Título: Cobiça e orgulho — Combatendo o desejo da carne, o desejo dos olhos e a soberba da vida
Comentarista: Natalino das Neves
Lição 10: O poder e os reinos deste mundo
Data: 09 de Junho de 2019
“Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima te não fosse dado […]” (Jo 19.11).
Um dia, os poderosos deste mundo terão de se dobrar diante de quem tem verdadeiramente todo o poder, o Senhor, o Todo-Poderoso.
SEGUNDA — Jo 19.1-4
Pilatos usa sua autoridade para açoitar Jesus
TERÇA — Jo 19.14,15
Pilatos humilha a Jesus
QUARTA — Jo 19.15
Os líderes judeus afirmam que o rei deles era César
QUINTA — Jo 19.8
Pilatos ficou atemorizado ao saber que Jesus afirmou ser o Filho de Deus
SEXTA — Jo 19.9
Pilatos escreve um título na cruz de Jesus
SÁBADO — Jo 19.11
Jesus afirma que todo poder está debaixo da soberania de Deus
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Professor(a), daremos início a uma série de quatro lições que abordarão o tema “poder”. As três primeiras lições enfocarão o poder que opera no mundo e o poder destrutivo do orgulho e da inveja. Na última lição abordaremos o resgate do princípio da humildade e do serviço ao próximo. Os jovens passam por um momento crucial de suas vidas em que terão que tomar muitas decisões. Essas decisões influenciarão o futuro deles, por isso reflita na importância da sua influência e orientação na vida deste jovens.
Professor(a), sugerimos a simulação de um júri. Para isso, você precisará dedicar pelo menos uns 25 minutos de sua aula. Os alunos devem ler o tópico II. Em seguida, divida a turma em dois grupos, um grupo para defender Jesus e o outro para defender os argumentos do Império Romano e os líderes religiosos. Dê uns 5 minutos para os grupos se organizarem e definirem um representante de cada grupo para defender seu “cliente” diante do juiz, que será você professor(a). Dê oportunidade para cada um argumentar e depois contra-argumentar. Aproveite para explorar as características de Jesus e do seu Reino.
João 19.1-11.
1 — Pilatos, pois, tomou, então, a Jesus e o açoitou.
2 — E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram sobre a cabeça e lhe vestiram uma veste de púrpura.
3 — E diziam: Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas.
4 — Então, Pilatos saiu outra vez fora e disse-lhes: Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele crime algum.
5 — Saiu, pois, Jesus, levando a coroa de espinhos e a veste de púrpura. E disse-lhes Pilatos: Eis aqui o homem.
6 — Vendo-o, pois, os principais dos sacerdotes e os servos, gritaram, dizendo: Crucifica-o! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós e crucificai-o, porque eu nenhum crime acho nele.
7 — Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei, e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.
8 — E Pilatos, quando ouviu essa palavra, mais atemorizado ficou.
9 — E entrou outra vez na audiência e disse a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta.
10 — Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar?
11 — Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima te não fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem.
INTRODUÇÃO
Poder é um assunto que suscita muitos questionamentos e poucas respostas. Alguns o defendem como um bem a ser preservado para a justiça, e outros, como um mal necessário e inevitável. Há os que defendem que é um mal, por natureza, a ser eliminado. Certo é que não há como viver sem se relacionar com o poder. Mal ou bem, depende de quem o detém e a maneira como faz uso dele.
E a Bíblia, o que ensina a respeito do poder? O cristão sabe lidar com ele? Nesta lição, refletiremos acerca de um texto do Evangelho de João que trata a respeito do julgamento de Jesus. Veremos quais eram as autoridades naquele tempo e como o Mestre lidou com o poder.
I. O PODER QUE IMPERA NO MUNDO
1. O poder do Império Romano no primeiro século. O modo de dominação imposta pelo Império Romano afetou profundamente a vida dos judeus. A opressão imperial era sustentada por meio da força de legiões de soldados. A Palestina já havia tido experiências de opressões imperialistas antes dos romanos, por meio de extorsão de excedentes agrícolas e escravização. No entanto, a comercialização romana era bem mais invasiva.
A agricultura era a base da economia dos habitantes da Palestina e os romanos se apropriavam das colheitas. Eles tiravam a dignidade dos campesinos, pois a dominação romana não significava somente a submissão a uma pesada tributação, mas, acima de tudo, era uma grave ameaça à própria existência. Toda a situação de injustiça sistêmica e opressão institucionalizada eram “legitimadas” pela firme crença de que o Império Romano era universal, desejado e protegido pelos deuses. Uma dominação sustentada por um exército considerado invencível e sob o pretexto de uma paz garantida.
