LIÇÕES BÍBLICAS CPAD

JOVENS

 

 

3º Trimestre de 2019

 

Título: A razão da nossa esperança — Alegria, crescimento e firmeza nas cartas de Pedro

Comentarista: Valmir Nascimento

 

 

Lição 6: A razão da nossa esperança

Data: 11 de agosto de 2019

 

 

TEXTO DO DIA

 

Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós(1Pe 3.15).

 

SÍNTESE

 

Diante das injustas perseguições, os cristãos devem se preparar para dar a razão da esperança cristã.

 

AGENDA DE LEITURA

 

SEGUNDA — Gn 3.12-17

Sofrimento, consequência da liberdade mal utilizada

 

 

TERÇA — Lc 21.12-17

Jesus diz que os cristãos serão odiados e perseguidos

 

 

QUARTA — 2Tm 2.3

Sofre as aflições como bom soldado

 

 

QUINTA — Rm 8.22

A criação sofre

 

 

SEXTA — Jo 16.33

No mundo tereis aflições

 

 

SÁBADO — 1Co 15.35-58

Esperando a plena glorificação

 

OBJETIVOS

 

Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:

  • DESCREVER as qualidade da vida cristã;
  • REFLETIR acerca da questão do sofrimento;
  • SABER como defender a razão da esperança cristã.

 

INTERAÇÃO

 

Em todas as direções que olhamos, presenciamos dor e sofrimento. Apesar do avanço da ciência e das inúmeras comodidades inventadas pelo homem nos últimos séculos, trazendo melhores condições de vida, a dor física e emocional permanece como uma realidade perturbadora para o ser humano. Diariamente, a mídia noticia uma série de acontecimentos trágicos, violência, assassinatos, acidentes de trânsito, doenças e muitos outros eventos dolorosos. Como o cristão se porta diante do sofrimento? Sabendo que o sofrimento tem uma origem espiritual, decorrente da Queda no Éden, e que será aniquilado somente no fim de todas as coisas, o cristão usa a esperança, a fé, o consolo de Deus e o amparo dos irmãos para passar pelas tribulações nesta terra.

 

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

 

Prezado(a) professor(a), o sofrimento do cristão é um dos temas centrais da Epístola petrina. Este assunto, como sabemos, é um tema delicado e complexo, pois envolve profundas questões teológicas, filosóficas e emocionais. Nesta lição, como forma de preparar o caminho para a lição seguinte, é interessante entender o contexto mais amplo, proporcionando aos seus alunos uma reflexão teológica sobre o “problema do mal” no nível intelectual. O propósito é munir os seus alunos com fortes argumentos apologéticos, para que a fé e a esperança deles estejam bem alicerçadas. Contudo, como escreveu Josh McDowell “os jovens cristãos de hoje precisam muito mais do que uma postura estritamente modernista, que apela para o intelecto. Precisam muito mais do que o ponto de vista pós-moderno, que rejeita a verdade e exalta a experiência pessoal” (Razões para Crer, CPAD, p.33). Eles precisam ser ajudados a entender que o Evangelho é verdadeiro, mas também é significativo e relevante para a vida. Assim, para esta lição, recomenda-se a leitura dos capítulos 1 e 16 do livro Razões para Crer: Argumentos a Favor da Fé Cristã.

 

TEXTO BÍBLICO

 

1 Pedro 3.8-17; 4.1,2.

 

1 Pedro 3

8 — E, finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis,

9 — não tornando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, sabendo que para isto fostes chamados, para que, por herança, alcanceis a bênção.

10 — Porque quem quer amar a vida e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano;

11 — aparte-se do mal e faça o bem; busque a paz e siga-a.

12 — Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos, atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem males.

13 — E qual é aquele que vos fará mal, se fordes zelosos do bem?

14 — Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis;

15 — antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós,

16 — tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom procedimento em Cristo,

17 — porque melhor é que padeçais fazendo o bem (se a vontade de Deus assim o quer) do que fazendo o mal.

 

1 Pedro 4

1 — Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este pensamento: que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado,

2 — para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus.

 

COMENTÁRIO DA LIÇÃO

 

INTRODUÇÃO

 

A questão do sofrimento é tão antiga quanto a história da humanidade. “Por que sofremos?” é uma pergunta perturbadora, que leva o homem a questionar vários aspectos da vida, inclusive a existência de Deus. Nesta lição, veremos que a conduta reta e virtuosa, apesar de prevenir uma série de infortúnios, não isenta o cristão do sofrimento.

