Título: Os Doze Profetas Menores — Advertências e consolações para a santificação da Igreja de Cristo
Comentarista: Esequias Soares
Lição 9: Habacuque — A soberania divina sobre as nações
Data: 2 de Dezembro de 2012
“Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a vexação não podes contemplar, por que, pois, olhas para os que procedem aleivosamente e te calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele?” (Hc 1.13).
A fim de cumprir os seus planos Deus age soberanamente na vida de todas as nações da terra.
288, 330, 364.
Segunda - 2 Rs 17.23
Deus usou a Assíria contra Israel
Terça - Sf 2.13
O castigo contra a Assíria
Quarta - Jr 25.9
Deus usou a Babilônia contra Judá
Quinta - Jr 25.12
O castigo contra a Babilônia
Sexta - Jr 27.5-7
As nações sob a autoridade divina
Sábado - Hc 2.20
Perante o Senhor a Terra se cala
Habacuque 1.1-6; 2.1-4.
Habacuque 1
1 - O peso que viu o profeta Habacuque.
2 - Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritarei: Violência! E não salvarás?
3 - Por que razão me fazes ver a iniquidade e ver a vexação? Porque a destruição e a violência estão diante de mim; há também quem suscite a contenda e o litígio.
4 - Por esta causa, a lei se afrouxa, e a sentença nunca sai; porque o ímpio cerca o justo, e sai o juízo pervertido.
5 - Vede entre as nações, e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos; porque realizo, em vossos dias, uma obra, que vós não crereis, quando vos for contada.
6 - Porque eis que suscito os caldeus, nação amarga e apressada, que marcha sobre a largura da terra, para possuir moradas não suas.
Habacuque 2
1 - Sobre a minha guarda estarei, e sobre a fortaleza me apresentarei, e vigiarei, para ver o que fala comigo e o que eu responderei, quando eu for arguido.
2 - Então, o SENHOR me respondeu e disse: Escreve a visão e torna-a bem legível sobre tábuas, para que a possa ler o que correndo passa.
3 - Porque a visão é ainda para o tempo determinado, e até ao fim falará, e não mentirá; se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará.
4 - Eis que a sua alma se incha, não é reta nele; mas o justo, pela sua fé, viverá.
“O justo viverá pela fé”. Esta sentença tornou-se uma das mais importantes temáticas do Novo Testamento. Foi um dos lemas da Reforma Protestante. O apóstolo Paulo é um dos que descrevem a graça de Deus de maneira mais intensa e bela: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2.8). Tal perspectiva da graça de Deus foi precedida pelo profeta Habacuque, quando ele declarou: “O justo, pela sua fé, viverá” (2.4).
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Professor, providencie cópias do quadro abaixo para os alunos. Inicie a aula com a seguinte indagação: “Qual o propósito do livro de Habacuque?”. Incentive a participação da classe e ouça todos com atenção. Depois, explique que o objetivo do profeta era mostrar ao Reino do Sul (Judá) que Deus estava no controle do mundo, embora o mal parecesse triunfar em alguns momentos. Habacuque foi um profeta inquiridor. Em seguida distribua as cópias com o esquema abaixo e explique que vários temas estão presentes na profecia de Habacuque. Podemos destacar, por exemplo, “a confiabilidade absoluta de Deus”, “o domínio divino do universo”, “a incapacidade humana de entender adequadamente os caminhos misericordiosos de Deus”, “as lutas colossais da natureza e da política” e a “predisposição divina de não tolerar a violência derivada do orgulho”. Faça um resumo do livro utilizando o quadro.
ESBOÇO DO LIVRO
O Interrogatório de Habacuque a Deus (1.2 — 2.20)
Questão: Como Deus permite que a ímpia Judá fique sem castigo (1.2-4).
Resposta: Mas Deus usará a Babilônia para castigar Judá (1.5-11).
Questão: Como Deus pode usar uma nação mais ímpia que Judá como instrumento de juízo (1.12 — 2.1).
Resposta: Deus também julgará Babilônia (2.2-20).
O Cântico de Habacuque (3.1-19)
Oração de Habacuque por misericórdia divina (3.1,2).
O poder do Senhor (3.1,2).
Os atos salvíficos do Senhor (3.3-7).
A fé inabalável de Habacuque (3.16-19).
introdução
Palavra Chave
Soberania: Qualidade ou condição de um soberano; autoridade; domínio; poder.
