Título: Fé e Obras — Ensinos de Tiago para uma vida cristã autêntica
Comentarista: Eliezer de Lira e Silva
Lição 11: O Julgamento e a Soberania pertencem a Deus
Data: 14 de Setembro de 2014
“Há só um Legislador e um Juiz, que pode salvar e destruir. Tu, porém, quem és, que julgas a outrem?” (Tg 4.12).
Não podemos estar na posição de juízes contra as pessoas, pois somente Deus é o Justo Juiz.
225, 454, 578.
Segunda - Sl 62.11
O poder pertence a Deus
Terça - Gn 17.1
Deus é o Todo-Poderoso
Quarta - Pv 21.31
A vitória vem do Senhor
Quinta - 1Sm 2.7
A soberania divina
Sexta - Cl 4.1
O verdadeiro Senhor
Sábado - Mt 28.18
Todo poder no céu e na terra
Tiago 4.11-17.
11 - Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão e julga a seu irmão fala mal da lei e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz.
12 - Há só um Legislador e um Juiz, que pode salvar e destruir. Tu, porém, quem és, que julgas a outrem?
13 - Eia, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos.
14 - Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece.
15 - Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo.
16 - Mas, agora, vos gloriais em vossas presunções; toda glória tal como esta é maligna.
17 - Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado.
Tiago nos ensina que falar mal do irmão e julgá-lo nos torna juiz da lei. Sabemos que só existe um único juizes e legislador — Deus. Quem somos nós para julgar nossos irmãos em Cristo? Como seres humanos somos falhos, imperfeitos e não conhecemos o que vai no interior de cada um. Deus é santo, justo e conhece as nossas verdadeiras intenções, por isso, somente Ele tem como julgar as pessoas com retidão. Em o Novo Testamento, Jesus afirmou que a lei se resume em dois mandamentos, amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Quem ama o seu irmão não o julga. E quem não ama já está descumprindo a lei divina. Quais têm sido suas atitudes para com seus irmãos? Você os ama, os compreende, ou tem se colocado diante de cada um como um juiz impiedoso? Não se esqueça da advertência do nosso Mestre: “Não julgueis, para que não sejais julgados [...]” (Mt 7.1,2).
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Professor, inicie o primeiro tópico da lição fazendo a seguinte indagação: “Qual o perigo de se julgar alguém ou falar mal?” Ouça os alunos com atenção. Explique que falar mal de um irmão ou julgá-lo é tornar-se juiz. Quando condenamos uma pessoa, estamos condenando o nosso próximo e aquEle que o criou, o próprio Deus. Somente o Todo-Poderoso tem poder para julgar e legislar em favor das suas criaturas. Diga que o Mestre nos ensinou que antes de julgar o nosso próximo devemos examinar a nós mesmos. Em seguida leia e discuta com os alunos o texto de Mateus 7.1-3.
INTRODUÇÃO
Palavra Chave
Julgar: Pronunciar sentença (de condenação ou de absolvição); sentenciar.
A lição dessa semana é a continuação dos conselhos práticos de Tiago aos seus leitores. Os assuntos com maior destaque são a “relação social entre os irmãos” e o “planejamento da vida”. Aprenderemos que, uma vez nascidos de novo, não podemos nos relacionar de maneira conflituosa com os outros. Outro aspecto importante que estudaremos é que o planejamento da nossa vida tem de estar de acordo com a soberana vontade de Deus — único legislador e juiz da vida. Ele é quem sempre terá a última palavra.
I. O PERIGO DE COLOCAR-SE COMO JUIZ (Tg 4.11,12)
1. A ofensa gratuita. Não há postura mais problemática em uma igreja local quanto a do “disse-me-disse”. Infelizmente, tal comportamento parece ser uma questão cultural. Algumas pessoas parecem ter satisfação em destilar palavras que machucam. O que ganham com isso? Um ambiente incendiado por insinuações maldosas, onde elas mesmas passam a maior parte das suas vidas sofrendo e levando outros a sofrerem. Assim, Tiago inicia a segunda seção bíblica do capítulo quatro abordando o relacionamento interpessoal entre os crentes (v.11). Devemos evitar as ofensas e as agressões gratuitas, pois o “irmão ofendido é mais difícil de conquistar do que uma cidade forte; e as contendas são como ferrolhos de um palácio” (Pv 18.19). As ofensas só trazem angústias, tristezas e desgraças.