2. O poder dos reinos do mundo e a glória deles na tentação de Jesus (Mt 4.8-11). A terceira e última tentação de Jesus narrada por Mateus tem muito a nos ensinar a respeito do poder e sua utilização. Ela nos mostra o risco de desejarmos o poder dos reinos desse mundo, em detrimento da adoração a Deus. O lugar da terceira tentação é um monte muito alto com visão de todos os reinos do mundo. Sabemos que o ser humano tem uma tendência a querer poder. Todos querem o domínio, a diferença é que alguns têm equilíbrio, enquanto outros não se importam com os meios para conquistá-lo, e para estes, os meios justificam os fins.
O texto em apreço pode dar a entender que o Inimigo domina os reinos do mundo, pois ele tem a petulância de oferecê-los a Jesus. Mas ele é o pai da mentira. Jesus rejeita tal oferta e vence o Diabo.
3. A força manipuladora do poder. Talvez essa seja uma das mais perigosas tentações, quando você pensa que está fazendo um bem e na realidade está sendo usado para fazer o mal a você e às pessoas que poderiam se beneficiar com sua ação. Por isso, a importância de estar sincronizado com Deus para não ser enganado pelo mal. Jesus sabia o caminho que teria que percorrer para cumprir sua missão, que não era política. O Salvador veio a fim de buscar o perdido, e não libertar os judeus do jugo romano (Lc 19.10). Jesus não priorizou o que é deste mundo, mas o que é eterno, pois os reinos e a glória deste mundo são passageiros.
II. DEUS ESTÁ ACIMA DE TODO E QUALQUER PODER
1. O poder de Pôncio Pilatos, a quem Jesus foi entregue para ser julgado. Pilatos era um procurador nomeado pelo imperador Tibério (14 a 37 d.C.) e não tinha a consideração dos judeus. Era sanguinário, autoritário e arrogante. Não respeitava os limites do Templo de Jerusalém, local onde tentou introduzir uma imagem do imperador e se apropriou dos tesouros ali depositados para construir um aqueduto na capital. A relação de Pilatos com os judeus pode ser vista no texto de Lucas 13.1. O sinédrio, antes do domínio romano, tinha o poder de infligir sentença de morte, mas na época de Jesus essa sentença tinha que ser sancionada pelos romanos. Portanto, apesar de rivais, os principais líderes judeus governavam junto com o representante romano, mas tinham seus poderes limitados. A decisão, segundo as leis deste mundo, se Jesus viveria ou morreria, estava nas mãos de Pilatos (Lc 19.10).
2. O poder político-religioso opositor a Jesus. João utiliza o termo “os judeus” de forma diferenciada dos demais evangelistas. Quando utilizado com conotação adversativa é para indicar os opositores de Jesus e seus discípulos, um grupo judaico dominante e específico. Eles eram autoridades político-religiosas que exerciam o poder político por intermédio do Sinédrio e o poder religioso por meio do Templo e do culto oficial (Jo 1.19; 2.18; 5.10). João mostra que mesmo entre os fariseus existiam pessoas que criam em Jesus, mas estavam tão arraigadas ao sistema religioso que não o confessavam como o Cristo para não serem expulsas da sinagoga (Jo 2.23; 12.10,11,42). Entre as principais causas da oposição desse grupo a Jesus estavam a sua messianidade, sua origem, suas pretensões de reino, sua posição em relação ao sábado e a sua divindade (Jo 8.52,53,57,59). A influência e a popularidade de Jesus levou os poderosos da época a planejarem a morte do Salvador.
3. O contraste entre a realeza de Jesus e o poder imperial. O texto joanino destaca o contraste entre a realeza de Jesus e o modo de vida do poder imperial (privilégios, hierarquias, dominação, hipocrisia, entre outros). Os representantes do poder imperial vão sendo gradativamente desmascarados. No julgamento de Jesus (Jo 19.1-15), Pilatos até aparenta estar impressionado com a postura do Salvador, mas logo demonstra sua leviandade. Primeiro ele manda açoitar e humilhar Jesus (vv.1-3), sendo que tinha a intenção de soltá-lo (v.4) e até o reconhece como rei (vv.14,15). Além disso, ficou entrando e saindo do pretório para conversar com os judeus e com Jesus. Por outro lado, as autoridades político-religiosas, querendo a morte de Jesus e, ao mesmo tempo, querendo manter a boa relação com os romanos, traem a própria tradição e aliança com Deus. Eles afirmam que o único rei deles é César (v.15). Eles não entram no pretório para se manterem “puros” e participarem da Páscoa, e não se preocupam em levar à morte um justo. Jesus e a multidão assistiram à desmoralização desse poder arrogante e degradante.
