Título: Sermão do Monte — A transparência da vida cristã
Comentarista: Geremias do Couto
Lição 7: O padrão do relacionamento com os inimigos
Data: 13 de maio de 2001
“Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem” (Mt 5.44).
O padrão desejado por Jesus é que o cristão apegue-se à renúncia porque esta lhe proporciona a oportunidade de testemunhar com os próprios atos, diante dos inimigos, o seu compromisso com a cruz de Cristo.
Segunda — Lc 6.27
Amando os inimigos
Terça — Pv 24.17
Bendizendo os inimigos
Quarta — Rm 12.20
Fazendo o bem aos inimigos
Quinta — Lc 6.28
Orando pelos inimigos
Sexta — Lc 6.35
Recebendo os inimigos
Sábado — Mt 5.41
Caminhando com os inimigos
Mateus 5.38-48.
38 — Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente.
39 — Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;
40 — e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa;
41 — e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.
42 — Dá a quem te pedir e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.
43 — Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo.
44 — Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem,
45 — para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos.
46 — Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?
47 — E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?
48 — Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus.
Todos nós possuímos um senso particular de justiça, e tal juízo costuma requerer, de imediato, a reparação de uma ofensa feita contra nós. Essa reparação é popularmente conhecida como “pagar na mesma moeda”, pois esta é a reação natural do ser humano. Jesus, no Sermão do Monte, apresentou aos seus discípulos a solução divina contra o famoso “pagar o mal com o mal”: a renúncia ao direito de retaliação e a sublime atitude de amar ao próximo como a si mesmo. Como exemplo, o mestre argumentou que os publicanos — cobradores de impostos —, pessoas odiadas pelos judeus, devotavam respeito e consideração aos que os tratavam bem. Qual tem sido o nosso exemplo? Como temos nos conduzido nesse aspecto? Costumamos revidar com o mal quando somos injuriados, caluniados ou de alguma forma prejudicados por alguém?
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
O padrão divino sobre o relacionamento com os nossos desafetos começa com a renúncia. Nesse contexto, renúncia significa conter a reação imediata da retribuição do mal pelo mal, tão comum entre os homens. A renúncia oferece ao crente a oportunidade de testemunhar com suas atitudes.
Jesus também destacou em sua prédica a necessidade da imparcialidade, ou seja, fazer o bem a qualquer pessoa sem esperar qualquer recompensa ou troca de favores. De acordo com os ensinamentos do Mestre, tudo deve ser feito baseado no amor. O amor verdadeiro não é preconceituoso. Não contempla apenas as pessoas boas e agradáveis, mas acolhe inclusive os possíveis inimigos; aqueles que nos aborrecem e nos maldizem.
O cristão autêntico é um servo de Deus sempre submisso ao seu supremo e eterno Senhor, o qual fez-se servo para nos salvar e legar-nos seu exemplo.
Esta lição aborda um ponto muito importante da vida cristã: a forma como tratamos os que não nos inspiram amor, os que querem, às vezes sem motivo, nos prejudicar.
Para dar um exemplo bem prático do que Jesus ensinou acerca do relacionamento com os inimigos, leia com seus alunos Mateus 5.44 e compare com Mateus 26.48-50. Depois faça as seguintes perguntas:
Se você estivesse no lugar de Jesus, qual seria sua atitude ao constatar que aquele que se dizia seu amigo, na verdade, o traíra covardemente? Você o chamaria de amigo?
Apesar de estar sendo traído, a forma como Jesus tratou Judas condiz com o que Ele ensinou aos seus discípulos?
Esse é um exemplo a ser seguido por todos nós?
Conclua esse raciocínio dizendo que Jesus não apenas ensinou, mas deu o exemplo, amando de forma imparcial e completa, não apenas aqueles que o amavam, mas também aos que o odiavam e perseguiam.
INTRODUÇÃO
Chegamos, nesta lição, a um dos pontos mais difíceis do Sermão do Monte, porque lida com uma área extremamente delicada da vida humana: a retaliação e o relacionamento com os nossos inimigos. Retaliar é o mesmo que represália, desagravo, desforra, revide.
I. A VALORIZAÇÃO DA RENÚNCIA
1. A inconveniência da retaliação. Em primeiro lugar, percebe-se claramente que o Senhor tinha como único objetivo tratar das nossas reações estritamente pessoais e instintivas às agressões que sofremos. De modo algum estava fazendo a defesa da quebra de qualquer sistema jurídico, que prevê a aplicação de penas correspondentes aos crimes praticados, à semelhança da lei mosaica, que determinava a punição do culpado pelo “princípio da igualdade”, ou seja, “olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé” (Êx 21.24).