No diálogo entre Habacuque e o Senhor, presenciamos uma singular beleza teológica e literária. Ao longo do livro de Habacuque, deparamo-nos com uma das mais notáveis declarações doutrinárias: “O justo, pela sua fé, viverá” (2.4). Este oráculo fez-se tão notório, que se tornou uma das mais importantes temáticas, em o Novo Testamento (Rm 1.17 cf. Gl 3.8). Séculos mais tarde, inspirou Martinho Lutero a deflagrar a Reforma Protestante.
I. O LIVRO DE HABACUQUE
1. Contexto histórico. Habacuque exerceu o seu ministério quando os caldeus marchavam vitoriosamente pelo Oriente Médio (1.6). Tal marcha iniciou-se em 627 a.C. e foi concluída com a vitória sobre Faraó Neco, do Egito, na Batalha de Carquêmis, em 605 a.C. (Jr 46.2). Tempo em que, de fato, os caldeus tornaram-se um império pujante. Isso mostra que o profeta era contemporâneo de Jeremias e Sofonias (Jr 1.1; Sf 1.1). Ele menciona ainda a opressão dos ímpios sobre os pobres e o colapso da justiça nacional (1.2-4) e descreve também o cenário do reinado tirânico de Jeoaquim, rei de Judá, entre 605 e 598 a.C. (Jr 22.3,13-18).
2. Vida pessoal. Não há informações, dentro ou fora do livro, sobre a vida pessoal de Habacuque. Apenas temos a declaração de que ele é profeta (1.1), detalhe este também encontrado em Ageu e Zacarias (Ag 1.1; Zc 1.1). A partir dessas poucas informações e pela finalização de seu livro (3.19), muitos estudiosos entendem que Habacuque era um profeta bem aceito pela sociedade e — há quem afirme — oriundo de família sacerdotal. A literatura rabínica apoia essa ideia.
3. Estrutura e mensagem. No estudo passado, aprendemos que o termo “peso” indica uma “sentença pesada e profecia”. A exemplo do livro de Naum, esse oráculo foi revelado à Habacuque na forma de visão (1.1). A profecia divide-se em três capítulos. O primeiro denuncia a corrupção generalizada da nação e a consequente resposta divina (1.2-17); o segundo, outra resposta do Eterno (2.1-20); e a terceira, a oração de Habacuque (3.1-19). O oráculo divino, que possui a mesma estrutura dos Salmos, tem como principal ênfase a fé.
SINOPSE DO TÓPICO (I)
O livro de Habacuque denuncia a corrupção generalizada da nação, descreve as respostas divinas e apresenta a oração de Habacuque.
II. HABACUQUE E A SITUAÇÃO DO PAÍS
1. O clamor de Habacuque. O que ocorria em Judá ia de encontro ao conhecimento que Habacuque possuía a respeito do Deus de Israel. Mas como é possível Aquele que é justo e santo tolerar tamanha maldade? O profeta expressa sua perplexidade na forma de lamentos: “Até quando, SENHOR[...]?” (1.2; Sl 13.1,2); “Porque[...]?” (1.3; Sl 22.1). Essas perguntas indicam que, há tempos, Habacuque orava a Deus em busca de solução.
2. A descrição do pecado. Assim, o profeta resume o quadro desolador do seu povo: iniquidade e vexação; destruição e violência; contenda e litígio (1.3). A Bíblia ARA (Almeida Revista e Atualizada) emprega o termo “opressão”. A Bíblia TB (Tradução Brasileira) usa “perversidade” no lugar de “vexação”. A estrutura poética nessa descrição revela a falência da justiça e o abuso opressor das autoridades em relação aos pobres.
3. O colapso da justiça nacional. A frouxidão da lei era consequência da corrupção generalizada. Na esfera judiciária, a sentença não era pronunciada, ou quando dado o veredicto, este sempre beneficiava os poderosos (1.4). A sociedade sequer lembrava-se da lei. Esta era o poder coercitivo para manter a ordem pública, garantir a segurança e os direitos do cidadão (Dt 4.8; 17.18,19; 33.4; Js 1.8). Mas a influência das autoridades piedosas não foi suficiente para mudar o estado das coisas. Somente o Senhor onipotente de Israel é quem pode fazer plena justiça.
SINOPSE DO TÓPICO (II)
O caos estabelecido em Judá era decorrente da corrupção generalizada e denunciada pelo profeta Habacuque.
