Título: O sofrimento dos justos e o seu propósito
Comentarista: Claudionor de Andrade
Lição 12: A teologia que mais pergunta que responde
Data: 23 de Março de 2003
“Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1Co 1.25).
Os planos de Deus, embora pareçam ilógicos e até loucos, não podem ser desprezados: cada um deles tem um grandioso e insondável propósito.
Segunda — 1Rs 3.28
A sabedoria de Deus é justa
Terça — 1Co 1.21
A sabedoria de Deus é salvadora
Quarta — 1Co 1.24
A sabedoria de Deus é poder
Quinta — 1Co 2.7
A sabedoria de Deus é eterna
Sexta — Ef 3.10
A sabedoria de Deus é multiforme
Sábado — Pv 8
O cântico da sabedoria
Jó 38.1-20.
1 — Depois disto, o SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho e disse:
2 — Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?
3 — Agora cinge os teus lombos como homem; e perguntar-te-ei, e, tu, responde-me.
4 — Onde estavas tu quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência.
5 — Quem lhe pôs as medidas, se tu o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel?
6 — Sobre que estão fundadas as suas bases, ou quem assentou a sua pedra de esquina,
7 — quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam?
8 — Ou quem encerrou o mar com portas, quando trasbordou e saiu da madre,
9 — quando eu pus as nuvens por sua vestidura e, a escuridão, por envolvedouro?
10 — Quando passei sobre ele o meu decreto, e lhe pus portas e ferrolhos,
11 — e disse: Até aqui virás, e não mais adiante, e aqui se quebrarão as tuas ondas empoladas?
12 — Ou desde os teus dias deste ordem à madrugada ou mostraste à alva o seu lugar,
13 — para que agarrasse nas extremidades da terra, e os ímpios fossem sacudidos dela?
14 — Tudo se modela como o barro sob o selo e se põe como vestes;
15 — e dos ímpios se desvia a sua luz, e o braço altivo se quebranta.
16 — Ou entraste tu até às origens do mar, ou passeaste no mais profundo do abismo?
17 — Ou descobriram-se-te as portas da morte, ou viste as portas da sombra da morte?
18 — Ou com o teu entendimento chegaste às larguras da terra? Faze-mo saber, se sabes tudo isto.
19 — Onde está o caminho da morada da luz? E, quanto às trevas, onde está o seu lugar,
20 — para que as tragas aos seus limites, e para que saibas as veredas da sua casa?
Converse com seus alunos sobre a forma como Deus aproxima-se de Jó no verso 3 do capítulo 38. Note que antes de argui-lo, Deus o anima elevando sua autoestima embora seus quatro amigos o desencorajassem trazendo-lhe à memória, insistentemente, supostos pecados. Veja outros exemplos bíblicos onde Deus, antes de dirigir-se às pessoas, determinava que se colocassem de pé. A autocomiseração não Lhe agrada. Quem confia em Deus mantém a cabeça erguida, ainda que o adversário lhe faça veemente oposição. Esclareça que autoestima elevada, para o cristão, não é sinônimo de arrogância mas sim de confiança.
Após esta aula, seu aluno deverá estar apto a:
Após ouvir os discursos enfadonhos de seus quatro amigos, Jó, agora, é visitado pelo próprio Deus. Sem demandas, sem forças, sem argumentos espera ele apenas que a justiça divina o alcance. Utilizando o método da arguição, Deus o interpela trazendo-lhe à memória Sua eterna sabedoria e poder. Através de perguntas o induziu a vê-Lo de forma ampla e profunda resgatando-lhe a dignidade e a visão espiritual obscurecida pelo sofrimento.
Como podemos constatar através desta lição, o método de perguntas e respostas ou arguição vem sendo utilizado desde os primórdios da humanidade. Deus mesmo o utilizou nos últimos episódios da história de Jó, quando estava prestes a “virar” seu cativeiro. Arguir não é tão fácil como se imagina, pois quem o faz espera que a pessoa arguida sempre apresente boa e precisa argumentação. Ou seja, não é o mesmo que simplesmente responder a uma pergunta, mas denota explicar, justificar, argumentar sobre as questões propostas.
Este método é muito eficiente, e sua eficácia reside no fato de que as perguntas são sempre desafiadoras. Segundo o professor Antônio Tadeu Aires, “a mente, neste caso, não apenas recebe informações, mas analisa e pondera. Existe um processo de reflexão, análise e avaliação que ocorre no cérebro do aluno enquanto ele recebe a pergunta, medita nas implicações e verbaliza a resposta”.
