Título: A fragilidade humana e a soberania divina — O sofrimento e a restauração de Jó
Comentarista: José Gonçalves
Lição 9: Jó e a inescrutável Sabedoria de Deus
Data: 29 de Novembro de 2020
“Mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência” (Jó 28.28).
A verdadeira sabedoria está associada ao temor do Senhor e não ao mero acúmulo de conhecimento.
Segunda — Jó 28.11
Trazendo luz ao que estava escondido
Terça — Jó 28.12
Onde estará a sabedoria e o entendimento?
Quarta — Jó 28.13,14
Quem conhece o valor da sabedoria?
Quinta — Jó 28.15,17
O que pode comprar a sabedoria? A prata? O ouro fino?
Sexta — Jó 28.18,19
O preço da sabedoria é maior que o das pérolas
Sábado — Jó 28.28
O temor do Senhor é a verdadeira sabedoria
Jó 28.1-28.
1 — Na verdade, há veios de onde se extrai a prata, e, para o ouro, lugar em que o derretem.
2 — O ferro tira-se da terra, e da pedra se funde o metal.
3 — O homem pôs fim às trevas e até à extremidade ele esquadrinha, procurando as pedras na escuridão e na sombra da morte.
4 — Trasborda o ribeiro até ao que junto dele habita, de maneira que se não pode passar a pé; então, intervém o homem, e as águas se vão.
5 — A terra, de onde procede o pão, embaixo é revolvida como por fogo.
6 — As suas pedras são o lugar da safira e têm pós de ouro.
7 — Essa vereda, a ignora a ave de rapina, e não a viram os olhos da gralha.
8 — Nunca a pisaram filhos de animais altivos, nem o feroz leão passou por ela.
9 — Ele estende a sua mão contra o rochedo, e revolve os montes desde as suas raízes.
10 — Dos rochedos faz sair rios, e o seu olho descobre todas as coisas preciosas.
11 — Os rios tapa, e nem uma gota sai deles, e tira para a luz o que estava escondido.
12 — Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência?
13 — O homem não lhe conhece o valor; não se acha na terra dos viventes.
14 — O abismo diz: Não está em mim; e o mar diz: Ela não está comigo.
15 — Não se dará por ela ouro fino, nem se pesará prata em câmbio dela.
16 — Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira.
17 — Com ela se não pode comparar o ouro ou o cristal; nem se trocará por joia de ouro fino.
18 — Ela faz esquecer o coral e as pérolas; porque a aquisição da sabedoria é melhor que a dos rubis.
19 — Não se lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode comprar por ouro puro.
20 — De onde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência?
21 — Porque está encoberta aos olhos de todo vivente e oculta às aves do céu.
22 — A perdição e a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama.
23 — Deus entende o seu caminho, e ele sabe o seu lugar.
24 — Porque ele vê as extremidades da terra; e vê tudo o que há debaixo dos céus.
25 — Quando deu peso ao vento e tomou a medida das águas;
26 — quando prescreveu uma lei para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões,
27 — então, a viu e a manifestou; estabeleceu-a e também a esquadrinhou.
28 — Mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência.
124, 126 e 133 da Harpa Cristã.
Mostrar que a verdadeira sabedoria consiste no temor do Senhor.
Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.
Quem é o sábio segundo as Escrituras? É o que fala diversos idiomas? O que lê mais de 60 livros por ano? O que conhece muito de filosofia? O que conhece muito de teologia? O que tem profundo conhecimento da literatura mundial e nacional? Quem é o sábio segundo as Escrituras?
Aqui não há nenhuma reprovação às atividades contidas nas indagações acima. Pelo contrário, como seria bom que cada vez mais cristãos tivessem uma compreensão profunda, segundo a cosmovisão cristã, acerca de todos esses temos. Mas o que queremos mostrar é que a verdadeira sabedoria, da qual fala o Palavra de Deus fala, tem como fundamento o “temor do Senhor”.
INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos uma das mais belas exposições bíblicas sobre a sabedoria. O capítulo 28 foi propositadamente colocado pelo autor para delimitar o fim dos longos discursos dos amigos do homem de Uz. O seu propósito é contrastar a sabedoria meramente humana com a sabedoria revelada, que é de origem divina. Assim, temos o objetivo de declarar que somente Deus é a fonte da verdadeira sabedoria. Essa divina sabedoria se manifesta na vida dos homens de forma prática através do temor do Senhor.
