Título: Fé e Obras — Ensinos de Tiago para uma vida cristã autêntica
Comentarista: Eliezer de Lira e Silva
Lição 13: A atualidade dos últimos conselhos de Tiago
Data: 28 de Setembro de 2014
“Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis; a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tg 5.16).
Se vivermos os princípios da Epístola de Tiago teremos uma vida cristã que agradará ao nosso Deus.
231, 299, 378.
Segunda - Tg 5.7,8
Pacientes até a vinda do Senhor
Terça - Tg 5.9
Não nos acusemos mutuamente
Quarta - Tg 5.10,11
O exemplo da paciência de Jó
Quinta - Tg 5.12
Ninguém seja falso
Sexta - Tg 5.13-16
A oração da fé
Sábado - Tg 5.17,18
O exemplo da oração de Elias
Tiago 5.7-20.
7 - Sede, pois, irmãos, pacientes até a vinda do Senhor. Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba a chuva temporã e serôdia.
8 - Sede vós também pacientes, fortalecei o vosso coração, porque já a vinda do Senhor está próxima.
9 - Irmãos, não vos queixeis uns contra os outros, para que não sejais condenados. Eis que o juiz está à porta.
10 - Meus irmãos, tomai por exemplo de aflição e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor.
11 - Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso.
12 - Mas, sobretudo, meus irmãos, não jureis nem pelo céu nem pela terra, nem façais qualquer outro juramento; mas que a vossa palavra seja sim, sim e não, não, para que não caiais em condenação.
13 - Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores.
14 - Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor;
15 - e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.
16 - Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis; a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.
17 - Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse, e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra.
18 - E orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto.
19 - Irmãos, se algum de entre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter,
20 - saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma e cobrirá uma multidão de pecados.
Professor, chegamos ao final da série de lições a respeito da Epistola de Tiago. O meio-irmão do Senhor Jesus dá inicio a sua carta trazendo aos crentes uma palavra de encorajamento, pois ao que tudo indica, eles estavam sendo duramente provados (1.2,3). Sabemos que as provações não são para nos abater, mas para nos lapidar, fortalecer e amadurecer. Tiago finda sua carta, também com uma consolação. Ele fala a respeito da paciência em meio às aflições e cita Jó como exemplo de vida e paciência (5.11). Este servo de Deus, depois de experimentar terríveis sofrimentos, recebe do Todo-Poderoso a sua vitória. Tiago lembra aos irmãos que Jesus em breve voltará e que toda tribulação terá o seu fim, pois desfrutaremos da misericórdia e bondade de Deus para todo o sempre.
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Professor, chegamos ao final do estudo da Epístola de Tiago. Para esta última aula, sugerimos que você reproduza o esquema abaixo no quadro. Utilize-o para fazer um resumo geral dos últimos conselhos de Tiago.
O mau uso dos bens materiais (5.1-6);
Paciência e constância nas provações até a volta de Jesus (5.7-11);
Não ao juramento (5.12);
A oração e unção em favor dos enfermos (5.13-18);
A restauração dos irmãos que se desviaram (5.19,20).
INTRODUÇÃO
Palavra Chave
Conselho: Ensino ou aviso ao que cabe fazer.
Depois de estudarmos os principais assuntos da Epístola de Tiago, nessa última lição do trimestre, chegamos às seções finais da carta (vv.7-20). Nessa ocasião, analisaremos os ensinos práticos e atuais que o meio-irmão do Senhor escreveu para os seus leitores. São conselhos bíblicos práticos, perenes e necessários ao nosso relacionamento com Deus e a uma boa convivência na igreja local bem como em sociedade.
I. O VALOR DA PACIÊNCIA E A PROIBIÇÃO DO JURAMENTO (Tg 5.7-12)
1. O valor da paciência e da perseverança (vv.7,8). No versículo sete Tiago evoca uma imagem agrícola para exemplificar o valor da paciência e da perseverança. Tal imagem é comum aos destinatários de sua época. O líder da Igreja em Jerusalém nos ensina que tanto a paciência quanto a perseverança são valores que devem ser cultivados, não em alguns momentos, mas durante a vida toda. A fim de vencermos as dificuldades, privações, inquietações e sofrimentos da existência terrena, precisaremos da paciência e da perseverança. Essas características também estão relacionadas à nossa esperança na vinda do Senhor. Sejamos pacientes e perseverantes em aguardá-la, pois ela, conforme nos diz as Escrituras, está próxima (Fp 4.5; Hb 10.25,37; 1Jo 2.18; Ap 22.10,12,20).
2. O valor da tolerância de uns para com os outros (v.9). Mais uma vez a Palavra do Senhor reitera o cuidado com a língua, pois se não soubermos usá-la acabaremos por cometer falsos julgamentos contra as pessoas. No versículo nove, Tiago adverte-nos acerca do dia do juízo divino. O Juiz está às portas! Ele sim julgará com retidão e, justamente por isso, não podemos nos ocupar emitindo opiniões e comentários falsos contra quaisquer pessoas, quer sejam estas parte da igreja, quer não.
3. Aflição, sofrimento e juramento (vv.10-12). O ensino desses três versículos, primeiramente, alude à aflição e a paciência dos profetas que falaram em nome do Senhor. De igual modo, posteriormente, trata da paciência de Jó e o fim que o Senhor lhe concedeu após tamanha aflição e sofrimento (Ez 14.14,20; Hb 11.23-38). Os crentes a quem Tiago escreveu sentiam-se orgulhosos por ser comparados aos personagens do Antigo Testamento. Ao experimentar as aflições, eles sabiam que assim como Deus concedera graça a Jó (Jó 42.10-17), da mesma forma daria a eles. No versículo doze, após o exemplo do poder de Deus em relação aos seus servos, os profetas e Jó, Tiago admoesta-nos a que não caiamos no erro de jurar pelo céu ou pela terra. Nossas palavras não são poderosas para garantir o juramento. Não! Tudo depende de Deus e da sua vontade. Tiago nos ensina que não devemos fazer tais juramentos, pois a palavra do discípulo de Jesus deve se resumir ao sim ou ao não (Mt 5.33-37). Isto deve ser suficiente!
SINOPSE DO TÓPICO (I)
Como cristãos devemos cultivar a paciência e a perseverança até a volta de Jesus.
