Título: A fragilidade humana e a soberania divina — O sofrimento e a restauração de Jó
Comentarista: José Gonçalves
Lição 2: Quem era Jó
Data: 11 de Outubro de 2020
“Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e este era homem sincero, reto e temente a Deus; e desviava-se do mal” (Jó 1.1).
Quem zela por um caráter irrepreensível obtém testemunho acerca de sua integridade.
Segunda — Jó 1.1
Um homem sincero, reto, temente a Deus e desviava-se do mal
Terça — Jó 1.2
Um homem com uma família sólida
Quarta — Jó 1.3
Um homem materialmente próspero
Quinta — Jó 1.4
Um homem com uma família festiva
Sexta — Jó 1.5
Um homem de vida piedosa
Sábado — Jó 1.8
Um homem de caráter irrepreensível, testemunhado pelo próprio Deus
Jó 1.1-5.
1 — Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e este era homem sincero, reto e temente a Deus; e desviava-se do mal.
2 — E nasceram-lhe sete filhos e três filhas.
3 — E era o seu gado sete mil ovelhas, e três mil camelos, e quinhentas juntas de bois, e quinhentas jumentas; era também muitíssima a gente ao seu serviço, de maneira que este homem era maior do que todos os do Oriente.
4 — E iam seus filhos e faziam banquetes em casa de cada um no seu dia; e enviavam e convidavam as suas três irmãs a comerem e beberem com eles.
5 — Sucedia, pois, que, tendo decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Porventura, pecaram meus filhos e blasfemaram de Deus no seu coração. Assim o fazia Jó continuamente.
61, 133 e 236 da Harpa Cristã.
Demonstrar que Jó foi um homem rico, mas que, diferente dos demais, tinha um caráter íntegro.
Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.
É possível ser próspero e, ao mesmo tempo, ter um caráter íntegro e piedoso? Esta pergunta faz sentido porque não é pouco comum correlacionar o defeito de caráter de uma pessoa com o advento de seu sucesso. O leitor da Bíblia Sagrada sabe do cuidado que as Escrituras apontam para a relação humana com o dinheiro. Sim, a Palavra de Deus diz que o “amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males” (1Tm 6.10). Isso ocorre por causa do “apego”, da “ambição” que o homem desperta diante do dinheiro ou de algum bem material. Essa disposição pode aniquilar a nossa integridade e piedade. Mas ao longo da lição, veremos um modelo de integridade, prosperidade e piedade conjugado com o temor do Senhor. Que o exemplo de Jó fale aos nossos corações.
INTRODUÇÃO
O autor sagrado não elabora uma biografia de Jó, mas traça um perfil que diz muito sobre esse gigante da fé. Jó foi um homem diferente, não em natureza, pois ele era igual aos demais de sua época. Todavia, foi, sem dúvida, distinto na espiritualidade. Ele foi um homem que não apenas possuía bens materiais e uma família sólida, mas mantinha profunda comunhão com Deus. Assim, nesta lição destacaremos alguns traços da vida e espiritualidade de Jó.
PONTO CENTRAL
O temor do Senhor é a base de uma vida reta e íntegra.
I. UM HOMEM DE CARÁTER IRRETOCÁVEL
1. Íntegro (sincero) (v.1). O caráter define o que uma pessoa é de verdade. Ela é vista a partir dos valores que governam a sua vida interior. O “mau-caráter” define uma pessoa que não merece confiança, que é desonesta e que, portanto, não possui valores nobres. Jó não era um homem sem pecado, mas tinha um caráter irretocável. Nesse sentido, os primeiros versículos do livro possuem vários adjetivos que descrevem o seu caráter. No primeiro, o autor o apresenta como um homem íntegro. A palavra “íntegro”, que traduz o hebraico tam , possui o sentido de inocente, sem culpa. No grego, segundo a Septuaginta, a palavra alethinós remete ao que é verdadeiro. Assim, podemos afirmar que Jó era sincero nas intenções, afeições e diligente nos esforços para cumprir seus deveres para com Deus e os homens.
