Título: Sabedoria de Deus para uma vida vitoriosa — A atualidade de Provérbios e Eclesiastes
Comentarista: José Gonçalves
Lição 5: O cuidado com aquilo que falamos
Data: 3 de Novembro de 2013
“Favo de mel são as palavras suaves: doces para a alma e saúde para os ossos” (Pv 16.24).
As nossas palavras revelam muito do que somos, pois a boca fala do que o coração está cheio.
306, 285, 557.
Segunda - Pv 15.23
Falando no tempo certo
Terça - Pv 15.2
A língua como adorno da sabedoria
Quarta - Pv 6.17
A língua que Deus aborrece
Quinta - Pv 16.24
A língua como instrumento de cura
Sexta - Pv 16.21
O saber pela doçura no falar
Sábado - Tg 3.8
A difícil arte de domar a língua
Provérbios 6.16-19; 15.1,2,23; 16.21.24.
Provérbios 6
16 - Estas seis coisas aborrece o Senhor, e a sétima a sua alma abomina:
17 - olhos altivos, e língua mentirosa, e mãos que derramam sangue inocente,
18 - e coração que maquina pensamentos viciosos, e pés que se apressam a correr para o mal,
19 - e testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.
Provérbios 15
1 - A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.
2 - A língua dos sábios adorna a sabedoria, mas a boca dos tolos derrama a estultícia.
23 - O homem se alegra na resposta da sua boca, e a palavra, a seu tempo, quão boa é!
Provérbios 16
21 - O sábio de coração será chamado prudente, e a doçura dos lábios aumentará o ensino.
24 - Favo de mel são as palavras suaves: doces para a alma e saúde para os ossos.
Prezado professor, você deve conhecer as seguintes expressões: “Sou sincero!”; “Só falo a verdade!”; “Não levo desaforo para casa!”. Mas quem disse que ser sincero, falar a verdade e não levar desaforo para casa significa estar sempre com a razão? Na verdade, tal postura reflete uma má educação. Vivemos numa sociedade onde se perdeu o respeito mútuo. É no trânsito, na fila do caixa do mercado, na fila dos bancos, nos departamentos das igrejas; as pessoas parecem não ter paciência para esperar, se acalmar. Não pensam duas vezes em usar uma arma poderosa para ofender, maltratar e magoar: a língua. O Evangelho, por outro lado, desafia-nos a agirmos de outra maneira: pagando o mal com o bem.
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Para concluir a lição desta semana, leia com a classe Tiago 3.3-5. Em seguida, destaque as expressões “freio nas bocas dos cavalos”; “a nau dominada por um pequeno leme” e “a língua, um pequeno membro”. Depois, explique-as afirmando que elas representam um pequeno elemento que é poderoso para impedir ou permitir uma tragédia inigualável. Conclua dizendo que nossa língua, um pequeno órgão, pode edificar vidas mas, também, ofendê-las, magoá-las ou destruí-las. À luz dessas metáforas, desafie os alunos a desenvolverem o autocontrole sobre o que dizem e, consequentemente, fazem.
introdução
Palavra Chave
Língua: Órgão muscular, situado na boca e na faringe, responsável pelo paladar e auxilia na mastigação e na deglutição, e também na produção de sons, fala.
Provérbios e Tiago contêm as mais belas exposições sobre uma capacidade que apenas os seres humanos possuem: a fala. Na lição de hoje, analisaremos o que as Escrituras revelam sobre esse fascinante dom.
Num primeiro momento, estudaremos como o falar é tratado pelos autores sagrados. Em seguida, veremos os conselhos que Salomão e Tiago dão àqueles que verbalizam pensamentos, princípios e preceitos. O objetivo é mostrar como a literatura sapiencial bíblica toca num ponto sensível da vida humana, muitas vezes esquecido pelos cristãos: a devida e correta utilização das palavras.
I. O PODER DAS PALAVRAS
1. Palavras que matam. É evidente que, dependendo do contexto em que são faladas e por quem são pronunciadas, podem ferir ou até mesmo matar (Pv 18.21a). Este exemplo pode ser observado na vida conjugal, quando uma palavra ofensiva, ou injuriosa, dita por um cônjuge, ofende e magoa o outro. Se não houver perdão de ambas as partes, o relacionamento poderá deteriorar-se (Pv 15.1).
