Título: A razão da nossa esperança — Alegria, crescimento e firmeza nas cartas de Pedro
Comentarista: Valmir Nascimento
Lição 1: As cartas de Pedro: vivendo em esperança e firmados na verdade
Data: 07 de julho de 2019
“Amados, escrevo-vos, agora, esta segunda carta, em ambas as quais desperto com exortação o vosso ânimo sincero” (2Pe 3.1).
As Cartas de Pedro foram escritas com o propósito de encorajar os cristãos em tempos de provação e a se manterem firmes na verdade diante dos falsos ensinamentos.
SEGUNDA — Jo 1.40-42
Pedro conhece Jesus
TERÇA — Mt 4.18-20
Chamado para ser pescador de homens
QUARTA — Mc 3.13-19
A nomeação de Pedro entre os doze
QUINTA — Jo 18.10,11
Um homem impulsivo
SEXTA — Jo 21.15
A ordem para apascentar as ovelhas
SÁBADO — At 2.14
Um líder no poder do Espírito Santo
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Neste trimestre estudaremos as Epístolas universais do apóstolo Pedro, assim chamadas porque são dirigidas à comunidade cristã como um todo. O apóstolo conclama os crentes a recordarem o que haviam aprendido, crescerem no conhecimento de Deus e a se manterem firmes na Palavra da Verdade. Certamente, o estudo destes dois fragmentos do Novo Testamento será muito proveitoso para a nossa juventude que vive em um contexto pós-moderno, numa época de desespero, desânimo e engano.
O comentarista da lição é o professor Valmir Nascimento Milomem Santos. Ele é ministro do Evangelho em Cuiabá/MT, jurista e mestre em Teologia. É membro da diretoria do Instituto Brasileiro de Direito e Religião (IBDR) e escritor com várias obras publicadas pela CPAD.
Prezado(a) professor(a), esperamos que esteja animado para o novo trimestre que se inicia. Nesta lição introdutória, destaque a relevância da mensagem das cartas de Pedro para os nossos dias, precisamente na vida do jovem cristão. Apresente uma síntese e o esboço do conteúdo das Epístolas conforme o esquema abaixo:
1 Pedro 1.1,2; 5.12; 2 Pedro 1.1; 3.1,2
1 Pedro 1
1 — Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia,
2 — eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: graça e paz vos sejam multiplicadas.
1 Pedro 5
12 — Por Silvano, vosso fiel irmão, como cuido, escrevi abreviadamente, exortando e testificando que esta é a verdadeira graça de Deus, na qual estais firmes.
2 Pedro 1
1 — Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo:
2 Pedro 3
1 — Amados, escrevo-vos, agora, esta segunda carta, em ambas as quais desperto com exortação o vosso ânimo sincero,
2 — para que vos lembreis das palavras que primeiramente foram ditas pelos santos profetas e do mandamento do Senhor e Salvador, mediante os vossos apóstolos.
INTRODUÇÃO
Depois de Jesus, sobressai, nos Evangelhos, a figura de Pedro, o pescador inconstante e temperamental, a quem o Mestre convocou para ser um dos seus doze apóstolos. Foi preciso que o Senhor trabalhasse e moldasse o caráter desse homem para transformá-lo num líder destemido e pastor amoroso, que viria a liderar os primeiros cristãos. É este homem transformado que agora vive não pelo ímpeto, mas no poder do Espírito, que escreveu as duas epístolas que levam o seu nome nas páginas no Novo Testamento. Apesar do tempo, o conteúdo de ambas continua relevante. Seus conselhos e exortações compõem uma mensagem poderosa e revigorante para os cristãos do tempo presente. Escritas em tempos de perseguição ao povo de Deus e disseminação de ensinos enganosos, essas epístolas deixam transparecer o sentido da esperança cristã, uma esperança viva e eficaz que, além de nos preparar para o porvir, nos fortalece, encoraja e nos orienta para vivermos plenamente a fé cristã nesta era de descrença e desespero, enquanto esperamos o retorno do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
I. SIMÃO PEDRO, O AUTOR DAS EPÍSTOLAS
1. Servo e apóstolo de Cristo. Inegavelmente, as duas epístolas que trazem o seu nome foram escritas por Simão Pedro, também chamado Cefas, a quem Jesus chamou para ser um dos seus apóstolos. Conquanto tenha havido ao longo da história algum questionamento sobre a sua autoria, principalmente a respeito da Segunda Carta, não existe qualquer evidência que a contrarie. Além de o autor identificar-se com o apóstolo (1Pe 1.1; 2Pe 1.1), o conteúdo e o caráter da mensagem apóiam a sua autenticidade, tendo sido reconhecida por muitos pais da igreja, a exemplo de Irineu, Tertuliano, Clemente de Alexandria e Orígenes. A diferença no estilo de redação entre as duas missivas (cartas), atribui-se ao fato de a primeira ter sido redigida com a ajuda de Silvano (1Pe 5.12), também chamado Silas, o companheiro das viagens de Paulo (At 15.40; 17.15).
