Título: Filipenses — A humildade de Cristo como exemplo para a Igreja
Comentarista: Elienai Cabral
Lição 9: Confrontando os inimigos da Cruz de Cristo
Data: 01 de Setembro de 2013
“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo” (Fp 3.18).
A cruz de Cristo é o ponto central da fé cristã: sem ela não pode haver cristianismo.
139, 141, 186.
Segunda - Jo 12.32,33
A “atração” da cruz
Terça - Mt 27.32 — 28.10
À cruz segue-se a glória
Quarta - At 8.18-23
Identificando o falso mestre
Quinta - Cl 2.4-8
A vigilância quanto aos falsos mestres
Sexta - Gl 6.14
A glória do crente
Sábado - Fp 3.20
A nossa pátria é o céu
Filipenses 3.17-21.
17 - Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam.
18 - Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo.
19 - O fim deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles é para confusão deles mesmos, que só pensam nas coisas terrenas.
20 - Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo,
21 - que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas.
No capítulo três da Carta aos Filipenses, Paulo faz uma severa advertência contra os judaizantes, denominados pelo apóstolo de “inimigos da cruz de Cristo”. Estes apregoavam o legalismo, a lei e os códigos de conduta, porém não conheciam a cruz de Cristo. Todavia, Paulo chama a atenção não somente a respeito dos judaizantes, mas também quanto os irmãos que não viviam de acordo com o modelo de serviço e sacrifício de Cristo. Paulo pede aos filipenses que lutem contra estes inimigos a fim de que não venham sucumbir na fé. Esta advertência de Paulo deve ser levada a sério pela igreja na atualidade, pois atualmente também muitos são os inimigos da cruz de Cristo.
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Professor, para a apresentação do tópico II da lição sugerimos que o quadro abaixo seja reproduzido de acordo com as suas possibilidades. Divida a turma em grupos e distribua cópias e canetas. Em seguida faça as seguintes indagações: “Quem são os inimigos da cruz de Cristo?”; “Como combater estes inimigos?”. Ouça a todos com atenção e em seguida peça que em grupo preencham o quadro. Reúna novamente os grupos. Solicite que mostrem o quadro completo e discuta com os alunos as respostas. Conclua enfatizando que para identificarmos e combatermos os inimigos da cruz de Cristo precisamos conhecer a Palavra de Deus e perseverar na doutrina dos apóstolos.
introdução
Palavra Chave
Inimigos: Na lição são os judaizantes e aqueles que não tinham comunhão com a cruz de Cristo.
Das advertências de Paulo à igreja em Filipos, a exortação para que permanecessem firmes na fé e mantivessem a alegria que a nova vida em Cristo proporciona, é uma das mais importantes. O apóstolo assim os estimula, por estar ciente dos falsos cristãos que haviam se infiltrado no seio da igreja. Tais eram, de fato, inimigos da cruz de Cristo.
I. EXORTAÇÃO À FIRMEZA EM CRISTO (3.17)
1. Imitando o exemplo de Paulo (v.17a). Quando Paulo pediu aos filipenses para que o imitassem, não estava sendo presunçoso. Precisamos compreender a atitude do apóstolo não como falta de modéstia, ou falsa humildade, mas imbuída de uma coragem espiritual e moral de colocar-se, em Cristo, como referência de vida e fé para aquela igreja (1Co 4.16,17; 11.1; Ef 5.1). Paulo mostrou que a verdadeira humildade acata serenamente a responsabilidade de vivermos uma vida digna de ser imitada. Que saibamos refletir sobre isso num tempo em que estamos carentes de referências ministeriais.
2. O exemplo de outros obreiros fiéis (v.17b). O texto da ARA tem uma tradução melhor dessa passagem: “observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós”. Paulo estava reconhecendo o valor da influência testemunhal de outros cristãos, entre os quais Timóteo e Epafrodito, que eram referências para as suas comunidades. O apóstolo chama a atenção dos cristãos filipenses para observarem os fiéis e aprenderem uns com os outros objetivando a não se desviarem da fé.