III. A RESPOSTA DIVINA
1. O juízo divino é anunciado. Antes de Habacuque perceber a gravidade da situação, Deus, que está no controle de todas as coisas, apenas aguardava o tempo oportuno para agir e mostrar a razão de sua intervenção. Tudo estava nos planos do Senhor. O profeta e todo o povo de Judá precisavam prestar mais atenção aos acontecimentos mundiais, pois o Eterno realizaria, naqueles dias, uma obra que eles não creriam, quando lhes fosse contada (1.5). Essa obra era um novo império que Deus estava levantando no mundo. Não obstante, esse oráculo também diz respeito à vinda do Messias (At 13.40,41).
2. Os caldeus e a questão ética (1.6). O império dos caldeus crescia e agigantava-se sob a liderança do rei Nabucodonosor. Ele estava a caminho de Jerusalém para invadir a província de Judá. No entanto, Habacuque ficou desapontado com essa resposta. Como um povo idólatra, sem ética e respeito aos direitos humanos, poderia castigar o povo de Deus? Ele pergunta: “por que, pois, olhas para os que procedem aleivosamente e te calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele?” (1.13). Trataria o Senhor os filhos de Judá como os animais? (1.14). Permitiria à Babilônia fazer o que desejasse com o povo? (1.15-17).
SINOPSE DO TÓPICO (III)
A primeira resposta divina era o agigantamento dos caldeus a caminho de Jerusalém para invadir a província de Judá.
IV. DEUS RESPONDE PELA SEGUNDA VEZ
1. A espera de Habacuque (2.1). Sabedor de que Deus lhe responderá, o profeta prepara-se para ser arguido por Deus. Ele se posiciona como uma sentinela — figura comumente empregada para descrever os profetas bíblicos. Sua função era ficar alerta para escutar a palavra de Deus e transmiti-la ao povo (Is 21.8; Jr 6.17; Ez 3.17).
2. A visão. A resposta divina veio ao profeta através de uma visão transmitida com agilidade e nitidez, dispensando a necessidade de que alguém lesse e a interpretasse (2.2), pois se tratava de uma mensagem que, apesar de futurística, era claríssima: A Babilônia desaparecerá da terra para sempre! No entanto, Judá, apesar do castigo, sobreviverá (Jr 30.11). O desafio era crer na mensagem! Ainda que seu cumprimento tardasse, Deus é fiel para cumprir a sua palavra (2.3; Jr 1.12). Assim como naquele tempo, o mundo permanece no pecado por causa da incredulidade e por isso não crê na pregação do Evangelho (Jo 9.41; 15.22; 16.9; 2 Co 4.4).
3. O justo viverá da fé. A expressão “alma que se incha” (2.4) refere-se ao orgulho dos caldeus (1.10; Is 13.19). O justo é aquele que crê no julgamento de Deus sobre a Babilônia (2.8). Ele sobreviverá à devastação de Judá pelo exército de Nabucodonosor: “o justo, pela sua fé, viverá” (2.4b). Mas ao mesmo tempo é uma mensagem de profundo significado para a fé cristã (Rm 1.17; Gl 3.8; Hb 10.38). Em o Novo Testamento, o “justo” é quem, proveniente de todas as nações, acolhe a mensagem do Evangelho e é justificado pela fé em Jesus.
SINOPSE DO TÓPICO (IV)
A segunda resposta de Deus era que a Babilônia desapareceria para sempre. Mas Judá, apesar de passar por um castigo doloroso, sobreviveria.
CONCLUSÃO
A Palavra de Deus é suficiente para corrigir o caminho tortuoso de qualquer pessoa. Apesar de a resposta divina nem sempre ser o que esperamos, ela é sempre a melhor. Quem não se lembra do fato ocorrido na vida de Naamã? (2 Rs 5.10-14). Isso acontece porque os caminhos e os pensamentos de Deus são infinitamente mais elevados que os nossos (Is 55.8,9). Vivamos, pois, pela fé!
Pujante: Que tem grande força.
Oriundo: Descendente de.
Litígio: Pleito, demanda.
Coercitivo: Que reprime, força.
Arguido: Que foi repreendido, censurado.
DANIEL, S. Habacuque: A vitória da fé em meio ao caos. 1
ed., RJ: CPAD, 2005.
ZUCK, R. B. (Ed.) Teologia do Antigo Testamento. 1 ed., RJ:
CPAD. 2009.
