Título: A fragilidade humana e a soberania divina — O sofrimento e a restauração de Jó
Comentarista: José Gonçalves
Lição 3: Jó e a realidade de Satanás
Data: 18 de Outubro de 2020
“E vindo um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles” (Jó 1.6).
Segundo as Escrituras, Satanás é um ser real, portador de personalidade e só o venceremos com as armas espirituais.
Segunda — Jó 1.6
O Diabo se apresenta diante de Deus
Terça — Jó 1.7,8
Satanás e o testemunho de Deus a respeito de Jó
Quarta — Jó 1.9,10
Só é possível servir a Deus na bonança?
Quinta — Jó 1.11
A acusação do Diabo a Jó diante de Deus
Sexta — Jó 1.12
Deus impõe limites a Satanás
Sábado — Jó 2.4,5
O Diabo pede permissão para tocar na saúde de Jó
Jó 1.6-12; 2.4,5.
Jó 1
6 — E vindo um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles.
7 — Então, o SENHOR disse a Satanás: De onde vens? E Satanás respondeu ao SENHOR e disse: De rodear a terra e passear por ela.
8 — E disse o SENHOR a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero, e reto, e temente a Deus, e desviando-se do mal.
9 — Então, respondeu Satanás ao SENHOR e disse: Porventura, teme Jó a Deus debalde?
10 — Porventura, não o cercaste tu de bens a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e o seu gado está aumentado na terra.
11 — Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema de ti na tua face!
12 — E disse o SENHOR a Satanás: Eis que tudo quanto tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do SENHOR.
Jó 2
4 — Então, Satanás respondeu ao SENHOR e disse: Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida.
5 — Estende, porém, a tua mão, e toca-lhe nos ossos e na carne, e verás se não blasfema de ti na tua face!
212, 224 e 225 da Harpa Cristã.
Destacar que Satanás não é um ser autoexistente, mas criado; e que sua ação não se sobrepõe a soberania de Deus.
Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.
Uma das coisas mais perigosas é uma ideia que revela determinado extremo. Acerca de Satanás há pelo menos duas. A primeira tende a negar sua existência. A segunda, supervaloriza a ação maligna como se Satanás fosse uma entidade onipotente. O Livro de Jó revela a realidade do Diabo. É o livro mais claro em relação ao assunto do Antigo Testamento. Entretanto, de maneira equilibrada, podemos aprender que o Diabo tem determinada ação no mundo, mas ele não é maior que Deus, nem muito menos exerce ação autônoma. O livro mostra com clareza que o Diabo está submetido a Deus. Essa compreensão é alentadora, pois não podemos ignorar a sua ação, mas também não devemos supervalorizá-la porque maior é Deus que que nos salvou.
INTRODUÇÃO
Uma das constatações que o leitor logo chega ao ler o Livro de Jó é que o Diabo existe. Ele é um ser real. Todo o mal descrito poeticamente no livro é visto a partir da realidade de Satanás. Todo sofrimento experimentado pelo homem de Uz, mesmo sem a consciência histórica disso, foi motivado por uma ação maligna. Ali, o Diabo assume o caráter pessoal de uma criatura. Nesse aspecto, o livro mostra como o Diabo pode interferir na vida humana. Portanto, nesta lição abordaremos algumas questões relativas à existência e à realidade de Satanás a partir do contexto de Jó.
PONTO CENTRAL
O Diabo é um ser espiritual, mas não é autoexistente.
I. O LIVRO DE JÓ E A NATUREZA DE SATANÁS
1. Um ser espiritual. O Livro de Jó não procura provar a origem do Diabo, mas o revela como um ser real. O livro destaca algumas características da natureza de Satanás que nos permitem conhecê-lo melhor. Em primeiro lugar, conforme o livro apresenta, o Diabo é um ser espiritual e encontra-se na mesma categoria dos anjos, representada no texto pela expressão “os filhos de Deus” (Jó 1.6). Os anjos são seres espirituais que não pertencem à dimensão natural, mas à sobrenatural. Isso explica, por exemplo, a capacidade da rápida locomoção do Diabo quando rodeava a Terra e passeava por ela (Jó 1.7).