3. Tendo outro estilo de vida. Muitas vezes somos forçados a acreditar que somente os obreiros devem ter um estilo de vida separado exclusivamente a Deus. Essa dualidade entre “clero” e “leigos” remonta à velha prática eclesiástica estabelecida pela Igreja Romana, na Idade Média, onde uma elite (o clero) governa a igreja e esta (os leigos) se torna refém daquela. É urgente resgatar o ideal da Reforma Protestante, ou seja, a “doutrina do sacerdócio de todos os crentes”, ou “Sacerdócio Universal”, reivindicada em 1 Pedro 2.9. Todos nós, obreiros ou não, temos o livre acesso ao trono da Graça de Deus por Cristo Jesus. Não tentemos costurar o véu que Deus rasgou!
SINOPSE DO TÓPICO (I)
Todo crente, obreiros ou não, tem livre acesso ao trono da Graça de Deus por Cristo Jesus.
II. OS INIMIGOS DA CRUZ DE CRISTO (3.18,19)
1. Os inimigos da cruz (v.18). Depois de identificar os inimigos da cruz de Cristo, Paulo mostra que o ministério pastoral é regado com muitas lágrimas. A maior luta do apóstolo era com as heresias dos falsos cristãos judeus. Paulo chama os judaizantes de “inimigos da cruz de Cristo”. O apóstolo conclamou a igreja a resistir tais inimigos, mesmo que com lágrimas, pois eles tinham como objetivo principal minar a sua autoridade pastoral. O apóstolo já havia enfrentado inimigos semelhantes em Corinto (1Co 6.12). Agora, em Filipos, havia outro grupo que adotava a doutrina gnóstica. Este grupo de falsos crentes (3.18,19) afirmava erroneamente que a matéria é ruim. Logo, não há nenhum problema em pecar através da “carne”, pois toda e qualquer coisa que fizermos com o corpo, e através dele, não afetará a nossa alma. Essa ideia herética e diabólica é energicamente refutada pela Palavra de Deus (1Ts 5.23).
2. “O deus deles é o ventre” (3.19). O termo “ventre” aqui é figurado e representa os “apetites” carnais e sensuais. Os inimigos da cruz viviam para satisfazer os prazeres da carne — glutonaria, bebedice, imoralidade sexual, etc. — satisfazendo todos os desejos lascivos, pois acreditavam que tais atitudes “meramente carnais” não afetariam a alma nem o espírito. Porém, o ensino de Paulo aos gálatas derruba por terra esse equivocado pensamento (Gl 5.16,17).
3. “A glória deles” (3.19). Paulo sabia que aqueles falsos crentes não tinham qualquer escrúpulo nem vergonha. Entregavam-se às degradações morais sem o menor pudor e, mesmo assim, queriam estar na igreja como se nada tivessem feito de errado. O apóstolo os trata como inimigos da cruz de Cristo, porque as atitudes deles invalidavam a obra expiatória do Senhor. A declaração paulina é enfática acerca daqueles que negam a eficácia da cruz de Cristo: a perdição eterna.
O castigo dos ímpios será inevitável e eterno (Ap 21.8; Mt 25.46). Um dia, eles ressuscitarão para se apresentarem diante do Grande Trono Branco, no Juízo Final, e serão julgados e lançados na Geena (o lago de fogo), que é o estado final dos ímpios e dos demônios (Ap 20.11-15).
SINOPSE DO TÓPICO (II)
Paulo conclamou a igreja a resistir os inimigos da cruz de Cristo, mesmo que com lágrimas. Estes inimigos tinham como objetivo principal minar a fé dos irmãos.
III. O FUTURO GLORIOSO DOS QUE AMAM A CRUZ DE CRISTO (3.20,21)
1. “Mas a nossa cidade está nos céus” (Fp 3.20). Os inimigos da cruz de Cristo eram os crentes que viviam para as coisas terrenas. Paulo, então, lembra aos irmãos de Filipos que “a nossa cidade está nos céus”. Quando o apóstolo escreveu tais palavras, ele tomou como exemplo a cidade de Filipos. Segundo a Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, “Filipos estava localizada na principal rota de transportes da Macedônia, uma extensão da Via Ápia, que unia a parte oriental do império à Itália”.
O apóstolo faz questão de mostrar que aquilo que Cristo tem preparado para os crentes é algo muito superior a Filipos (v.20). O apóstolo mostra que o cidadão romano honrava a César, porém os crentes de Filipos deveriam honrar muito mais a Jesus Cristo, o Rei da pátria celestial. Em breve o Senhor virá sobre as nuvens do céu com poder e glória, para arrebatar a sua igreja levando-a para a cidade celeste, a Nova Jerusalém (Mt 24.31; At 1.9-11).