2. Falar mal dos outros e ser juiz da lei (Tg 4.11). O pecado de falar mal do outro foi por Tiago tratado com clareza ainda no versículo 11. Quem empresta os seus lábios para caluniar e emitir falso testemunho, além de estar pecando, coloca-se como o juiz do outro, mas não cumpridor da lei. Nós, servos de Cristo, fomos chamados para ser discípulos, não juízes. Quem busca estabelecer condições para amar o próximo não pode ser discípulo de Jesus de Nazaré. Já imaginou se hoje, Deus, o nosso Pai, tratasse-nos numa posição de Juiz? Provavelmente estaríamos perdidos!
3. O autêntico Legislador e Juiz pode salvar e destruir (Tg 4.12). Com o objetivo de demonstrar o porquê de não podermos nos colocar como juízes dos outros, o texto bíblico recorda do quanto somos pecadores e declara que há apenas um Legislador (criador das leis) e Juiz (apto para julgar a todos) (v.12). Apenas o Criador tem o poder de salvar e destruir. Portanto, antes de emitir uma palavra de julgamento contra uma pessoa, responda a esta questão: “Tu, porém, quem és, que julgas a outrem?”.
SINOPSE DO TÓPICO (I)
Falar mal de um irmão e julgá-lo é pecado, pois só existe um único Juiz e Legislador entre os crentes, Jesus Cristo.
II. A BREVIDADE DA VIDA E A NECESSIDADE DO RECONHECIMENTO DA SOBERANIA DIVINA (Tg 4.13-15)
1. Planos meramente humanos (Tg 4.13). É comum algumas vezes falarmos “daqui tantos anos vou fazer isso”, “em 2018 eu farei aquilo”, etc. É verdade que precisamos planejar a vida. Entretanto, todo planejamento deve ser feito com a sabedoria do alto. Isto é uma dádiva de Deus. Todavia, infelizmente nos acostumamos à mera rotina e tendemos a planejarmos o futuro sem ao menos nos lembrarmos de que Deus, o autor da vida, tem de ser consultado, pois tudo o que temos é fruto da sua bondade e misericórdia.
2. A incerteza e a brevidade da vida (Tg 4.14). “A vida é um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece”. Eis uma séria advertência de Tiago para nós! O ser humano muitas vezes se esquece da sua real condição. Fazemos os planos para amanhã ou depois, mas ninguém tem a certeza do futuro que lhe espera. A nossa vida é breve, passa como a fumaça. Lembre-se de que a nossa existência terrena é passageira e que, por isso, devemos viver a vida segundo a vontade de Deus, esperança nossa.
3. O modo bíblico de abordar o futuro (Tg 4.15). Após compreendermos que a existência humana é finita e Deus é o infinito Absoluto, o versículo 15 nos ensina a ter um estilo de vida diferente. A consciência da nossa limitação, bem como da transitoriedade e a brevidade da vida, deve incidir sobre o nosso modo de viver ao mesmo tempo em que deve servir como ponto de partida para confiarmos ao Senhor todos os nossos planos. Só com essa consciência, buscaremos realizar a vontade de Deus que é boa, perfeita e agradável (Rm 12.2). Portanto, agiremos assim: “Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou não”. Tal postura não é falta de fé, ao contrário, é fé na Palavra de Deus.
SINOPSE DO TÓPICO (II)
A vida do homem é frágil e breve, por isso, precisamos reconhecer que somos dependentes do Criador.
III. OS PECADOS DA ARROGÂNCIA E DA AUTOSSUFICIÊNCIA DO SER HUMANO (Tg 4.16,17)
1. Gloriar-se nas presunções (Tg 4.16a). Pensar que podemos controlar a nossa vida é de uma presunção orgulhosa que afronta o próprio Deus. Nós somos as criaturas e Deus, o Criador. Infelizmente, muitos fazem os seus planos desprezando o Senhor como se fosse possível deixá-lo fora do curso da nossa vida. Não sejamos presunçosos e arrogantes! Reconheçamos as nossas fragilidades, pois somos pó e cinza (Gn 18.27; Jó 30.19). Mas Deus, o nosso Pai, é tudo em todos por Cristo Jesus, o nosso Senhor (Cl 3.11).