II. A UNÇÃO DE ENFERMOS E COMO DEUS OUVIU A ELIAS (Tg 5.13-18)
1. Oração e cânticos (Tg 5.13). Diante das adversidades, ou nos períodos de bonança, a Bíblia nos recomenda a adorar a Deus. Se estivermos tristes e angustiados, devemos buscar o Senhor em oração; se estivermos alegres, devemos cantar louvores a Deus. Em ambas as situações, Deus deve ser adorado! Como é bom sermos acolhidos pelo Senhor. Se tivermos de chorar, choremos na presença dEle; se tivermos de cantar, entoemos louvores diante dEle. Dessa maneira, seremos maravilhosamente consolados pelo Criador.
2. A oração da fé (vv. 14,15). A orientação de se chamar os presbíteros, ou anciãos da comunidade cristã, para orar por um enfermo e ungi-lo com azeite, denota a ideia de respeito que os crentes tinham com esses ministros. Os presbíteros serviam ao povo de Deus com alegria. Isso também indica que a atitude de ungir o enfermo com o óleo não deve ser banalizada em nosso meio. Hoje, as pessoas ungem bens materiais, bairros e até cidades. Isso é esoterismo! A base bíblica em o Novo Testamento fala do acolhimento ao enfermo para que ele seja curado. É a “oração da fé” que, além de curar o doente, faz com que ele sinta igualmente o perdão dos seus pecados.
3. Oração e confissão (v.16-18). Esse é um texto maravilhoso, mas infelizmente, desprezado por muitos. Ele rechaça a “confissão entre os irmãos”. É um incentivo a koinonia, ou seja, à união e ao amor fraternal entre os salvos. Como todos somos pecadores, em vez de acusarmo-nos uns aos outros, devemos realizar confissões públicas para ajudarmo-nos mutuamente. Uma vez confessada a nossa culpa e tendo orado uns pelos outros, seremos sarados. Tiago lança ainda mão do conhecido profeta Elias, para mostrar que até mesmo um homem como ele, que foi usado poderosamente por Deus, era igual a nós e sujeito às mesmas paixões. Todavia, o profeta orou e Deus ouviu o seu clamor. De fato, a oração de um justo pode muito em seus efeitos.
SINOPSE DO TÓPICO (II)
Precisamos acolher os enfermos com nossas interseções e orações.
III. A IMPORTÂNCIA DA CONVERSÃO DE UM IRMÃO (Tg 5.19,20)
1. O cuidado de uns para com os outros (v.19). Nos versículos finais da epístola, a conversão é ilustrada como literalmente retornar à verdade original da qual alguém um dia se afastou. A mensagem é bem clara: só podemos alcançar quem se desviou da verdade se formos em busca de tal pessoa. Para ir precisamos exercer um cuidado especial e amoroso de uns para com os outros (Fp 2.4).
2. A proximidade do ensino de Tiago com o de Jesus. É importante ressaltarmos que o ensino da Epístola de Tiago encontra-se em plena harmonia com o Evangelho de Jesus (Mc 12.30,31). Com muita clareza percebemos que o fio condutor que perpassa toda a epístola é justamente o da Lei do Amor: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração” e o “o teu próximo como a ti mesmo”.
SINOPSE DO TÓPICO (III)
Precisamos buscar aqueles que se desviaram e cuidar destes para que se reconciliem com o Senhor e sejam restaurados.
CONCLUSÃO
Chegamos ao fim do estudo panorâmico e conciso da Epístola de Tiago. Que cada professor e, igualmente cada aluno, não importando a idade, cresça mais e mais em Cristo, para a glória e o louvor de Deus Pai. O nosso desejo é que a Igreja do Senhor cresça diariamente no temor de Deus, em sua santidade, demonstrando a fé em Cristo Jesus através das boas obras, pois esta é a vontade do nosso Pai (Tg 1.22,23,25).
RICHARDS, Lawrence O.
Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1ª Edição.
RJ: CPAD, 2007.
ARRINGTON, French L.; STRONSTD (Eds.).
Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Volume 2. 4ª
Edição. RJ, CPAD, 2009.
1. No versículo nove, Tiago adverte-nos acerca do quê?
R. No versículo nove, Tiago adverte-nos acerca do dia do juízo divino. O Juiz está às portas!
2. Como se sentiam os crentes a quem Tiago escreveu?
R. Os crentes a quem Tiago escreveu sentiam-se orgulhosos por ser comparados aos personagens do Antigo Testamento.
3. Diante das adversidades, ou nos períodos de bonança, o que a Bíblia nos recomenda?
R. A Bíblia nos recomenda adorar a Deus.
4. O que denota a orientação de se chamar os presbíteros, ou anciãos da comunidade cristã, para orar por um enfermo e ungi-lo com azeite?
R. A orientação de se chamar os presbíteros, ou anciãos da comunidade cristã, para orar por um enfermo e ungi-lo com azeite, denota a ideia de respeito que os crentes tinham com esses ministros.
5. Como a conversão é ilustrada nos versículos finais da Epístola de Tiago?
R. Nos versículos finais da epístola, a conversão é ilustrada como literalmente retornar à verdade original da qual alguém um dia se afastou.
Subsídio Bibliológico
“A paciência de Jó (5.10,11)
Esses versos marcam a transição dos ensinamentos de Tiago sobre a nossa responsabilidade por aqueles que estão fora da comunidade da Igreja, para com os que estão dentro dela, à luz do julgamento de Deus. Faz essa transição através de dois exemplos que os crentes devem seguir; ‘os profetas que falaram em nome do Senhor’ (v.10) e a fidelidade de Jó em suas adversidades (v.11). Nos dois exemplos, o ponto que Tiago deseja enfatizar é que devemos considerar aqueles que perseveram como abençoados. Por saberem que ‘o Senhor é muito misericordioso e piedoso’, Jó e os profetas foram pacientes frente às aflições que sofreram.
Os crentes precisam imitar o exemplo da perseverança de Jó sem se ‘desviarem da verdade’ (5.19) de que Deus é a imutável fonte de ‘toda boa dádiva e de todo dom perfeito’ (1.17). Precisam imitar o exemplo dos profetas falando ‘em nome do Senhor’, isto é, usando de seu discurso para mostrar a divina ‘misericórdia e piedade’ (v.11) para que possamos trazer de volta aqueles que se desviaram da verdade por atos pecaminosos ou por terem acusados a Deus por suas dificuldades (1.13). Aqueles que assim fizerem serão abençoados com a vida eterna e com o perdão de seus pecados (5.20)” (ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2ª Edição. RJ: CPAD, 2004, p.1687).
