Título: E agora, como viveremos? — A resposta cristã para os tempos de crise e calamidade moral
Comentarista: Geremias do Couto
Lição 1: A Igreja ante os desafios dos últimos dias
Data: 02 de outubro de 2005
“Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele” (Cl 1.16).
Precisamos, quais atalaias do Senhor, anunciar claramente os sinais dos tempos assim como Jesus fez repetidas vezes.
Segunda — Cl 1.13-17
O propósito de Deus para a Criação
Terça — Gn 1.26-31
O lugar do homem na Criação
Quarta — Sl 47
Deus em ação através da história
Quinta — Jo 17.14-25
O mundo opõe-se a Deus e ao seu povo
Sexta — 1Pe 1.23-25
A universalidade dos princípios bíblicos
Sábado — Ap 11.15-19
O triunfo final do Reino de Deus
47, 77 e 107 da Harpa Cristã.
2 Timóteo 3.1-5.
1 — Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos;
2 — porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos,
3 — sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons,
4 — traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus,
5 — tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.
Caro professor, nestes três últimos trimestres, estudamos importantíssimos temas ligados à Teologia Cristã. O primeiro deles, O Fruto do Espírito, está vinculado a Pneumagiologia (Doutrina do Espírito Santo). O segundo, As Parábolas de Jesus, está relacionado à Exegese Bíblica, enquanto o terceiro, I e II Tessalonicenses, ao Comentário Bíblico. No quarto e último trimestre deste ano, estudaremos um tema atualíssimo e inédito em Lições Bíblicas. Trata-se de um assunto referente à Filosofia e à Fé Cristã intitulado: “E Agora, Como Viveremos?”. Será uma excelente ocasião para crescermos na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo e compreendermos os grandes desafios culturais, religiosos e filosóficos de nosso tempo à luz das Escrituras. Reúna-se com os outros professores e debata os temas coletivamente, a fim de que juntos possam trocar informações, aprender e chegar a um consenso acerca deste assunto.
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
O objetivo principal desta lição é enfatizar que as diretrizes bíblicas para o homem continuam imutáveis e pertinentes aos dias de hoje, mesmo que o secularismo lute para sufocar a mensagem cristã.
O tema da presente lição divide-se em três tópicos: descrição das principais características dos tempos pós-modernos; os desafios das visões conflitantes de mundo (cosmovisões); e os desafios das interpretações, visões e atitudes provenientes de diferentes culturas (multiculturalismo).
No tópico inicial, são apresentadas duas características dos tempos pós-modernos: a centralização da sociedade no homem (antropocentrismo) e a ausência de verdades e valores morais absolutos (relativismo). No segundo, o modo como os naturalistas compreendem o mundo (cosmovisão) é contrastado com a teologia criacionista judaico-cristã. Segundo esta teoria bíblica, o homem e o mundo foram criados por Deus com um propósito, no entanto, conforme os naturalistas, o homem e o mundo são produtos do acaso. Por fim, no terceiro tópico, o multiculturalismo é explicado com o intuito de o crente ser desafiado a expressar sua fé em meio à diversidade cultural.
Professor, a fim de que os alunos compreendam a passagem da Modernidade para a Pós-modernidade, sugerimos um Quadro Antitético a respeito desses dois períodos. Como você já sabe, este recurso procura apresentar os contrastes entre dois elementos com o objetivo de ressaltar suas qualidades opostas. Procure adequar a confecção do gráfico abaixo aos recursos didáticos de que sua igreja dispõe.
Antes de apresentar o gráfico, explique à classe que atualmente os sociólogos e filósofos estão de acordo que o nosso mundo, principalmente o Ocidental, está experimentando profundas transformações. Isto significa que assim como o mundo passou da Idade Média para a Idade Moderna, estamos passando da Modernidade para a Pós-modernidade. Assegure aos alunos que por ser este um período de transição entre uma era e outra, muitos fatos ainda não estão claros.