2. A malignidade do orgulho das presunções (Tg 4.16b). A gravidade da presunção e da arrogância humana pode ser comprovada na segunda parte do versículo dezesseis: “toda glória tal como esta é maligna”. O livro de Ezequiel conta-nos a história do rei de Tiro. Ali, a malignidade, a arrogância e o orgulho humano levaram um poderoso rei a perder tudo o que tinha. Ele era poderoso em sabedoria e entendimento, acumulando para si riquezas e poder. Mas seu coração tornou-se arrogante, enchendo o interior de violência, iniquidades, injustiças do comércio e profanação dos santuários (Ez 28.4,5,16,18). Em pouco tempo o seu fabuloso império desmoronou. Não há ser humano no mundo que resista às tentações da arrogância, do poder e do orgulho. Triste é o final de quem se entrega à malignidade do orgulho das presunções humanas.
3. Faça o bem (v.17). Fazer o bem é uma afirmação da Epístola de Tiago que lembra as suas primeiras recomendações de não sermos apenas ouvintes, mas praticantes da Palavra (Tg 1.22-25). Ora, se nós ouvimos, entendemos, compreendemos e podemos fazer o que deve ser feito, mas não o fazemos, estamos em pecado. Deus condena o pecado de omissão! Não sejamos omissos quanto àquilo que podemos e devemos fazer! Como discípulos de Cristo não podemos recuar. Antes, temos de perseverar em perseguir o alvo que nos foi proposto até o fim (Fp 3.14).
SINOPSE DO TÓPICO (III)
Que jamais venhamos permitir que a presunção e o orgulho dominem os nossos corações e que nos faça acreditar que podemos controlar nossa vida.
CONCLUSÃO
Vimos nesta lição as duras advertências de Tiago. Infelizmente, as transgressões descritas na epístola são quase que naturais na atualidade. Não são poucos os que difamam, caluniam e falam mal do próximo. Comportam-se como os verdadeiros juízes, ignorando que com a mesma medida com que medem os outros, eles mesmos serão medidos (Mc 4.24). Vimos também que ainda que façamos os melhores planos para a nossa vida, devemos nos lembrar de que a vontade de Deus é sempre o melhor. Que aprendamos com Tiago a perdoar ao outro e submetermo-nos à vontade do Pai.
Destilar: Deixar sair, insinuar, provocar.
RICHARDS, Lawrence O.
Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1ª Edição.
RJ: CPAD, 2007.
ARRINGTON, French L.; STRONSTD (Eds.).
Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Volume 2. 4ª
Edição. RJ: CPAD, 2009.
1. Quais os assuntos de maior destaque nesta lição?
R. Os assuntos com maior destaque são a “relação social entre os irmãos” e o “planejamento da vida”.
2. Tiago inicia a segunda seção bíblica do capítulo quatro abordando qual assunto?
R. Tiago inicia a segunda seção bíblica do capítulo quatro abordando o relacionamento interpessoal entre os crentes.
3. Como Tiago descreve a vida?
R. “A vida é um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece”.
4. Como deve ser feito todo planejamento humano?
R. Todo planejamento deve ser feito com a sabedoria do alto.
5. Qual foi a consequência da malignidade, arrogância e o orgulho do rei de Tiro?
R. Ele perdeu tudo o que tinha.
Subsídio Bibliológico
“Julgar ou Submeter-se à Lei?
Tiago inicia uma transição da convocação dos crentes para o seu preparo para o iminente julgamento, exortando-os a cumprir sua responsabilidade perante os semelhantes que, por sua vez, também o enfrentarão. Faz essa mudança de retórica e repetindo o aviso feito em 3.1, que voltará a focalizar em 5.1-9, aconselhando a respeito da atitude que as pessoas devem ter para com seus semelhantes.
