Título: O Sermão do Monte — A justiça sob a ótica de Jesus
Comentarista: César Moisés Carvalho
Lição 11: Os falsos profetas e os seus frutos
Data: 11 de Junho de 2017
“Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas e farão sinais e prodígios, para enganarem, se for possível, até os escolhidos” (Mc 13.22).
Os frutos, e não a retórica, são os sinais de que alguém é, ou não, profeta de Deus.
SEGUNDA — Lc 6.43
O fruto segundo a sua árvore
TERÇA — Lc 6.44
O fruto identifica a árvore
QUARTA — Lc 3.8,9
Frutos dignos de quem se arrependeu
QUINTA — Mt 21.43
Os frutos do Reino de Deus
SEXTA — Mc 4.20
A Palavra gera fruto em abundância
SÁBADO — Gl 5.22
O fruto do Espírito
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Há quem pense e imagine que a existência de falsos profetas entre o povo de Deus é fenômeno recente. No entanto, uma rápida pesquisa demonstra não apenas que eles sempre existiram, mas deixa claro que, no Antigo Testamento, o Senhor, por intermédio de Moisés, estipulou regras claras para se identificar um falso profeta (Dt 13.1-3; 18.20-22). Os próprios profetas também se viram às voltas com os falsos profetas e, por isso mesmo, ofereceram regras para se crivar e verificar a autenticidade de alguém que dizia falar em nome de Deus (Is 8.19,20; Jr 28.9). Nos dias de Jesus e dos apóstolos esta advertência também se mostrou necessária (Mc 13.22,23; 2Pe 2.1-3). E em nossos dias, será que não precisamos estar atentos por causa dos que querem enganar em nome de Deus? A fórmula para se identificar os falsos profetas no passado continua a mesma. Não são os prodígios, os sinais e as maravilhas que eles supostamente realizam que os credencia como profetas do Altíssimo, mas sim a fidelidade ao Senhor e à sua Palavra. De igual forma, é preciso evitar o outro extremo que é justamente não acreditar na operação divina por causa dos que enganam. O ideal é conhecer a Escritura e também o poder de Deus (Mt 22.29).
Apesar de não ser biblicamente recomendável, até mesmo entre os que servem a Deus existem espécies de “fã-clubes”. Há alguns que são tão fanáticos pelo “ídolo” gospel que chegam a digladiar-se até mesmo entre si. Existem outros que não suportam uma única observação bíblica que, de forma sadia, poderia corrigir a postura não apenas deles, mas igualmente da pessoa que eles admiram. Com esta informação em mente, solicite à classe que abra a Bíblia em 1 Coríntios 1.12,13. É possível identificar quatro grupos principais: Paulo, Apolo, Cefas (Pedro) e “Cristo”. Esses grupos organizavam-se como verdadeiros “fã-clubes”, admirando a teologia elaborada por pessoas que tinham em cada um desses representantes quem elas mais admiravam. Não era apenas uma identificação, mas eles achavam-se superiores em relação aos outros. Uns viam Paulo, como um grande ensinador, Apolo como um grande pregador, Pedro como um grande pastor e um quarto grupo que se achava piedoso por seguir apenas “Cristo”. Entretanto, Paulo os adverte como “carnais” (1Co 3.1-4) e questiona: “Está Cristo dividido?” (1Co 1.13). Se o Corpo de Cristo é um só, como pode haver divisões? Depois de orientá-los acerca do cuidado com este tipo de postura de “fã-clube”, encerre dizendo ser incorreto haver desavenças por causa disto.
Mateus 7.15-20.
15 — Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores.
16 — Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?
17 — Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz frutos maus.
18 — Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar frutos bons.
19 — Toda árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo.
20 — Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.
