Título: O sofrimento dos justos e o seu propósito
Comentarista: Claudionor de Andrade
Lição 7: Jó amaldiçoa o dia do seu nascimento
Data: 16 de Fevereiro de 2003
“Este é o dia que fez o SENHOR; regozijemo-nos e alegremo-nos nele” (Sl 118.24).
Ainda que venhamos a atravessar por dias tenebrosos, Cristo jamais nos abandonará. Ele estará conosco até à consumação dos séculos.
Segunda — Sl 18.18
O Senhor é o nosso amparo no dia da calamidade
Terça — Sl 20.1
O Senhor nos ouve no dia da angústia
Quarta — Sl 27.5
O Senhor nos guardará no dia da adversidade
Quinta — Sl 41.1
O Senhor nos livrará no dia mal
Sexta — Sl 50.15
O Senhor nos livrará no dia da angústia
Sábado — Sl 68.19
O Senhor nos cumula de bens diariamente
Eclesiastes 7.10-14.
10 — Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque nunca com sabedoria isso perguntarias.
11 — Tão boa é a sabedoria como a herança, e dela tiram proveito os que veem o sol.
12 — Porque a sabedoria serve de sombra, como de sombra serve o dinheiro; mas a excelência da sabedoria é que ela dá vida ao seu possuidor.
13 — Atenta para a obra de Deus; por que quem poderá endireitar o que ele fez torto?
14 — No dia da prosperidade, goza do bem, mas, no dia da adversidade, considera; porque também Deus fez este em oposição àquele, para que o homem nada ache que tenha de vir depois dele.
Entre as alturas da serenidade espiritual do prólogo e do epílogo, estende-se o abismo da agonia espiritual de Jó. A descida e a subida do abismo ficam marcadas por mudanças súbitas e dramáticas de temperamento espiritual. Como agiríamos se estivéssemos no lugar do patriarca?
Comece a aula perguntando a seus alunos se eles algum dia passaram por uma grande aflição. Dê oportunidade para que relatarem o que consideraram o dia de maior desespero em suas vidas. Como se sentiram e que atitude tomaram para sair da situação difícil. Após os relatos, enfatize que, mesmo sendo intenso o sofrimento, o poder de Deus é infinitamente maior.
Após esta aula, seu aluno deverá estar apto a:
O que transformou as submissas doxologias de Jó em incontidas súplicas? Teria a sua resistência espiritual se esgotado pelos dias e noites de desespero físico?
Jó está, agora, no auge da aflição. Sem saída, ele se põe a expor seu vitupério. Desesperado, ele desfia sua desventura. Quem de nós teria coragem de questioná-lo? Imaginando-se ignorado por Deus, desejou não ter nascido. Sua angústia, sofrimento e recuperação são para nós exemplo de vida. Não podemos desistir jamais. Ao contrário, devemos fazer nossas as palavras do profeta em Lamentações 3.26: “Bom é ter esperança e aguardar em silêncio a salvação do Senhor”.
Escreva no quadro-de-giz as expressões usadas por Jó para amaldiçoar o dia do seu nascimento.
Peça a seus alunos que tentem interpretar o sentido destas expressões. Exemplos:
1) “Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele (do dia), nem resplandeça sobre ele (o dia) a luz!” (v.4) — É Deus quem chama os dias na sua sucessão, assim como chama as estrelas, conforme Isaías 40.26.
2) “Contaminem-no as trevas e a sombra da morte; habitem sobre ele nuvens; negros vapores do dia o espantem!” (v.5) — Provavelmente Jó referiu-se a eclipses.
3) “Não se goze entre os dias do ano, e não entre no número dos meses!” (v.6) — Isto é, possa esse dia desaparecer do calendário, deixar de ser contado entre os alegres dias do ano.
4) “Amaldiçoem-na aqueles que amaldiçoam o dia” (v.8) — É uma referência aos encantadores, aos quais era atribuído o poder de chamar a má sorte sobre certos dias.