2. Um ser criado. Satanás é um ser criado. Mesmo sendo um anjo, dotado de natureza espiritual, ele não é autoexistente. Ao contrário de Deus, que criou todas as coisas, o anjo que se tornou Satanás teve uma origem. Nem sempre o Diabo foi Diabo. Ele fora um anjo bom como os demais. Assim, ele é uma criatura, não o Criador. Por isso, o livro revela que Satanás tem suas ações limitadas por Deus. Ele pode fazer muitas coisas, mas não tudo (Jó 1.12; 2.7). Como ele não é autoexistente e, semelhante às outras criaturas que povoam o universo, não é um ser incriado, o Diabo é uma criatura limitada.
3. Um ser dotado de personalidade. Além do fato de ser um ente espiritual, o Diabo é dotado também de personalidade. Ele é uma pessoa e se apresenta como tal. No Livro de Jó o vemos assumindo atributos de um ser pessoal. Ele fala e possui capacidade argumentativa (Jó 1.9-11). Essa mesma característica aparece de forma mais explícita na tentação de Cristo (Mt 4.1-11; Lc 4.1-13). No livro, além de se expressar verbalmente, Satanás também demonstra possuir conhecimento. Ele sabe o que se passa na Terra e como se comportam os homens. Ele conhecia a vida de Jó. Isso faz dele um ser perspicaz. O apóstolo Paulo sabia que o Diabo é um ser que possui perspicácia quando disse não lhe ignorar os “ardis” e que ele se valia de métodos sofisticados para atingir as pessoas (2Co 2.11; Ef 6.11). Assim, Satanás usou de seu conhecimento e perspicácia para atacar Jó.
SÍNTESE DO TÓPICO (I)
O Diabo é um ser espiritual criado e dotado de personalidade.
Sugerimos que você inicie este tópico fazendo indagações acerca da natureza do Diabo. Pergunte aos alunos o que eles acham acerca das características de Satanás: É um ser espiritual? É um ser criado ou incriado? É dotado de personalidade? São perguntas importantes que devem levá-los à compreensão de como a Bíblia revela a natureza do Diabo. Por isso, após ouvir atentamente as respostas dos alunos, desenvolva o tópico levando em consideração que a palavra Satanás significa “adversário”. Nas palavras de Myer Pearlman, essa palavra descreve a intenção persistente de o Diabo obstruir os propósitos de Deus. É uma oposição que se revelou nas seguidas tentativas de impedir o plano divino de cumprir a atividade predita em Gênesis 3.15: a vinda do Messias.
II. O LIVRO DE JÓ E AS OBRAS DE SATANÁS
1. Dor e sofrimento. A introdução do Livro de Jó apresenta Satanás como um ser capaz de agir contra o ser humano (Jó 1.12; 2.6). Através de suas ações é possível conhecer a natureza maligna de suas obras. É da natureza do Diabo provocar dor e sofrimento aos seres humanos. No livro, Satanás impõe ao patriarca um sofrimento, até então, sem precedentes, pois ninguém sofreu como Jó no Antigo Testamento. Primeiramente, o Diabo atingiu as posses dele, o que fez o patriarca sofrer ao ver o seu patrimônio destruído repentinamente. Da mesma forma, houve grande sofrimento em Jó quando ele viu a tragédia se abater sobre sua casa, pois sua família foi devastada. Entretanto, o sofrimento do homem de Uz não cessou com a perda da família. O Diabo o infligiu com uma doença que o fez padecer dor e isolar-se de todos.
2. Acusar. O Diabo é capaz de infligir dor e sofrimento, mas não só isso. Ele também acusa. Faz parte de sua natureza acusar. Foi o que ele fez com Jó (Jó 1.10,11). O Diabo o acusou de praticar uma religiosidade motivada por interesse. Assim como fez, posteriormente, com o apóstolo Pedro, querendo cirandá-lo (Lc 22.31,32), o Diabo quis fazer o com Jó. O livro do Apocalipse mostra a acusação como a missão do Diabo (Ap 12.10).
3. Tentar. Por outro lado, devemos destacar a atuação de Satanás na tentação para o mal. Também faz parte de sua natureza tentar pessoas. Pelo texto sagrado, podemos inferir que o Diabo impulsionou os sabeus e os caldeus, povos até então nômades, a dizimarem os bens de Jó (vv.12,14,17). É uma característica do Diabo incitar e tentar para o mal (1Cr 21.1).