Tiago é claramente enfático na sua denúncia sobre como os crentes às vezes tratam os outros (‘não faleis mal uns dos outros’, v.11). Essa tendência de falar julgando e condenando os outros, talvez sem um verdadeiro motivo (calúnia), certamente representa uma das razões pelas quais ele previne contra o orgulho de assumir as responsabilidades de um ensinador (3.1). O adequado papel de um mestre é ‘convencer do erro do seu caminho um pecador’ (5.20), e não condená-lo (cf. 7.1-5)” (ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2ª Edição. RJ: CPAD, 2004, p.1683).
Subsídio Bibliológico
“Tiago identifica dois problemas que se originam quando as pessoas reivindicam as prerrogativas de um julgamento que por direito pertence somente a Deus, o ‘único Legislador e Juiz’ (v.12).
Ao condenarmos outros, estamos principalmente condenando a própria lei. Talvez Tiago acreditasse que esse era o caso porque quando condenamos as pessoas estamos condenando aqueles que foram ‘feitos à semelhança de Deus’ (3.9), e assim, implicitamente, estamos condenando o próprio Deus (cf. Rm 14.1-8).
Aqueles que julgam os semelhantes estão se posicionando como juízes acima da lei ao invés de submeterem-se a ela (‘se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz’, Tg 4.11); isto é, inevitavelmente o padrão de comportamento reproduz o desejo do juiz humano e não a vontade de Deus (veja 4.13-17). Ao invés de nos atermos às omissões dos semelhantes na obediência à lei de Deus, deveríamos nos concentrar em nossa submissão a Ele (4.7) e à sua lei” (ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2ª Edição. RJ: CPAD, 2004, p.1683).
O Julgamento e a Soberania pertencem a Deus
Diz um ditado popular: “Antes de apontar um dedo para alguém, lembre que há quatro apontados para você”. Se esta simples recomendação fosse levada em consideração, muitos mal entendidos seriam evitados. É impressionante como há pessoas que se julgam acima do bem e do mal. Com isso não queremos dizer que não temos a legitimidade de interpretar quando alguém está ou não agindo de maneira dissimulada. Mas o que está em questão nesta seção bíblica de Tiago (4.11-17) é o estilo de vida que a pessoa desenvolve sob a perspectiva de ser superior a outra pessoa.
Nos versículos 13-15, Tiago lembra-nos da brevidade da vida e da soberania de Deus sobre ela. Quem é verdadeiramente o juiz perfeito, senão Deus? Nós somos simples assistentes, e muitas vezes, os próprios réus necessitados do perdão divino. Quanta misericórdia Deus teve por você, por mim e tantos outros seres humanos! Torna-se uma tarefa impossível de relatar em alguma folha de papel tamanha misericórdia e amor. Com a exceção da direção divina, a nossa vida é incerta e breve. Hoje estamos vivos, mas amanhã podemos estar mortos. Por isso, quem somos nós para posicionarmo-nos como juízes algozes de alguém?
Caro professor, veja quanta riqueza de temas práticos podemos trabalhar nesta aula com os nossos alunos! É imprescindível que os estimulemos a pensarem estas questões práticas de maneira inteligente e franca. O tema da lição desta semana é vivenciado por eles a cada dia das suas vidas. Não podemos desperdiçar a oportunidade de convencermos os nossos alunos à adequarem as suas consciências à luz da Palavra. Não é normal que as pessoas vivam julgando as outras, e nunca parem para fazer um exame da própria consciência. Este exame pode ser feito de maneira bem prática. Basta, no final de um dia, ao chegar em casa, perguntar-se sinceramente: Hoje magoei alguém com o meu comportamento? Há dentro de mim algum sentimento que reflete a ambição, o egoísmo e o prazer sórdido?
Essas perguntas ajudam-nos a conhecer nós mesmos. Se as fizermos à nossa consciência e respondermo-las com sinceridade não ficará pedra sobre pedra. Então, nos conheceremos melhor, desenvolveremos uma autocrítica mais eficaz e teremos toda a independência para odiar o pecado que tento nos assombra.
Elaboração: Escriba Digital
INTRODUÇÃO
Palavra Chave
Julgar: Decidir um litígio na qualidade de juiz ou árbitro; formar juízo acerca de; pronunciar sentenças.