INTRODUÇÃO
O discurso de Eliú, qual arroio que se avoluma num grande e incontrolável rio, deságua em Deus que, em sua imensidade, dirigir-se-á a Jó, a partir de agora, não através de um mensageiro humano, mas pessoalmente. Não foi o que pedira o patriarca no auge de sua angústia? (Jó 10.2)
Jó vira-se constrangido a sofrer as teologias de Elifaz, Bildade e Zofar. Calado, suportara o longo e persuasivo discurso do jovem teólogo Eliú. A partir deste momento, ouvirá a Deus. Não quer o paciente homem de Uz apresentar suas demandas ante o Todo-Poderoso? Então, que o faça!
Assim também nós. Provados, enfileiramos diante do Senhor virtudes e predicados; apresentamos-lhe a excelência de nossa justiça; exibimos-lhe a correção de nossa crença. E, resguardados pela razão, supomos não ser Deus razoável. Por que permitira Ele viéssemos a sofrer de tal maneira? Ao abrir sua Palavra, contudo, redescobrimos o óbvio: Deus sempre tem razão mesmo quando parece nada razoável.
É o que constatará o patriarca Jó nesta lição.
I. DEUS APARECE A JÓ
Depois do discurso de Eliú, eis que o Senhor, de um redemoinho, aparece a Jó (38.1). Esperava ele ver o Senhor, naquele momento? Justamente quando não tinha mais argumentos? Se diante de Eliú, não tinha o patriarca mais discurso, como se haverá, agora, ante o Todo-Poderoso Deus?
1. Jó se prepara para ouvir a Deus. Estas são as primeiras palavras que o Senhor dirige ao patriarca: “Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? Agora cinge os teus lombos como homem; e perguntar-te-ei, e, tu, responde-me” (Jó 38.2,3).
Em primeiro lugar, deveria Jó saber que nada sabia, embora pensasse tudo entender. Até este instante, agira presumidamente, armando-se de palavras que não retratavam, necessariamente, o verdadeiro conhecimento divino. Não interviesse o Senhor na vida do patriarca, tornar-se-ia ele tão especulativo quanto Elifaz, tão imaginoso como Bildade e tão incoerente quanto Zofar. Por conseguinte, eis a oportunidade de Jó firmar-se, de vez, no legítimo conselho de Deus.
Ato contínuo, ordenou-lhe o Senhor cingisse os lombos, a fim de que lhe ouvisse as palavras. Entretanto, como levantar-se e cingir-se se não passava de ruínas? Deus, porém, não o via assim. Via-o como alguém feito à sua imagem e conforme à sua semelhança.
Deus não nos quer acabrunhados, como se já não nos restasse esperança alguma. Mesmo na hora da morte, insta-nos a que, em atitude de fé, repousemos em Cristo Jesus (At 7.60). Não fique prostrado! Levante-se! Firme-se na Palavra de Deus: “Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do SENHOR vai nascendo sobre ti” (Is 60.1).
II. QUANDO AS PERGUNTAS SÃO MAIS IMPORTANTES DO QUE AS RESPOSTAS
Já devidamente aprumado, e já convenientemente cingido, prepara-se Jó para ouvir a Deus. Não espera você uma resposta de Deus? Às vezes, porém, Ele mais pergunta que responde.
1. A teologia da pergunta. Você não se surpreendeu quando, pela primeira vez, seu filho pôs-se a crivá-lo de perguntas? Certamente, ele lhe encarreirou todas aquelas perguntas, algumas até embaraçosas, porque buscava entender o Universo. Mas, o que faria você, se o próprio Criador do Universo começasse, de repente, a enfileirar-lhe as perguntas que só Ele é capaz de responder? Se você sentiu-se acuado diante das indagações de seu filho, como se haverá ante as perguntas do Pai Celeste?
Esta é teologia de Deus! Uma teologia que, às vezes, mais indaga que responde. Se Jó procurava respostas, encontra agora perguntas; mas, nestas: a luz de que tanto necessitava. A iluminação divina nem sempre se acha na resposta (Gn 3.9; 1Rs 19.13; Lc 18.40-43).
2. As perguntas de Deus. Falta-nos espaço para alinharmos, aqui, todas as perguntas que o Senhor Deus fez a Jó. E este, que julgava ter respostas, emudece diante das perguntas do Deus que responde:
a) Sobre a criação da terra: “Onde estavas tu quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência. Quem lhe pôs as medidas, se tu o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre que estão fundadas as suas bases, ou quem assentou a sua pedra de esquina, quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos e de Deus rejubilavam?” (Jó 38.4-7).
b) Sobre os animais: “Sabes tu o tempo em que as cabras monteses têm os filhos, ou consideraste as dores das cervas? Contarás os meses que cumprem ou sabes o tempo do seu parto? Elas encurvam-se, para terem seus filhos, e lançam de si as suas dores. Seus filhos enrijam, crescem com o trigo, saem, e nunca mais tornam para elas. Quem despediu livre o jumento montês, e quem soltou as prisões ao jumento bravo, ao qual dei ao ermo por casa e a terra salgada, por moradas?” (Jó 39.1-6).
c) Sobre a soberania divina: “Porventura, o contender contra o Todo-Poderoso é ensinar? Quem assim argúi a Deus, que responda a estas coisas” (Jó 40.2).
d) Sobre a justiça divina: “Porventura, também farás tu vão o meu juízo ou me condenarás, para te justificares? Ou tens braço como Deus, ou podes trovejar com voz como a sua?” (Jó 40.8,9).