SÍNTESE DO TÓPICO (II)
No Livro de Jó, as obras de Satanás são representadas pela dor, sofrimento, acusação e tentação.
“Satanás […] ressalta que Jó tem sido recompensado de todas as formas possíveis — Porventura, não o cercaste tu de bens a ele? (10). Ele e sua família eram protegidos de todo e qualquer tipo de perigo, e Satanás conclui: A obra de suas mãos abençoaste, e o seu gado está aumentando. Um sucesso incomum aparece em tudo que Jó realiza. Essa prosperidade, cobra Satanás, é a recompensa de Deus pela fidelidade de Jó.
Depois de acusar a Deus de comprar a lealdade de Jó, Satanás o desafia dizendo que uma reversão na condição próspera de Jó redundaria em sua deserção: Mas estende a tua mão […] e verás se não blasfema de ti em tua face (11). Isto é, ele renunciaria completa e abertamente a Deus e sua forma piedosa de vida.
Deus não abandona Jó nas mãos de Satanás, mas Ele dá permissão para testar a disposição de Jó em permanecer leal e devoto: Eis que tudo quanto tem está na tua mão (12). Observe, no entanto, que existe um limite para o teste: Somente contra ele não estendas a tua mão. Com tal autorização, Satanás age rapidamente para cumprir o seu propósito, confiante no sucesso de seu empreendimento” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p.29).
III. O LIVRO DE JÓ E O OCASO DE SATANÁS
1. Queda e ruína de Satanás. O vocábulo “ocaso”, quando usado em sentido figurado, é definido pelo Dicionário Aurélio como “fim, final, queda e ruína”. O Livro de Jó retrata de forma nítida o ocaso final de Satanás. A vitória de Jó foi uma derrota para ele. Em quase todo o livro, Deus se mantém em silêncio e oculto, mesmo o leitor tendo consciência que Ele está lá e que o seu silêncio fala alto. Por outro lado, o Diabo não aparece mais a partir do capítulo 3 e não é mais mencionado no restante do livro. Não é, pois, propósito do livro pô-lo em evidência, nem tampouco superestimar o mal. O Livro de Jó mostra que Satanás não conseguiu o seu intento, que era fazer com que Jó blasfemasse.
2. Jó e o testemunho de Deus. O Livro tem um início dramático, mas um final apoteótico. Jó foi submetido a uma prova de fogo, e mesmo sendo chamuscado pelas chamas do sofrimento, saiu vivo e vitorioso. Deus nunca o abandonou. A graça estava oculta, mas estava lá. No momento oportuno ela se manifestou (Jó 38.1). Da mesma forma que a graça de Deus se manifestou trazendo salvação a todos os homens (Tt 2.11), ela também se manifestou trazendo alívio, paz e livramento a Jó. Deus mesmo, no momento certo, testemunhou que Jó era o homem que Ele sempre disse que era: justo, reto e temente a Deus (Jó 42.7,8).
SÍNTESE DO TÓPICO (III)
O Livro de Jó mostra indiretamente o ocaso do Diabo, e, ao mesmo tempo diretamente, o testemunho de Deus a respeito de Jó.
“O termo hebraico ( tam ) usado na afirmação, este era homem sincero (perfeito, ou ‘íntegro’, ARA), é de grande interesse para os teólogos da santidade. O significado principal da raiz é plenitude de caráter. No caso de Jó, não significa perfeição no sentido absoluto. Jó afirma que ele é tam (27.5), mas ele também admite suas fraquezas humanas (9.1ss; 13.26). Jó mantém a integridade básica do seu caráter. Tudo faz parte de uma mesma disposição. Os olhos e o coração estão focados no que é íntegro (cf. Mt 6.22; At 2.46). O coração de Jó não está dividido (Sl 12.2). A vontade de Jó pertence a Deus e ele não abre mão disso (2.9,10; 27.5). Além de ser sincero (perfeito / íntegro), também lemos que Jó era reto e temente a Deus; e desviava-se do mal. Não havia falta em Jó. Ele preenchia todos os requisitos dos seus dias de um homem exemplar. Na narrativa, essas qualidades em Jó não constituem a avaliação de homens, mas sim, a do próprio Deus” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014. pp.27-28).