Subsídio Bibliológico
“Cobrindo uma Multidão de Pecados (5.19,20)
Tiago conclui sua carta encorajando-nos a fazer, por nossos semelhantes, o mesmo que ele fez por meio de seus escritos ao povo de Deus, ‘às doze tribos que andam dispersas’ (1.1). Se observarmos uma pessoa ‘desviando-se da verdade’, a vontade de Deus é que façamos com que ela volte (v. 19), porque ‘o Espírito que em nós habita tem ciúmes’ (4.5, nota NVI), quando ‘segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade’ (1.18). Dessa forma, nós também nos tornamos ‘servos de Deus e do Senhor Jesus Cristo’ (1.1).
A ‘verdade’, da qual alguns se ‘desviavam’, representa a convicção de Tiago de que Deus é a fonte de ‘toda dádiva e de todo dom perfeito’ (1.17), e de nada que seja mau ou pecaminoso. Para Tiago, esse ‘erro’ teológico (v. 20) tem profundas consequências éticas. Aqueles que creem que Deus é a fonte de todas as coisas ruins em sua vida (1.13) duvidarão que Deus esteja disposto e desejoso de lhes conceder como dádiva generosa, a sabedoria de que necessitam (1.5-8). Seus esforços frustrados de aprender essa sabedoria através das lutas da vida, mostrarão que permanecem ‘inconstantes’, desejosos de agradar a Deus, mas ao mesmo tempo possuidores de uma ‘concupiscência’ que tenta a ‘pecar’ (1.14,15). Tais pessoas não podem ser trazidas de volta para Deus através de palavras de condenação (4.11,12), somente sendo novamente convencidas de sua misericórdia serão capazes de confiar nEle e de ‘receber com mansidão a palavra nela enxertada’” (1.21; cf. 4.7-10) (ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2ª Edição. RJ, CPAD, 2004, p.1689).
A Atualidade dos últimos conselhos de Tiago
Caro professor, mais um trimestre se finda. Nesta oportunidade é hora de fazermos um balanço da nossa atividade de magistério cristão. E necessário que algumas perguntas sejam feitas, tais como: Tenho alcançado os objetivos propostos em cada lição? Os meus alunos têm crescido espiritualmente e como pessoas? Estas, são perguntas que só você pode fazê-las e respondê-las.
O autoexame sincero é fundamental para nortear o nosso árduo trabalho no magistério cristão.
Antes de iniciar a última lição faça uma síntese dos temas tratados ao longo de todo o trimestre. É importante o professor fazer este procedimento para que os alunos percebam o fio condutor da lição trimestral e saibam que cada lição está concatenada desde a primeira até a décima terceira. Escolha os temas que, como professor, você achar mais importante fazendo um sintético comentário sobre eles. Então poderás anunciar o assunto da última lição que é a conclusão da carta de Tiago, destacando os últimos conselhos que servem de auxílios atuais para a vida cristã hoje. E necessário destacar os quatro os conselhos principais expostos na presente seção da carta de Tiago (5.7-20): o valor da paciência; a proibição de juramentos; a unção dos enfermos e a disposição de converter um irmão do erro.
Vale a pena também recordar que no início da epístola o tema da tentação foi evocado por Tiago como um evento que gerava Paciência. Agora a paciência é retomada no capítulo cinco. Aqui, um conselho de Tiago chama atenção: “Sede vós também pacientes, fortalecei o vosso coração, porque já a vinda do Senhor está próxima”. Num tempo marcado pela dor, em que o povo de Deus vive, este conselho do meio-irmão do Senhor continua atual e em plena vigência: “fortalecei o vosso coração”. Mas para quê? Para não se enfraquecer com as ilusões da vida, os escândalos divulgados, sabendo que o tempo que precede a vinda de Cristo é um tempo marcado pela falta de fé e pela falta de esperança em Deus. Por isso, o conselho para sermos pacientes!
Com paciência vamos peregrinando a nossa vida aqui no mundo, amando a Deus e ao próximo. Buscando viver a autenticidade da fé segundo o Evangelho de Cristo. Não abrindo mão da nova aliança estabelecida por Deus a todos os quantos creem no seu Filho.
Elaboração: Escriba Digital
INTRODUÇÃO
Palavra Chave
Conselho: Opinião refletida quanto ao que se deve fazer, parecer, advertência, aviso.
Tiago caminha para o fechamento de sua carta. Ele escreve sua conclusão abordando uma série de recomendações úteis à vida do crente, em particular, e da igreja em geral, como era o costume na literatura grega. Ele faz recomendações quanto à paciência, o juramento, a oração, alegria e louvor, doença, unção com óleo e cura, confissão e perdão. Ele encerra tratando da restauração de desviados à comunhão da Igreja. Tiago abre deu coração pastoral e demonstra preocupação com as ovelhas (irmãos) que se desviaram da verdade. Ao fazer isto, nos ensina como devemos agir diante de tal realidade. Que seus conselhos práticos sirvam de edificação para a vida de todos nós.
I. O VALOR DA PACIÊNCIA E A PROIBIÇÃO DO JURAMENTO (Tg 5.7-12)
1. O valor da paciência e da perseverança (vv.7,8). Tiago começa sua carta com uma chamada à perseverança sob as provações (1.2-4). As provas, e não as experiências místicas, são o caminho da santificação e do aperfeiçoamento (1.4). Tiago se volta agora dos ricos para os pobres que estavam sendo oprimidos e dá-lhes uma palavra de encorajamento. Eles devem ser pacientes, sabendo que é a Deus que estão servindo e que de Deus é que vem a recompensa. Os pobres são encorajados a confiar no provedor e não na provisão.
A paciência é uma virtude que poucos têm e muitos procuram. Vivemos numa sociedade que defende a palavra instantâneo. Mas ser paciente, da maneira como Tiago usa a palavra, é muito mais do que esperar passivamente que o tempo passe. Paciência é a arte de suportar alguém cuja conduta é incompatível com a de outros e por vezes opressiva. Uma pessoa paciente acalma uma briga, pois controla sua ira e não busca vingança (comparar com Pv 15.18; 16.32).
O termo longânimo (N.T. — no inglês da época, long suffering) não significa sofrer por um pouco, mas tolerar alguém por um longo tempo. Em outras palavras, paciência é o contrário de ser irascível. Deus demonstra paciência ao ser “tardio em irar-se” quando o ser humano continua a pecar, mesmo depois de muitas admoestações (Êx 34.6; Sl 86.15; Rm 2.4; 9.22; 1Pe 3.20; 2Pe 3.15). O ser humano deve refletir essa virtude divina em sua vida diária.
Tiago sabe que os leitores de sua epístola são incapazes de se defender contra seus opressores. Portanto, ele sugere que exercitem a paciência e deixem a questão nas mãos de Deus, que está vindo para salvá-los. Mesmo que eles pudessem se defender, não deveriam fazer justiça com as próprias mãos. Deus disse: “A mim me pertence a vingança, a retribuição” (Dt 32.35; Rm 12.12; Hb 10.30).