 

I. AS QUALIDADES DA VIDA CRISTÃ

 

1. Unidade cristã. Tendo direcionado uma série de conselhos para grupos específicos dentro da igreja (cidadãos, servos, esposas e esposos), agora Pedro se volta para os crentes em geral. A palavra “finalmente”, empregada no versículo 8, indica a conclusão não da carta, mas do raciocínio que acabara de empregar, apresentando uma síntese das implicações da submissão no relacionamento entre os crentes. Podemos perceber que o apóstolo está reunindo em poucas palavras as qualidades morais e espirituais da vida cristã, a começar pela unidade. Recomenda que os crentes tenham “um mesmo sentimento”, ou seja, seu propósito é que os cristãos vivam em harmonia e união uns com os outros (Ef 4.3; Fp 2.2). A metáfora do corpo usada por Paulo é elucidativa a esse respeito (Rm 12). Apesar de cada membro possuir a sua individualidade, quanto à forma de operar, formamos um só corpo em Cristo. Cada parte é diferente em si, mas o corpo só funciona adequadamente se houver cooperação e relacionamento harmonioso entre todos.

2. Simpatia e perdão. Outra qualidade do comportamento genuinamente cristão é a simpatia. A palavra grega sympathês traduzida nesta passagem por compassivos tem o sentido de colocar-se no lugar do outro. Ser simpático, portanto, é muito mais que ser cordial e atencioso; consiste numa virtude que expressa solidariedade e compaixão pelo próximo. Virtude esta que deve ser seguida da prática do amor fraternal, com os corações cheios de misericórdia e humildade. Ao encorajar, no verso 9, que os crentes não tornem o mal por mal ou injúria por injúria, Pedro realça outra qualidade cristã: o perdão. A característica do cristão é perdoar a outros da mesma forma que foi perdoado (Ef 4.32). Somente com o amor depositado em nossos corações, deixamos de revidar e de retribuir com a mesma moeda a ofensa recebida. A frase “não levo desaforo para casa”, não deveria encontrar espaço no vocabulário cristão.

3. Guardando a língua. Pedro recorre à citação do Salmo 34.12-15 com o propósito de acrescentar à sua lista de virtudes o cuidado com a língua: “Porque quem quer amar a vida e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano” (v.10). Encontramos aqui um verdadeiro princípio de sabedoria para a vida, pois quem guarda a sua boca e fala somente o necessário evita muitos dissabores e sofrimentos (Pv 12.13; 21.23). De forma contundente, Tiago advertiu que aquele que se considera religioso, mas não consegue conter a sua língua, engana-se a si mesmo; e a sua espiritualidade não tem valor algum (Tg 1.26).

 

 

II. A QUESTÃO DO SOFRIMENTO

 

1. O sofrimento do justo. Apesar de elencar uma série de qualidades para a conduta do cristão, o apóstolo Pedro sabe que isso não é suficiente para isentar os justos das provas e perseguições na vida. Ora, tomar decisões adequadas e viver piedosamente ajuda a prevenir muitos dissabores, mas ainda assim o sofrimento é inevitável. Eis o motivo pelo qual Pedro indaga: “E qual é aquele que vós fará mal, se fordes zelosos do bem?” (v.13). Trata-se de uma pergunta retórica, a fim de enfatizar a importância de uma postura de zelo pelas coisas corretas. Afinal, espera-se que os justos sejam recompensados enquanto os desordeiros e irresponsáveis recebam a merecida punição. No entanto, vivendo em um mundo caído e de valores invertidos, pessoas íntegras sofrem injustiças e passam por provações, enquanto ímpios prosperam (Sl 73). Com efeito, Pedro estava preparando os crentes daquela época para as provações que lhes sobreviriam. Em vez de se sentirem amedrontados e alarmados com as ameaças que usualmente recebiam dos seus perseguidores, os cristãos são encorajados a recordar que são bem-aventurados ao padecerem por causa da justiça (v.14). Não há nenhum louvor em sofrer justamente pelos erros cometidos, mas há grande alegria em padecer por fazer a coisa certa. Ao contrário do que afirmam os teólogos da prosperidade e do triunfalismo espiritual, vida cristã não significa ausência de provações e lutas. Basta olharmos para a galeria de heróis da fé de Hebreus 11, para percebermos que muitos deles foram torturados até à morte, açoitados, acorrentados, apedrejados e estiveram famintos no deserto.