INTRODUÇÃO
Depois de todas as calamidades que se abateram sobre si, o patriarca Jó, diante de seus amigos, põe-se a amaldiçoar o dia do seu nascimento. Se lhe considerarmos a atitude do ponto de vista meramente humano, não há por que o censurar. Outros teriam apostatado da fé; alguns, optado pelo suicídio. O patriarca, todavia, era um servo de Deus. E, como tal, deveria até mesmo haver se abstido de amargurar-se quanto ao dia de seu nascimento; tanto este, como aquele que, agora, cobria-o de angústias e tristezas, haviam sido feitos pelo Senhor.
Longe de mim criticar a atitude de Jó! Pois não poderia suportar nem metade de suas provações. Ah! Senhor, lembra-te de que somos pó! Nesta lição, contudo, não nos limitaremos a examinar a atitude do patriarca sob a ótica puramente humana; considerá-la-emos à luz dos textos sagrados.
Talvez esteja você, em razão de alguma dificuldade, maldizendo o dia do seu nascimento. Então, acompanhe-me nesta lição, e deixemo-nos convencer por esta verdade cristalinamente bíblica: todos os nossos dias, por mais escuros que se mostrem, foram feitos por Deus. Portanto, regozijemo-nos em todos eles! Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
I. JÓ AMALDIÇOA O SEU DIA NATALÍCIO
Até este momento, portara-se Jó de maneira irrepreensível. Diante das tormentas que se haviam abatido sobre si, tivera ele a necessária ousadia de lançar-se em terra, e adorar a Deus. O autor sagrado adianta que, em tudo isso, não pecara ele contra o Senhor (Jó 1.22).
Mas, agora, já desfigurado pela doença e já não passando de uma pavorosa ruína, põe-se a amaldiçoar o seu dia natalício.
1. Jó amaldiçoa o dia do seu nascimento. “Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem! Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele, nem resplandeça sobre ele a luz! Contaminem-no as trevas e a sombra da morte; habitem sobre ele nuvens; negros vapores do dia o espantem! A escuridão tome aquela noite, e não se goze entre os dias do ano, e não entre no número dos meses!” (Jó 3.3-6).
O seu nascimento fora um momento especial para a sua família. Na noite em que ele nasceu, houve não somente luz, como música: “Ah! Que solitária seja aquela noite e suave música não entre nela!” (Jó 3.7). Todavia, almeja o patriarca, agora, não somente apagar aquela luz que lhe iluminou o nascedouro, como sufocar a melodia que lhe embalou os primeiros instantes na terra.
Quem sou eu para mitigar-lhe o sofrimento? Mas seria razoável todo aquele amargor? Responderia ele que sim, como Jonas o fez diante de sua frustração ao ver a aboboreira ressequida (Jn 4.9). Quando no auge do crisol, todas as coisas nos parecem razoáveis e lógicas. Entretanto, depois que passa a tormenta, e se vai a tempestade, percebemos quão ilógicos nos portamos (Jó 42.3).
2. Os amaldiçoadores profissionais. Insatisfeito com as próprias palavras de maldição, deseja agora o patriarca que um amaldiçoador profissional ajude-o a cobrir de impropérios o dia de seu nascimento: “Amaldiçoem-na aqueles que amaldiçoam o dia, que estão prontos para fazer correr o seu pranto” (Jó 3.8).
Infelizmente, muitos são os amaldiçoadores profissionais. Sem carteira assinada e sem contrato formal de trabalho, ajuntam-se em sindicatos, para amaldiçoar inclusive os dias. E como são competentes em seu ofício! Em suas horas extras, acabam eles por amaldiçoar as semanas, os meses, os anos e a própria eternidade.
Não se ajunte aos tais. Por mais difícil que lhe seja a situação, você só precisa de uma coisa: da bênção de Deus. Lembre-se de Paulo. Não obstante os sofrimentos, as provações e as angústias que sobre si recaíam, ainda encontrou forças para exortar-nos: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1Ts 5.18).