2. Palavras que vivificam. A palavra hebraica dabar significa palavra, fala, declaração, discurso, dito, promessa, ordem. Os temas contemplados pelo uso desses termos são, na maioria das vezes, valores morais e éticos. Salomão tem consciência da importância das palavras e, por isso, afirma: “O sábio de coração será chamado prudente, e a doçura dos lábios aumentará o ensino” (Pv 16.21).
SINOPSE DO TÓPICO (I)
Segundo a Bíblia, dependendo da motivação de quem pronuncia, as palavras podem matar ou vivificar.
II. CUIDADOS COM A LÍNGUA
1. Evitando a tagarelice. Há um provérbio muito popular que diz: “Quem fala o que quer, ouve o que não quer”. Este ditado revela a maneira imprudente de se falar, algo bem próprio do tagarela. Este personagem está presente na tradução do hebraico batah: pessoa que fala irrefletida e impensadamente.
Não basta dizer: “Pronto, falei!”. É preciso medir as consequências do que se fala. E a melhor forma de fazer isso é compreender que na “multidão de palavras não falta transgressão, mas o que modera os seus lábios é prudente” (Pv 10.19). Salomão tinha essa consciência (Pv 13.3).
2. Evitando a maledicência. O livro de Provérbios também apresenta conselhos sobre a maledicência. Ali, a palavra aparece como sendo a sétima abominação, isto é, o ponto máximo de uma lista de atitudes que o Senhor odeia (Pv 6.16-19). O Senhor “abomina” (do hebraico to’ebah) a maledicência ou a contenda entre irmãos.
No original, “abominar” significa “sentir nojo de” e pode se referir a coisas de natureza física, ritual ou ética. Deus se enoja de intrigas entre irmãos. É a mesma palavra usada para descrever coisas abomináveis ao Senhor, tais como a idolatria (Dt 7.25), o homossexualismo (Lv 18.22-30) e os sacrifícios humanos (Lv 18.21)!
SINOPSE DO TÓPICO (II)
O conselho bíblico para cuidarmos da nossa língua começa por evitarmos a tagarelice e a maledicência.
III. O BOM USO DA LÍNGUA
1. Quando a língua edifica o próximo. Como servos de Deus, somos desafiados a usar nossas palavras como um meio para ajudar nossos irmãos, através de exortações, bons conselhos e também através do ensino da Palavra de Deus e de seus princípios (1Co 14.26).
2. Nossa língua adorando a Deus. O melhor uso que se pode fazer da palavra é quando a empregamos para dirigir-nos a Deus em adoração. Todo crente fiel sabe disso, ou deveria saber (Pv 10.32). O Senhor se agrada dos sacrifícios de louvor (Hb 13.15). Esse é o segredo para uma vida frutífera e agradável ao Senhor (Ef 5.19,20). Não nos esqueçamos, pois, da maior vocação de nossa língua: louvar e exaltar a Deus.
SINOPSE DO TÓPICO (III)
A língua deve ser usada para edificar o próximo com bons conselhos, exortações e ensino da Palavra de Deus; e exaltar ao Altíssimo adorando-O em Espírito e em Verdade.
IV. SALOMÃO E TIAGO
1. Uma palavra ao aluno. Abundante no livro de Provérbios, a expressão hebraica shama Beni ocorre 21 vezes com o sentido de “ouvi filho meu”. Não há dúvida de que o emprego de tal linguagem revela o amor de uma pessoa mais experiente, dirigindo-se a outra ainda imatura. É alguém sábio e experimentado na vida, passando tudo o que sabe e o que vivenciou ao seu aprendiz (Pv 1.8,10,15; 3.1,21; 5.1,20; 7.1).
São mais de trezentos conselhos como regra do bom viver. Segui-los significa achar o bem, e não segui-los é encontrar-se com o mal.
2. Uma palavra aos mestres. Se por um lado Salomão se dirigiu ao discípulo (do hebraico: filho, aluno), por outro lado Tiago falou àqueles que querem ser mestres. Os que pregam e ensinam a Palavra de Deus têm de falar somente o que convém à sã doutrina (Tt 2.1).