2. Reto (v.1). Ele também era um homem reto que, no hebraico yasar , tem um sentido de alguém justo, direito. Na Septuaginta, de acordo com o grego amemptos , possui o sentido de irrepreensível. Portanto, o homem de Uz era justo, reto, direito e se comportava de maneira irrepreensível.
3. Temente a Deus e desviava-se do mal (v.1). Jó é descrito como alguém temente a Deus, que desviava-se do mal. Estas palavras, de acordo com os termos relativos ao hebraico, sur e yare , traduzem a ideia de alguém que prestava reverência a Deus e evitava o mal. Já na Septuaginta, os termos relativos ao grego, theosebés e apecho , trazem o sentido de alguém devotado ao culto e à adoração a Deus e que, por isso, mantinha o mal sempre à distância.
As Escrituras mostram que, muito antes de Salomão, Jó praticava o que o homem mais sábio do mundo, posteriormente, ensinaria: “Teme ao SENHOR e aparta-te do mal” (Pv 3.7).
SÍNTESE DO TÓPICO (I)
Jó era um homem íntegro, reto, temente a Deus e desviava-se do mal.
Inicie o tópico fazendo uma reflexão acerca do “temor do Senhor” e sua relação com uma vida sabiamente vivida. Fale aos alunos que os livros de sabedoria do Antigo Testamento, como Provérbios, e o próprio Livro de Jó, colocam o “temor do Senhor” como princípio primeiro para uma vida de sabedoria. Para auxiliá-lo nessa reflexão, leve em conta o seguinte fragmento textual: “Sabedoria e o temor do Senhor. […] ‘O temor do Senhor’ é central à literatura sapiencial, ocorrendo 14 vezes em Provérbios e várias vezes em Jó. […] Além de ser o ponto de partida ou início da sabedoria, o temor do Senhor também é ‘o princípio primeiro e controlador’, ou ‘a essência e o coração’ da sabedoria” (ZUCK, Roy B. Teologia do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p.287).
II. UM HOMEM SÁBIO E PRÓSPERO
1. Um conselheiro sábio. Há pessoas ricas que não são sábias nem tampouco prósperas. Possuem conhecimento, mas não entendimento; riquezas, mas não prosperidade. Jó distingue-se nesse aspecto.
Ele foi um homem sábio, rico e próspero. A Bíblia afirma que Jó era “maior do que todos os do Oriente” (Jó 1.3). “Maior” aqui não pode ser entendido apenas como uma referência a bens materiais, mas também à sua sabedoria. Estudiosos destacam que Jó era mais importante em sabedoria, riqueza e piedade do que qualquer outra pessoa daquela região e ressaltam o reconhecimento da sabedoria de Jó conforme se destacava a sabedoria dos orientais expressa em provérbios, canções e histórias. Isso fazia dele um homem proeminente, a quem as pessoas recorriam com frequência em busca de conselho e orientação (Jó 29.21,22).
2. Um homem próspero. O homem de Uz não era apenas rico, mas, sobretudo, próspero. O texto sagrado destaca que, além de sua esposa, ele tinha sete filhos e três filhas (v.2). Para os padrões da época, possuía uma família com o formato ideal. Ele também era um fazendeiro bem sucedido. Em sua fazenda havia sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, e quinhentas jumentas; e tinha também muitíssima gente a seu serviço (v.3).
3. Uma prosperidade baseada no “ser”. Jó, portanto, possuía um grande patrimônio e uma bela família. Sua prosperidade se refletia na relação harmoniosa entre ele, sua família, seus negócios e, sobretudo, Deus. Não era uma prosperidade estabelecida somente no “ter”, mas, principalmente, no “ser”.
SÍNTESE DO TÓPICO (II)
Jó era um homem conhecido por sua sabedoria e prosperidade.
“As posses de Jó, incluindo seus filhos e filhas, são registradas para provar a retidão desse homem (2-3); O ponto principal de discussão entre Jó e seus amigos vai ser o significado da prosperidade material. Acreditava-se naquela época que a família e os rebanhos eram bênçãos de Deus para a pessoa reta. A riqueza de Jó significava que ele desfrutava do favor de Deus de uma maneira excepcional. Os números usados (sete, três e cinco), enumerando os filhos de Jó e seus rebanhos, são expressões adicionais da sua integridade.
