LIÇÕES BÍBLICAS CPAD

JOVENS

 

 

4º Trimestre de 2016

 

Título: Em Espírito e em verdade — A essência da adoração cristã

Comentarista: Thiago Brazil

 

 

Lição 9: A adoração integral ensinada por Jesus

Data: 27 de Novembro de 2016

 

 

TEXTO DO DIA

 

[...] amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças e amar o próximo como a si mesmo é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios(Mc 12.33).

 

SÍNTESE

 

Jesus, em seu ministério, preocupou-se em apresentar o verdadeiro caminho de adoração ao Pai.

 

AGENDA DE LEITURA

 

SEGUNDA — Lc 4.8

Adorar só a Deus

 

 

TERÇA — Mt 2.11

Jesus foi adorado desde o seu nascimento

 

 

QUARTA — Mt 15.9

A falsa adoração

 

 

QUINTA — Jo 12.13

Adoração sem profundidade

 

 

SEXTA — Lc 16.13

Adoração sem mistura

 

 

SÁBADO — Mt 14.33

Adoração como ato de reconhecimento da natureza de Jesus

 

OBJETIVOS

 

Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:

  • APRESENTAR a adoração como uma ação integral do ser humano;
  • DISCUTIR a respeito do amor ao próximo como um requisito da adoração;
  • PROBLEMATIZAR e contextualizar o conceito de próximo na Igreja contemporânea.

 

INTERAÇÃO

 

Que tipo de preconceito você já enfrentou ou enfrenta caro(a) educador(a)? Por incrível que possa parecer, faz parte da adoração confrontar as atitudes discriminatórias e de hostilidade, tão comuns em nossa sociedade contemporânea. Na preparação desta aula, pesquise e reflita a respeito dos grupos de pessoas que mais sofrem com o preconceito na região onde você mora.

Compartilhe suas indagações e impressões com seus educandos(as); leve-os a refletirem também, a perceberem os preconceitos que carregam, e o quanto estes são negativos e perigosos para o desenvolvimento de uma fé saudável. Este não deve ser um momento de reforço das discriminações; de ironias ou piadinhas. Faça deste instante uma ocasião de confissão, quebrantamento e arrependimento, individuais e coletivos.

 

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

 

Você vai precisar dos seguintes materiais: retângulos constando características ou grupos de pessoas discriminados (a quantidade de retângulos deve ser suficiente para cada educando ficar com cinco, as características ou grupos podem se repetir). Sugestão de características ou grupos: ex-presidiários, moradores de ruas, dependentes químicos, doentes mentais, etc.

Diga aos alunos que eles serão líderes de um grupo, cada um será responsável por outras pessoas. Deixe os retângulos voltados para baixo de modo que não possam ver o que está escrito. À medida que eles forem escolhendo às cegas, perceba as reações e possível mal-estar. Finalize a dinâmica fazendo um momento de reflexão, indagando-os como eles sentir-se-iam se o preconceito fossem com eles; e se aquelas pessoas começassem a visitar a igreja eles aproximar-se-iam dessas pessoas?

 

TEXTO BÍBLICO

 

Lucas 10.25-35.

 

25 — E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?

26 — E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?

27 — E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo.

28 — E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás.

29 — Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?

30 — E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.

31 — E, ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.

32 — E, de igual modo, também um levita, chegando àquele lugar e vendo-o, passou de largo.

33 — Mas um samaritano que ia de viagem chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão.

34 — E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele;

35 — E, partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele, e tudo o que de mais gastares eu to pagarei, quando voltar.

 

COMENTÁRIO DA LIÇÃO

 

INTRODUÇÃO

 

Jesus, através de sua vida, demonstra que adorar a Deus é muito mais do que cumprir exigências cerimoniais; louvar ao Criador envolve a totalidade de nosso ser: todo nosso espírito, alma e corpo. Logo, se é tudo o que somos, a adoração está ligada também com nossos relacionamentos. Deste modo, a maneira pela qual nos relacionamos com as pessoas denuncia se somos ou não adoradores. Partindo da célebre parábola de Jesus, em Lucas 10, refletiremos nesta lição a respeito do caráter integral da verdadeira adoração a Deus.

 

I. JESUS EXPLICA O QUE É ADORAÇÃO

 

1. A capciosa pergunta do doutor da lei (Lc 10.25). Mais uma vez, Jesus está às voltas com uma pergunta feita por um dos religiosos da época. A questão suscitada pelo escriba referia-se a problemática da vida eterna e o recebimento desta. Jesus, numa estratégia discursiva típica dos sábios da época, devolve a pergunta com outras duas: Que está escrito na lei? Como lês? Apesar de não responder diretamente, as indagações de Jesus direcionam e restringem as opções que o doutor tem para apresentar sua tréplica. O acesso a vida eterna estava intimamente relacionado a duas questões muito sérias: tanto às verdades eternas já manifestas por Deus e registradas nas Escrituras, como também ao modo pelo qual as pessoas a interpretavam. É claro que a Bíblia é nosso manual sobre adoração e louvor, todavia, corremos sérios riscos de negarmos ao Pai, se a lermos de maneira errônea.