Em sua epístola, Tiago utiliza símbolos extraídos do cotidiano, mas carregados de significado: a) Freios: Assim como o freio controla o animal, deve o crente refrear e controlar a sua língua; b) Leme: Se o leme conduz o navio ao porto desejado, deve o crente dirigir o seu falar para enaltecer a Deus; c) Fogo: Uma língua sem freios e fora de controle queima como fogo. Por isso, mantenhamos a nossa língua sob o domínio do Espírito Santo; d) Mundo: A língua pode se tornar um universo de coisas ruins. Então, o que fazer? Transformá-la num manancial de coisas boas; e) Veneno: O perigo reside em alguém possuir uma língua grande e ferina e, portanto, venenosa. f) Fonte: Como fonte, a língua deve jorrar coisas próprias à edificação; g) Árvore: A boca do crente, por conseguinte, deve produzir bons frutos. Portanto, usemos as nossas palavras para a glória de Deus (Tg 3.1-12).
SINOPSE DO TÓPICO (IV)
Ao ensinar os provérbios, Salomão tem em mente ensinar os discípulos, enquanto Tiago aconselha os mestres.
CONCLUSÃO
Vimos nesta lição os conselhos dos sábios sobre o bom uso da língua. A linguagem, como algo peculiar ao ser humano, é muito preciosa para ser usada iniquamente. Não permitamos, pois, que a nossa língua seja instrumento de um dos pecados que Deus mais abomina: a disseminação de contendas entre os irmãos.
À luz da Palavra de Deus, somos encorajados a andar em união, harmonia e paz. Portanto, com a nossa língua abençoemos o nosso semelhante, pois assim fazendo, bendiremos também ao Senhor nosso Deus.
Nau: Designação genérica que até o século XV se aplicava a
navios de grande porte.
Leme: Peça plana, localizada na parte submersa da popa de uma
embarcação, gira em um eixo e determina a direção em que aponta a proa
do navio.
Personificá-las: Expressar, tornar viva e concreta uma ideia
através de pessoas.
Ápice: Extremo superior; ponto máximo, culminância, apogeu.
Desvelo: Ato ou efeito de desvelar-se. Isto é, agir com
diligência; zelar, cuidar, empenhar-se.
HUGHES, R. K. Disciplinas do Homem Cristão. 3 ed., RJ: CPAD,
2004.
SEAMANDS, S. Feridas que Curam:
Levando Nossos Sofrimentos à Cruz. 1 ed., RJ: CPAD, 2006.
1. Dependendo do contexto em que são faladas, e por quem são pronunciadas, o que as palavras podem fazer? Dê um exemplo.
R. Podem matar uma pessoa. Por exemplo, na vida conjugal quando o cônjuge ofende e magoa o outro através das palavras.
2. Segundo a tradução do termo hebraico batah, o que significa tagarela?
R. Pessoa que fala irrefletida e impensadamente.
3. Qual atitude o Senhor abomina segundo o livro de Provérbios?
R. A maledicência ou a contenda entre irmãos.
4. Como servos de Deus, o que somos desafiados a fazer com nossas palavras?
R. Usá-las como um meio para ajudar nossos irmãos.
5. Se por um lado, em Provérbios, Salomão se referiu aos discípulos, a quem Tiago se dirigiu?
R. Aos mestres, aqueles que labutam no ensino.
Subsídio Vida Cristã
“DISCIPLINA DA LÍNGUA
Que poder tem a palavra escrita ou falada! Nações se ergueram, e nações caíram pela língua. Vidas foram enaltecidas e rebaixadas pelo falar humano. A bondade flui como um doce rio de nossas bocas, da mesma forma, o esgoto. A pequena língua, sem dúvida, é uma força poderosa.
[...] Tiago, o irmão do Senhor, entendia isto tão bem, quanto qualquer homem na história e, através do uso de analogias gráficas, ele nos deu a mais penetrante exposição sobre a língua do que qualquer texto literário, seja secular ou sagrado [...] (Tg 3.3-5).
[...] A principal preocupação de Tiago é com o poder destrutivo da língua, e isto produz uma das mais provocantes declarações: ‘Vede como uma fagulha põe em brasa tão grande selva! Ora, a língua é fogo; é mundo de iniquidade; a língua está situada entre os membros de nosso corpo e contamina o corpo inteiro e não só contamina e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como é posta ela mesma em chamas pelo inferno’ (vv.5,6)” (HUGHES, R. K. Disciplinas do Homem Cristão. 3 ed., RJ: CPAD, 2004, pp.126-27).
Subsídio Teológico
“Abençoando o Malfeitor
Fazer o bem àqueles que nos fizeram mal envolve tanto palavras quanto atos, tanto bênçãos quanto servir. John Stott afirma: ‘Na nova comunidade de Jesus as maldições devem ser substituídas por bênçãos; a malícia, por oração; e a vingança, por serviço. De fato, a oração purga o coração da malícia; os lábios que abençoam não podem, ao mesmo tempo, amaldiçoar; e a mão ocupada com serviços fica impedida de se ocupar com vingança’.