Nesse versículo, ele retrata a espera de um lavrador que aguarda uma colheita abundante, mas deve esperar pacientemente pela chegada das “chuvas de outono e de verão”. O lavrador sabe que tudo cresce de acordo com as estações do ano. Sabe que são precisos muitos dias para que uma planta se desenvolva da germinação até a colheita. Além disso, ele sabe que, sem a quantidade certa de chuva no devido momento, seu trabalho é em vão.
Apesar de a quantidade de chuva em Israel variar, o lavrador sabe que pode contar com as chuvas de outono, começando com algumas tempestades no final de outubro. Então, ele pode plantar as sementes para que estas venham a germinar e aguarda com ansiedade que chova o suficiente em abril e maio, quando os grãos estão amadurecendo e a safra aumenta a cada chuva. Ele depende, portanto, das chuvas de outono e primavera (Dt 11.14; Jr 5.24; Os 6.3; Jl 2.23). Ele é capaz de prever a vinda das chuvas, mas não pode ter certeza quanto à colheita. Ele aguarda em ansiosa expectativa.
Tiago pede aos leitores que sejam pacientes e que se mantenham firmes, “fortalecei os vossos corações”. Eles podem afirmar com segurança que o Senhor vai voltar, mas não sabem quando será. Enquanto esperam, a dúvida e a distração muitas vezes entram em sua vida. Por esse motivo, Tiago aconselha seus leitores a manterem-se firmes no conhecimento de que, em seu devido tempo, o Senhor cumprirá a promessa que fez aos crentes. Ele cai em repetição, mas a lembrança da vinda iminente do Senhor é necessária para que os leitores não se desanimem nas circunstâncias difíceis.
2. O valor da tolerância de uns para com os outros (v.9). À primeira vista, este versículo não tem muita coisa em comum com seu contexto, além de participar numa ênfase na iminência do julgamento. Entretanto, a queixa contra os outros é claramente uma tentação que acompanha a pressão das circunstâncias difíceis. Quão frequentemente nos achamos atirando as frustrações de um dia difícil em cima de nossos amigos íntimos e membros da família! Abster-se de tais tipos de reclamações e queixas pode ser visto como um aspecto da própria paciência: ela é ligada ao “suportando-vos uns aos outros em amor”, em Efésios 4.2, sendo contrastada com a retaliação, em 1 Tessalonicenses 5.14-15. A palavra stenazō, “queixar-se” ou “murmurar”, é geralmente empregada de modo absoluto; apenas aqui no grego bíblico ela tem um objeto (uns dos outros). Aqui, o significado pode ser que os crentes não devem se queixar das dificuldades dos outros, ou que eles não devem acusar os outros, por causa de suas dificuldades. Contudo, é perfeitamente possível que as duas ideias estejam incluídas.
3. Aflição, sofrimento e juramento (vv.10-12). Os profetas nos encorajam ao lembrar que Deus cuida de nós quando sofremos por amor a ele. Muitos profetas tiveram de suportar grandes tribulações e sofrimentos, não apenas nas mãos de incrédulos, mas também de pessoas que se diziam tementes a Deus. Jeremias foi preso como traidor e até lançado em uma cisterna vazia e deixado lá para morrer. Deus o protegeu e alimentou durante todo o terrível cerco a Jerusalém, mesmo que, por vezes, tudo indicasse que o profeta seria morto. Tanto Ezequiel quanto Daniel enfrentaram sua parcela de dificuldades, mas o Senhor os livrou. Mesmo os que não foram libertos e morreram por causa de sua fé receberam a recompensa especial que Deus reserva para os que são fiéis a ele.
É difícil encontrar um exemplo maior de sofrimento do que o de Jó. As circunstâncias estavam contra ele, pois perdeu as riquezas e a saúde. Perdeu os filhos queridos, e a própria esposa opôs-se a ele e sugeriu: “Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2.9). Seus amigos também se colocaram contra ele, pois o acusaram de ser um hipócrita que merecia o julgamento de Deus. Tudo indicava que Deus também estava contra ele! Quando Jó clamou por respostas para suas perguntas, só recebeu do céu o silêncio. No entanto, Jó perseverou. Satanás havia predito que Jó ficaria impaciente com Deus e abandonaria sua fé, mas não foi o que aconteceu. É verdade que Jó questionou a vontade de Deus, mas não abriu mão de sua fé no Senhor. “Eis que me matará, já não tenho esperança; contudo, defenderei o meu procedimento” (Jó 13.15). Jó estava tão certo das perfeições de Deus que persistiu em sua argumentação com ele, mesmo sem entender o que Deus fazia. Isso é perseverança.
Satanás deseja que fiquemos impacientes com Deus, pois um cristão impaciente é uma arma poderosa nas mãos do diabo. Como vimos em nosso estudo de Tiago 1, a impaciência de Moisés impediu-o de entrar na Terra Prometida; a impaciência de Abraão levou ao nascimento de Ismael, o inimigo do povo de Israel, e a impaciência de Pedro quase o transformou em assassino. Quando Satanás nos ataca, é fácil ficar impacientes, correr na frente de Deus e, como resultado, perder a bênção de Deus.
A exortação em Tiago 5.12 parece deslocada; afinal, o que “fazer juramentos” tem a ver com o problema do sofrimento? Quem já sofreu sabe a resposta: quando passamos por dificuldades, é fácil dizer coisas impensadas e tentar barganhar com Deus. Voltemos a Jó para um exemplo. O patriarca diz: “E disse: Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1.21,22).
Por certo, Jó amaldiçoou o dia de seu nascimento (Jó 3.1ss), mas em momento algum amaldiçoou a Deus nem fez algum juramento insensato. Também não tentou barganhar com Deus. Sem dúvida, Tiago está relembrando o ensinamento de Jesus no sermão do monte (Mt 5.34-37). Os judeus tinham o costume de usar uma série de juramentos para cor roborar suas afirmações. Tinham sempre, porém, o cuidado de não colocar o nome de Deus em seus juramentos, a fim de não blasfemar. Assim, juravam pelo céu, pela Terra, por Jerusalém ou até pela própria cabeça! Mas Jesus ensinou que é impossível evitar envolver Deus nesses juramentos. O céu é seu trono, a Terra é o estrado de seus pés e Jerusalém é a “cidade do grande Rei”. Quanto à própria cabeça, de que adianta um juramento desses? “Porque não podes tornar um cabelo branco ou preto” (Mt 5.36) — nem mesmo conservar um cabelo na cabeça por vontade própria. Segundo um princípio fundamental, o caráter do cristão requer poucas palavras. A pessoa que precisa usar palavras demais (inclusive juramentos) para nos convencer tem algo de errado com seu caráter e precisa escorar sua fraqueza com palavras. O verdadeiro cristão que tem integridade só precisa dizer sim ou não para as pessoas acreditarem nele. Jesus adverte que qualquer coisa a mais é proveniente do maligno.