2. “Amarás ao Senhor teu Deus” (v.27). Imediatamente o doutor da Lei responde a primeira indagação de Jesus. Cita com perfeição o texto de Deuteronômio 6.5. Como é possível receber a vida eterna? Amando, adorando a Deus com tudo aquilo que temos e somos: coração, alma, forças e entendimento. Percebe-se assim que a adoração não está relacionada com aquilo que recebemos, mas com nossa percepção sobre quem é Deus. Basta que tenhamos um simples vislumbre da sua pessoa (Êx 33.18-23; 2Co 12.1-10), e será o suficiente para não desejarmos mais nada, senão apenas um relacionamento intenso e genuíno com Ele. Adorar é amar ao próprio Deus, e só consegue amá-lo como Ele merece quem realmente conhece-o. Tudo que há em nós foi divinamente elaborado para louvar ao Altíssimo, por isso devemos zelar por cada área de nosso ser. Nosso amor dever ser direcionado à pessoa de Deus e em virtude de quem Ele é.

3. Adorando a Deus por meio do amor ao próximo. Uma vez que pouquíssimas pessoas terão o privilégio de ter uma experiência reveladora e direta com a divindade, como poderemos adorá-lo? A resposta parece explícita no final da fala do escriba: “[...] e o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19.18). O amor, que nos identifica universalmente uns com os outros, é a ferramenta capaz de revelar a face de Deus à humanidade. Posso ver Deus através de quem está próximo a mim; por meio daqueles que, assim como eu, são filhos, adoradores e amados do Pai. Não devo divinizar nenhuma pessoa, isto é idolatria, mas todas às vezes que eu concedo àqueles que estão próximos a mim a dignidade inerente a eles (Gn 1.26), estou amando-os e, por uma inevitável consequência, oferecendo a Deus a verdadeira adoração que lhe é devida (Jo 15.1-14).

 

 

Pense!

 

Que chave de leitura temos utilizado para ler a Bíblia? Se compreendermos as Escrituras através do amor, misericórdia e graça, estaremos mais próximos do Pai.

 

 

Ponto Importante

 

O amor a Deus torna-se palpável quando nos dedicamos a construir uma vida digna àqueles que, em virtude da maldade e pecado, tiveram-na roubada (Mt 25.34-40).

 

 

II. “MAS... E QUEM É MEU PRÓXIMO?”

 

1. Como o doutor da Lei “lia” o mundo. O escriba quis justificar-se (v.29); mas desculpar-se de quê? De, contraditoriamente, afirmar que amava a Deus sem amar aqueles que estavam ao seu lado. Para aquele homem era impossível amar determinadas pessoas ou grupos sociais: os publicanos traidores, os leprosos impuros, as meretrizes promíscuas, os samaritanos etnicamente rejeitados. Indagou então o doutor: “Quem é meu próximo?”. O termo grego para “próximo” é literalmente vizinho, metaforicamente, “aquele que é o mais íntimo”. Ao indagar sobre quem era seu próximo, arrogantemente o escriba questionava, “quem é semelhante a mim?”, postura análoga à do Fariseu em Lucas 18.11. Para aquele homem, a religiosidade o fazia superior, e qualitativamente diferente de todas as demais pessoas; deste modo, amar a quem, senão apenas a si mesmo?

2. Uma parábola como resposta. A fim de esclarecer o escriba, mais uma vez, Jesus não oferece uma resposta direta, mas, por meio de uma parábola, denuncia a arrogância daquele homem. A parábola do samaritano, como é tradicionalmente nomeada esta imagem bíblica, é um dos mais belos textos da Escritura; lembremo-nos, todavia, que seu objetivo central é responder ao questionamento: “Quem é meu próximo?”. Se levarmos em conta está questão perceberemos que, dentre os três personagens secundários do enredo: o sacerdote, o levita e o samaritano, a ajuda ao homem assaltado vem de quem o escriba jamais se identificaria: o samaritano. Os samaritanos eram os descendentes do Reino do Norte que, colonizados pela Assíria, desenvolveram uma religiosidade mista, considerada impura e espúria pelos judeus. Por isso, um judeu, particularmente um especialista em conhecimentos da Torá, jamais consideraria um samaritano digno de amor ou compaixão.

3. O amor supera o ódio. Diante da cena que Jesus elabora, o quadro tradicional muda: temos um sacerdote e um levita, não misericordiosos, cerimonialmente puros, mas cheios de preconceitos. Por outro lado temos um samaritano, socialmente rejeitado, mas graciosamente acolhedor; etnicamente odiado, entretanto o único que demonstra amor. A quem o escriba comparar-se-ia, aos dois primeiros? Se fizesse isso, Jesus demonstraria que não havia amor a Deus naquele homem. O escriba, num exercício de superação de seus preconceitos, teve de comparar-se ao samaritano. Por esta parábola Jesus demonstra que o próximo, o íntimo, é todo aquele que é carente de amor, assim como é aquele que desinteressadamente ama.

 

 

Pense!