No Sermão do Monte, o Mestre dirigiu-se exclusivamente a um público específico — os súditos do Reino — para mostrar-lhe que a retaliação pessoal não é própria dos que seguem a Cristo. Com isto, valorizou a renúncia como uma virtude peculiar aos cristãos verdadeiros (cf. Mt 16.24).
2. O significado da renúncia. Mas o que significa a renúncia? No contexto em apreço, é a capacidade de conter a nossa reação natural de pagar na mesma moeda quando somos agredidos ou sofremos algum tipo de maldade. Segundo as leis judaicas, um homem em litígio “não podia ser despojado de suas roupas mais externas, embora pudesse sê-lo de sua roupa interior”. Neste caso, que se dê não só a vestimenta interna, mas também a capa. Que se ande não só a primeira milha, mas também a segunda (vv.40,41). Em outras palavras, o princípio aqui transparente, na nossa vida pessoal, é que não se retalia ao mal mas paga-se com o bem (ver Rm 12.21; 1Ts 5.15). A vingança pertence a Deus (Rm 12.19).
3. A importância da renúncia. A renúncia assume lugar de importância na vida cristã porque proporciona ao crente a oportunidade de testemunhar com os próprios atos o seu compromisso com a cruz de Cristo (Mt 10.38). Ela implica a certeza de que praticar a fé é mais importante do que descer ao nível da retaliação, com seus males espirituais, morais e emocionais.
Ao deixarmos de reagir com as mesmas armas ante aqueles que nos ofendem, desenvolveremos em nós mesmos um espírito nobre, ao mesmo tempo em que os ofensores ficarão desconcertados com a nossa atitude. Queiram ou não, terão de refletir, às vezes até com remorso, sobre as razões do nosso comportamento (cf. At 16.19-34).
II. A VALORIZAÇÃO DA IMPARCIALIDADE
1. A imparcialidade do bem. A seguir, no verso 42, o Senhor introduz um assunto novo no sermão. Fica claro, no texto, que não se trata apenas de pagar o mal com o bem, mas sermos também imparciais no trato com os nossos semelhantes, e não estarmos apegados de forma egoísta àquilo que nos pertence. A ideia é que precisamos ter disposição de ajudar o necessitado, mesmo que em outra circunstância ele tenha sido o nosso agressor. É a capacidade de “doar-se”, uma virtude que se está tornando rara, hoje, entre os crentes.
2. A imparcialidade do desprendimento. Outro aspecto deste princípio é a imparcialidade do nosso desprendimento. É próprio das pessoas ajudarem quando vislumbram a possibilidade de algum retorno. Mas segundo a Bíblia (ver Is 1.17) a verdadeira ajuda é aquela que se dispõe a estender a mão, independente de receber alguma coisa em troca, sabendo, por outro lado, que Deus age com justiça diante da sinceridade dos nossos atos (ver Lc 6.35; Gl 6.9).
III. A VALORIZAÇÃO DO AMOR AO PRÓXIMO
1. O amor não é preconceituoso. A seguir, vem o ponto central desta lição ao tratar o senhor do relacionamento do cristão com seus adversários. No v.43, “aborrecerás o teu inimigo”, foi um acréscimo à lei divina pelos rabinos de então. Jesus aqui estabelece quatro níveis de atitudes: a) amar os inimigos; b) falar bem dos que nos maldizem; c) fazer o bem aos que nos odeiam, e e) orar pelos que nos maltratam (v.44). Em outras palavras, os termos que o Senhor propõe são absolutos.
O propósito é inculcar em nossa mente que o amor de Deus derramado em nossos corações (Rm 5.5) não é preconceituoso, mas é capaz de ignorar as ofensas e amar os inimigos, contribuindo de todas as formas para que sejam restaurados (ver Rm 12.20; 1Co 13.4-7). Jesus cimenta seu ensino em pauta mostrando que o Pai celestial faz com que “o sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos” (v.45). E lança um repto, deixando claro que este deve ser o nosso comportamento, se queremos ser “filhos do Pai que está nos céus”.
2. O amor não é seletivo. Mais adiante, nos versos 46 e 47, para reforçar o conceito o Mestre afirma com clareza meridiana que o amor não é seletivo. Segundo ele, fácil é saudar o amigo, aquele que nos favorece, ou os próprios irmãos. É certo continuar agindo desta forma, mas o galardão está em ter a capacidade de estender a mão ao inimigo. Se ele recusar o nosso gesto, a questão foge ao nosso controle, mas naquilo que nos compete, devemos fazer o possível para ter paz com todos os homens (Rm 12.18,19).