3. A maldição requer coisas irrazoáveis. Enquanto amaldiçoava o seu dia natalício, Jó pôs-se a requerer de Deus algumas coisas que, se atendidas, colocariam em risco a própria harmonia da criação.
Em primeiro lugar, pede ao Senhor que altere a mecânica celeste: “Escureçam-se as estrelas do seu crepúsculo; que espere a luz, e não venha; e não veja as pestanas dos olhos da alva!” (Jó 3.9). Fosse Deus ouvir a petição de Jó, haveria de tirar ao sol toda a sua claridade, e à terra, o movimento de rotação; a astronomia perderia a estabilidade (Jr 33.20,21).
Parece-lhe isto razoável? No auge da luta, reivindicamos coisas irrazoáveis e até loucas. Fosse Deus ouvir-nos, comprometeria de vez toda a sua obra. É por isto que os judeus ortodoxos costumam orar: “Senhor, jamais ouças a oração dos viajantes, a fim de que não morramos de fome”. Isto porque, todos os que viajam rogam a Deus: “Senhor, que hoje não chova”. Você sabe quantas orações dessas são feitas todos os dias? E a lavoura como haveria de vingar?
Em seguida, insta o patriarca a que o Senhor modifique as leis da biologia: “Porquanto não fechou as portas do ventre, nem escondeu dos meus olhos a canseira” (Jó 3.10). Os pais de Jó não se haviam casado? Não haviam coabitado? Então, por que Jó não haveria de ser concebido? Já pensou fosse o Senhor impedir o nascimento de todos os atribulados? O mundo estaria complemente desértico. Pois, conforme diz o salmista, o homem nasce para o enfado (Sl 90.10).
Querido irmão, Deus não precisa alterar a mecânica celeste nem contrariar as leis biológicas para resolver a sua dificuldade. Tem Ele um modo próprio e bem particular para tratar conosco e solucionar-nos todos os problemas. Não se desespere!
II. O QUE ACONTECERIA SE A SUA PETIÇÃO FOSSE OUVIDA
Ainda bem que Deus não nos ouve todas as orações. Caso o fizesse, seríamos certamente as mais infelizes das criaturas (Tg 4.1-3). Em seu grande e infinito amor, Ele, às vezes, acena-nos com um sim; outras, sinaliza-nos com um não; e, ainda, como se nos fora exercitar a paciência, tão-somente diz-nos: espere (Sl 40.1). Levemos em conta, pois, a sua soberana e inquestionável vontade (Rm 12.2).
1. Uma hipótese desastrosa. E se Deus, sabendo de antemão que Jó lhe apresentaria semelhante rogo, resolvesse não lhe permitir a concepção? Com certeza, seríamos hoje mais pobres espiritual, teológica e literariamente. Pois o Livro de Jó é considerado uma das maiores obras-primas de todos os tempos. Além disso, consideremos o problema que o livro sagrado nos elucida acerca do sofrimento do justo. E o exemplo do patriarca? Como achar semelhante paradigma de integridade, paciência e amor?
Cerceado pelo sofrimento, o patriarca rogou a Deus que lhe riscasse da história o dia de seu nascimento. O que Jó talvez ignorasse, naquele momento de angústias, era que tanto o dia de seu natalício quanto o de sua agonia haviam sido feitos por Deus. Portanto, deveria regozijar-se neles. Em sua epístola aos filipenses, Paulo, em diversas ocasiões, exorta seus leitores a se alegrarem no Senhor (Fp 4.4).
O Cristianismo é a religião da alegria e do regozijo. Aleluia!
CONCLUSÃO
Espero que você tenha prestado atenção à Leitura Bíblica em Classe desta lição. Nestes poucos versículos, aconselha-nos o sábio rei de Israel a alegrar-nos até mesmo nos momentos de dor e de profunda agonia: “No dia da prosperidade, goza do bem, mas, no dia da adversidade, considera; porque também Deus fez este em oposição àquele, para que o homem nada ache que tenha de vir depois dele” (Ec 7.14).