PONTO CENTRAL
O temor do Senhor é o fundamento da verdadeira sabedoria.
I. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM NATURAL
1. O empenho na busca da sabedoria. Neste capítulo (28) Jó faz um contraste entre a busca do homem por minérios naturais e a sabedoria. Primeiramente, o patriarca descreve a habilidade do homem na exploração dos minérios naturais (vv.1-11). Então, ele contrasta o trabalho nas minas com a busca do homem pela sabedoria. Da mesma forma que desde os primórdios o homem usa diligentemente a tecnologia na busca de metais preciosos, assim também ele tem empreendido um grande esforço para encontrar a sabedoria. Para ser encontrado, primeiramente, o minério precisa ser garimpado; a sabedoria igualmente. O minério existe, mas está enterrado; a sabedoria existe, mas está oculta.
2. Como quem explora o minério, assim o homem faz com a sabedoria. No trabalho de mineração requer-se habilidade, diligência, persistência e muita técnica na execução; a busca da sabedoria também demanda tais características. As minas geralmente são locais de difícil acesso e de pouca iluminação, por isso, há a necessidade de se abrir caminho e colocar luz artificial (vv.3,4). Assim também ocorre no empreendimento do homem pela busca pela sabedoria, mas apesar de todo o esforço nessa procura, Jó crê que isso tem sido feito sem sucesso.
3. De onde vem a sabedoria? Jó demonstra que o homem tem sido exitoso no seu trabalho junto às minas, todavia, incapacitado na “escavação da sabedoria”. Tem procurado, mas não tem encontrado. O homem descrito por Jó é capaz de desviar o curso das águas, a fim de evitar a inundação das minas (v.12), mas não é capaz encontrar a sabedoria. A sabedoria dos sábios e da academia estava disponível para ser alcançada. Todavia, a sabedoria retratada por Jó não era fruto da tradição nem podia ser obtida pelo método acadêmico. Embora os metais preciosos pudessem ser encontrados na terra escavada, a verdadeira sabedoria não podia ser obtida pelo simples esforço humano. Isso justificava o conflito que havia entre a teoria teológica dos amigos de Jó e a vivência concreta do patriarca. Portanto, a verdadeira sabedoria não era propriedade dos sábios, mas uma dádiva de Deus. Tiago nos lembra de que “se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada” (1.5).
SÍNTESE DO TÓPICO (I)
Jó descreve o contraste entre a busca do homem por minérios naturais e a sabedoria.
Comece a aula de hoje indagando aos alunos sobre o conceito de sabedoria. Ao mesmo tempo que você ouve as respostas, perceba como é comum muitos confundirem sabedoria com capacidade intelectual. Após ouvi-los, explique que embora uma pessoa sábia possa apresentar uma grande capacidade intelectual, a sabedoria não está associada diretamente a tal capacidade. Procure deixar isso bem claro para os alunos. E, como veremos nesta lição, afirme que a sabedoria divina está intimamente ligada ao “temor do Senhor” na vida do crente.
II. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM COMERCIAL
1. O preço da sabedoria. Podemos ver um paralelo entre a sabedoria exposta por Jó neste capítulo (vv.12-19) com a descrita no livro de Provérbios. Esse livro, por exemplo, contém várias exortações para se adquirir a sabedoria. Todavia, há uma diferença entre o que Jó ensina e o que Salomão ensinou sobre a sabedoria em Provérbios. Em Salomão, a sabedoria tem um custo e pode ser encontrada, se buscada com diligência e entendimento. Ela tem seu preço e pode ser passada de pai para filho (Pv 4.5,7,23). Por outro lado, para Jó a sabedoria está em outro patamar. Ela tem valor, mas não preço. Como bem destacam estudiosos, a sabedoria em Jó é incomparável, não se pode comprar ou trocar com todos os outros tesouros. É patrimônio exclusivo de Deus; não é possessão dos mestres, por isso, não pode ser transmitida (cf. Tg 1.5).
2. O valor da sabedoria. Sobre o valor da sabedoria vale a pena recordar o que disse certo pregador londrino: “A sabedoria é o uso correto do conhecimento. Conhecer não é ser sábio. Muitos homens têm extensos conhecimentos e, justamente por isso, são os mais tolos. Não há tolo maior do que o tolo instruído. Mas saber como usar o conhecimento é ter sabedoria”. Assim, em Jó, vemos que o homem ainda não aprendeu o verdadeiro preço da sabedoria nem onde encontrá-la (Jó 28.13) e que, por isso, acredita ser fácil adquiri-la.