Diante do exposto, fica a pergunta: quem poderá cumprir tais níveis de exigência? Para respondê-la, temos de voltar ao âmago do Sermão do Monte. O objetivo de Cristo não foi realçar a força da lei, porque ela não consegue remover as causas dos males e dos problemas. Desde a exposição das bem-aventuranças o Mestre veio mostrando que a raiz de tudo está no coração. As coisas têm de mudar a partir daí, pois só quando alguém se despoja de si mesmo para que Cristo seja entronizado em sua vida, poderá caminhar em busca da perfeição almejada por Deus para os que lhe servem (v.48; Fp 3.4-12).
CONCLUSÃO
O maior exemplo do que significa esta renúncia está nas palavras de George Müller, citadas por Martin Lloyd-Jones: “Houve um dia em que morri, morri totalmente, morri para George Müller e suas opiniões, preferências, gostos e vontade; morri para o mundo, sua aprovação e censura; morri para a aprovação ou condenação da parte de meus próprios irmãos e amigos. E, desde então, tenho-me esforçado tão somente para ser aprovado diante de Deus”.
Subsídio Bibliológico
“Em Mateus 5.39 onde está escrito ‘não resistais ao mal’, Jesus não está falando contra a administração da correta justiça aos malfeitores (cf. Rm 13.1-4). Os versículos que seguem (vv.43-48) indicam que Ele se refere ao caso de amarmos os nossos inimigos (v.44; Lc 6.27). Não devemos reagir com espírito de ódio contra o mal praticado contra nós, mas de maneira que demonstre que possuímos valores centrados em Cristo e no seu Reino. Nosso tratamento para com aqueles que nos fazem mal deve ser de tal modo que os leve a aceitar Cristo como seu Salvador (como exemplos desse espírito, compare Gn 13.1-13 com Gn 14.14, e Gn 50.19-21 com Gn 37.18-28; ver também 1Sm 24.26; Lc 23.24; At 7.60)” (Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, p.1395).
Subsídio Bibliológico
“A lei de Moisés exigia que as pessoas com demandas se apresentassem perante o Senhor, diante dos sacerdotes e dos juízes (Dt 19:17). Depois de ouvirem o depoimento de pelo menos duas testemunhas, a regra para a sentença dos juizes era: ‘Olho por olho...’ (Êx 21.24; Lv 24.20; Dt 19.21). Tal era em grande contraste a prática de muitos povos de então: a vida por um olho, a vida por um dente, etc. Contudo, os fariseus nem observavam a lei de olho por olho, com espírito de equidade e de justiça como o povo recebeu de Deus no tempo de Moisés. Os fariseus, no seu interesse próprio, esqueceram-se ‘do mais importante da lei... a misericórdia e o amor’.
‘Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos’ (v.44): A inclinação natural dos homens é de enfrentar a atitude agressiva do próximo com espírito de ódio e vingança. Mas somos obrigados a permitir assim ao próximo dar o tom a nossa vida? Não podemos deixar sua falta de harmonia desaparecer e responder com uma coisa de mais elevado tom? O amor que devemos deixar operar em nós não é de nós mesmos, mas é ‘derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado’ (Rm 5.5)” (Espada Cortante, CPAD, pp.418,421).
Âmago: O centro, íntimo, a parte fundamental.
Almejada: Desejada ardentemente, com ânsia.
Apreço: Consideração.
Desprendimento: Abnegação, altruísmo.
Inculcar: Dar a entender, demonstrar.
Litígio: Questão judicial, pleito, pendência.
Milha: Medida romana de 1000 passos.
Proporcionar: Dar, prestar, oferecer.
Repto: Ato ou efeito de desafiar; provocação.
Súditos: Aquele que está submetido a vontade de outrem.
Vislumbrar: Conhecer imperfeitamente.
1. Que objetivo tinha o Senhor ao tratar do nosso relacionamento com os inimigos?
R. Desestimular as nossas reações estritamente pessoais e instintivas às agressões que sofremos.
2. No comentário em apreço, qual o significado da renúncia?
R. É a capacidade de conter a nossa reação natural de pagar com a mesma moeda quando sofremos algum tipo de maldade.
3. Segundo o comentário, de que consiste a verdadeira ajuda ao próximo?
R. É aquela que dispõe a estender a mão, independente de receber alguma coisa em troca.
4. O texto da Bíblia que afirma estar o amor de Deus derramado em nossos corações é:
R. b) Rm 5.5
5. O personagem da história cristã que afirmou ler morrido totalmente para suas opiniões, preferências, gostos e Vontades chamava-se:
R. c) George Muller