2. Um homem renovado e cheio do Espírito. Para entendermos a importância dessas Epístolas, vale destacar que o seu autor foi um dos principais personagens do Novo Testamento. Pedro e seu irmão, André, eram pescadores no mar da Galileia (Mt 4.18; Mc 1.16) e parceiros de Tiago e João (Lc 5.10). Desde o início da sua chamada, Pedro assumiu certa proeminência e liderança entre os demais discípulos. Servia regularmente como o porta-voz deles, e é mencionado em primeiro lugar em todas as listas (Mt 14.28; 15.15; 18.21; 26.35,40; Mc 8.29; 9.5; 10.28; Jo 6.68). Apesar das virtudes e boas intenções, Pedro era também impulsivo e instável. Passou por uma derrota pessoal dolorosa ao negar Jesus veementemente (Mt 26.69-74). Todavia, de um pescador simples, temperamental e inconstante, Deus o transformou em um destemido líder da Igreja Primitiva e um dos principais da história do cristianismo.
A sublime mudança faz-se evidente no Dia de Pentecostes (At 2), ocasião em que o apóstolo pregou o seu primeiro sermão no poder do Espírito. French Arrington diz: “Inspirado pelo Espírito, o sermão e caráter de Pedro ficam em contraste com suas negações do Senhor (Lc 22.54-62). Depois do derramamento do Espírito, ele se torna corajoso e ousado. Seu primeiro sermão reflete suas convicções claras. Ele já não tem dúvida sobre o Salvador e a missão do Salvador, e interpreta o significado da vida e ministério de Jesus”.
3. Cartas de experiência. Fica evidente que as Epístolas de 1 e 2 Pedro foram escritas por um homem com rica experiência com Deus. Sua mensagem é afetuosa, seu tom é humilde e sua preocupação é legítima. Expressa a ternura e zelo de um pastor com seu o rebanho, que buscava pôr em prática a ordem direta que recebeu de Cristo (Jo 21.15). Sua experiência de arrependimento e renovação espiritual é um aspecto que inspira esperança na vida daqueles que, por um motivo ou outro, não se acham capazes de vencer suas fragilidades e superar seus reveses. Da mesma forma que Pedro teve a sua vida restaurada após um fracasso espiritual, Deus também é suficientemente capaz de prover uma cura interior e mudar o rumo da história daqueles que fraquejaram na caminhada.
II. PRIMEIRA CARTA DE PEDRO: ALEGRIA E ESPERANÇA EM TEMPOS DE PROVAÇÃO
1. Destinatários. Pedro direciona sua primeira Epístola aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia; cinco províncias da Ásia Menor à época pertencente ao Império Romano, atualmente parte da Turquia. É consenso que a sua audiência era formada pelas comunidades cristãs espalhadas nesta região, incluindo não somente judeus convertidos como também cristãos de origem gentílica. Embora Pedro utilize várias referências judaicas, a exemplo de diáspora — termo usado para os judeus que viviam fora da Terra de Israel, e apelar às profecias do Antigo Testamento que haviam se cumprido, a Carta também contém uma linguagem que fala diretamente aos gentios convertidos. O apóstolo afirma que foram “resgatados da vossa vã maneira de viver que, por tradição, recebestes dos vossos pais” (1.18), e que “em outro tempo, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia” (2.10).