2. “Que transformará o nosso corpo abatido” (Fp 3.21). O estado atual do nosso corpo é de fraqueza, pois ainda estamos sujeitos às enfermidades e à morte. Mas um dia receberemos um corpo glorificado e incorruptível. Os gnósticos ensinavam que o mal era inerente ao corpo. Por isso, diziam que só se deve servir a Deus com o espírito. Eles afirmavam ainda que de nada aproveita cuidar do corpo, pois este se perderá. Erroneamente, acrescentavam que o interesse de Cristo é salvar apenas o espírito.
A Palavra de Deus refuta tal doutrina. Ainda que venhamos a sucumbir à morte, seremos um dia transformados e teremos um corpo glorioso semelhante ao de Cristo glorificado (Fp 3.21; 1Ts 5.23; 1Co 15.42-54).
3. Vivendo em esperança. Vivemos tempos trabalhosos e difíceis (2Tm 3.1-9). Quantas falsas doutrinas querem adentrar nossas igrejas. Infelizmente, não são poucos os que naufragam na fé. Nós, contudo, à semelhança de Paulo, nutrimos uma gloriosa esperança (Rm 8.18). Haja o que houver, aconteça o que acontecer, o nosso coração estará seguro em Deus e em sua promessa (Ap 7.17; 21.4).
SINOPSE DO TÓPICO (III)
À semelhança de Paulo precisamos ter a confiança de que o futuro daqueles que amam a cruz de Cristo será glorioso.
CONCLUSÃO
Precisamos estar atentos, pois muitos são os inimigos da cruz de Cristo. Eles procuram introduzir, sorrateiramente, doutrinas contrárias e perniciosas à fé cristã. Muitos são os ardis do adversário para enganar os crentes e macular a Igreja do Senhor. Por isso, precisamos vigiar, orar e perseverar no “ensino dos apóstolos” até a vinda de Jesus. Eis a promessa que gera a gloriosa esperança em nosso coração.
ZUCK, R. B. Teologia do Novo Testamento. 1 ed., RJ: CPAD,
2008.
RICHARDS, L. O.
Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1 ed., RJ:
CPAD, 2007.
1. O que Paulo pretendia ao pedir que os filipenses o imitassem?
R. Paulo pretendia mostrar que a verdadeira humildade acata serenamente a responsabilidade de vivermos uma vida digna de ser imitada.
2. O que a dualidade entre “clero” e “leigos” remonta?
R. Remonta à velha prática eclesiástica estabelecida pela Igreja Romana, na Idade Média, onde uma elite (o clero) governa a igreja e esta (os leigos) se torna refém daquela.
3. O que significa o termo “ventre” empregado por Paulo?
R. O termo “ventre” tem um sentido figurado e representa os “apetites” carnais e sensuais.
4. A exemplo dos cidadãos romanos que honravam a César, quem os filipenses deveriam honrar?
R. Os crentes de Filipos deveriam honrar muito mais a Jesus Cristo, o Rei da pátria celestial.
5. O teu coração está seguro em Deus? Há esperança em você?
R. Resposta pessoal.
Subsídio Teológico
“Cidadania e unidade celestial.
A visão cósmica e apocalíptica de Paulo da realidade é enfatizada pelo conceito de cidadania celestial do crente (3.20). Em Filipenses 1, esse conceito vem à tona no verbo politeuesthe (‘viver como cidadão’). Seu cognato, politeuma (‘nação; comunidade’), aparece no capítulo 3 de Filipenses. O termo sugere relação com polis (‘Cidade-estado’), isto é, a nova comunidade de Cristo, cuja origem é o céu. Por isso, Paulo escreve: ‘Nossa nação [cidadania] está no céu’ (3.20). Paulo afirma que esta cidadania existe hoje; não é apenas uma esperança futura. O termo, como tal, expressa uma orientação e uma identidade fundamentais dos crentes.
[...] Filipenses 1.27-30 apresenta o ponto de que a vida do crente deve ser digna dessa origem; ela deve ser digna de sua relação com o evangelho de Cristo. Isso quer dizer que se deve perseguir a união, enquanto a comunidade permanece unida ‘num mesmo espírito’ (v.27) no evangelho. Na verdade não é mais necessário temer os oponentes, embora o chamado para essa nova comunidade seja para crer e para sofrer. Os filipenses, ao se entregar a esse chamado, compartilhariam a mesma luta (agõna) que Paulo empreende, e, por essa razão, eles teriam comunhão com ele e demonstrariam sua união com ele e com Cristo em humilde serviço (1.29 — 2.11)” (ZUCK, R. B. (Ed.) Teologia do Novo Testamento. 1 ed., RJ: CPAD, 2008. p.362).