Na Idade Média os monges classificaram os pecados em sete fundamentais (capitais) que são: Orgulho, Inveja, Glutonaria, Lascívia, Ira, Ganância e Preguiça. É interessante notar que não consta desta lista a Maledicência, e se esta lista fosse elaborada nos dias de hoje, creio que também não entraria. Quer saber por quê? Porque sua popularidade e aceitação social são imensas. Porém o fato da maledicência ser aceita socialmente, não a torna aprovada por Deus. Pense nos “sete pecados” alistados por Deus em Provérbios 6.16-19. A maledicência tem a capacidade de destruir pessoas e relacionamentos. Infelizmente muitos não conseguem enxergar essa triste realidade. Tiago, a partir dos versículos 13-17, vai falar sobre o risco da presunção. A presunção vem de um entendimento errado de nós mesmos e das nossas ambições. Presunção é assegurar a nós mesmos que o tempo está do nosso lado e à nossa disposição. Presunção é fazer os nossos planos como se estivéssemos no total controle do futuro. Presunção é viver como se nossa vida não dependesse de Deus.
I. O PERIGO DE COLOCAR-SE COMO JUIZ (Tg 4.11,12)
1. A ofensa gratuita. A palavra que Tiago emprega para expressar a ideia de falar mal de outros é o verbo grego katalalein. Geralmente este verbo significa falar mal de alguém que está ausente, criticá-lo, insultá-lo, caluniá-lo sem que esteja presente para defender-se. Este pecado de caluniar, de insultar, de falar mal do próximo é condenado através de toda a Bíblia. O salmista acusa ao homem mau: “Assentas-te a falar contra teu irmão; falas mal contra o filho de tua mãe” (Sl 50.20). O salmista ouve a Deus dizendo: “Aquele que difama o seu próximo, às escondidas, eu o destruirei” (Sl 101.5). Nas cartas paulinas, o substantivo katalalia é traduzido como maledicência, murmuração. Paulo o menciona entre os pecados característicos do irredento e ímpio mundo pagão (Rm 1.30) e é um dos pecados que teme encontrar na belicosa Igreja de Corinto (2Co 12.20). É significativo destacar que nessas duas passagens, katalalia está imediatamente relacionada com a ideia de murmurar. Katalalia é o pecado daqueles que se reúnem em pequenos grupos e fazem circular confidencialmente informações fragmentárias recebidas através de rumores que destroçam a reputação e o bom nome de pessoas que não estão ali para defender-se. O mesmo pecado, traduzido neste caso como detrações, é condenado em 1 Pedro 2.1. Assim, pois, esta é uma falta condenada universalmente. Há uma grande necessidade a respeito de que somos advertidos, pois somos lentos para entender que poucos pecados haverá que a Bíblia tão consequentemente condena como o pecado da murmuração irresponsável e maliciosa.
Muitas vezes, por considerar a maledicência menos grave, nos damos o direito de falar mal de alguém. A maledicência é tão discreta, que às vezes até vem disfarçada de correção e preocupação com o caráter do outro. Para detectar as necessidades de mudança no caráter alheio, somos levados a revelar as áreas menos nobres e fracas de algum irmão. Veremos que a maledicência é explicitamente condenada por trazer consigo outros pecados que funcionam como suas raízes.
2. Falar mal dos outros e ser juiz da lei (Tg 4.11). O que será que Tiago quis dizer com a ideia de que ao falar mal do irmão ou julgá-lo, falamos mal da Lei e a julgamos? Será que nossos irmãos representam a Lei? É claro que não! Deus representa Sua própria Lei; e Ele mesmo proíbe falar mal ou julgar o irmão. Todo aquele que fala mal ou julga o irmão está quebrando essa Lei. O pecado é a transgressão da Lei (1Jo 3.4) e o maledicente a transgride. Não importa se o mal que falamos do irmão corresponde a uma verdade ou não, importa que a Palavra nos proíbe de fazê-lo. E aquele que tropeça num só ponto é culpado de todos (Tg 2.10). Vemos em Tito que por causa do nosso comportamento, a Palavra de Deus pode ser difamada (Tt 2.1-5).
3. O ser humano coloca-se acima da Lei. Desobedecer é a forma mais direta de desprezar e rejeitar a Lei de Deus. Ao desobedecê-la estamos dizendo que não concordamos com ela. Quando tomamos a liberdade de não cumprir a Lei, é porque já avaliamos em nossa mente e julgamos desnecessário obedecê-la. Neste ponto, deixamos de ser cumpridores e passamos a ser o seu juiz. Assim nos colocamos acima da Lei e a julgamos.