INTRODUÇÃO
Prática que é, a justiça do Reino não admite palavras sem coerência com as ações. Por isso, o Mestre avança em sua conclusão do Sermão do Monte expondo agora uma maneira para se reconhecer os falsos profetas (Mt 7.15-20). Não são suas credenciais, nem sua capacidade de oratória que revelam quem eles, de fato, são. Jesus apresenta os sinais inequívocos para se identificá-los e reconhecê-los. Tal atitude do Mestre deve ser urgentemente observada nos dias atuais, pois não são poucos os enganadores que usam, indevidamente, o nome santo do Senhor sem ter, entretanto, compromisso algum com Ele.
I. OS FALSOS PROFETAS E SUA ATUAÇÃO
1. Perturbadores antigos. Estar à volta com pessoas que pretendiam manipular — sob o manto de uma falsa espiritualidade — é uma luta constante dos verdadeiros profetas de Deus. Desde o Antigo Testamento, o povo de Deus sofre com a atuação dos falsos profetas (Nm 22.1-24.25; Mq 3.5; Jr 23.9-32). Ao se estudar o texto bíblico facilmente se verifica que este é um dos grandes males que sempre assolou o povo de Deus. No Novo Testamento há vários exemplos. Um deles, cuja medida, aparentemente, radical adotada por Paulo para erradicá-los na Ilha de Creta chama a atenção. Para lá o apóstolo dos gentios enviou Tito com a finalidade de colocar em ordem as coisas que ainda faltavam ser ajustadas, separar pessoas para auxiliar na realização da obra de Deus, mas também coibir a atuação dos maus obreiros e falsos profetas, “tapando-lhes a boca” (Tt 1.5-11), isto é, tirar-lhes a oportunidade de usar a palavra na igreja. Ao se observar o texto bíblico, é possível verificar que os maus obreiros estavam agindo motivados por “torpe ganância”, ou seja, por dinheiro (Tt 1.11). Assim, o que parece ser, à primeira vista, uma medida implacável é, na realidade, um ato de amor, pois o apóstolo dos gentios tinha como objetivo, não meramente repreendê-los de forma severa, e sim torná-los “são na fé” (Tt 1.13).
2. Lobos devoradores. A metáfora utilizada pelo Mestre ao dizer que os falsos profetas são lobos devoradores que se vestem de ovelhas, é exclusividade dEle registrada por Mateus (v.15). Contudo, a figura do “lobo” é uma imagem usual na Bíblia para exemplificar pessoas mal-intencionadas (Ez 22.27; Sf 3.3; Mt 10.16; Lc 10.3; At 20.29). Ao despedir-se dos anciãos da Igreja em Filadélfia, falando particularmente aos responsáveis por aquele rebanho, Paulo afirma que nunca deixou de pregar e ensinar o que Deus lhe entregava para que dividisse com aquela congregação, e que depois de sua partida “lobos cruéis” se infiltrariam na igreja e não perdoariam o rebanho, ou seja, os devovariam (At 20.17-38). Infelizmente, em nossos dias, a realidade parece não ser muito distinta.
3. A introdução dos lobos entre as ovelhas de Deus. Provavelmente por ser um animal dócil e de fácil domesticação (2Sm 12.3), tanto a ovelha como o cordeiro são utilizados para exemplificar o povo de Deus (Sl 74.1; 78.52; 79.13; 119.176; Is 13.14; 40.11; Jr 12.3; Ez 36.37,38; Am 3.12; Mq 2.12; Zc 11.16; 13.7; Mt 18.11,12; 25.1-3 etc.) e até o próprio Mestre (Is 53.7). Por isso, Jesus observa de forma preventiva o ardil do falso profeta (v.15). Uma vez que o Senhor está em busca das ovelhas perdidas (Is 53.6; Jr 50.6; Zc 10.2,3; Mt 9.36; 10.6; 15.24; Jo 10.16; 1Pe 2.2), e incumbe os discípulos de darem continuidade a essa missão, é fato que o melhor disfarce de um falso profeta para introduzir-se entre o rebanho é se passar por ovelha.
Pense!
Em meio a tantas vozes que se pronunciam atualmente, você acha que é possível haver lobos disfarçados de ovelhas?