 

A fé que desenvolvemos a partir de nosso encontro com Jesus tem nos tornado pessoas mais amorosas, misericordiosas, capazes de superar os preconceitos que a sociedade constituiu sobre nós?

 

 

Ponto Importante

 

Os judeus e os samaritanos são um exemplo típico do mal que as divergências culturais podem causar.

 

 

III. SALVAÇÃO, AMOR E ADORAÇÃO

 

1. O desenvolvimento de uma adoração plena. O culto não pode ser nosso único momento de adoração. Não é saudável que reduzamos nossa adoração apenas a louvores, pregações, orações e contribuições. Devemos adorar com tudo o que somos, em todo o tempo (Sl 32.6; Ef 6.18), com tudo o que temos (At 20.35; Cl 3.22-25). Sempre conscientes de que é fraudulenta a adoração do coração daquele que afirma amar a Deus, mas tem algo contra seu irmão (Mt 5.23,24).

2. Igreja, acolhimento e adoração. Que tipo de pessoas a espiritualidade que praticamos tem desenvolvido? Indivíduos insensíveis à dor do outro, que em nome de rituais e tradições observam de maneira inerte multidões morrendo à míngua sob o domínio do pecado, sem sequer estender a mão. Ou nossa fé, que é simultaneamente resultado e causa de nossa adoração (Hb 11.1), tem cotidianamente transformado nosso ser, quebrando nossa arrogância e exaltação (Pv 8.13), levando-nos a perceber àquele que está a nossa volta não apenas como um outro (Gr. heteros), distante e diferente, mas como o próximo (Gr. plesíon), íntimo, amigo mais chegado que irmão (Pv 18.24).

3. Nós e os samaritanos. Quem são os samaritanos de nossa sociedade? Nossa fé não é excludente, o Reino de Deus é inclusivo (Mt 9.10-13). O evangelho do Senhor Jesus é a boa-nova de Deus para a humanidade. Ele é convidativo, acolhedor. Assim como Jesus, não tenhamos medo de aproximarmo-nos das pessoas que necessitam de Deus (Fp 2.6-9; Hb 2.11).

 

 

Pense!

 

Como estão seus relacionamentos, dentro e fora da Igreja?

 

 

Ponto Importante

 

A Igreja precisa ser o lugar daqueles que estão em processo de cura, através da adoração e do amor.

 

 

CONCLUSÃO

 

O tipo de vida que Deus deseja que desenvolvamos está intimamente ligada à vivência do louvor e da adoração; por isso vai muito além da mera observação de tradições ou ordenamentos humanos. Adorar ao Pai significa amá-lo, e tal experiência somente é possível quando nos permitimos amar e ser amados pelas pessoas que estão à nossa volta. Viva o melhor de Deus para você: adore, ame, perdoe.

 

ESTANTE DO PROFESSOR

 

SNODGRASS, K. Compreendendo todas as Parábolas de Jesus. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2010.

 

HORA DA REVISÃO

 

1. Quais aspectos da fé estão relacionados nosso acesso ao Reino segundo Jesus em Lucas 10?

As verdades eternas já manifestas por Deus e registradas nas Escrituras, como também ao modo pelo qual as pessoas interpretavam a mesma.

 

2. Por que é impossível adorar a Deus sem amar o meu próximo?

Porque o amor ao próximo é um mandamento gêmeo ao amor a Deus, e por consequência à adoração.

 

3. Por que havia todo esse distanciamento entre judeus e samaritanos?

Porque historicamente eles eram descendentes do Reino do Norte que se misturaram cultural e espiritualmente com os assírios.

 

4. Quem são, na atualidade, os “samaritanos” dos quais precisamos nos aproximar?

Resposta Pessoal. (Sugestão: moradores de rua, miseráveis, ex-presidiários.)

 

5. Que ações a Igreja precisa tomar para vivenciar a plena adoração que Jesus tem preparado para ela?

Através de ações de acolhimento e respeito às diferenças.

 

SUBSÍDIO

 

“Questões que exigem atenção

1. Esta história pertence, originalmente, ao contexto do diálogo de Jesus e o doutor da Lei a respeito do caminho para a vida eterna e do mandamento para amar? A omissão dessa história nos outros Evangelhos (mesmo que eles apresentem debates semelhantes acerca do mandamento de amar) e a disparidade entre a pergunta do doutor da Lei (‘Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?’) levou muitos a separarem a parábola (vv.30-35 ou 36) do seu contexto.

2. Que relevância outras passagens sobre o mandamento para amar, especialmente a conversa com o escriba em Mateus 22.34-40; Marcos 12.28-34 (que é omitida por Lucas) tem para a compreensão desta parábola?

3. Será que estamos diante de uma ‘história-exemplo’, ou, melhor, diante de uma parábola indireta simples, ou de uma parábola indireta dupla e, no caso da última opção, qual é o exemplo metafórico?

4. Existe alguma armadilha na pergunta feita pelo doutor a respeito da vida eterna (v.25)? Não estaria o fariseu meramente testando o conhecimento de Jesus para determinar a sua competência tentando apanhá-lo em uma armadilha?” (SNODGRASS, K. Compreendendo todas as Parábolas de Jesus. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2010, p.477).