CONCLUSÃO
O Livro de Jó, mesmo poeticamente, apresenta Satanás de forma real, e a partir da revelação divina na história bíblica. Dessa forma, Satanás é um ser dotado de personalidade. Ele possui grande conhecimento e age com perspicácia. Não deve, portanto, ser ignorado. Todavia, mesmo o livro tendo deixado esse fato em oculto, Jó sempre esteve debaixo das soberanas mãos de Deus. O Maligno não o tocou como quis, mas apenas da forma que Deus permitiu. Isso nos lembra a afirmação de João (1Jo 5.18). Por isso devemos descansar em Deus.
Ente: O que existe, o que é; ser, coisa, objeto. Ser humano; pessoa, indivíduo.
Perspicaz: Que tem agudeza de espírito; sagaz, inteligente.
Ardil: Ação que se vale de astúcia, manha, sagacidade; ardileza.
Apoteótico: Que lembra apoteose; glorificante.
A respeito de “Jó e a Realidade de Satanás”, responda:
Como o Livro de Jó mostra Satanás?
O Livro de Jó não procura provar a origem de Satanás, mas o mostra como um ser real.
Além de ser um ente espiritual, de que o Diabo é dotado?
Além do fato de ser um ente espiritual, o Diabo é dotado também de personalidade.
Como o prólogo do Livro de Jó apresenta Satanás?
O prólogo do Livro de Jó apresenta Satanás como um ser capaz de agir contra o ser humano (Jó 1.12; 2.6).
Além de infligir dor e sofrimento, o que o Diabo faz?
O Diabo é capaz de infligir dor e sofrimento, mas não só isso. Ele também acusa e tenta.
Como Deus se mantém ao longo de quase todo o Livro de Jó?
Em quase todo o livro, Deus se mantém em silêncio e oculto, mesmo o leitor tendo consciência que Ele está lá e que o seu silêncio fala alto.
JÓ E A REALIDADE DE SATANÁS
Nesta lição falaremos acerca da realidade de Satanás. O livro é inspirado por Deus e foi escrito por meio de um gênero poético para falar de algo real. E um dado dessa realidade é a existência do Diabo. O Livro de Jó é muito claro a respeito da ação de Satanás: o Diabo foi responsável por interferir na vida de Jó com uma ação destruidora. Nesse sentido, vamos abordar nesta lição a existência e a realidade de Satanás no Livro de Jó.
Resumo da lição
Há pelos menos duas questões que a lição tem no objetivo geral: a primeira é destacar que Satanás não é autoexistente, mas criado, ou seja, ele teve início, meio e terá um fim; a segunda é destacar que não há uma ação do Diabo que não esteja sob a soberania de Deus. Para trabalhar essas duas questões, teremos de atingir os três objetivos específicos.
O primeiro objetivo específico é explicitar que o Livro de Jó descreve os atributos que revelam a natureza de Satanás. Para alcançar esse objetivo, o primeiro tópico mostra que Satanás é um ser espiritual que foi criado por Deus e, por isso, foi dotado de personalidade. A Bíblia deixa claro que Satanás é um ser finito.
O segundo objetivo específico é afirmar a visibilidade das obras do Diabo e a malignidade de sua natureza. Para isso, o segundo tópico aborda a dor e o sofrimento impostos pelo Diabo, bem como a sua missão em acusar e tentar o ser humano. Dor, sofrimento, acusação e tentação sintetizam a natureza maligna e perversa desse anjo caído.
E, finalmente, sublinhar o “ocaso” do Diabo. Nesse sentido, o terceiro tópico revela que os intentos de Satanás não foram alcançados. O final do livro mostra como o patriarca foi abençoado por Deus, tendo ratificado o testemunho proferido pelo Criador no início do livro. Deus aprovou Jó na “escola do sofrimento”.
Aplicação
É preciso falar aos alunos acerca da realidade do mundo espiritual. A partir de Efésios 6.10-20, reflita com eles a respeito de termos uma opinião equilibrada sobre o assunto. Não podemos ignorar nem supervalorizar a realidade do Diabo. Devemos reconhecer que Satanás é um ser inteligente, dotado de grande perspicácia, mas ao mesmo tempo, constatar que ele não está fora da soberania de Deus. Portanto, descansemos em Deus e o sirvamos de todo o nosso coração.