2. O problema do sofrimento. Para os acusadores do Cristianismo, o mal é um argumento da inexistência de Deus. Os ateus e agnósticos, que não conseguem entender a questão do sofrimento — mas também não oferecem qualquer resposta satisfatória, indagam: se Deus é onipotente, por que permite que pessoas inocentes sofram? Se Ele é onisciente, por que não intervém? O simples fato de o ser humano inquirir acerca do sofrimento, a maldade e as injustiças do mundo, indica a natural percepção de que algo se encontra com defeito, fora do propósito para o qual fora planejado. Ficamos perplexos com o sofrimento porque, originariamente, a raça humana não foi criada para sofrer. Deus é bom e Todo-Poderoso, e criou criaturas boas com a capacidade de tomarem decisões livres. Todavia, o mau uso dessa liberdade levou o primeiro casal e toda a humanidade à Queda (Rm 5.12).

A desobediência no Éden, além de afastar o homem do Criador, introduziu a morte, a angústia, a dor e toda sorte de males que provocam o sofrimento. Somente em um mundo, onde o homem não tivesse liberdade, o sofrimento não existiria. Isso porque, é logicamente incompatível um mundo no qual o homem possa decidir entre o bem e o mal e ao mesmo tempo não ser afetado pelas consequências de sua decisão. A liberdade de colocarmos a mão no fogo, por exemplo, resulta em queimadura e dor. A completa ausência do sofrimento pressupõe a inexistência da liberdade humana. Porém, Deus não criou robôs, e sim pessoas livres. O sofrimento, portanto, além de ser o resultado da distorção da liberdade, é algo que se encontra dentro da permissão de Deus, que pode ser utilizado para ensinar e disciplinar o ser humano.

3. Deus sabe que sofremos. Além de responder intelectualmente ao problema do mal presente no mundo, a fé cristã oferece consolação na tormenta. Ainda que Deus permita o sofrimento, Ele não fica indiferente à dor humana. A maior prova disso é que o Pai enviou seu Filho Unigênito para sofrer pelos nossos pecados (Jo 3.16; Rm 5.8), oferecendo-se em sacrifício no Calvário. E assim, a cruz é a maior prova de que Deus é sensível ao nosso sofrimento. Por esse motivo, o apóstolo refere-se repetidas vezes ao padecimento de Jesus, a fim de nos recordar de que Deus, em Cristo, morreu por nós. Para Pedro, o mais importante não é saber a causa cósmica do sofrimento, e sim como devemos reagir a ele. E isso começa com a compreensão de que Deus está ao nosso lado em momentos de angústia, levando-nos a aprender com o sofrimento. Paulo disse que devemos nos gloriar também na tribulação, sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência a experiência, e a experiência a esperança (Rm 5.3,4).

 

 

III. A DEFESA DA NOSSA ESPERANÇA

 

Em seguida (3.15), Pedro fornece um dos conselhos mais primorosos do Novo Testamento, no qual enfatiza o segredo para o povo de Deus enfrentar a perseguição e responder aos ataques contra a fé.

1. Preparados para responder. Diante da hostilidade, a primeira e mais importante atitude do cristão é santificar a Cristo em seu coração. Antes de qualquer coisa, Jesus deve ser consagrado e reverenciado no interior do nosso ser, de modo a ocupar a primazia de nossa existência. Em segundo lugar, o crente é instado a estar sempre preparado para responder (gr. apologia) sobre a razão da sua esperança. No original, a palavra apologia tem o sentido de discurso de defesa e justificação de algo. Assim, se alguém lhes perguntasse por que eles se consideravam cristãos — um grupo inexpressivo de religiosos à época, os crentes deveriam estar prontos para argumentar em defesa da fé que professavam. Tal prontidão deveria ser permanente, não importando o momento ou a circunstância.