No entanto, deixemos claro que na prática, conquistar o mal com o bem envolve muitas vezes a obstinação e a dureza que vai contra nossas concepções sentimentalizadas da bondade. A fim de verdadeiramente fazermos o bem para alguém implicará dar o que mais precisa — não necessariamente o que ele quer. Por exemplo, fazer o bem para um pai ameaçador e ditatorial que insiste em controlar seu filho adulto pode significar resistir a ele e se recusar a ceder a suas exigências. Por outro lado, no caso de uma mãe fraca e indecisa fazer o bem significa se recusar a tomar qualquer atitude a fim de que ela seja forçada a tomar suas decisões. Como Allender e Longman sugerem: ‘Em muitos casos, um amor [tão] corajoso muitas vezes enerva, fere, pertuba e compele a pessoa amada a lidar com as enfermidades interiores que estão roubando a alegria dela e dos outros’.
Esse tipo de amor vigoroso é exemplificado na última frase da passagem de Provérbios citada por Paulo. A frase diz que ao dar comida e bebida a nossos inimigos amontoa-se ‘brasas de fogo sobre a [nossa] cabeça’ (Rm 12.20). Embora isso possa nos parecer um ato pouco amigável, nos tempos bíblicos, essa era uma figura de linguagem para dizer que isso traz um profundo sentimento de vergonha a seus inimigos, não a fim de ofendê-los ou humilhá-los, mas para levá-los ao arrependimento e à reconciliação” (SEAMANDS, S. Feridas que Curam: Levando Nossos Sofrimentos à Cruz. 1 ed., RJ: CPAD, 2006, pp.166-67).
O Cuidado Com Aquilo que Falamos
De todos os seres criados pelo Todo-Poderoso, o homem é o único que possuiu um aparelho fonador. Logo, podemos afirmar que a fala é um dom divino que distingue o ser humano. É algo realmente especial que pode ser usado para o bem como para o mal. Tiago compara a língua a um fogo devastador (Tg 3.6). Pois uma pequena fagulha pode queimar e destruir uma floresta inteira. Ele ainda afirma que “nenhum homem pode domar a língua” (Tg 3.8). Com a nossa língua podemos bendizer a Deus e maldizer o próximo. Ter o controle da língua não é fácil, mas não é impossível para o crente. Quem consegue controlar a língua, controla todo o seu ser.
Nossa maneira de falar nos identifica, revelando o nosso verdadeiro eu, pois a boca fala do que o coração está cheio (Mt 12.34). É do coração, ou seja, do íntimo do ser humano que procedem os males. Certa vez, Pedro foi identificado como alguém que esteve com Jesus somente pelo seu linguajar (Mt 26.73). Sua fala evidencia que você é um cristão?
Muito se falou a respeito do poder das palavras e não faltou heresia. Sabemos que nossas palavras não têm poder em si mesmas. Todavia, não podemos sair por aí falando o que nos vem à cabeça, pois nossas palavras afetam o nosso próximo de forma positiva ou negativa. Por isso, o livro de Provérbios dá uma ênfase especial ao modo como empregamos as palavras. Jesus também ensinou que no Dia do Juízo, todos terão que dar conta diante de Deus por suas palavras (Mt 12.36).
Quer aprender a guardar sua língua do mal? Então leia e estude o livro de Provérbios, pois nele podemos encontrar ensinamentos preciosos a respeito do uso da língua. Um destes ensinos é a respeito do ser moderado no falar (Pv 21.23). Você fala demais? Então tome cuidado! Quem fala em demasia prejudica o outro e a si próprio (Pv 13.3). Vários Provérbios tratam a respeito da língua mentirosa e da calúnia (Pv 6.17). A difamação, em especial nos blogs e nas redes sociais, tem feito muitas vítimas. A calunia é devastadora e consegue separar até os amigos mais íntimos (Pv 16.28). O Diabo é o pai da mentira (Jo 8.44) e toda mentira e engano procedem dele. Muitos usam sua língua para fazer fofoca, caluniar os outros ou distorcer a verdade. Saiba que Deus abomina a língua mentirosa (Pv 6.17).
Aprendamos com os conselhos dos sábios a usar nossa língua de maneira que o nome do Senhor seja glorificado.