1. Qual a principal ênfase do livro de Habacuque?
R. A fé.
2. O que revela a estrutura poética da descrição dos pecados em Habacuque 1.3?
R. Revela a falência da justiça e o abuso opressor das autoridades em relação aos pobres.
3. Que obra, prometida por Deus, ninguém acreditará quando for contada (1.5)?
R. Essa obra era um novo império que Deus estava levantando no mundo.
4. Quem são, respectivamente, “a alma que se incha” e o “justo” em Habacuque 2.4?
R. Os caldeus e aquele que crê no julgamento de Deus sobre a Babilônia.
5. O justo deve viver pelo quê?
R. Pela fé em Jesus Cristo.
Subsídio Teológico
“O significado da fé em Habacuque
Além de estar dizendo claramente que os justos de Judá, apesar do sofrimento pelo qual passarão no ataque caldeu, serão poupados (como aconteceu com Jeremias, Daniel e tanto outros), o Senhor mostra ao profeta que sua compreensão concernente à vida espiritual ainda era superficial. Ainda faltava a Habacuque considerar alguns aspectos essenciais da vida com Deus. Sua Teologia ainda ignorava nuanças vitais, e que agora são sintetizadas para o profeta em uma única frase: ‘O justo viverá pela sua fé’.
O justo não vive pelo que vê, sente, percebe, imagina ou pensa, mas pela fé. ‘Porque andamos por fé e não por vista’ (2 Co 5.7). Não que essas coisas não sirvam, vez por outra, para alimentar a nossa fé, mas não podem ser considerados fundamentos para ela. Nossa fé está fundamentada no próprio Deus, em sua Palavra. O justo está baseado nela” (DANIEL, S. Habacuque: A vitória da fé em meio ao caos. 1 ed. RJ: CPAD, 2005, p.90).
Habacuque: A soberania divina sobre as nações
Habacuque exerceu seu ministério nos dias de Josias, rei de Judá. Nos dias de Manassés, avô de Josias, a corrupção moral e espiritual atingiu níveis jamais vistos. Josias, anos depois de Manassés, trouxe reformas substanciais à vida dos hebreus, mas seus esforços não tiveram êxito completo no sentido de destituir as coisas ruins com que a nação se acostumou. Os juízes, que deveriam julgar de acordo com os preceitos da lei de Deus, eram corruptos, e julgavam conforme os subornos que recebiam. Os homens perversos eram bem-sucedidos em seus intentos, tornando a prática da justiça algo risível. Como viver em um estado onde a impiedade era a regra?
O profeta defronta-se com duas questões: porque Deus não pune os pecados de Judá? Para essa primeira questão, Deus mostra a Hacacuque que os babilônios iriam punir Judá. Aqui entra a segunda questão: porque Ele permitiria que um povo ímpio fosse responsável por julgar a Israel? Para a segunda questão, Deus mostra que os assírios, mesmo ímpios, trariam o julgamento de Deus, mas depois eles mesmos seriam julgados por seus pecados. “Habacuque, ao rogar a Deus por uma explicação do porquê Ele permitira que o iníquo pecasse e o inocente sofresse, recebe a resposta. Na época, Deus estava preparando os babilônios para ingressarem no rol das potências mundiais. O Senhor usaria as forças armadas desses pagãos para que o seu próprio povo fosse punido. Habacuque entendeu o plano de Deus, pois o uso de nações inimigas para disciplinar Israel e Judá era um precedente bem arquitetado” (Guia do Leitor da Bíblia. CPAD, pg.560).
Mas vemos em Habacuque outra situação que nos leva a pensar. Se os babilônios eram um povo que não conhecia a Deus, eles, como um povo “injusto”, julgariam a Israel e Judá, nações que conheciam a Deus e poderiam ser consideradas justas? O profeta então percebe que a questão não se refere a um povo mau julgando o povo do Senhor, e sim que ninguém pode evitar a disciplina do Senhor, quer seja um povo bom, quer seja um povo mau. Deus sabe como tratar com todos.
Deus não permite a injustiça entre seu próprio povo. Ele é juiz e julga até mesmo os seus, para que o seu nome não seja blasfemado. E castiga os pagãos também, quando eles pecam. E mesmo aqueles que temem a Deus devem confiar nEle quando Ele julgar os que são chamados pelo seu nome. O povo de Deus deve ser o primeiro a se arrepender de seus pecados, para não atrair a ira divina.