Título: Valores cristãos — Enfrentando as questões morais de nosso tempo
Comentarista: Douglas Baptista
Lição 7: Ética Cristã e doação de órgãos
Data: 13 de Maio de 2018
“Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos” (1Jo 3.16).
A doação de órgãos, bem como a de tecidos humanos, expressa o verdadeiro amor cristão.
Segunda — Mt 22.37-40
O amor cristão é a síntese da lei dos profetas
Terça — Mt 7.12
A Bíblia apresenta a empatia e a solidariedade como princípios cristãos
Quarta — 1Jo 3.17,18
O amor deve ser demonstrado por obras, não apenas de palavras
Quinta — Gl 4.15
Os irmãos da Galácia desejaram doar até o que não podiam
Sexta — Lc 1.37
Para a operação de milagres, não há impossível para Deus
Sábado — Mt 20.28
Cristo entregou a sua vida em resgante do ser humano
1 Coríntios 15.35-45.
35 — Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão?
36 — Insensato! O que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer.
37 — E, quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples grão, como de trigo ou doutra qualquer semente.
38 — Mas Deus dá-lhe o corpo como quer e a cada semente, o seu próprio corpo.
39 — Nem toda carne é uma mesma carne; mas uma é a carne dos homens, e outra, a carne dos animais, e outra, a dos peixes, e outra, a das aves.
40 — E há corpos celestes e corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes, e outra, a dos terrestres.
41 — Uma é a glória do sol, e outra, a glória da lua, e outra, a glória das estrelas; porque uma estrela difere em glória de outra estrela.
42 — Assim também a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo em corrupção, ressuscitará em incorrupção.
43 — Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor.
44 — Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual.
45 — Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão, em espírito vivificante.
47, 179 e 249 da Harpa Cristã.
Mostrar que a doação de órgãos está fundamentada na doutrina do amor cristão.
Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.
A ideia de “doar” é abundantemente expressa nas Escrituras Sagradas. Ela está diretamente ligada ao mandamento de “amar o próximo”. Doar é a ação concreta do amor. É a boa obra que expressa o amor que sentimos pelo outro. Tiago e João dizem em suas epístolas que, se por exemplo, um cristão diz ter fé e amar, mas não apresenta uma ação concreta ao objeto dessa fé e desse amor, as epístolas sentenciam: esse cristão não tem fé e não ama respectivamente. O nosso amor a Deus está proporcionalmente ligado ao nosso amor ao próximo. Nesse sentido, precisamos expor a relevância deste tema tão urgente nos dias atuais: doar órgãos significa salvar vidas. Quem ama, doa!
INTRODUÇÃO
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem 64 mil pacientes na fila de espera por um transplante de órgãos. Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) mostram que 2.333 pessoas morreram à espera de um transplante no ano de 2015. Muitas famílias ainda rejeitam a doação por dilemas éticos e por falta de informação. Nesta lição, veremos os pontos mais relevantes desta importante questão e concluiremos que doar é uma expressão do amor cristão (1Jo 3.16).
PONTO CENTRAL
A doação de órgãos expressa o amor cristão.
I. DOAÇÃO DE ÓRGÃOS: CONCEITO GERAL
A doação de órgãos engloba basicamente a técnica de transplante e as pesquisas com células-tronco adultas e embrionárias.
1. Definição de transplante. O transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na remoção de um órgão enfermo do corpo humano para ser substituído por outro saudável. Em muitos casos, o transplante é a única alternativa da medicina para a cura de pacientes com determinadas doenças terminais. Podem ser transplantados órgãos como o coração, o fígado, o pâncreas, os rins, os pulmões, os tecidos e outros. O tipo mais comum de transplante é o da transfusão de sangue. Existe também o transplante de células-tronco que são encontradas, principalmente, na medula óssea, placenta e cordão umbilical. O transplante de células-tronco adultas pode ser realizado entre pessoas vivas e, portanto, não apresenta problemas éticos. Como a Bíblia ensina que a vida tem início na fecundação (Jr 1.5), a ética cristã desaprova o uso das células-tronco embrionárias, pois este procedimento interrompe vida do embrião.
2. O conceito de doação na Bíblia. O ensino registrado nas Escrituras assevera que “mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20.35). Isso que denota um ato voluntário de prover o bem-estar do próximo. Trata-se de uma ação desprovida de interesse de ordem pessoal. A pobre viúva doou na casa do Senhor todo o sustento que tinha (Mc 12.43,44). Barnabé — o filho da consolação — sem pretensão alguma, vendeu uma propriedade e fez doação da venda à igreja (At 4.36,37).