INTRODUÇÃO
O texto bíblico da lição desta semana (2Tm 3.1-5) trata do modo de proceder de pessoas da igreja que, sob o aparente compromisso com a fé (v.5), fazem dela instrumento para acobertar seus pecados, usos e práticas reprováveis diante de Deus, na sua conduta pessoal, no seu testemunho, no procedimento doméstico, no trato com o próximo e na sua religião simulada, como se fosse a verdadeira (Tg 1.21-27). Os tais negam a eficácia da piedade, isto é, da santidade de vida. Tudo isto, por si só, demonstra os perigos e a gravidade da época presente. O fato predito no v.5 só pode ocorrer dentro da igreja.
Pela vívida descrição bíblica já esboçada, a passagem também retrata sem retoques a infeliz realidade dos tempos pós-modernos, que serão o tema das lições deste trimestre. Nunca ocorreu, em toda a história, uma época semelhante aos dias atuais, onde é nítida a ausência de valores, a saber, de sentimento, decoro, vergonha, moral, caráter, respeito e temor de Deus. Tais atributos constituem os verdadeiros alicerces para a vida individual e em sociedade. Contudo, o que se vê é o menosprezo a quem ainda se apega a esses princípios de vida e conduta estabelecidos por Deus, tidos pelos opositores da fé em Cristo como retrógrados, sem conteúdo ou sentido algum para a presente geração.
I. CARACTERÍSTICAS DOS TEMPOS PÓS-MODERNOS
Sabemos que a humanidade experimentou diferentes momentos ao longo de sua história, com características bastante específicas que contribuíram para distinguir de forma clara uma época da outra.
A Era Moderna, por exemplo, teve como marca o avanço do conhecimento humano, o advento da industrialização, a predominância da luta ideológica, a expansão da fé cristã ao redor do mundo, a proliferação das seitas e a aceitação das religiões orientais pelo ocidente.
Já os tempos pós-modernos, nos quais estamos vivendo, são assinalados pelo progresso, mas sobretudo pelos conflitos e contradições oriundas da Era Moderna, e possuem, por isso mesmo, características bastante peculiares. Pelo Espírito, Paulo, o homem de Deus, viu esses males da presente era dos “últimos dias” (v.1), que precedem a volta do Senhor, e previne os fiéis. Em todas essas épocas, e muito mais na atual, o homem vive a se gabar do seu grande conhecimento e de seus feitos tecnológicos. Todavia, ele continua a regredir na verdadeira sabedoria, na retidão e moralidade, em virtude de uma vida sem Deus e de progressiva prática do pecado. Ver Rm 3.9-18; Ef 4.17-31.
1. Uma sociedade centrada no homem. Em primeiro lugar, a sociedade pós-moderna tem como base a célebre declaração de que “o homem é a medida de todas as coisas”. Isto pressupõe a predominância da filosofia humanista que o coloca como o centro do Universo em flagrante contraste com o ensino bíblico de que todas as coisas foram criadas para a glória de Deus (Sl 73.25; 1Co 10.31; 1Pe 4.11).
A expressão que melhor se adapta a esse perfil, na leitura bíblica em classe, é “amantes de si mesmos” (v.2). Tais homens consideram-se pequenos deuses capazes de impor a própria vontade como se esta fosse completa e suficiente para as realizações humanas. À semelhança de Satanás (Is 14.12-15), usurpam para si o direito de soberania que pertence exclusivamente ao Todo-poderoso.
2. Uma sociedade centrada no relativismo. Em segundo lugar, prevalece na sociedade pós-moderna o relativismo. Sob essa ótica, não há lugar para os valores absolutos, isto é, os princípios e ensinos imutáveis da Palavra de Deus, válidos para “todas as pessoas, em qualquer época e em todos os lugares”. Estes são qualificados como impróprios por aqueles que vivem ao sabor de suas concupiscências e são prisioneiros do contexto e das convenções sociais do momento, pois “tolhem” a liberdade de tais pessoas (Rm 1.18-32).
Não havendo, segundo a visão humanista pós-moderna, um padrão normativo universal, abre-se um precedente para a desordem moral e social tão em voga no mundo contemporâneo. Cada um faz o que melhor lhe parece, ao fixar suas próprias normas de conduta.