2. Apologética que é cristã. Desde a Igreja Primitiva, os ataques e objeções ao Cristianismo nunca cessaram. A apologética cristã, portanto, não é responsabilidade exclusiva dos pastores e teólogos cristãos; todo aquele que professa essa fé viva e genuína deve ser capaz de explicar aos outros os motivos pelos quais acredita nas convicções cristãs. Cada crente é convocado a dar razões intelectuais sobre a veracidade do Cristianismo, demonstrando não ser a fé cristã um salto no escuro, mas uma visão de mundo plausível e consistente com a racionalidade. Ao mesmo tempo, o testemunho do Espírito Santo e a experiência real que sentimos em Cristo, nos habilita a dar aos descrentes as razões pessoais da esperança que há em nós. Antes de sabermos no que cremos, sabemos em quem cremos!

3. Mansidão e temor. É importante observar que Pedro apresenta o jeito adequado de respondermos aos descrentes: com mansidão e temor. A apologética cristã jamais deve ser usada com altivez e em clima de beligerância. O seu propósito não é vencer debates, e sim conduzir as pessoas ao Evangelho. Afinal, ganhar uma alma é mais valioso que ganhar uma discussão. Mesmo que os descrentes sejam hostis em seus ataques, o cristão defende as suas convicções com gentileza e cordialidade. Com mansidão e reverência cativamos e conquistamos os outros, por meio de uma apologética testemunhal.

 

 

CONCLUSÃO

 

A maneira mais eficaz de demonstrarmos a razão da nossa esperança aos descrentes e àqueles que questionam a nossa fé é mediante a nossa conduta pessoal. Argumentos teóricos e teológicos são importantes, mas, a menos que sejam corroborados pelo nosso testemunho de vida e no poder do Espírito, não passarão de palavras vazias. Tal testemunho ganha ainda mais valor quando mantemos a fé inabalável em tempos de sofrimento e perseguição.

 

ESTANTE DO PROFESSOR

 

GEISLER, Norman L.; MEISTER, Chad V. (eds.). Razões para Crer: Apresentando Argumentos a Favor da Fé Cristã. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2013.

 

HORA DA REVISÃO

 

1. Qual o propósito de Pedro ao orientar os crentes a terem “o mesmo sentimento”?

Seu propósito é que os cristão vivam em harmonia e união uns com os outros.

 

2. Qual é a palavra original empregada por Pedro traduzida por “compassivos” em 1Pe 3.8, e qual o seu sentido?

A palavra grega sympathês traduzida por “compassivos” tem o sentido de colocar-se no lugar do outro. Ser simpático, portanto, é muito mais que ser cordial e atencioso; consiste numa virtude que expressa solidariedade e compaixão pelo próximo.

 

3. O fato de o ser humano inquirir acerca sofrimento, da maldade e das injustiças do mundo indica o quê?

Indica a natural percepção de que algo se encontra com defeito, fora do propósito para o qual fora planejado.

 

4. Qual a maior prova de que Deus não fica indiferente ao sofrimento humano?

A maior prova disso é que o Pai enviou seu Filho Unigênito para sofrer pelos nossos pecados.

 

5. Segundo Pedro, de que forma devemos responder àqueles que indagarem a razão da nossa esperança?

Com mansidão e temor.

 

SUBSÍDIO

 

“Aqueles que repudiam a crença religiosa por causa do mal banalizam o sofrimento e a fé admirável e invejável de quem sofre, sobretudo quando aqueles que sofrem permanecem firmes e encontram motivos de esperança em face do sofrimento por conta da presença e bondade de Deus para com eles. É muito mais intrigante quando as pessoas de orientação naturalista sofrem com graça e coragem. Ao que será que atribuem sua resistência no sofrimento? Qual é a fonte de sua força? Não é mais fácil os crentes que sofrem explicarem a fonte de sua força de sua coragem, consolo e graça em Deus? Os céticos que ridicularizam a crença que Deus existe e que Deus tem razões moralmente suficientes para permitir males terríveis tacitamente zombam da fé vibrante e autêntica dos crentes verdadeiros que experimentam males terríveis e, ainda assim aprendem a amar e confiar em Deus ainda mais. Talvez a profundidade da crença entre os crentes que sofrem seja um sinal indicador de uma realidade que os não crentes ainda têm de experimentar” (GEISLER, Norman L.; MEISTER, Chad V. (eds.). Razões para Crer: Apresentando Argumentos a Favor da Fé Cristã. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2013, p.281).