LIÇÕES BÍBLICAS CPAD

JOVENS E ADULTOS

 

 

2º Trimestre de 2001

 

Título: Sermão do Monte — A transparência da vida cristã

Comentarista: Geremias do Couto

 

 

Lição 4: O padrão do relacionamento pessoal

Data: 22 de Abril de 2001

 

TEXTO ÁUREO

 

Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão(Mt 5.25).

 

VERDADE PRÁTICA

 

Conviver sem ressentimentos com o próximo é uma das condições para que a nossa oferta seja aceita no altar de Deus.

 

LEITURA DIÁRIA

 

Segunda — Êx 20.7

O respeito a Deus

 

 

Terça — Êx 20.16

O respeito ao próximo

 

 

Quarta — Rm 13.1-7

O respeito às autoridades

 

 

Quinta — 1Co 6.12

O respeito à liberdade cristã

 

 

Sexta — Jr 5.20-29

O respeito ao direito

 

 

Sábado — Ec 4.9,10

O respeito ao companheirismo

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

 

Mateus 5.21-26.

 

21 — Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo.

22 — Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo, e qualquer que chamar a seu irmão de raca será réu do Sinédrio; e qualquer que lhe chamar de louco será réu do fogo do inferno.

23 — Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,

24 — deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta.

25 — Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão.

26 — Em verdade te digo que, de maneira nenhuma sairás dali, enquanto não pagares o último ceitil.

 

PONTO DE CONTATO

 

A vida cristã não se resume apenas em nossa comunhão com Deus, mas também no relacionamento com nossos irmãos. Jesus valorizou a fraternidade e a comunhão entre os homens em seus ensinos, e nos mostrou um caminho alternativo para evitar as contendas. Ele não se deteve propriamente à origem delas, pois são muitas, mas destacou as maléficas consequências dos desentendimentos entre os homens.

Nos dias de Jesus, o senso de justiça baseava-se na retribuição do mal praticado, e na mesma medida. O ensino do Mestre visa demonstrar o exemplo do próprio Deus em sua misericórdia, longanimidade e bondade para conosco, em relação aos nossos pecados.

 

OBJETIVOS

 

Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:

  • Entender que os problemas do comportamento relacional precisam ser resolvidos na origem — o coração — de onde procedem as intenções humanas;
  • Estar conscientes de que a qualidade de seus relacionamentos pessoais revela como está o nível de sua comunhão com Deus.
  • Preservar o companheirismo como antídoto contra uma série de males que podem alcançar proporções trágicas.

 

SÍNTESE TEXTUAL

 

Jesus estabeleceu o padrão do nosso relacionamento com as demais pessoas, e o respeito à vida foi abordado tanto nos atos como nas palavras. Ao contrário do que ensinavam os fariseus, que toda ofensa deve ter imediata retaliação, Jesus ensinou que as pessoas devem buscar a reconciliação logo que eclodir uma ofensa, para que esta não se solidifique e nem termine em prejuízos e consequências trágicas às pessoas envolvidas. O Mestre destacou a importância do companheirismo como um fator inibidor tanto das causas como das consequências das rixas entre irmãos, e da mesma forma alertou quanto à rapidez com que as ofensas devem ser desfeitas — “concilia-te depressa” — para que a desunião não atinja os seguidores do Evangelho.

 

ORIENTAÇÃO DIDÁTICA

 

Todos os homens têm, sem dúvida, um desejo de justiça, principalmente quando ofendidos ou prejudicados por outros.

Promova um pequeno debate entre os alunos sobre o tema “Como tratar as pessoas que nos aborrecem”. A discussão deverá ser feita sob os prismas da visão humana e da visão divina a respeito do tema. Aproveite para dar oportunidade aos alunos mais tímidos. Chame-os pelo nome e peça-lhes que expressem suas opiniões.

Tente analisar também com seus alunos o seguinte questionamento: “De que forma tenho contribuído para que meu irmão se sinta ofendido comigo? Como Jesus trataria do meu caso?”.

 

COMENTÁRIO

 

INTRODUÇÃO

 

Após revelar com clareza, no Sermão do Monte, que os princípios morais do Antigo Testamento continuam em vigência nesta era, o Mestre (vv.21-26) delineou o padrão do relacionamento com o próximo, colocando-o como um dos grandes pilares da vida cristã. Isto porque o modo de tratar o semelhante, como veremos a seguir, é o ponto de partida para demonstrar se o crente está ou não vivendo segundo o Evangelho.

 

I. O RESPEITO AO PRÓXIMO

 

1. A estreita visão dos fariseus. Por seis vezes, no capítulo cinco de Mateus, o Senhor usou a expressão (ou parte dela) “ouvistes que foi dito aos antigos” ao referir-se à forma legalista como os fariseus lidavam com os preceitos da lei mosaica.