4. Pilatos fica inseguro diante da afirmação da divindade de Jesus. No primeiro século, o Império Romano empunhava sobre os liderados a chamada teologia “augustana”, centrada na divindade do Imperador. Antes de Jesus Cristo, estes foram os títulos de César Augusto: Divino, Filho de Deus, Deus, Deus de Deus, Senhor, Redentor, Libertador, Salvador do Mundo. O evangelista assevera que Pilatos, quando se depara com a declaração dos judeus de que Jesus teria afirmado ser filho de Deus, ele “mais atemorizado ficou” (v.8). A ansiedade o faz voltar ao pretório para dialogar com Jesus. Ele quer saber a origem do Senhor (v.9), mas dessa vez Jesus se “impõe” por meio do silêncio. Pilatos, o “poderoso”, se apequena diante de Jesus, aparentemente indefeso e tenta fazer uso do poder e da autoridade a ele conferida pelo Império Romano, mas mesmo assim, Jesus afirma que acima do “todo poderoso Império Romano” há um poder maior, que é Deus e que somente Ele tem poder sobre tudo e todos.
CONCLUSÃO
Nesta lição aprendemos que o poder exercido pelo Império Romano continua sendo o modelo que opera no mundo, que jaz no maligno. Aprendemos que todo poder emana de Deus e que Ele está acima de tudo e todos.
TENNEY, Merrill C. Tempos do Novo Testamento: Entendendo o Mundo do Primeiro Século. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2010.
1. A opressão romana era sustentada por meio de quê?
A opressão imperial era sustentada por meio da força de legiões de soldados.
2. Qual era a base da economia dos habitantes da Palestina?
A agricultura era à base da economia dos habitantes da Palestina e os romanos se apropriavam das colheitas.
3. Segundo a lição, o que podemos aprender com a terceira tentação de Jesus?
Ela nos mostra o risco de desejarmos o poder dos reinos desse mundo, em detrimento da adoração ao Deus verdadeiro.
4. Quem foi Pôncio Pilatos?
Pilatos era um procurador nomeado pelo imperador Tibério (14 a 37 d.C.) e não tinha a consideração dos judeus.
5. Segundo a lição, quem eram os opositores de Jesus?
Eram autoridades político-religiosas que exerciam o poder político por intermédio do Sinédrio e o poder religioso por meio do Templo e do culto oficial (Jo 1.19; 2.18; 5.10).
“Pilatos sai e traz consigo Jesus, vestido chistosamente como rei com uma coroa de espinhos e um manto purpúreo. Ele anuncia que não achou nenhuma culpa em Jesus. Com esta manobra, Pilatos muito provavelmente tenta soltar Jesus. Não obstante, os sacerdotes e oficiais recusam-se a aceitar tal ação e exigem a pena de morte: ‘Crucifica-o! Crucifica-o” (v.6). Eles apelam para esta sentença com base na lei deles — Ele blasfemou (‘Ele se fez Filho de Deus’, v.7; cf. Jo 5.18; 10.33). Agora Pilatos ficou com mais medo ainda. O medo se mostra implicitamente no dilema em que se encontra — entalado entre certo tipo de regente romano sobre a nação judaica e seu próprio fracasso e fim como governador. Debaixo disso, de maneira irônica, Jesus que realmente está no controle, frustra o plano que Pilatos tem de soltá-lo. Ele tem de morrer pelos pecados do mundo. Ironicamente, Jesus é realmente o Rei” (Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. 2ª Edição. RJ: CPAD, 204, p.599).
“O temperamento de Tibério provavelmente explica a hesitação de Pilatos em agir no julgamento de Jesus. Convencido pelo resultado do exame de que Jesus não era um revolucionário perigoso. […] A insinuação dos sacerdotes, ‘Se soltas este, não és amigo de César! Qualquer que se faz rei é contra o César!’ (Jo 19.12), era uma ameaça velada. […] Tibério, receoso de conspiração, não estava disposto a tolerar qualquer tipo de deslealdade. Se os judeus se queixassem com o imperador (que apreciava o bem-estar das províncias), de que Pilatos havia endossado ou perdoado uma rebelião armada contra o governo, a sua destruição política seria certa. […] Pilatos teve de tomar uma decisão rápida entre a justiça romana em relação a Jesus, a qual ele a havia jurado apoiar por ser um oficial do governo, e ofender a hierarquia, o que poderia, através de uma palavra bem colocada com Tibério, trazer a sua ruína. […] A administração da Judeia por Pilatos foi conduzida de um modo arbitrário e inconsequente. Segundo Josefo, a fim de obter fundos para a construção de um arqueduto necessário, ele fez uso do ‘dinheiro sagrado’. Quando a população protestou contra esta profanação do tesouro do Templo, ele enviou soldados em roupas comuns que atacaram desordeiros e espectadores indiscriminadamente, matando alguns e ferindo outros” (TENNEY, Merrill C. Tempos do Novo Testamento: Entendendo o Mundo do Primeiro Século. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2010, pp.173-175).