Somos tomados, às vezes, por um saudosismo injustificável. Isto, porém, se acha em desacordo com a verdadeira sabedoria: os dias passados não foram melhores do que os de hoje. Cada dia tem a sua dose de cuidado e de estresse. Se no pretérito nos alegramos, no presente devemos regozijar-nos. E que jamais venhamos a pedir ao Senhor que nos risque algum dia de nossa vida.
Caso esteja você passando por alguma dificuldade, ou se ache no crisol, não se desespere: “Este é o dia que fez o SENHOR; regozijemo-nos e alegremo-nos nele” (Sl 118.24).
Subsídio Teológico
“Deus pode responder não às nossas orações, apesar do nosso choro e clamor. Pode recusar-se a atender nossos pedidos, mas nunca deixará de nos amar e tampouco nos fará algum mal. É preciso fé para crer dessa perspectiva, é claro, quando as circunstâncias indicam o contrário. Quando Jó esforçou-se para interpretar sua situação, acusou a Deus de não responder às suas orações, e mesmo de atacá-lo: Clamo a ti, mas tu não respondes; estou em pé, mas para mim não atentas. Tornaste-te cruel contra mim; com a força da tua mão resistes violentamente (Jó 30.20,21).
Jó ainda não havia entendido a realidade dos fatos. Embora Deus estivesse permitido que o diabo o tentasse por um tempo, o Senhor não havia atacado seu servo. Apesar de não ter respondido quando e como Jó pedira, Ele não o estava menosprezando. Finalmente, Jó veio a entender a graça de Deus, mas no auge de sua dor, sua falta de perspectiva dominou completamente sua fé. É surpreendente que, mesmo não vendo a resposta para seus fervorosos pedidos, Jó não tenha desistido de buscar a Deus.” (Quando Deus Diz Não. CPAD, pp.143,160,161).
Abstido: Que se absteve ou abstém; contido, reprimido.
Almejar: Desejar ardentemente, com ânsia; ansiar.
Auge: O ponto mais elevado; culminância.
Biologia: Estudo dos seres vivos e das leis da vida.
Coabitar: Ter relações sexuais habituais, lícitas ou não, com pessoa do sexo oposto.
Concepção: O ato ou efeito de conceber ou de gerar (no útero); geração.
Elucidar: Tornar compreensível; esclarecer; explicar.
Estabilidade: Qualidade de estável; firmeza, solidez, segurança.
Instar: Pedir com insistência; solicitar reiteradamente; insistir.
Lógica: Parte da filosofia que estuda as leis do raciocínio.
Mitigar: Abrandar; suavizar, abrandar, aliviar; diminuir.
Ótica: Maneira de ver, de julgar, de sentir; conceito ou ideia particular.
Paradigma: Modelo, padrão, estalão.
Pretérito: Que passou; passado.
Judaísmo Ortodoxo: Corrente que se opõe a qualquer mudança extrema nos ritos e costumes, embora apregoe ser o Judaísmo sensível à evolução religiosa, moral, social e econômica do povo judeu.
1. Por que Jó amaldiçoou o dia do seu nascimento?
R. Porque estava sendo desfigurado pela doença, além da ruína familiar, material.
2. O que recomenda o salmista?
R. “Este é o dia que fez o SENHOR; regozijemo-nos e alegremo-nos nele” (Sl 118.24).
3. O que teria acontecido caso Deus ouvisse a petição de Jó?
R. Seríamos mais pobres espiritual, teológica e literariamente, pois não contaríamos com o livro de Jó.
4. O que recomenda Salomão em seu Eclesiastes?
R. “No dia da prosperidade, goza do bem, mas, no dia da adversidade, considera; porque também Deus fez este em oposição àquele, para que o homem nada ache que tenha de vir depois dele” (Ec 7.14).
5. Como devemos agir nos dias que parecem tristes e atribulados?
R. Não desesperar. Regozijemo-nos no Senhor.