Eles emprestavam-lhe conotação estritamente jurídica, sem atentar necessariamente para a sua essência, chegando ao ponto de lhe incorporarem outros preceitos que desfiguravam os propósitos da lei e a tornavam um jugo extremamente pesado, contrapondo-se ao que Jesus propusera: descanso e alívio aos sobrecarregados (ver Mt 11.28-30).

2. O respeito à vida. Este era o caso em relação ao direito à vida. Enquanto os fariseus viam a questão somente do ponto de vista legal em que o condenado pela morte de alguém sofreria a pena prevista (v.21), Jesus tratou do problema na origem, trazendo à tona as intenções do coração (v.22) para reprovar qualquer comportamento agressivo contra o próximo (cf. Mc 7.20-23). Sob esta ótica, tirar a vida de outrem é a consequência desastrosa final de um processo que pode ter-se iniciado com uma agressão verbal aparentemente de pouca importância.

Por outro lado, quis o Senhor deixar claro que há também o assassínio psicológico. É aquele em que, mesmo não havendo o trágico desenlace do homicídio, a vida moral do próximo é destruída sem dó nem piedade mediante toda sorte de injúria, calúnia e difamação.

 

II. A REPARAÇÃO DA OFENSA

 

1. Quando reparar a ofensa. Outro propósito do Mestre foi mostrar que tal problema de comportamento precisa ser resolvido no nascedouro (vv.23,24), antes que alcance proporções trágicas no relacionamento pessoal e chegue a um ponto sem retorno (cf. Ef 4.26). Desenvolver uma convivência sem ressentimentos ou raiz de amargura é tão vital para a vida cristã que o Senhor condiciona a entrega de nossa oferta no altar de Deus a buscarmos primeiro a reconciliação com o ofendido. Tal oferta não será aceita se não tomarmos a iniciativa de reparar a nossa falta.

O altar é o lugar perfeito para o Espírito Santo trazer à nossa memória todos os pecados cometidos, inclusive contra o próximo. E ele sempre o faz quando somos sensíveis à sua presença (cf. Rm 8.26,27). A partir daí, se queremos ser sinceros com Deus, não nos aquietaremos enquanto não buscarmos fazer as pazes com a pessoa a quem ferimos. Isto significa que, se estamos em Cristo, a qualidade do nosso relacionamento pessoal indica como está o nível de nossa comunhão com Deus.

2. Porque reparar a ofensa. Por conseguinte, reparar a ofensa impõe-se pelas seguintes razões: a) a ofensa não reparada é o ponto de partida para uma série de outras situações prejudiciais aos envolvidos, entre elas as chamadas doenças psicossomáticas que muitas vezes têm origem em mágoas não resolvidas (ver Hb 12.14,15); b) a ofensa é também a causa de ressentimentos que amargam o espírito, destroem o prazer do companheirismo e resultam em atitudes rancorosas contra o próximo, e c) se a ofensa não for reparada na origem poderá ter consequências imprevisíveis, além da perda da espiritualidade.

Isto também implica em que só quando houver disposição para reparar a ofensa o crente estará apto para trazer livremente a sua oferta e ser aceito na presença de Deus. Se desejamos o seu perdão, devemos então desenvolver a capacidade de perdoar os que nos ofendem e sermos perdoados por aqueles a quem temos ofendido (ver Mt 6.12; 18.23-35).

 

III. PRESERVANDO O COMPANHEIRISMO

 

1. “Concilia-te depressa”. Em última análise, o que o Senhor ensina é a preservação do companheirismo. Esta é a melhor maneira de se evitarem incidentes no relacionamento com o próximo. Se inexiste causa — a ofensa — inexistirão os efeitos. É tamanha a urgência de se caminhar nessa direção que o Mestre enfatizou: “Concilia-te depressa” (v.25). É algo que jamais deve ser adiado, se queremos desfrutar uma melhor qualidade de vida. É já. O apóstolo Paulo interpretou a questão nos seguintes termos: “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira” (Ef 4.26).

2. “Enquanto estás no caminho”. O Senhor foi ainda além. A expressão “enquanto estás no caminho” (v.25) significa agir enquanto há tempo, antes de chegar ao tribunal. Esta é uma área em que quanto mais os dias passam, torna-se maior a possibilidade de se aprofundarem os ressentimentos, causando graves transtornos aos envolvidos. Em outras palavras, é imprescindível restaurar os relacionamentos antes que seja tarde demais e se chegue a situações irreversíveis.