A excelência da doação repousa na disposição de renunciar, e até de se sacrificar e sofrer, com base no amor pelos outros (Rm 5.8). Doar ao necessitado é uma forma de colocar a fé em prática (Tg 2.14-17). E ainda, a reciprocidade está presente no gesto de doar, pois foi o Senhor Jesus que assegurou: “dai, e ser-vos-á dado” (Lc 6.38a).
3. A doação de si mesmo: pertencemos a Deus. Diante de tantas bênçãos recebidas e com o sentimento de gratidão, o salmista pergunta para si mesmo: “Que darei eu ao SENHOR por todos os benefícios que me tem feito?” (Sl 116.12). Ciente de que a essência de adorar a Deus é entregar-se a Ele, o salmista responde para si mesmo: “tomarei o cálice da Salvação” (116.13). Esta expressão implica renúncia total ao mundo, à concupiscência e aos desejos da carne (1Jo 2.15-17). O Senhor Jesus ensinou que os verdadeiros discípulos devem negar a si mesmo (Lc 9.23). Esse é o compromisso de não seguirmos a forma mundana de viver (Rm 12.1,2), mas como servo obediente em priorizar o Reino de Deus (Mt 6.33), viver afastado do pecado e ser santo em toda a maneira de viver (1Pe 1.14-16).
SÍNTESE DO TÓPICO (I)
Doar é um ato voluntário de prover o bem-estar ao próximo. Esse ato está intrinsecamente ligado ao nosso amor a Deus.
“1. Transplante. O transplante de órgãos e tecidos é uma ciência médica, que consiste na remoção de um órgão enfermo e em sua substituição por outro que, na maioria das vezes, procede de um cadáver. No caso dos rins e do fígado, a doação e a recepção podem ocorrer inter vivos.
Transplantam-se órgãos inteiros, como o coração, ou partes de um órgão, como o fígado. Transplanta-se também pele, visando a recuperação de áreas atingidas por queimaduras graves.
[...] 2. Xenotransplante. Além da transplantação clássica, há outras que se encontram em fase experimental como, por exemplo, o xenotransplante: o enxerto de órgãos animais em seres humanos. A essa transplantação dá-se o nome também de heteróloga. [...] Trata-se de um tema bastante delicado e que vem sendo discutido com muita expectativa e interrogações” (ANDRADE, Claudionor de. As Novas Fronteiras da Ética Cristã. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2017, pp.122,23).
II. EXEMPLOS DE DOAÇÃO
A Palavra de Deus contém registros de ações altruístas carregadas de amor, zelo e dedicação para com o outro. Exemplos dignos de ser observado pelos cristãos.
1. O exemplo dos gálatas. A igreja na Galácia foi fundada por Paulo, quando este empreendeu sua primeira viagem missionária (47-48 d.C). Na ocasião o apóstolo sofria de uma enfermidade não especificada na Bíblia (2Co 12.7). Ele escreve que orou a Deus três vezes para ser curado, mas o Senhor lhe respondeu: “a minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12.9a). Ao evangelizar na região da Galácia, Paulo deixou indícios de ter sentido os efeitos da doença em sua carne (Gl 4.13) e salienta que os gálatas não o desprezaram nem o rejeitaram (Gl 4.14). Conjectura-se por meio desta passagem que a enfermidade de Paulo era nos olhos, ou que a doença Lhe afetava a visão (Gl 6.11). Indiscutível é que para expressar o amor dos irmãos, ainda que de modo metafórico, o apóstolo fala do sentimento altruísta dos gálatas, que se possível fora, arrancariam os próprios olhos e os doariam no intuito de amenizar o sofrimento de Paulo (Gl 4.15).
2. O desprendimento de Paulo. O apóstolo dos gentios é um excepcional exemplo de doação em prol do Reino de Deus. Transbordando de amor, ele escreveu aos Coríntios: “eu, de muito boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas” (2Co 12.15). Ao retornar da terceira viagem missionária em direção a Jerusalém, o apóstolo discursou aos anciãos de Éfeso: “Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus” (At 20.24). Dias depois, ao chegar em Cesareia (At 21.8), Paulo recebeu uma revelação acerca do perigo que corria em Jerusalém (At 21.10,11). Tendo sido persuadido pelos irmãos a recuar (At 21.12), o apóstolo constrangido declarou estar disposto não apenas a sofrer, “mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (At 21.13). O desprendimento paulino é uma ação digna de ser imitada pelos seguidores de Cristo (1Co 11.1).