Cada filho tinha sua própria casa. As filhas provavelmente moravam na casa do pai. Cada filho realizava uma festa, em casa de cada um no seu dia (4). Não está claro aqui se esses banquetes eram realizados no dia do aniversário de um deles ou, visto que havia sete filhos, o autor estaria descrevendo uma vida tão ideal que os filhos de Jó estavam frequentemente celebrando e se entretendo mutuamente em uma comunhão harmoniosa. Em cada evento, a piedade de Jó é ilustrada pelo fato de que ele sempre oferecia holocaustos (5) pelos seus filhos, se caso um deles pudesse ter pecado inadvertida ou secretamente. Essa frase, e os santificava, ilustra um uso comum no Antigo Testamento de santificação como um cerimonial de consagração ou separação” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p.25).
III. UM HOMEM DE PROFUNDA PIEDADE PESSOAL
1. Um homem dedicado à família. O primeiro capítulo de Jó diz: “Iam seus filhos e faziam banquetes em casa de cada um no seu dia; e enviavam e convidavam as suas três irmãs a comerem e beberem com eles” (1.4). O ambiente descrito aqui é de uma família em harmonia que, de forma feliz, festejava a vida. De forma alguma o texto sugere dissolução, bebedice ou licenciosidade nessas comemorações. Eram confraternizações feitas no ambiente familiar.
2. Um homem de moral e piedade. Jó foi um homem que possuía uma forte moralidade e uma sólida espiritualidade. Além de seu caráter irretocável, o texto deixa claro que ele tinha uma vida piedosa (Jó 1.5). Essa piedade está presente não apenas nos primeiros capítulos, mas em todo o livro. Mesmo nos momentos de desespero, como consequência de sua provação, ele sempre mantinha seus olhos em Deus. Essa piedade era a causa da dedicação de Jó à família.
3. Um homem de vida consagrada. A piedade de Jó está evidente no cuidado espiritual que ele tinha com os filhos. Jó sempre orava por eles: “Sucedia, pois, que, tendo decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Porventura, pecaram meus filhos e blasfemaram de Deus no seu coração. Assim o fazia Jó continuamente.” (Jó 1.5). Como sacerdote de seu lar, Jó cumpria o ritual do culto em favor de sua família. O levantar cedo ou de madrugada, como expressão idiomática do hebraico bíblico, é uma forma de enfatizar a piedade de Jó. Essa devoção é demonstrada pela consagração vivida por ele. O texto diz que ele se “santificava”. O vocábulo português “santificava” traduz o termo hebraico, qadash , que possui o sentido de ser separado ou consagrado. Uma pessoa que é consagrada é uma pessoa que ora, uma pessoa que ora é uma pessoa consagrada. Portanto, à luz da vida de Jó, somos instados a viver uma vida consagrada diante de Deus e dos homens.
SÍNTESE DO TÓPICO (III)
Jó tinha uma vida dedicada à família e devotada a Deus por meio de uma vida consagrada.
“Jó não teve de isolar-se para tornar-se piedoso. Foi justamente como pai de família, homem de negócios e membro de uma sociedade politicamente organizada, que ele pontificou-se como o melhor ser humano de seu tempo. Ninguém precisa isolar-se para tornar-se santo; santo nasce exatamente em meios às tentações.
Todos os heróis da fé destacaram-se como membros participativos da sociedade. O que dizer de Noé? Ou de Abraão, Isaque e Jacó? Ou dos profetas? Isaías e Ezequiel eram casados. E o exemplo do próprio Cristo? Ele não se afastou dos homens para redimi-los; Emanuel resgatou-nos estando entre nós e fazendo-se como um de nós.
Enganam-se os que julgam ser a santidade o produto de uma vida solitária. Santidade é serviço; é dedicação integral ao Senhor Jesus; é desviar-se do mal e ter a parecença do Cordeiro de Deus” (ANDRADE, Claudionor de. Jó: O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Propósito. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p.37).