2. Ocasião e propósito. Não é possível saber com exatidão a data em que a Carta foi escrita, por isso os estudiosos a situam entre 60-63 d.C. Percebe-se claramente que os cristãos da época não viviam em condições favoráveis; as circunstâncias e o tom da Epístola deixam transparecer que os crentes estavam padecendo provações e sofrimentos em inúmeros contextos. A religião dos cristãos ainda era considerada como uma pequena seita, composta de uma minoria que vivia oprimida e à margem da sociedade. Por diversas razões, o padrão de vida dos crentes não era aceito pelos costumes da época; não se adequava nem ao judaísmo, nem ao paganismo greco-romano, por isso os cristãos eram injustiçados e até mesmo acusados de serem ateus, pois rejeitavam os deuses pagãos e adoravam um Deus Único. Todavia, ao que tudo indica, não se tratava ainda de uma perseguição oficial, notadamente aquela que viria a ser promovida pelo imperador Nero a partir de 64 d.C, após atribuir a causa do grande incêndio em Roma aos seguidores de Cristo. Na verdade, Pedro parece estar preparando a comunidade cristã para esta prova ardente que estava por vir (4.12), na qual ele próprio viria a ser martirizado. Assim, diante desse contexto difícil, Pedro escreve esta Epístola com a intenção de encorajar os cristãos a manterem a esperança em tempos de provações e desfrutar alegria nas adversidades. Não é de estranhar que Pedro seja chamado de o “apóstolo da esperança”, pois ele insiste que a despeito de tudo, em Cristo temos uma esperança viva, que nos ensina a viver o tempo presente e a descansar em Deus na jornada para o céu.
3. Inspiradora, doutrinária e instrutiva. A Primeira Carta de Pedro é um documento único e abrangente. Ela é devocionalmente inspiradora, teologicamente doutrinária e ricamente instrutiva. Ensina a respeito de vários princípios fundamentais da fé, e ao mesmo tempo contém valiosos conselhos para o viver diário. Como teremos a oportunidade de estudar ao longo do trimestre, Pedro se dirige a grupos específicos dentro da comunidade cristã, dentre os quais servos, esposas, esposos, jovens, idosos e líderes, fazendo surgir um guia abrangente sobre diversos assuntos éticos e doutrinários. Os temas tratados englobam, além de outros, a obra da salvação, graça, perseguição, sofrimento de Cristo, santidade, integridade, vida familiar, relacionamento conjugal, relação com o governo, convivência cristã e liderança. Certamente será muito proveitoso e enriquecedor estudar cada um desses temas no decorrer do trimestre.
III. SEGUNDA CARTA DE PEDRO: CRESCIMENTO ESPIRITUAL E FIRMEZA NA VERDADE
1. Destinatários. No início de sua Segunda Epístola Pedro registra quem são os seus destinatários: “(…) aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 1.1). É provável que estes crentes em Cristo fossem os mesmos a quem a Primeira Carta fora destinada, conforme se depreende do que o autor registra em 3.1. Portanto, Pedro está escrevendo para uma comunidade cristã heterogênea, composta de judeus e gentios convertidos ao Evangelho, incluindo escravos, esposas com maridos pagãos, jovens e anciãos (1Pe 2.13; 3.1; 5.5). Conquanto não tivessem visto o Senhor (1Pe 1.8), e embora tivessem passado por diversas provações, estes irmãos haviam alcançado uma fé preciosa.
2. Ocasião e propósito. Quando foi escrita a segunda Carta de Pedro? Considerando que Nero, o algoz do apóstolo, morreu em 68 d.C, a maioria dos estudiosos colocam a data da escrita entre 65-67 d.C. Embora o público seja o mesmo da Primeira Epístola, as circunstâncias e propósitos são bastante distintos. Na primeira, a comunidade cristã passa por severa provação advinda de fora da igreja. Na ocasião da Segunda Epístola, os perigos são internos, por causa dos ensinos heréticos que estavam sendo disseminados dentro dela. Chegou ao conhecimento do apóstolo que falsos mestres haviam se introduzido entre os irmãos e estavam distorcendo a verdade do Evangelho, produzindo heresias de perdição (2Pe 2.1).
Entre outros ensinamentos insidiosos, os falsários da fé negavam a divindade e a volta gloriosa de Cristo. Além da falsa doutrina, apregoavam também o falso comportamento, pelo qual induziam os crentes a abandonarem o padrão de vida santa e piedosa. Diante disso, com coragem e tenacidade Pedro escreve esta Segunda Carta com a intenção de advertir os cristãos sobre os falsos ensinadores e incentivá-los a crescerem na fé e no verdadeiro conhecimento de Deus. Pedro está dizendo para os cristãos ficarem firmes na chamada de Deus, agir com diligência e empenho, aguardando confiantemente o cumprimento da promessa do retorno do Filho de Deus!