Subsídio Teológico
“Uma advertência solene (Fp 3.17-19)
Nos versos 1-4, Paulo adverte seus leitores contra um erro do lado judaico, a saber, o legalismo, que é submeter a vida à escravidão das leis de Moisés. Nos versos 17-21, adverte-os contra o perigo do lado pagão, a saber: a frouxidão moral.
‘Sede meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós’ (cf. 1Co 11.1. Rm 16.17). O que deviam imitar? Nos versos 7-13, lemos que Paulo não tinha confiança no seu eu — próprio, que estava disposto a sacrificar todas as coisas por Cristo, que reconhecia a sua própria imperfeição e que estava grandemente desejoso para avançar com o Senhor. Sua advertência é necessária, porque há aqueles que tomam uma atitude diferente. São ‘inimigos da cruz de Cristo’, não por causa de qualquer hostilidade da parte deles, mas por causa das vidas que vivem. Interessam-se mais em satisfazer os seus apetites do que servir a Deus (‘o deus deles é o ventre’) e jactam-se das liberdades que tomam na licenciosidade e vidas impuras (2Pe 2.19). ‘Só pensam nas coisas terrenas’ — alegam estar no caminho do Céu, mas amam as coisas mundanas; ‘o destino deles é a destruição’. Contraste com o verso 14” (PEARLMAN, M. Epístolas Paulinas: Semeando as Doutrinas Cristãs. 1 ed., RJ: CPAD, 1998, pp.141-42).
Confrontando os inimigos da Cruz
Agora Paulo chega a uma parte muito importante da sua carta, ele exorta os cristãos filipenses para serem firmes em Cristo na observância do Evangelho. A preocupação do apóstolo era com os falsos mestres que se aproximavam dos crentes filipenses. Estes mestres eram considerados por ele “inimigos da cruz”, pessoas que trabalhavam para esvaziar o sentido da Cruz de Cristo. O apóstolo havia os enfrentado noutras ocasiões. De acordo com especialistas do Novo Testamento, é difícil identificar os inimigos da cruz, propriamente dito, na carta de filipenses. Mas pelo teor do ensino de Paulo contra uma concepção legalista de cristianismo e uma perspectiva libertina da graça, judaizantes e gnósticos são as identidades mais aceitas.
Os assuntos que Paulo trata com os filipenses não são novos, ele havia tratado desses mesmos assuntos em ocasião anterior (3.1). Mas nesta seção ele se “desespera” só de imaginar a possibilidade de os filipenses entrarem em contato com tais ensinos. A sua preocupação é que a igreja de Filipos, recém formada, enverede pelo caminho do legalismo ou da libertinagem. Ambos são frontalmente contrários a natureza genuína do Evangelho.
A expressão “O deus deles é o ventre” denota aqueles que adoram a carne através das práticas sensuais desenfreadas. Eles viviam o aqui e o agora, e jamais pensavam na eternidade “comamos e bebamos que amanhã morreremos”. Esta postura visava destruir o Evangelho e todo o progresso dele na vida dos filipenses. Além de sensuais, os falsos mestres invalidavam a suficiência da Cruz de Cristo com suas atitudes degradantes e sem quaisquer escrúpulos. Paulo diz que para eles, não há outro destino, se não, o da perdição eterna.
Por isso o apóstolo dos gentios conclama aos filipenses a não darem ouvidos para esses falsos ensinamentos, ainda que apareçam de maneira lisonjeira. Paulo não exita de lembrá-los que a esperança cristã está nos céus, esperando o Salvador, Jesus Cristo. O discípulo do Mestre Amado não pode viver como se Deus não existisse. O crente tem uma promessa: “[Deus] transformará o nosso corpo abatido”. Ainda que vivamos tempos trabalhosos e difíceis, o nosso coração deve estar seguro em Deus, confiante em sua promessa de que um dia Ele restaurará todas as coisas. O que sofremos hoje não se compara com a glória que em nós, o povo de Deus, há de ser revelada (Rm 8.18).