3. A doação suprema de Cristo. Seguramente a morte vicária de Cristo é o maior e incontestável gesto de amor e de doação imensurável em favor do ser humano. Quando entregou sua vida por nós, pecadores. Ele afirmou que o fez voluntariamente: “ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou” (Jo 10.18). As Escrituras afirmam que essa doação estava fundamentada exclusivamente no amor, uma vez que “Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Foi por intermédio do sacrifício de Cristo, e de sua vitória sobre a morte, que fomos resgatados de nossa vã maneira de viver (1Pe 1.18-21).
SÍNTESE DO TÓPICO (II)
A Bíblia mostra muitos exemplos de doação, dentre os quais, todos são sombras da suprema doação: a morte vicária de Cristo.
“Infantilismos teológicos. Há crentes que não se dispõem a doar seus órgãos, por temerem ficar incompletos quando do arrebatamento da igreja. Afinal, como entrarão na Jerusalém Celeste sem o coração? Ou sem os pulmões? Ou, então, desprovidos de rins? Na vida futura, todavia, não precisaremos de tais órgãos. Quando todas as coisas se consumarem, nem das gônadas sentiremos falta, conforme sublinha o próprio Cristo: ‘Pois, quando ressuscitarem de entre os mortos, nem casarão, nem se darão em casamento; porém, são como os anjos nos céus’ (Mc 12.25).
Na eternidade, todos seremos perfeitos, como perfeitos são os santos anjos. Por enquanto, necessitamos de órgãos, tecidos, ossos e sangue em virtude de nossa fisiologia. Esta, porém, é transitória. É o que o apóstolo Paulo deixa bem patente: ‘Pois assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual’ (1Co 15.42-44).
Em vez de especularmos com assuntos tão sérios, exercitemos o amor cristão. Na vida eterna, não precisaremos mais de coração. Então, que este venha a pulsar noutro peito. Que nossos pulmões arfem noutro tórax. E que os rins que, hoje, nos filtram o sangue, venham a beneficiar os que se acham presos à máquina de hemodiálise” (ANDRADE, Claudionor de. As Novas Fronteiras da Ética Cristã. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2017, pp.137).
Sobre doar-se
“O verdadeiro amor constrange-nos à doação. Não é fácil a uma família tratar de semelhante assunto numa hora em que as lágrimas são mais eloquentes do que qualquer apeio humanitário. Mas, é justamente aí, que devemos perpetuar a vida do ente que se foi num outro ente que, dependendo de nossa atitude, pode ficar entre nós ainda por um bom tempo. Que as igrejas, pois, estejam preparadas a fim de auxiliar seus membros a agirem momentos como esse”. Para conhecer mais leia As Novas Fronteiras da Ética Cristã, CPAD, p.135.
III. DOAR ÓRGÃOS É UM ATO DE AMOR
O genuíno e excelso sentimento de amor constrange o cristão para ser doador de órgãos e de tecidos humanos.
1. O princípio da empatia e da solidariedade. A empatia pode ser definida como a capacidade de sentir o que a outra pessoa está sentido, ou seja, a disposição de colocar-se no lugar do outro. Ser solidário implica apoiar e ajudar alguém num momento difícil. Cristo nos ensinou no Sermão do Monte: “tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós” (Mt 7.12). Quando o ser humano entende o altruísmo do auxílio mútuo, os argumentos contrários à doação de órgãos perdem o sentido e a razão.
2. O princípio do verdadeiro amor. Amar a Deus e ao próximo como a si mesmo é o resumo da lei de Deus (Mt 22.37-40). Cristo ensinou que não existe maior amor do que doar a sua vida ao próximo (Jo 15.13). O Salvador não doou apenas um ou outro órgão para salvar nossas vidas. Ele entregou a sua vida por inteiro para que não fôssemos condenados à morte eterna. João nos recorda esse ato e nos exorta a fazer o mesmo: “Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pêlos irmãos” (1Jo 3.16). Portanto, doar órgãos para salvar outras vidas é um sublime ato de amor.
SÍNTESE DO TÓPICO (III)
Doar órgãos está fundamentado no princípio do verdadeiro amor e tem raízes no princípio da empatia e da solidariedade.
Esta lição dá a você a oportunidade de fazer uma importante atividade prática. Proponha a classe a identificar irmãos na igreja que estejam precisando de doação de sangue ou de um órgão. Proponha que a classe organize um plano de ação para que o que estamos aprendendo na teoria seja colocado em prática. Nessa atividade você e sua classe podem ter uma grata surpresa: identificar pessoas, que você nem imaginava, que lutam contra uma enfermidade séria. É um exercício de amor olhar e socorrer pessoas que estão sofrendo bem perto de nós.