II. A UNÇÃO DE ENFERMOS E COMO DEUS OUVIU A ELIAS (Tg 5.13-18)
1. Oração e cânticos (Tg 5.13). Tiago destaca três verdades fundamentais nesse versículo: Em primeiro lugar, nos problemas não devemos murmurar, mas orar. O sofrimento aqui é provado por circunstâncias adversas: saúde, finanças, família, relacionamentos, decepções. Em vez de murmurar contra Deus ou falar mal dos irmãos (5.9), devemos apresentar essa causa a Deus em oração, pedindo sabedoria para usar essa situação para a glória de Deus (1.5).
Em segundo lugar, Deus muda as circunstâncias pela oração. A oração remove o sofrimento. Mas também a oração nos dá poder para enfrentar os problemas e usá-los para cumprir os propósitos de Deus. Paulo orou para Deus mudar as circunstâncias da sua vida, mas Deus lhe deu poder para suportar as circunstâncias (2Co 12.7-10). Jesus clamou ao Pai, com abundantes lágrimas, no Getsêmani, para passar dEle o cálice, mas o Pai lhe deu forças para suportar a cruz e morrer pelos nossos pecados.
Em terceiro lugar, ao mesmo tempo temos pessoas chorando e outras celebrando na igreja. Ao mesmo tempo há pessoas sofrendo e há pessoas alegres (5.13). Deus equilibra a nossa vida, dando-nos horas de sofrimento e horas de regozijo. O cristão maduro, entretanto, canta mesmo no sofrimento (Jó 35.10). Paulo e Silas cantaram na prisão (At 16.25). Josafá cantou no fragor da batalha (2Cr 20.21). Muitas vezes trafegamos dos caminhos floridos da alegria para os vales do choro num mesmo dia. Mas, mesmo que os nossos pés estejam no vale, nosso coração pode estar no plano (Sl 84.5-7). Pelo poder de Deus, podemos transformar os vales secos em mananciais, o pranto, em alegres cantos de vitória. Quando o diamante é lapidado é que ele reflete sua beleza mais fulgurante. Quando a flor é esmagada é que ela exala o seu mais doce perfume. A alegria mais poderosa é aquela que, muitas vezes, explode banhada pelas lágrimas mais quentes.
Tiago indica que as pessoas não enfrentam dificuldades o tempo todo: “Está alguém alegre? Cante louvores” (Tg 5.13). Deus dá equilíbrio à vida e permite tanto momentos de sofrimento como dias de cântico. O cristão maduro sabe cantar em meio ao sofrimento. Qualquer um é capaz de cantar depois que os problemas passaram. Deus pode dar “canções de louvor durante a noite” (Jó 35.10). Foi o que fez com Paulo e Silas quando os dois sofriam na prisão em Filipos. “Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus” (At 16.25). A oração e os cânticos eram elementos importantes do culto na Igreja primitiva e também devem ser importantes para nós. Os cânticos devem ser uma expressão da vida espiritual interior. O louvor do cristão deve ser inteligente (1Co 14.15), não apenas a articulação de palavras e de ideias que não significam coisa alguma para ele. Deve vir do coração (Ef 5.19) e ser motivado pelo Espírito Santo (Ef 5.18). O cântico cristão deve ser baseado na Palavra de Deus (Cl 3.16), não apenas nas ideias de pessoas. O cântico que não é bíblico também não é aceitável para Deus.
2. A oração da fé (vv.14,15). Essas instruções a respeito de orações pelos enfermos e da unção com óleo têm uma importância particular para cristãos pentecostais e carismáticos. Não só os “presbíteros” da igreja têm a responsabilidade de orar pelos demais membros (v.14), mas todos os cristãos têm o dever de orar uns pelos outros, para que sejam curados (v.16). Esse dever não pode ser delegado exclusivamente àqueles que têm o dom espiritual de curar. O papel específico dos “presbíteros” como sendo daqueles que “ungem com óleo”, sugere que Tiago acreditava que esse ato tem uma importância religiosa especial. Embora o óleo fosse muito usado para fins medicinais no mundo greco-romano (Ver Lc 10.32,33), referências à unção com óleo presentes no Novo Testamento, ao lado de orações pelos enfermos (somente nesta passagem e em Mc 6.13), não indicam que esse ato tivesse o propósito de ser uma terapêutica medicinal. Provavelmente Tiago esteja dizendo que ungir com óleo tenha um simbolismo religioso, não sendo meramente um ponto de contato físico para a fé de alguém. Da mesma forma que os antigos sacerdotes de Israel ungiam as pessoas e as coisas com óleo para separá-las para Deus (por exemplo, Êx 40.9-15; conforme o uso metafórico da unção em Lc 4.18,19; 2Co 1.21,22), a unção dos enfermos pode simbolizar que estão sendo separados para receberem o cuidado especial de Deus.
Dois aspectos dos ensinamentos de Tiago em relação à oração pelos enfermos, tornaram-se ciladas potenciais nas doutrinas pentecostais no que se refere à cura divina.
1) Pelo fato de algumas relacionarem a cura ao perdão (“e a oração da fé salvará o doente [a palavra grega sozo, também é traduzida em outro local da carta como ‘salvar’] ... e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”, v.15). Tiago repete a crença tradicional que ligava a enfermidade ao pecado (Jó 9.1,2), porém não tem a intenção de acrescentar qualquer explicação para a origem da enfermidade. Nas três vezes anteriores em que empregou a expressão sozo (1.21; 2.14; 4.12) essa palavra tinha consistentemente o sentido da salvação de uma pessoa, com um olhar dirigido à sua total redenção no final dos tempos (veja também em 5.20). Assim, Tiago enfatiza que devemos nos preocupar tanto com o bem-estar físico, como com o espiritual. É verdade que certos males e enfermidades são consequência de atos pecaminosos, porém Tiago não ensina que todas as enfermidades resultam do pecado (Ver Jó 9.3).