CONCLUSÃO
Destacamos três aspectos importantes acerca da vida de Jó: caráter, prosperidade e piedade. Só compreenderemos devidamente a vida desse gigante da fé do Antigo Testamento a partir dessa matriz.
É possível que alguém seja rico, mas não possua caráter algum; da mesma forma é possível que alguém possua valores morais sem, contudo, esboçar piedade alguma. Todavia, ninguém terá um caráter irretocável, não apenas fragmentos ético-morais, prosperidade, não apenas posses, piedade, não apenas religiosidade se não conhecer a Deus na intimidade. Jó era assim: íntegro, reto, temente a Deus e se desviava do mal.
Septuaginta: A primeira e mais antiga tradução grega do texto hebraico do Antigo Testamento.
Afeições: Afeto, afeiçoamento.
A respeito de “Quem era Jó”, responda:
O que podemos afirmar acerca de Jó?
Podemos afirmar que Jó era sincero nas intenções, afeições e diligente nos esforços para cumprir seus deveres para com Deus e os homens.
Como Jó é descrito no primeiro versículo?
Jó é descrito como alguém temente a Deus, que desviava-se do mal.
O que fazia de Jó um homem proeminente a quem as pessoas recorriam com frequência em busca de conselho e orientação?
O reconhecimento de sua sabedoria.
Em que estava estabelecida a prosperidade de Jó?
A prosperidade de Jó não estava estabelecida somente no “ter”, mas, principalmente, no “ser”.
Do que o homem Jó foi possuidor?
Jó foi um homem possuidor de uma forte moralidade e sólida espiritualidade.
QUEM ERA JÓ
Esta segunda lição traça o perfil de Jó. Ela apresenta o traço biográfico do patriarca da terra de Uz. A lição joga luz sobre o modo de vida desse gigante da fé. Ele tinha bens materiais, uma sólida família e uma espiritualidade profunda, atestada pelo testemunho do próprio Deus (1.8). Nessa tríade existencial podemos afirmar que Jó era verdadeiramente próspero.
O resumo da lição
A presente lição tem um objetivo geral. A ideia é demonstrar que Jó foi um homem rico e mantinha um caráter íntegro. Para atingir esse objetivo geral, a lição especifica três outros objetivos.
O primeiro, mencionar que Jó procurou viver de forma íntegra e justa. O tópico um detalhará o versículo um do primeiro capítulo. Ele focará nas palavras “íntegro”, “reto”, “temente a Deus” e “desviava-se do mal”. De acordo com que apresenta essas palavras, tanto a “retidão” quanto a “justiça” de Jó levavam em conta o temor do Senhor.
O segundo objetivo é citar a prosperidade de Jó como consequência do favor de Deus. O segundo tópico tratará de desenvolver essa assertiva. Ele mostrará Jó como um grande sábio. A sabedoria sempre foi uma virtude cultivada no Oriente. O tópico também mostrará a prosperidade material de Jó, mas deixará claro que essa prosperidade era conjugada com a sabedoria que vem de Deus, conforme veremos na lição 9, e, por isso, podemos afirmar que a prosperidade do patriarca estava baseada no “ser”, e não no “ter”. Assim, Jó se fez conhecido por sua sabedoria e prosperidade.
O último objetivo específico é destacar a piedade pessoal de Jó como modelo para os crentes. O terceiro tópico dará conta desse objetivo, apresentando a dedicação de Jó para com sua família, o zelo moral e piedoso e de sua vida consagrada de adoração ao Deus único. A vida consagrada de Jó gerenciava todas as esferas da sua existência. O patriarca tinha uma vida interior sólida, o que implicaria no comportamento piedoso diante da tragédia que estaria por vir.
Aplicação
À luz de toda lição, podemos estabelecer princípios para trabalhar com a classe. Em primeiro lugar, o temor a Deus deve ser o esteio de nossa vida. Devemos amar ao Senhor, buscá-Lo de todo coração. À medida que vivemos essa devoção, amaremos e cuidaremos de nossa família e viveremos uma vida moral e piedosa que dê testemunho aos outros.