3. Antes que “te encerrem na prisão”. No entanto, para não deixar nenhuma dúvida, o Senhor recorreu à linguagem dos procedimentos jurídicos (v.25) para determinar que, nesta fase diante do juiz, provada a culpa, só resta a aplicação da sentença configurada na prisão do condenado. É o ponto sem retorno onde o réu tem de arcar com todas as penas previstas em lei, isto é, pagar até o último ceitil (v.26).

A proposta de Jesus, portanto, foi evitar chegar a esta situação de onde não há mais volta. Isto revela, por outro lado, que se Deus leva tão a sério os relacionamentos humanos, ensinando sobre como restaurá-los, com mais intensidade deseja que aprofundemos a nossa comunhão com Ele. A resposta para ambas as situações é andar na luz como Deus está (1Jo 1.7).

 

CONCLUSÃO

 

Estes são os motivos pelos quais o Senhor condenou a postura legalista dos fariseus. Ela punia o ato, mas não removia a causa. Prescrevia e aplicava a pena, mas preservava a ofensa. Jesus fez o contrário: ao invés de insistir nos aspectos punitivos da lei, como os hipócritas da época, mostrou o mal na origem, apontou o caminho para extirpá-lo — a graça de Deus — e trouxe a certeza de que assim fazendo o cristão estaria em condições de experimentar um elevado padrão de santidade no relacionamento com o próximo.

 

AUXÍLIOS SUPLEMENTARES

 

Subsídio Bibliológico

 

“‘Foi dito aos antigos [...] Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar [...]’ (vv.21,22). Jesus falava a pessoas que conheciam a lei; era-lhes lida todos os sábados, nas sinagogas. A lei contra o homicídio não era parte somente da Lei de Moisés; era um dos preceitos de Noé (Gn 9.5). Mas significava muito mais do que um estatuto a observar: incluía, também, os sentimentos do coração.

1 João 3.16 merece tanta consideração entre o povo de Deus como João 3.16: ‘Nisto conhecemos o amor, em que Cristo deu a vida por nós, e devemos dar a vida pelos irmãos’.

O ódio, pode-se dizer, é como um ovo; o homicídio é como um pinto, se queremos tirar um pinto de um ovo não é necessário praticar um truque; basta guardar o ovo em lugar de temperatura própria. E se guardarmos os ovos do ódio no coração, certamente produzirão homicídio. A própria polícia não pode destruir as horrendas aves que põem ovos do roubo, do adultério, da mentira, etc., em nossos corações. Mas se deixarmos esses ovos ocuparem um lugar em nós, chocarão e produzirão esses pecados em nossas vidas. Cristo quer que os destruamos no coração antes de chocarem.

‘Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares [...] Deixa [...] vai primeiro reconciliar-te [...]’ (vv.23,24): Eis o adorador ao lado do altar. O sacerdote está oferecendo o sacrifício. Neste momento sagrado, ao começar o adorador a confessar seu pecado a Deus, Ele se lembra de seu irmão ofendido com ou sem razão. O solene sacrifício tem de esperar enquanto o adorador procura seu irmão para livrar-se do perigo mortífero que leva no coração. Só então pode ele voltar para continuar o sacrifício interrompido.

Note-se: Alegar que não podemos assistir os cultos por causa de contenda com o próximo é acrescentar pecado sobre pecado. Se meu irmão está ofendido, devo ir reconciliar-me com ele” (Espada Cortante, CPAD, pp.412,413).

 

GLOSSÁRIO

 

Aquietar: Pôr ou tornar quieto, acalmar.
Contrapor: Opor, confrontar.
Delinear: Traçar linhas gerais, esboçar.
Desenlace: Desfecho, solução.
Difamação: Ato de difamar, desacreditar.
Extirpar: Arrancar pela raiz, extrair, destruir.
Irreversível: Que não pode voltar ao estado anterior.
Nascedouro: Lugar onde se nasce.
Pilar: Coluna.
Psicossomático: Perturbação ou lesão orgânica produzida por influência psíquica.
Prescrever: Ordenar de maneira explícita, indicar com precisão.
Vigência: Tempo durante o qual uma coisa vige ou vigora.

 

QUESTIONÁRIO

 

1. O que significa, no original, a expressão “ouvistes que foi dito aos antigos”?

R. Refere-se ao modo como os mestres religiosos de então interpretavam a lei.

 

2. Segundo Mateus 11.28-30, qual foi a proposta de Jesus para a vida cristã?

R. Descanso e alívio aos sobrecarregados.

 

3. Qual o significado da expressão “enquanto estás no caminho”?

R. Antes que seja tarde demais.

 

4. Entre outras situações, em que pode resultar a ofensa não reparada?

R. Nas chamadas doenças psicossomáticas.

 

5. Que expressão do Senhor, na leitura bíblica em classe, significa agir enquanto há tempo?

R. “Enquanto estás no caminho”.