4. O autêntico Legislador e Juiz pode salvar e destruir (Tg 4.12). A proibição de Tiago não se restringe ao ato de falar mal, mas também ao ato de julgar o irmão. Ele mistura as duas advertências, e a quebra de qualquer uma delas constitui um mesmo pecado, que é a transgressão da Lei. Em ambos os casos, a pessoa ainda comete uma usurpação, porque falar mal é algo próprio do diabo, e julgar é especifico de Deus. Se falamos mal, nos associamos a algo errado que é a maledicência do diabo; se julgamos, usurpamos algo que é correto e justo, porém, pertence exclusivamente a Deus. Um só é legislador e juiz (Tg 4.12).
5. Capacidade exclusiva de Deus. Quando alguém julga o irmão, é porque supostamente está detectando algo de mal na vida dele; e com base no que detectou, se acha no direito de declarar as más qualidades do outro. Mas o grande problema do nosso julgamento é que ele é ineficaz. Não temos a capacidade de salvar ou fazer perecer. Nosso julgamento só tem poder de expor a situação do pecador, mas nada pode fazer para mudá-la. Deus, porém, é o juiz capaz de salvar ou fazer perecer (v.12); Ele não apenas expõe a situação do pecador, mas também define o resultado final dele. Deus é quem atribui justiça (Rm 4.6). Nós só podemos ver o pecado, mas não podemos fazer algo eficaz contra ele. Deus pode ver e definir Sua sentença. Se houver arrependimento, há salvação, se não houver, há condenação.
II. A BREVIDADE DA VIDA E A NECESSIDADE DO RECONHECIMENTO DA SOBERANIA DIVINA (Tg 4.13-15)
1. Planos meramente humanos (Tg 4.13). Temos aqui o exemplo de pessoas que fazem todo o seu planejamento e trabalham sem pensar em Deus. Ao ignorar Deus, elas mostram tanta arrogância como aquele que difama seu irmão. O pecado de não se dirigir a Deus em oração é uma das ofensas mais comuns que um cristão comete.
Tiago se dirige a uma parte da igreja, a saber, os negociantes. Ele chama sua atenção com a expressão idiomática “prestem atenção”. Outras traduções trazem a expressão “dai ouvidos”. Então, ele cita as próprias palavras dessas pessoas que falam sobre ir de um lugar para outro, passando algum tempo lá, a fim de negociar e ganhar dinheiro. Na verdade, não podemos culpar um vendedor viajante por ir de um lugar para outro fazendo negócios. Faz parte de sua vida. Há um certo paralelo com o discurso de Jesus sobre o fim dos tempos, quando se refere aos dias de Noé: “Porquanto assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a todos” (Mt 24.38,39; comparar também com Lc 17.26-29). Apesar de ninguém culpar uma pessoa por comer, beber e casar-se, a questão é que, na vida dos contemporâneos de Noé, não havia lugar para Deus. Essas pessoas viviam como se Deus não existisse, e o mesmo aplica-se aos negociantes aos quais Tiago se dirige.
Observe que Tiago não tem nada contra a ocupação dos negociantes, nem tampouco escreve sobre as questões éticas de vender e comprar. Ele apenas afirma que os comerciantes negociam e têm lucros, e é isso que esperamos quando os negócios estão indo bem. Tiago usa esses homens como exemplo por causa de sua falta de consideração para com Deus. Para eles, o dinheiro é muito mais importante do que servir ao Senhor. Eles vivem como o homem descrito na parábola do rico louco (Lc 12.16-21). Não percebem que não podem acrescentar à sua vida um minuto sequer. São completamente dependentes de Deus.