Afinal, como apregoam os que vivem na zona cinzenta, onde o certo e o errado se confundem, onde tudo é relativo (Gn 19.1-11; Jz 2.11; 3.7; 4.1; 10.6), não há nenhuma lei superior que lhes diga o que fazer. O que lhes importa é priorizar o hedonismo. O prazer e a alegria dos tais são ilusórios e pecaminosos, porquanto não provêm de Deus (v.4 da leitura bíblica em classe).
II. O DESAFIO DAS COSMOVISÕES DA HUMANIDADE
O quadro caótico tão bem descrito pelo apóstolo Paulo na leitura bíblica em classe retrata o comportamento da sociedade nos últimos dias. É o resultado da forma como as pessoas veem o mundo. A isso chamamos cosmovisão. Em linhas gerais, a cosmovisão de cada indivíduo se constrói a partir de sua herança cultural, religiosa e social. Se tal pessoa conhece a Deus, teme a Ele e vive para Ele, é tudo muito diferente. O legado recebido pelo homem desde a sua infância influencia o modo como ele se relacionará com o mundo (Pv 22.6). Há duas grandes cosmovisões em conflito.
1. A cosmovisão naturalista. Esta primeira forma de o ser humano considerar o universo é humanista, antibíblica e anticristã. Ela exclui Deus como o Criador de todas as coisas e acredita que o Universo e o homem são produto do acaso. Seus seguidores são avessos ao conceito da soberania divina e tratam a existência da humanidade como decorrente da evolução das espécies, o que significa igualar a espécie humana a qualquer outra. Assim, a criação do homem para os tais não provém de Deus, mas de fenômenos aleatórios. Isso é fruto da ignorância e do embrutecimento do homem como resultado do seu afastamento e abandono de Deus. É a lei da sementeira e colheita (Gl 6.7-9).
2. A cosmovisão judaico-cristã. Os pontos principais da cosmovisão judaico-cristã procedem das Sagradas Escrituras: Deus é o Criador de todas as coisas (Gn 1.1), há um propósito soberano em toda a obra criada (Cl 1.13-17; Pv 16.14; Is 43.7; Rm 11.36) e leis morais como padrão de conduta para todo o ser humano (Êx 13.9; Mt 5; 6; 7).
Por ser fruto da revelação bíblica, esta cosmovisão é questionada por aqueles que excluem Deus da história. “Se o mundo existe independente de um Criador — afirmam — nenhuma reivindicação de planejamento e propósito para o Universo e o homem faz sentido”. Contudo, a cosmovisão judaico-cristã é a única que explica com lógica perfeita a criação de todas as coisas e retrata na exata perspectiva a existência humana (Jó 12.9,10; At 17.24-26).
Por que, então, os homens preferem o tortuoso caminho da cosmovisão naturalista, ímpia, incrédula e herética para explicar o mundo? Porque o “deus deste século” cegou-lhes a mente a fim de que não compreendam a verdade da revelação divina (2Co 4.4). Não é de estranhar, portanto, que a humanidade esteja como está, na podridão moral, pois são pessoas com essa visão do mundo (a cosmovisão naturalista) que ocupam lugares estratégicos na formulação do pensamento norteador da vida em sociedade (1Jo 5.19).
III. O DESAFIO DO MULTICULTURALISMO
1. A essência do multiculturalismo. Um outro desafio para o autêntico cristão da atualidade é o do multiculturalismo, que é, em essência, a assimilação mútua de modelos culturais diversos entre os povos em virtude do fenômeno mundial da globalização.
Saiba-se que por trás do multiculturalismo está camuflado o paganismo ímpio e hostil a Deus, a negação dos valores divinos e a teoria maldita e sutil da verdade relativa. O multiculturalismo deixa claro que não há nenhuma verdade universal. As verdades são particulares e relativas e cada povo tem a sua forma de acatá-las e expressá-las, contradizendo, assim, abertamente a verdade de Deus (Rm 1.24,25).
2. A fé cristã e o multiculturalismo. Surge, então, a grande pergunta: como expressar a fé bíblica e cristã em meio ao generalizado multiculturalismo pós-moderno? Embora o quadro que acabamos de pintar mostre uma realidade repulsiva e reprovável, Deus nos chamou para viver a fé cristã nesta época da história. Precisamos discernir em cada cultura aquilo que é “bíblico, extra-bíblico e anti-bíblico”, e equiparmo-nos com os necessários e devidos meios e instrumentos para a proclamação da verdade divina sob a unção do Espírito Santo que nos capacita para isso.