Ponto Importante
É imprescindível não perder de vista o fato de que os lobos devoradores não se apresentam assim, mas fingem-se de dóceis ovelhas.
II. IDENTIFICANDO OS FALSOS PROFETAS
1. A metáfora dos frutos. A utilização da ideia de “frutos” como exteriorização do caráter, ou resultado final das ações, é um recurso comum desde o período do Antigo Testamento (Pv 1.31; Is 3.10; Jr 17.10; Os 10.13 etc.).
2. A figura das árvores boas e más. De igual forma, a tipificação de árvores boas e más como figuras das pessoas, é igualmente uma maneira didática utilizada para exemplificar o caráter, o resultado das ações ou ainda o ressurgimento ou extinção de um reino ou nação (Gn 49.22; Sl 37.35; Pv 11.30; 13.12; 15.4; Ct 2.3; Is 7.2; 10.33; 44.23; 55.12; 56.3; 65.22; Jr 11.19; 17.8; Ez 17.24; 31.1-18; Dn 4.1-37; Zc 11.2; Mt 3.10, etc.).
3. Identificando os falsos e os verdadeiros profetas. Sendo os frutos utilizados como metáfora para identificação do caráter de alguém, após dizer que é justamente por eles que se pode identificar os falsos profetas (vv.16a,20), o Mestre questiona: “Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?” (v.16b). Aprofundando sua advertência, Jesus lança mão tanto da figura da árvore má para exemplificar os falsos profetas e, ao mesmo tempo, deixa uma “pista” para se reconhecer os verdadeiros profetas, ou seja, a figura da árvore boa. O Mestre assim o faz porque cada árvore só pode gerar frutos segundo a sua própria espécie e natureza (vv.17,18). É interessante lembrar que no Antigo Testamento também havia uma forma de identificar o falso profeta (Dt 13.1-5). É preciso notar que não era simplesmente o fato de que o tal profeta fizesse algum sinal miraculoso, ou mesmo um prodígio, o que valeria como forma de reconhecê-lo como um verdadeiro profeta, antes, a sua devoção, respeito e reverência a Deus é o que contavam. O Senhor até advertiu o povo dizendo ser permissão dEle que o tal prodígio se concretizasse para saber se o povo realmente era fiel a Ele. Em outro texto, uma forma diferente de identificação do falso profeta dizia respeito à profecia como predição. Se o que o tal profeta dissesse não se cumprisse, ele era considerado falso (Dt 18.20-22).
Pense!
Ter discernimento a respeito da identificação dos falsos profetas é o mesmo que ter poder de julgá-los para a condenação eterna?
Ponto Importante
Saber distinguir entre a avaliação dos frutos, para identificar os falsos profetas, e o julgamento definitivo que só pertence a Deus, também faz parte da maturidade da fé.
III. O DESTINO DOS FALSOS PROFETAS
1. O dever de gerar bons frutos. A árvore boa tem o dever de gerar bons frutos (Lc 3.8-14), pois essa é a sua natureza. Não basta ter folhas (aparência), e não gerar bons frutos (obras/ações); é preciso que aqueles que abraçaram o Evangelho de Cristo demonstrem isso de forma concreta e visível (Mt 21.18-20 cf. Mt 3.8-10).
2. A prática que desvirtua. O fruto exemplificado como ações e práticas diz muito da preocupação do Mestre, pois o mau exemplo “ensina” mais eficazmente que as palavras (Mt 23.1-39). Aos que, porém, se dedicam com amor e compromisso a essa atividade, há uma linda promessa (Dn 12.3).
3. O destino da árvore que não produz bons frutos. A sentença do Mestre aos que não produzem bons frutos lembra a mensagem de João Batista (v.19 cf. Mt 3.10). O destino final será o juízo da condenação eterna, pois diferentemente da figueira condenada pelo Mestre, a pessoa que conhece o Evangelho e, ainda assim, decide produzir frutos maus, é inteiramente responsável pela sua condenação (Mt 25.41-46 cf. Mt 13.40-42).
Pense!