CONCLUSÃO
A doação de órgãos em vida, ou depois de morto, é um elevado gesto de amor. Esta ação em nada contraria os preceitos éticos ou bíblicos, exceto no caso de células-tronco embrionárias. Porém, ninguém deve ser forçado à prática de tão nobre gesto. O ser humano não pode ser “coisificado” e nem sua vontade pode ser desrespeitada. Doador e receptor expressam a imagem e a semelhança de Deus (Gn 1.26).
A respeito do tema “Ética Cristã e Doação de Órgãos”, responda:
O que é transplante de órgãos e de tecidos humanos?
O transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na remoção de um órgão enfermo do corpo humano para ser substituído por outro saudável.
Por que a Ética Cristã não admite o uso de células-troncos embrionárias?
Como a Bíblia ensina que a vida tem inicio na fecundação (Jr 1.5), a ética crista desaprova o uso das células-tronco embrionárias, pois este procedimento interrompe vida do embrião.
Como você refutaria a ideia de comercialização de órgãos e de tecidos humanos como empecilho para não doar órgãos?
Resposta pessoal. Você não encontrará a resposta nesta lição. Mas por se tratar de uma dúvida muito comum, a ideia é fazer uma reflexão com os alunos. Após eles exporem a resposta, informe que a legislação de doação de órgãos no Brasil proíbe a comercialização de órgãos com pena de até oito anos de reclusão para quem cometer esse crime (Lei 9.434/97).
Como você refutaria sobre a esperança do milagre e a ressurreição do corpo como obstáculos para não fazer doação de órgãos?
Resposta pessoal. Uniformize a resposta fundamentado no subsídio do tópico II.
Segundo a lição, o que significa doar órgãos?
Um ato de amor.
Ética Cristã e doação de órgãos
O tema desta semana traz um assunto que podemos considerar um exemplo das implicações éticas para questões mais tensas da vida. Doar órgãos traz implicações éticas inimagináveis. Por causa dos dogmas religiosos, ou da moral pré-estabelecida no inconsciente do indivíduo, pessoas doarão sangue ou órgãos, ou não, e admitirão que uma vida tenha a chance de salvar-se, ou não.
A partir de um exemplo extremo poderíamos confabular o seguinte: se num mar você visse uma pessoa se afogando, o que faria? Se você soubesse nadar, espera-se que resgatasse a pessoa segundo sua capacidade de salvá-la; se você não soubesse nadar, por certo buscaria a ajuda dos salva-vidas. Inadmissível seria vir a pessoa afogando-se e não se fizesse nada para salvá-la. A questão da doação de órgãos é um imperativo ético. Nas desumanas filas de esperas, encontram-se inúmeras pessoas que não perderam a esperança de que o seu “salva-vidas” apareça. Só quem passou sabe a dimensão da dor e do desespero desse drama. É uma situação dramática!
Caro professor, prezada professora, que tal abrir a aula desta semana com um belíssimo texto do pastor Claudionor de Andrade, atual Consultor Teológico da CPAD, uma “experiência viva” do assunto que estamos estudando? “No dia 24 de maio de 2009, fui submetido a um transplante de fígado. Terminada a cirurgia, e já na UTI, busquei saber quem era o meu doador. Vendo-me a ansiedade, o chefe da equipe cirúrgica explicou-me que faz parte do protocolo não revelar ao receptor a identidade do doador. Pelo menos, foi o que entendi. Naquele momento, restava-me agradecer a Deus. Faltando-me palavra, orei pela família que, anônima e abnegada, permitiu que os órgãos de seu ente querido viessem a salvar não apenas a mim, mas também outras pessoas igualmente graves e crônicas. Sua decisão não deve ter sido fácil, mas desabrochou amorosa e cristã. Até hoje, desconheço quem foi a pessoa, cuja morte trouxe-me uma segunda chance de vida. Negra? Branca? Não importa. O amor transcende etnias, línguas e fronteiras. Somos todos filhos de Adão e Eva. E, nessa condição, não devemos ignorar nossos laços e dependências. Todos precisamos uns dos outros. Ninguém consegue viver ilhado. O coração do negro bate no peito do branco. E, no peito árabe, pulsa um coração judeu. O transplante de órgãos é capaz de operar semelhantes milagres” (As Novas Fronteiras da Ética Cristã. CPAD, pp.121,22).