O que poderá Jó responder ao Todo-Poderoso?
III. QUANDO AS RESPOSTAS HUMANAS SE CALAM
Diante das perguntas que lhe faz o Senhor, o paciente patriarca se cala. Em seu silêncio, porém, Jó vai se convencendo da sublimidade da justiça divina e da transitoriedade da humana. Não sabia ele ser o Todo-Poderoso justo e excelso? Teoricamente, sim; experimentalmente, não.
1. Jó se humilha diante do Senhor. Não mais podendo resistir a divina sabedoria, Jó humilha-se diante do Supremo Deus: “Eis que sou vil; que te responderia eu? A minha mão ponho na minha boca. Uma vez tenho falado e não replicarei; ou ainda duas vezes, porém não prosseguirei” (Jó 40.4,5).
Tem você se humilhado diante do Senhor? Tem se curvado ante a sua excelsa face? Atentemos a esta exortação de Pedro: “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte” (1Pe 5.6).
2. Do natural ao sobrenatural. Deus usou o método indutivo Para conduzir a seu servo Jó a um conhecimento mais profundo. Fez-lhe perguntas acerca da natureza, a fim de que ele, ouvindo-as e maravilhando-se, viesse a pisar o terreno do espiritual. É o que constataremos na lição do próximo domingo.
CONCLUSÃO
Nem sempre teremos as nossas perguntas respondidas. Todavia, nosso Pai Celeste, através daquela pedagogia que somente Ele possui, conduzir-nos-á a compreender as maravilhas de sua Palavra.
Até mesmo nas perguntas de Deus, encontramos as respostas de que tanto carecemos. Aleluia! Atentando ao que lhe perguntou o Senhor, começou Jó a encaminhar-se para a completa restauração.
Subsídio Teológico
“Quem é este Deus do universo, que se inclina para interromper a eternidade com a gloriosa aurora de sua história?
Quem é este Deus de glória, cuja simples presença pode nos:
Preencher o vazio…
Curar ao que está enfermo…
Perdoar o pecador…
Libertar o amargurado…
Dar propósitos aos sem objetivos…
Ajudar aos que estão sem socorro…
Dar coragem àqueles que temem…
Dar força aos que estão fracos…
Transmitir realidade aos religiosos…
Dar esperança aos insensíveis…
Quem é esse Deus? Quem é este a quem podemos conhecer?
A gloriosa aurora da história de Deus começa com a atordoante — embora profundamente simples — afirmação de que, no princípio, Ele criou tudo o que existe (Gn 1.1), o que significa que no princípio, Ele já estava lá. Ele é eterno” (A História de Deus. CPAD, XX — prólogo).
Acabrunhado: Abatido, enfraquecido, quebrantado, prostrado.
Arguição: Situação em que os litigantes apresentam razões de fato ou de direito produzidas em juízo.
Auge: O ponto mais elevado; culminância, apogeu.
Cerva: A fêmea do cervo.
Cingir: Prender ou ligar em volta.
Cordel: Corda muito delgada.
Crivar: Furarem muitos pontos.
Ermo: Lugar sem habitantes.
Lombo: dorso, costas.
Persuasivo: Que convence ou induz.
Presumidamente: Visto antecipadamente,
Óbvio: Que está evidente, diante dos olhos, de fácil compreensão.
Razoável: Ponderado, sensato.
Resguardado: Abrigado, guardado cuidadosamente.
Transitoriedade: Passageiro, de pouca duração.
Razão: Faculdade que tem o ser humano de julgar e ponderar ideias universais. Raciocínio, juízo. É a capacidade de se estabelecer relações lógicas. Ela não pode contrapor à Palavra de Deus (Rm 12.1,2).
Método Indutivo: Meio de aprendizagem em que, de fatos particulares, se tira uma conclusão genérica. Através da indução, chega-se a uma verdade universal ou uma proposição geral com base no conhecimento de certo número de dados singulares ou de proposições de menor generalidade.
1. De acordo com a lição, o que é a teologia de Deus?
R. É a teologia que indaga sem levar em conta respostas.
2. De que forma Deus apresenta a verdadeira teologia?
R. Em forma de arguição.
3. Quantas perguntas de Deus conseguiu Jó responder?
R. Nenhuma.
4. Por que as perguntas de Deus bastam-se a si mesmas?
R. Porque trazem embutidos os questionamentos que inquietam o ser humano.
5. Mesmo sem ter qualquer resposta, Jó conseguiu entender as perguntas de Deus?
R. Sim.