2) A segunda cilada está relacionada à confiante afirmação de Tiago sobre a “[poderosa e eficaz] oração do justo” (v.16) e à ilustração desse ponto de vista referente a Elias (vv.17,18). Se “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós”, então por que suas orações foram respondidas de forma tão espetacular, enquanto nossas orações para alcançar a cura às vezes não têm resposta? Alguns procuraram encontrar a culpa por tais orações não atendidas contestando a “justiça” da pessoa doente ou daqueles que oram em seu benefício. No entanto, essa assertiva de Tiago não é a respeito de procurar a culpa, mas de sua confiança na bondade e misericórdia divina. Assim como Deus respondeu as orações de Elias, e preparou-o para realizar a missão profética, da mesma forma responderá às orações dos crentes quando desempenharem sua missão em benefício dos demais. A explicação que Tiago oferece sobre porque algumas orações para a cura dos enfermos não resultam em sua recuperação física, vai até o ponto em que os presbíteros devem “orar e ungir com azeite em nome do Senhor” (v.14). A invocação do “nome do Senhor” não é só um apelo ao poder e autoridade da vontade de Deus, mas também um reconhecimento de que nossos desejos — mesmo através da oração — elevem estar em conformidade com a vontade divina. Talvez Tiago também estivesse desejando desafiar nosso entendimento, a respeito da razão pela qual tantas orações pelos enfermos ficam “sem resposta”. Lembremo-nos que ele escreveu que “a oração da fé salvará [sozo] o doente, e o Senhor o levantará” (v.15). A vida física não é a única vida, ou mesmo a mais importante que existe (veja 5.20). A bondade de Deus, ao nos elevar à vida espiritual e eterna, é uma resposta à “oração da fé” pela qual demonstramos plena confiança na misericórdia divina para nos tornar completamente sãos, no sentido mais amplo desta palavra.
3. Oração e confissão (v.16-18). Nesse texto, observamos três verbos essenciais: confessar, orar e curar.
a. “Confessem”. Tiago diz: “Confessem os seus pecados uns aos outros”. Com o advérbio pois ele liga essa oração ao versículo anterior, no qual escreve sobre a enfermidade, o pecado e o perdão. Tiago usa o advérbio para referir-se ao versículo anterior, a fim de oferecer uma base para a oração seguinte e enfatizar a necessidade da confissão de pecados.
O pecado não confessado é um impedimento no caminho da oração para Deus e ao mesmo tempo um imenso obstáculo nos relacionamentos interpessoais. Isso significa que você deve confessar o seu pecado não apenas a Deus, mas também às pessoas que foram prejudicadas pelos seus pecados. Peça o perdão dessas pessoas!
“A confissão purifica a alma”. Esse ditado é antigo, mas não perdeu sua validade. A confissão é a marca do arrependimento e de um pedido de perdão por parte do pecador. Quando o pecador confessa seu pecado, pede e recebe o perdão, ele experimenta a libertação do fardo da culpa.
A quem devemos confessar nossos pecados? O texto diz “uns aos outros”. Tiago não menciona especificamente a igreja ou os presbíteros; ao invés disso, fala de confissão a nível pessoal dentro de um círculo de crentes. Ele não elimina a possibilidade de membros da igreja se confessarem para o pastor e presbíteros (v.14). Alguns pecados envolvem todos os crentes da igreja e, assim, devem ser confessados publicamente. Outros pecados são particulares e só precisam ser tratados com as pessoas diretamente envolvidas. Discernimento e restrição devem, portanto, guiar o pecador que deseja confessar seus pecados pessoais. Curtis Vaughan faz um comentário revelador:
Enquanto os católicos romanos interpretaram a confissão num sentido muito restrito, muitos de nós somos tentados a interpretá-lo amplamente demais. A confissão de todos os nossos pecados a todos os irmãos não está necessariamente incluída na declaração de Tiago. A confissão é o vômito da alma e pode, quando realizada de modo muito geral ou indiscriminado, fazer mais mal do que bem.
b. “Orem”. A beleza da comunhão cristã se expressa na prática da oração mútua depois que os pecados foram confessados e perdoados. O ofensor e o ofendido oram um pelo outro; juntos, encontram força espiritual e consolo no Senhor. Em suas orações, mostram visível e audivelmente a reciprocidade. O pecador perdoado ora pelo bem-estar espiritual de seus companheiros cristãos que, por sua vez, confiam-no às misericórdias de Deus.
c. “Para que possam ser curados”. Tiago declara o propósito de se confessar o pecado e orar uns pelos outros ao dizer “para que possam ser curados”. Ele é propositadamente vago nessa afirmação, ou seja, não menciona se quer dizer com isso a cura física ou espiritual, realizada ou possível, individual ou coletiva. Certo, porém, é que quando os crentes confessam seus pecados uns aos outros e oram uns pelos outros, um processo de cura começa a acontecer. Essa verdade pode ser aplicada a qualquer situação. A oração do homem justo é poderosa e eficaz.
Quem é o justo? Temos a tendência de olhar para os gigantes espirituais, para os heróis da fé e para os homens e mulheres de Deus. Acreditamos que essas são as pessoas que, pela oração, podem mover montanhas, mas Tiago não menciona nomes, exceto o de Elias, e ainda assim com a ressalva de que “era homem semelhante a nós” (v.17). Ele quer dizer que qualquer crente cujos pecados foram perdoados e que ora pela fé é justo. Quando essa pessoa ora, suas orações muito podem.
Se “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós”, então por que suas orações foram respondidas de forma tão espetacular, enquanto nossas orações para alcançar a cura às vezes não têm resposta? Alguns procuraram encontrar a culpa por tais orações não atendidas contestando a “justiça” da pessoa doente ou daqueles que oram em seu benefício. No entanto, essa assertiva de Tiago não é a respeito de procurar a culpa, mas de sua confiança na bondade e misericórdia divina. Assim como Deus respondeu as orações de Elias, e preparou-o para realizar a missão profética, da mesma forma responderá às orações dos crentes quando desempenharem sua missão em benefício dos demais.
III. A IMPORTÂNCIA DA CONVERSÃO DE UM IRMÃO (Tg 5.19,20)
1. O cuidado de uns para com os outros (v.19). Há sempre o perigo de uma pessoa se desviar de verdade. “Por isso convém atentarmos mais diligentemente para as coisas que ouvimos, para que em tempo algum nos desviemos delas” (Hb 2.1). O resultado desse desvio é pecado e possivelmente a morte (5.20). O pecado na vida de um crente é pior do que na vida de um não crente.
Devemos ajudar os membros que se desviam da verdade. Essa pessoa precisa ser “convertida”, ou seja, voltar para o caminho da verdade (Lc 22.32). Precisamos nos esforçar para salvar os perdidos. Mas também precisamos nos esforçar para restaurar os salvos que se desviam. Judas 23 usa a expressão “arrebatando-os do fogo”.