3. A sabedoria não é um bem comercial. O patriarca não nega que a sabedoria exista ou que ela pode ser encontrada, mas o que ele diz é que a sabedoria não é um bem comercial. Ela não pode ser encontrada em toda parte, nem mesmo nas mais poderosas forças da natureza primitiva — o abismo (hb. tehon ) e o mar (hb. yam ). A sabedoria é de valor inestimável e só quem pode concedê-la é Deus.
SÍNTESE DO TÓPICO (II)
A sabedoria não tem preço, mas tem um valor que remonta ao temor do Senhor.
“A Excelência da Sabedoria — vv.14-19. Tendo falado sobre a riqueza do mundo, que os homens valorizam tanto, e que se esforçam tanto por obter, Jó aqui fala de outra joia mais valiosa, que é a sabedoria e o entendimento, conhecer e ter prazer, em Deus e em nós mesmos. Os que descobriam todos os caminhos e meios para enriquecer se julgam muito sábios; mas Jó não considera que tenham sabedoria. Eles supõem que eles conseguiram o seu objetivo, e trouxeram à luz aquilo que buscavam (v.11), mas pergunta: ‘Mas onde se achará a sabedoria?’ pois ela não está aqui. Este seu caminho é a sua loucura. Devemos, portanto, buscá-la em outro lugar; e ela não será encontrada em outra parte, senão nos princípios e nas práticas da religião. Há mais conhecimento verdadeiro, satisfação e felicidade na divindade genuína, que nos mostra o caminho para as alegrias do céu, do que na filosofia natural ou na matemática, e que podem nos ajudar a encontrar o caminho para as entranhas da terra” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó o Cantares de Salomão. Rio de Janeiro CPAD, 2010, p.136).
III. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM ESPIRITUAL
1. Uma verdade revelada. No versículo 20, Jó faz a importante pergunta: “De onde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência?”. Anteriormente, Jó fez um contraste entre o trabalho de um minerador e o de quem procura a sabedoria. Nele, os homens, semelhantes a um mineiro, têm garimpado à procura da sabedoria, mas, mesmo assim, não têm achado. Toda diligência, técnica e determinação não têm sido suficientes para que ele a encontre. A sabedoria não está no centro da terra, nem com os sábios, de forma que possa ser passada pela simples via da tradição. Ela está oculta. Todos os esforços humanos revelam-se inúteis na sua aquisição.
A sabedoria está em Deus e somente Ele pode outorgá-la. Deus é a fonte da sabedoria e somente Ele pode revelá-la.
2. Uma verdade prática. A sabedoria vem de Deus. Ela está em Deus e é Ele quem a revela. A sabedoria divina não é uma verdade a ser apenas contemplada, mas a ser vivida. Ela é prática. Jó diz que a sabedoria está no “temor do Senhor” (Jó 28.28). O temor do Senhor aproxima o homem de Deus e o afasta do mal. A sabedoria, portanto, é relacional. Esse foi um testemunho que o próprio Deus já havia dado sobre Jó. Ao contrário de seus amigos, ele vivia a sabedoria divina. Não apenas a sabedoria contemplativa, tradicional, transmitida pela tradição. A sua sabedoria era uma verdade revelada, por isso, convertia-se em ação prática e relacionamento duradouro.
SÍNTESE DO TÓPICO (III)
A sabedoria é uma verdade revelada e tem implicações práticas.
“Não podemos alcançar a verdadeira sabedoria, senão pela revelação divina. ‘O Senhor dá a sabedoria’ (Pv 2.6). Entretanto, ela não é encontrada nos segredos da natureza ou da providência, mas nas regras para o nosso próprio proceder. Ao homem, Ele não disse, ‘Suba ao céu, para encontrar ali a felicidade’, nem ‘Desça às profundezas, para encontrá-la ali’. Não, a ‘palavra está mui perto de ti’ (Dt 30.14). Ele te mostrou, ó homem, não o que é grande, mas o que é bom; não o que o Senhor teu Deus deseja fazer contigo, mas o que Ele pede de ti (Mq 6.8). ‘A vós, ó homens, clamo’ (Pv 8.4). Senhor, o que é o homem, para que seja assim visitado! Veja, perceba isto, aquele que tem ouvidos, que ouça o que o Deus do céu diz aos filhos dos homens: O temor do Senhor, isto é a sabedoria. Aqui temos: 1. A descrição da verdadeira religião, a religião pura e imaculada; é temer o Senhor e afastar-se do mal, o que está de acordo com a descrição que Deus faz de Jó (1.1). O temor do Senhor é a fonte e o resumo de toda a religião” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.138).