CONCLUSÃO
Os desafios do pós-modernismo estão aí em resumo. Nas próximas lições, veremos os seus desdobramentos a fim de que nossa mensagem seja pertinente ao mundo contemporâneo. Que o crente não se contamine no seu múltiplo convívio entre os seus semelhantes, nem venha a negar a eficácia de nossa santíssima fé (v.5; Jd v.20).
Subsídio Histórico
“A expressão ‘pós-modernidade’ tornou-se jargão entre pregadores e professores que na maioria das vezes ignoram o sentido filosófico do termo. Alguns teóricos falam em pós-modernidade para se referirem à crise do capitalismo e do socialismo entre o fim da 2ª Guerra Mundial (1939-1945) e o início da década de 50. Contudo, o termo é usado a fim de identificar a fase posterior ao modernismo. Atualmente, a Pós-modernidade é entendida em duas perspectivas: como anti-modernidade e como sobre-modernidade. A pós-modernidade como anti-modernidade é um movimento de descontinuidade — uma ruptura completa com todos os postulados da Era Moderna; considerando os pressupostos e teses desta como mitos e profetizando sua descentralização e ruína. A pós-modernidade como sobre-modernidade, entretanto, considera os aspectos positivos da modernidade, suas conquistas e projetos. Contudo, procura corrigir seus excessos fazendo uma crítica aos mitos da modernidade, isto é, do progresso, do avanço tecnológico e científico como necessários a uma existência mais feliz na terra. Enquanto a anti-modernidade procura a completa ruptura com a modernidade, a sobre-modernidade procura redirecioná-la.
O modernismo, como atualmente entendido, rompeu com a Idade Média e se opôs à estética tradicional e à metafísica clássica. O pós-modernismo, por outro lado, é eclético, pluralista e mistura tendências opostas.
O conflito da pós-modernidade, portanto, não afeta apenas a sociedade secularizada, influenciada pelo humanismo anticristão. Como crise de nossa contemporaneidade, afeta na raiz a consciência religiosa e teologal da cristandade. Mais que um desafio, a Era Pós-moderna é um movimento de descontinuidade da modernidade que não pode ser ignorado, mas compreendido e avaliado segundo a ótica cristocêntrica” (BENTHO, Esdras Costa. Humanismo pós-moderno: um desafio à educação Cristã. Ensinador Cristão. Ano 6 — n° 23, pp.49-50).
Cosmovisão: Conjunto de conceitos, crenças e valores de que uma pessoa se utiliza para compreender e formar sua opinião particular a respeito de si, dos outros, e do mundo.
Hedonismo: Teoria que considera o prazer individual e imediato como princípio e fim da vida moral.
Multiculturalismo: Teoria que admite e ensina o reconhecimento da diversidade cultural e o respeito pelas crenças, valores e atitudes dos outros.
Relativismo: Teoria que nega a existência de verdades universais absolutas, seja na área do conhecimento, da moral ou da religião.
Relativo: Que não é absoluto; sujeito a discussões; inacabado.
COUTO, Geremias do. Fé Cristã e Pós-modernidade. CPAD, 2005.
PALMER, Michael D. (ed.) Panorama do pensamento cristão. CPAD, 2001.
1. Mencione algumas características dos tempos pós-modernos.
R. Uma sociedade centrada no homem e no relativismo.
2. O que é cosmovisão naturalista?
R. É uma forma humanista, anti-bíblica e anticristã do ser humano considerar o universo.
3. Cite os principais pontos da cosmovisão judaico-cristã.
R. Deus é o Criador de todas as coisas; há um propósito soberano em toda a obra criada e leis morais como padrão de conduta para todo o ser humano.
4. O que é o multiculturalismo?
R. A assimilação mútua de modelos culturais diversos entre os povos em virtude do fenômeno mundial da globalização.
5. Como expressar nossa fé bíblica e cristã na atualidade?
R. Precisamos discernir cm cada cultura aquilo que é “bíblico, extra-bíblico e anti-bíblico”, e equiparmo-nos com os necessários meios para a proclamação da Verdade.