3. Verdade e esperança. Esta Segunda Carta complementa de uma forma extraordinária a Primeira Epístola do apóstolo Pedro. Enquanto na carta inaugural somos instruídos a viver com esperança, alegria e santidade em tempos de provação, na segunda somos advertidos a não esquecer a vocação e as verdades da Palavra de Deus numa época de falsidade religiosa. Uma prepara e inspira, a outra diz: agarre-se à verdade e mantenha-se firme nela. Juntas, elas ensinam que esperança e verdade devem andar juntas no caminho da fé. A esperança sem a verdade é mero otimismo humano, e verdade sem esperança é religiosidade vazia. É exatamente essa junção que faz com tenham um propósito comum: despertar o ânimo sincero dos crentes (2Pe 2.1).
CONCLUSÃO
As Cartas de Pedro, escritas em meados do primeiro século da Era Cristã, porque inspiradas pelo Espírito Santo, continuam a fornecer uma mensagem de esperança em tempos de desespero, e uma palavra de crescimento e firmeza na Verdade para uma era de ceticismo e de falsas religiões. Ambas contém riquezas doutrinárias e instruções precisas para vivermos em diferentes situações da vida. Por essa razão, temos à nossa disposição um conjunto de ensinos que nos ajudarão como cristãos em tempos-modernos.
RICHARDS, Lawrence O. Comentário Devocional da Bíblia. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2012.
1. Segundo a lição, a que se atribui a diferença de redação entre as duas Cartas?
Atribui-se ao fato da primeira ter sido redigida com a ajuda de Silvano (1Pe 5.12), também chamado Silas, o companheiro das viagens de Paulo (At 15.40; 17.15).
2. Quem era a audiência da Primeira Carta de Pedro?
É consenso que a sua audiência era formada pelas comunidades cristãs espalhadas nesta região, incluindo não somente judeus convertidos como também cristãos de origem gentílica.
3. Qual o período provável em que a Primeira Carta foi escrita?
Entre 60-63 d.C.
4. Qual a intenção da Segunda Carta de Pedro?
Pedro escreve a Segunda Carta com a intenção de advertir os cristãos sobre os falsos ensinadores e incentivá-los a crescerem na fé e no verdadeiro conhecimento de Deus.
5. Qual o propósito comum das duas cartas?
Despertar o ânimo sincero dos crentes (2Pe 2.1).
“Pedro trata seus leitores como se estivessem exilados e dispersos, numa clara referência à dispersão dos judeus por todas as nações do mundo. Mas em 1 Pedro 1.14; 2.10-12; 4.2-4, esta mesma expressão é aplicada às igrejas gentias. Embora isto não parecesse uma honra aos olhos do mundo, identificava-as como povo escolhido de Deus; ‘eleitos’ (separados para servir), ‘de acordo com a presciência de Deus Pai’. Essa separação não precisa ser interpretada como predestinação arbitrária. Israel tornara-se um povo escolhido não por um afago todo especial de Deus, ou para ser-lhe a possessão favorita (At 10.34), mas para servi-lo (Is 41.8). Os israelitas, pois, foram separados, ou eleitos, a fim de preparar o mundo à vinda de Cristo, e para ser uma bênção a ‘todas as famílias da terra’ (Gn 12.3). Vejo a escolha do filhos de Israel como a dos comandos aliados na Segunda Guerra Mundial. A missão destes era justamente estabelecer cabeças-de-praia em território inimigo para que os outros pudessem avançar. Mais uma vez a presciência de Deus tem de prevalecer, não tanto em seu conhecimento em relação a nós, mas em relação aos seus próprios planos e objetivos. Isto é sentido na esfera da santificação pelo Espírito, e é efetuado através do sangue de Cristo pela demonstração de nossa obediência.
É muito importante, pois, que nós, como estrangeiros, exilados e residentes neste mundo, lembremo-nos de quem realmente somos” (HORTON, Stanley M. 1 e 2 Pedro: A Razão da nossa Esperança. RJ: CPAD, 2012, pp.12,13).