2. A incerteza e a brevidade da vida (Tg 4.14). Tiago aqui destaca duas coisas: Em primeiro lugar, a incerteza da vida (4.14a). Esta expressão é baseada em Provérbios 27.1: “Não te glories do dia de amanhã; porque não sabes o que produzirá o dia”. Esses negociantes estavam fazendo planos seguros para um ano, enquanto não podiam ter garantia de um dia sequer. Eles diziam: nós iremos, nós permaneceremos, nós compraremos e teremos lucro. Essa postura é a mesma que Jesus reprovou na parábola do rico insensato em Lucas 12.16-21. Aquele que pensa que pode administrar o seu futuro é tolo. A vida não é incerta para Deus, mas é incerta para nós. Somente quando estamos dentro da vontade de Deus é que podemos ter confiança no futuro. Em segundo lugar, a brevidade da vida (4.14b). Tiago compara a duração da vida com uma neblina. O livro de Jó revela de forma clara a brevidade da vida: 1) “Os meus dias são mais velozes do que a lançadeira do tecelão...” (Jó 7.6); 2) “...porquanto nossos dias sobre a terra são como a sombra” (Jó 8.9); 3) “...E os meus dias são mais velozes do que um correio” (Jó 9.25); 4) “O homem, nascido da mulher, é de poucos dias e cheio de inquietação. Nasce como a flor, e murcha; foge também como a sombra, e não permanece” (Jó 14.1,2 — ARA). Moisés diz: “...acabam-se os nossos anos como um suspiro... pois passa rapidamente, e nós voamos” (Sl 90.9,10 — ARA). Porque a vida é breve não podemos desperdiçá-la nem vivê-la na contramão da vontade de Deus.
3. O modo bíblico de abordar o futuro (Tg 4.15). Tiago ensina que Deus é soberano sobre nossa vida. Em nossos planos, ações e realizações devemos reconhecer nossa submissão a Deus. Assim, depois de um comentário sobre a brevidade da vida, ele volta ao assunto apresentado no versículo 13. Diz que, ao invés de ignorar Deus em nossas atividades diárias, devemos colocá-lo em primeiro lugar e dizer: “Se for da vontade do Senhor, viveremos e faremos isto ou aquilo” — ARA.
Em alguns meios e culturas, o clichê se Deus quiser é um tanto comum. Esse é um clichê religioso que, por causa de seu uso repetitivo, começa a perder o significado original. Mas por que Tiago diz aos negociantes para usarem essa frase? Ele lhes mostra que sua vida está nas mãos de um Deus soberano e que eles devem reconhecê-lo em todos os seus planos, mas não diz a eles quando e como usar a frase se Deus quiser.
III. OS PECADOS DA ARROGÂNCIA E DA AUTOSSUFICIÊNCIA DO SER HUMANO (Tg 4.16,17)
1. Gloriar-se nas presunções (Tg 4.16a). Esse versículo serve para nos lembrar da advertência séria feita por Tiago quando citou o Antigo Testamento: “Deus se opõe ao soberbo, mas dá graça ao humilde” (v.6; Pv 3.34). Alguns dos negociantes haviam se aventurado; tinham corrido riscos e alcançado lucro. Como sempre acontece, o sucesso gera mais sucesso e, junto com a prosperidade, vem o orgulho e a autossuficiência. Esses comerciantes apoiavam-se em suas próprias ideias e orgulhavam-se das suas realizações. J. B. Phillips nos oferece a seguinte paráfrase: “Como não poderia deixar de ser, você sente orgulho dentro de si ao planejar o futuro com tamanha segurança. Esse tipo de orgulho nada tem de bom”.
A jactância humana não vale nada, pois dá a glória ao homem, e não a Deus. Essa jactância inclui gloriar-se em suas realizações. Não só isso é injustificável, como também é totalmente inaceitável diante de Deus. É mau. Por meio da experiência pessoal com um espinho na carne, Paulo é capaz de ensinar que a única coisa da qual podemos nos gloriar é nossa fraqueza; nessa fraqueza, o poder de Cristo tona-se evidente (2Co 11.30; 12.5,9). Um cristão, portanto, pode gloriar-se apenas “de que sua vida é vivida na dependência de Deus e em responsabilidade para com ele”.
2. A malignidade do orgulho das presunções (Tg 4.16b). A palavra grega ponerós, “mau”, que consta aqui e cuja forma substantiva designa o diabo, é um indício de que o maligno tem participação nessa atitude. Em outras palavras, pensar que vamos fazer o que bem entendemos sem considerar a vontade de Deus é sinal de arrogância, e essa arrogância nada mais é do que pecado. Sua procedência não é de Deus, ela é maligna por substituir Deus e seu conselho e sabedoria, pela nossa própria vontade. O problema do orgulho arrogante está no fato de que ele nos leva a acreditar em uma autossuficiência e confiança demasiada do valor de nossos próprios esforços e empreendimentos. Essa atitude nos faz desconsiderar Deus como o centro dos nossos planejamentos, e passamos a focar o eu e esquecemo-nos de Deus.