É possível ser discípulo de Cristo e não gerar bons frutos?
Ponto Importante
O destino de cada pessoa que tem oportunidade de obedecer ao Evangelho, pois o conhece, e não o faz, é de inteira responsabilidade dela.
CONCLUSÃO
O alerta do Mestre é válido para todos os seus seguidores em qualquer tempo e em qualquer lugar, pois enquanto estivermos vivendo sob o regime desse mundo pecaminoso, estamos sujeitos a ser enganados pelos falsos profetas. Portanto, atentemos para a fórmula ensinada pelo Senhor para os identificarmos, pois ela continua válida.
Comentário Bíblico Matthew Henry: Novo Testamento. 1ª Edição. RJ, 2008.
1. Qual é o ardil do falso profeta?
Se passar por ovelha.
2. Os frutos (ações) servem como formas de identificarmos o quê?
O caráter.
3. De acordo com o Antigo Testamento, a realização de um prodígio, ou sinal, era suficiente para ter alguém como profeta verdadeiro?
Não, antes era a sua devoção, respeito e reverência a Deus é o que contavam.
4. Por que a árvore boa tem o dever de gerar bons frutos?
A árvore boa tem o dever de gerar bons frutos (Lc 3.8-14), pois essa é a sua natureza.
5. A preocupação do Mestre em relação ao exemplo dos falsos profetas tinha uma razão de ser. Qual era?
O mau exemplo “ensina” mais eficazmente que as palavras (Mt 23.1-39).
“Falsos Profetas (7.15-20)
Jesus teve que advertir os seus discípulos contra aqueles vestidos como ovelhas. Eles ajuntariam o rebanho de crentes, como se fossem um com eles, mas interiormente (15) seriam lobos devoradores. A igreja de Jesus Cristo tem sido afligida por esses falsos profetas ao longo de toda a sua história. Eles às vezes têm feito muito para destruir o rebanho. Como podem ser reconhecidos? Por seus frutos os conhecereis (16).
Cristo usou a analogia de vinhas e árvores frutíferas. Cada uma produz seus próprios frutos. Se a árvore for má, os frutos serão maus. O inverso também é verdadeiro. A árvore que não produz bons frutos corta-se e lança-se no fogo. Esta é uma advertência solene. Aqueles que não estão produzindo bons frutos não pertencem a Cristo (19)” (CHILDERS, Charles L.; EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood (Eds.) Comentário Bíblico Beacon. Mateus a Lucas. Volume 6. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2006, p.69).
“Os Verdadeiros Profetas e os Falsos Profetas (7.15-23)
A advertência de Jesus sobre os falsos profetas tem uma lição oportuna para a igreja atual. Só Mateus registra a advertência sobre os falsos profetas que são lobos vestidos (endyma) como ovelhas (probaton). Estas duas palavras fazem parte do vocabulário preferido de Mateus: Ele usa o termo endyma para dizer que as roupas são necessidade básica (Mt 6.25,28) e para identificar especificamente as pessoas que usam vestuário exclusivo como parte do Reino de Deus (Mt 3.4; 22.11,12; veja também Mt 28.2,3); ele usa o termo probaton para descrever os eleitos ou o povo de Israel (e.g., Mt 10.6; 15.24; 25.32,33). Neste ponto Jesus enfatiza que às vezes os falsos profetas não podem ser discernidos só por palavras ou ações. Embora façam grandiosos milagres (Mt 7.22), podem ser falsificações.
O Evangelho de Mateus torna o fruto dos profetas a verdadeira prova de tais ministérios. O caráter é essencial. O evangelista comenta muitas vezes o tema de árvores boas e ruins e seus frutos; seu interesse em produzir justiça o compele a repetir o tema. [...] Em Mateus 12.33,35 Jesus une a acusação dos fariseus (de que Ele faz o bem pelo poder do mal) com dar maus frutos e a chama de blasfêmia contra o Espírito Santo” (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. 2ª Edição. RJ: CPAD, 2004, p.61).