CONCLUSÃO
Vimos que mesmo com empenho na busca da sabedoria, os resultados não são satisfatórios. A sabedoria não é alcançada. A sabedoria é um bem valioso e caro; ela não tem apenas preço, mas, sobretudo, valor. Ela não pode ser comprada ou comercializada, nem mesmo pode ser herdada. Ela é uma verdade revelada. Somente Deus é a fonte legítima da sabedoria. Ela se materializa no temor do Senhor. Quem teme ao Senhor é um sábio.
A respeito de “Jó e a Inescrutável Sabedoria de Deus”, responda:
Que contraste Jó faz no capítulo 28?
Neste capítulo (28) Jó faz um contraste entre a busca do homem por minérios naturais e a sabedoria.
O que o homem descrito por Jó é capaz e não é capaz de fazer?
O homem descrito por Jó é capaz de desviar o curso das águas, a fim de evitar a inundação das minas (v.12), mas não é capaz encontrar a sabedoria.
Que paralelo é possível ver no capítulo 28 de Jó?
Podemos ver um paralelo entre a sabedoria exposta por Jó neste capítulo (vv.12-19) com a descrita no livro de Provérbios.
O patriarca Jó nega a existência da sabedoria?
O patriarca não nega que a sabedoria exista ou que ela pode ser encontrada, mas o que ele diz é que a sabedoria não é um bem comercial.
O que aproxima o homem de Deus e o afasta do mal?
O temor do Senhor aproxima o homem de Deus e o afasta do mal.
JÓ E A INESCRUTÁVEL SABEDORIA DE DEUS
O capítulo 28 de Jó é um elemento estético que revela a magnitude do Livro de Jó. Esse capítulo mostra o valor e o mistério da sabedoria. Ao longo desta lição, veremos a beleza da verdadeira sabedoria. Ela começa fazendo um contraste entre a busca do ser humano por minérios e sua busca por sabedoria; amplia a visão dessa busca trazendo o exemplo da sabedoria vista como um bem comercial; e, finalmente, a sabedoria como um bem espiritual.
Resumo da lição
Esta lição tem o objetivo geral de mostrar que a verdadeira sabedoria consiste no temor do Senhor. E para desenvolvê-lo, mais três objetivos específicos devem ser alcançados de acordo com o desenvolvimento de cada tópico.
O primeiro é expor que todos os esforços humanos são inúteis para a aquisição da sabedoria divina. Por isso, o primeiro tópico da lição faz uma comparação entre a busca do homem por minérios naturais e a busca por sabedoria. Entretanto, apesar de todo o esforço por sabedoria, o homem não a encontra.
O segundo é destacar que a sabedoria tem seu preço, e que excede todos os bens materiais existentes. O segundo tópico mostra que o preço da sabedoria não material, pois o dinheiro ou riqueza alguma pode comprá-la. Tópico encerra afirmando que a sabedoria é de valor inestimável e só quem pode concedê-la é o Deus supremo.
O terceiro objetivo específico da lição é revelar que o verdadeiro valor da sabedoria é de natureza espiritual. O último tópico expressa claramente isso ao dizer que o “temor do Senhor” é a base da verdadeira sabedoria. Assim, o primeiro passo para se ter uma vida sábia começa por temer ao Senhor.
Aplicação
Tome a seguinte citação mencionada pelo comentarista: “A sabedoria é o uso correto do conhecimento. Conhecer não é ser sábio. Muitos homens têm extensos conhecimentos e, justamente por isso, são os mais tolos. Não há tolo maior do que o tolo instruído. Mas saber como usar o conhecimento é ter sabedoria”. Reflita com seus alunos sobre o que se deve fazer com o conhecimento que acumulamos acerca das Escrituras ao longo da caminhada cristã. Ter conhecimento bíblico não quer dizer muita coisa, apesar de importante. Mas aplicá-lo em cada ação que fazemos na vida é viver com sabedoria. Isso só é possível se tivermos o “temor do Senhor” no coração. Portanto, ouvir e praticar é essencial para ser sábio (Mt 7.24).