Tiago, nesse parágrafo, deu sua última instrução: oração pelos que sofrem, pelos enfermos e cuidado e restauração para os que se desviam. Nosso coração deve estar cheio de compaixão pelos que sofrem, pelos enfermos e pelos que se desviam, para que nossas orações possam subir ao trono da graça em favor deles.
2. A proximidade do ensino de Tiago com o de Jesus. “Aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador”. Qualquer membro da congregação sabe que deve cuidar das necessidades espirituais de um outro membro. Se alguém da igreja se desvia da verdade e cai nas armadilhas de Satanás, os outros membros devem estar preparados para resgatar o desviado. Se não advertirmos a pessoa ou falarmos sobre o assunto, nós mesmos somos culpados, pois Deus nos responsabiliza por isso (Ez 3.17-19). Somos guardadores de nosso irmão. Com sabedoria e tato, portanto, devemos mostrar ao irmão o erro de sua conduta e gentilmente restaurá-lo.
“O salvará da morte”. Fora da igreja há inúmeras pessoas presas no pecado e incapazes de deixar seus caminhos errados. Elas também devem ouvir a mensagem de salvação do evangelho. No início do século 20, em 1912, para ser mais preciso, A. T. Robertson escreveu estas palavras impressionantes que não perderam seu significado:
As condições desesperadoras em que vivem as vítimas são suficientes para desanimar qualquer assistente social que trabalhe nas favelas ou em alguns bairros residenciais de nossa cidade. As drogas aprisionaram alguns com grilhões de aço; a bebida queima no sangue de outros; cigarros acabaram com a força de vontade de outros e a imoralidade lançou outros ainda no abismo. Eles chegam, trôpegos, às casas de assistência — cidades de refúgio de nossas cidades. Felizes são aqueles que sabem como salvar almas como essas, que já tiveram dias melhores e que desceram ao mais profundo vale de pecado e tristeza.
“Da morte”. Quando estendemos a mão para resgatar aquele que está perecendo no pecado, procuramos salvar sua alma. Vemos o pecador correndo perigo de morrer eternamente e ser excluído da vida eterna. Devemos nos lembrar, porém, de que Deus nos usa como instrumentos para restaurar o relacionamento espiritual entre Deus e homem. A salvação, portanto, é e continua sendo obra de Deus. Somos apenas companheiros que trabalham para Deus (1Co 3.9).
“E cobrirá uma multidão de pecados”. Essa última declaração nesse versículo não deve ser entendida literalmente, pois o ser humano é incapaz de cobrir pecados. As Escrituras nos ensinam que não é o ser humano, mas Deus, que tem a autoridade de perdoar. A expressão cobrir se refere implicitamente ao ato de Deus de perdoar o pecado (ver, como exemplo, Sl 32.1; 85.2).
Uma frase de Provérbios revela um paralelo: “O amor cobre todas as transgressões” (10.12; comparar também com 1Pe 4.8). O que Tiago está procurando transmitir com essa alusão a Provérbios? Por que ele diz que o crente “cobrirá multidão de pecados”? Nas palavras de Calvino, “Tiago ensina aqui algo mais elevado, isto é, que os pecados são apagados diante de Deus; assim também Salomão declarou que este é um dos frutos do amor — ele cobre os pecados; mas não há melhor ou mais excelente maneira de cobri-los do que quando são completamente eliminados na presença de Deus”.
Quando Deus perdoa o pecado, aceita o pecador como se este nunca tivesse cometido transgressão alguma. Ele afasta o pecado tanto quanto o Oriente dista do Ocidente (Sl 103.12) e cobre o pecador com um manto imaculado de retidão. É claro que Deus perdoa o pecador por causa do sacrifício de Jesus Cristo. Nesse último versículo de sua epístola, Tiago não se refere ao trabalho meritório de Jesus, mas à graça de Deus ao perdoar os pecadores. Sua intenção é mostrar que os cristãos perdoados devem trabalhar juntos para o bem-estar mútuo da igreja.
CONCLUSÃO
Depois que ficamos diante do espelho desta Carta inspirada pelo Espírito de Deus, não podemos sair e esquecer as lições profundas e pertinentes que Tiago nos ensina. Importa-nos lembrar que o povo de Deus é peregrino neste mundo. É um povo em constante dispersão. Aqui não é nossa pátria, aqui não é o nosso lar. Neste mundo vamos ter aflições, mas devemos enfrentá-las com alegria, sabendo que embora variadas, elas são passageiras e nos instruem. Elas visam, em última instância, ao nosso bem, visto que o mesmo Deus que governa os céus e a terra também dirige o nosso destino.
Neste mundo, enfrentamos tentações internas e externas. Precisamos conhecer a Deus para, então, conhecermos a nós mesmos e o mundo que nos cerca. A força para a vitória nas tentações não vem de dentro, mas do alto; não vem de nós mesmos, mas de Deus. O segredo do sucesso não é a celebrada propaganda da auto-ajuda, mas a verdade insofismável da ajuda do alto. A primeira é humanista, a segunda procede de Deus.
Aprendemos no estudo desta preciosa carta de Tiago que existe uma religião verdadeira e outra falsa. A religião verdadeira, plantada no solo da verdade, frutifica abundantemente, e seus frutos são amor e santidade. Onde a intolerância prevalece, o amor inexiste. Onde o amor governa nossas ações, aí está uma marca indiscutível de que somos discípulos de Cristo. Se não refrearmos nossa língua nem nos guardarmos do mal, se não visitarmos os órfãos e as viúvas e não socorrermos os aflitos, nossa religiosidade não passará de uma propaganda enganosa. A religião verdadeira é mais do que dogmas, é vida!
Tiago descortina diante dos nossos olhos o grande tema da fé verdadeira e da fé falsa. A questão não é a fé, mas o objeto da fé. Muitos têm fé, mas ainda perecem, pois têm fé em ídolos, em si mesmos, nos seus méritos e obras, ou até têm fé na fé. Tiago falou da fé racional, da fé dos demônios e da fé morta. Uma fé apenas racional não pode nos salvar. Uma fé racional e emotiva não é melhor do que a fé dos demônios. Eles, os demônios, creem e tremem, ou seja, têm uma fé racional e emocional, mas estão perdidos para sempre. A fé que professa uma coisa e faz outra é morta, e por isso, inócua. A fé verdadeira crê na verdade, vive na verdade e proclama a verdade.
