínculo: Relação, subordinação.
Vital: De importância capital; essencial.
Vocação: Escolha, chamamento.
1. Que expressão Paulo usou para enfatizar o seu convite à unidade?
R. Rogo-vos.
2. Quais os três sentidos especiais da vocação cristã?
R. É soberana, é santa e é celestial.
3. A que se refere a palavra “digno” no v.1?
R. Refere-se ao comportamento do crente que corresponda ao que Cristo tem feito por ele.
4. Quais são as qualidades da unidade em Cristo?
R. Humildade, mansidão, longanimidade e paciência.
5. Quais são os fundamentos da unidade do corpo de Cristo?
R. Há um só corpo, há uma só esperança, há um só Senhor, há uma só fé, há um só batismo e há um só Deus e Pai de todos.