Mas é importante dizer que, com isso, Tiago não quis dizer que não devemos jamais fazer qualquer tipo de planejamento. Jesus mesmo disse, que o próprio discipulado requer de nós planejamento, como ele mostrou em Lucas 14.25ss, dando o exemplo de uma pessoa que quer construir uma torre. A primeira coisa que ela faz é sentar e calcular o custo envolvido para saber se ela terá dinheiro suficiente para começar e terminar a obra. Da mesma forma que um rei que vai a guerra. Só que antes de partir, ele verifica se seu exército é grande e capaz o suficiente para ir combater contra o outro rei. Ou seja, o planejamento não é proibido nem ignorado, mas submisso a vontade de Deus. Ele é importante e necessário, mas não substitui a vontade de Deus, ele depende dela.
3. Faça o bem (v.17). Tiago termina esta seção de sua carta com um provérbio que talvez fosse comum no mundo judaico de sua época. O advérbio portanto liga o provérbio ao texto anterior. O tom de seu discurso muda, pois Tiago não está mais falando diretamente aos negociantes, mas a todos os leitores de sua epístola.
O provérbio transmite uma advertência muito séria contra o pecado da negligência. Não o pecado de ação, mas o pecado de omissão. Esse pecado particular mostra seu semblante horrível quando o ser humano ignora Deus, faz planos, alcança o sucesso e gloria-se de suas realizações (Tg 4.13-16). O ser humano repete o pecado de omissão ao não praticar o bem, quando sabe que deve fazê-lo. Jesus deixou claro esse pecado quando falou do sacerdote e do levita na parábola do bom samaritano (Lc 10.30-35) e do homem rico que desprezou Lázaro (Lc 16.19-31) e das pessoas que durante sua vida na terra deixaram de alimentar os famintos, hospedar os forasteiros, vestir os pobres e visitar os enfermos e prisioneiros (Mt 25.40-46).
Tiago se dirige à pessoa que sabe que deve fazer o bem. Ele não está falando para pessoas que cometem o pecado na ignorância. Assim diz Paulo para os filósofos atenienses no Areópago: “Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam” (At 17.30). Pecado é transgressão da lei, diz João em uma de suas epístolas (1Jo 3.4). Quer seja este o pecado de ação ou omissão, é uma afronta a Deus, especialmente quando o pecador conhece os mandamentos de Deus.
O pecado nunca deve ser atenuado. Isso vale especialmente para o pecado de omissão, que muitas vezes tem, à primeira vista, uma aparência inofensiva. Mas esse não é o caso. Tome, por exemplo, o discurso de despedida de Samuel. Ele diz aos israelitas: “E quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o Senhor, deixando de orar por vós” (1Sm 12.23). Samuel reprovou o pecado da negligência. A negligência é equivalente a ignorar Deus e o próximo e, portanto, é um pecado contra a lei de Deus.
CONCLUSÃO
Os crentes são propriedade exclusiva de Deus (1Pe 2.9) e são também seus filhos (Jo 1.12). Falar mal de um irmão é falar mal de um filho de Deus, uma propriedade de Deus — Ele o defende como advogado. Portanto, para o apóstolo é inconcebível que o crente mantenha boas relações com Deus e não cultive sadia comunhão com o seu irmão.
Muita gente tem a ideia equivocada de que a vontade de Deus é uma fórmula para a infelicidade. Mas é justamente o contrário! É a desobediência à vontade de Deus que nos torna infelizes. Tanto a Bíblia quanto a experiência humana dão testemunho dessa verdade. Mesmo que um cristão desobediente pareça escapar incólume das dificuldades desta vida, o que dirá quando estiver diante do Senhor? “Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade será punido com muitos açoites. Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez coisas dignas de reprovação levará poucos açoites” (Lc 12.47,48).
BIBLIOGRAFIA
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