A carta de Tiago é um texto profundamente prático. E considerado com justiça, conforme já dissemos, o livro de Provérbios do Novo Testamento e o texto mais próximo do Sermão do Monte. Tiago tange a questão da língua de forma séria e criativa. Ele fala que a língua pode dar vida ou matar. A língua pode ser uma fonte de bênção ou um canal de morte. A língua é fogo, veneno e uma fonte que jorra águas amargas. Ela pode devastar e destruir como o fogo; pode matar como o veneno e pode tornar a vida amarga como fel. A língua, embora seja um órgão tão pequeno do corpo, governa-o ou destrói-o. A língua é como um leme ou freio. Pode dirigir-nos pelas águas plácidas ou empurrar-nos para os rochedos; pode levar-nos pelo caminho seguro, ou empurrar-nos para o abismo. Tiago descreve que o homem, como administrador e mordomo da Criação, domesticam os animais do campo, as aves do céu e os peixes do mar, mas não consegue domar a sua própria língua. É capaz de dominar cidades e reinos, mas não consegue dominar a si mesmo.
Tiago também fala sobre o grande abismo que existe entre a sabedoria terrena e a sabedoria celestial. A sabedoria terrena pode ser ilustrada pelo utilitarismo: “O importante é levar vantagem”. Vivemos em uma cultura de exploração, de egolatria, de ganância desenfreada. Os homens perversos e maus mentem, exploram, usurpam, corrompem, roubam e matam para acumular vantagens e tesouros. Usam o conhecimento, influência e poder apenas para prevalecer sobre os demais e não para ajudá-los. Buscam os próprios interesses e não o interesse dos outros. Vivem olhando para o próprio umbigo, embriagados pela soberba, aplaudindo a si mesmos, enquanto naufragam no mar de vaidades. E diferente a sabedoria celestial. Ela é altruísta e cheia de amor. Ela busca a glória de Deus e o bem do próximo, mais do que o enaltecimento de si mesmo.
Tiago faz uma radiografia da sociedade atual, quando trata das guerras que travamos contra o próximo, contra nós mesmos e contra Deus. O ser humano é um ser em constante conflito. O pecado atingiu a essência do seu ser. Agora, o homem perdeu sua comunhão com Deus, com o próximo, consigo mesmo e com a natureza. A história da humanidade tem sido a história das guerras. A terra está cambaleante, afogada no sangue. As nações poderosas, muitas vezes, esmagam as mais fracas e pilham-nas para assentarem-se como as donas do mundo. A globalização é um fenômeno draconiano que esmaga as nações pobres e fortalece os braços dos poderosos.
Tiago, ainda, desmascara a arrogância daqueles que pensam que podem traçar planos e projetos para o futuro sem a dependência de Deus. Somos seres limitados em tempo, ação e poder. Sem a ajuda de Deus, não podemos dar um passo sequer. Se ele cortar nossa respiração, pereceremos inapelavelmente. Nada podemos fazer sem Jesus. Por conseguinte, não deve haver espaço para a soberba no coração do homem. Sábio é aquele que reconhece a Deus e anda nos Seus caminhos humildemente e busca a Sua vontade para tomar as pequenas e grandes decisões no presente e no futuro.
A carta de Tiago denuncia com grande firmeza a ganância insaciável dos ricos. Ele enfrenta os poderosos, que de forma fraudulenta retiveram o salário dos jornaleiros para acumular suas riquezas. Ele ataca com argumentos irresistíveis aqueles que buscam segurança no dinheiro. Tiago revela que o dinheiro é mais do que uma moeda, ele é um ídolo, um deus, ele é Mamom. O dinheiro tem muitos escravos. E não são poucos os que vendem a consciência e a própria alma para chegar ao topo da pirâmide social, e quando alcançam o zénite desse zigurate econômico, descobrem que lá em cima não existe nem segurança nem felicidade. Ao contrário, aqueles que acumularam riquezas de maneira ilícita enfrentarão inexoravelmente o justo juízo de Deus. O dinheiro retido com fraude dos trabalhadores ergue-se ao céu com voz altissonante e a mão pesada de Deus desce velozmente para fazer justiça.
De forma criatiava, Tiago trata da questão da paciência no sofrimento. Ele ilustra essa paciência com a lida do agricultor, com a saga dos profetas e com o drama vivido por Jó. A paciência parece ser uma virtude em extinção no mundo contemporâneo. Queremos as coisas a tempo e a hora. Não temos paciência para esperar. Gostamos de comprar produtos de pronta-entrega e comer em restaurantes fast food. Vivemos espremidos pelo clamor das coisas urgentes. Mas, nesse contexto de impaciência na alma, no lar, na igreja, no trabalho, na sociedade, Tiago nos traz para o centro da reflexão de que devemos viver pacientemente, mesmo no meio do sofrimento até a volta de Jesus.
Finalmente, Tiago fala da eficácia da oração. Por ser um livro prático, Tiago inicia e termina com oração. Não há cristianismo sem oração. Não há maturidade espiritual sem oração. A oração não é um apêndice da vida cristã, mas a sua própria essência. Devemos levar nossas causas a Deus. Devemos orar uns pelos outros. Devemos crer na intervenção milagrosa de Deus através da oração. Deus levanta o enfermo por intermédio da oração. Se você crê no Senhor Jesus, é justo, e a oração do justo é eficaz. Tiago cita o profeta Elias, um homem poderoso na oração. Ele orava e o céu se fechava; ele tornava a orar, e o céu se abria. Ele orava e o azeite da viúva jorrava sem parar. Ele tornava a orar e a alma de um menino morto voltou a ele e o menino ergueu-se do leito da morte. Elias orava e o fogo do céu descia; ele orava novamente e as torrentes do céu visitavam abundamente a terra seca. Tiago diz que o sucesso da oração de Elias não era devido aos seus predicados especiais, visto ser homem sujeito aos mesmos sentimentos. Deus o ouviu porque ele era justo. Em Cristo, também somos justos, por isso, devemos orar insistentemente, confiantes e perseverantemente.
Tiago não pode ser visto apenas como uma relíquia do passado. Ele é um texto atual, contemporâneo, vivo, pertinente, inspirado e infalível. Estudá-lo é entrar no âmago da nossa própria alma e colocarmo-nos diante do espelho da verdade revelada. Que ao contemplarmos a glória de Deus na face de Cristo sejamos transformados de glória em glória na sua própria imagem. Minha recompensa será ter a alegria de saber que sua vida foi edificada e consolada pelo Senhor Jesus, Aquele que transforma provas em triunfo.
BIBLIOGRAFIA
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Moo, Douglas J. - Tiago - Introdução e Comentário - Vida Nova
Shedd, Russel. Uma Exposição de Tiago a Sabedoria de Deus. Shedd Publicações
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