Título: Jesus Cristo — Filho do Homem, Filho de Deus
Comentarista: Thiago Brazil
Lição 2: A humanidade de Jesus Cristo e a sua deidade
Data: 12 de Janeiro de 2020
“Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9).
Pensar sobre a natureza de Jesus Cristo significa refletir sobre a própria essência da fé cristã, pois Cristianismo sem compreensão plena do Salvador é pura religiosidade vazia e despótica.
SEGUNDA — Lc 4.2
Ele foi levado ao extremo de sua humanidade
TERÇA — Lc 22.69
Jesus, “Filho do Homem”
QUARTA — 1Jo 5.20
Jesus, verdadeiro Deus
QUINTA — Mt 8.2
Jesus recebe adoração
SEXTA — Jo 20.28
Tomé crê em Jesus
SÁBADO — Hb 4.15
Jesus se compadece de nós
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Preparar, semanalmente, aulas para uma mesma turma com a qual nos encontramos há anos é sempre um desafio. Quando o tema a ser abordado — por si só — é complexo tudo então fica difícil em dobro. Esse é o nosso contexto nesta semana, pois estaremos refletindo sobre a natureza de Jesus Cristo. Este é um tema polêmico que perpassa boa parte da história do Cristianismo. Contudo, devemos considerar, que não é por causa da complexidade do tema que devemos fugir do mesmo ou julgá-lo intrincado demais para ser debatido com nossos jovens. Ao contrário, está é uma maravilhosa oportunidade para estudarmos mais e assim conseguirmos transmitir de maneira clara e lúcida as verdades da vontade de Deus. Por isso, alegre-se caro Educador Cristão, em muitos aspectos nossa turma de Escola Dominical corresponderá em sala de aula como o reflexo de nossa postura como docentes.
Uma boa e enriquecedora orientação para o melhor desenvolvimento desta aula é a confecção de um quadro no qual o aluno possa observar aquilo que mais interessa-lhe saber em relação à natureza de Jesus Cristo. Desta forma, são várias as possibilidades de criação do quadro, pode-se dar ênfase ao desenvolvimento histórico do debate sobre a natureza de Cristo a partir dos credos que foram desenvolvidos no Cristianismo — Apostólico, de Niceia, de Calcedônia, Atanasiano etc. — ou até mesmo das várias declarações de fé constituídas ao longo da história até chegar em nosso Credo Assembleiano. Outra possibilidade é a discussão da natureza de Jesus Cristo através da análise dos dois aspectos mais destacáveis, sua humanidade e deidade, fundamentando em referências bíblicas cada um destes ângulos da natureza de Jesus Cristo. Outra alternativa é fazer um comparativo entre as heresias sobre a natureza de Cristo e as teses verdadeiras do Cristianismo.
Colossenses 1.13-20.
13 — Ele nos tirou da potestade das trevas e nos transportou para o Reino do Filho do seu amor.
14 — Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados;
15 — O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;
16 — Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele.
17 — E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele.
18 — E ele é a cabeça do corpo, da igreja: é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência,
19 — Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse
20 — E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus.
INTRODUÇÃO
Existem alguns temas controversos e complexos que acompanham o Cristianismo desde o início; a indissociável conexão entre a humanidade e divindade em Jesus Cristo é uma destas questões. Na verdade, se bem notarmos, a aceitação desta condição humano-divina do Salvador já é um pressuposto de partida para compreensão de todo o Novo Testamento.
I. MUITO MAIS QUE UM SUPER-HOMEM, UM HUMANO DE VERDADE
1. Necessidade de superação da dicotomia homem-Deus em Jesus de Nazaré. Para iniciarmos de modo mais preciso nossa reflexão sobre um aspecto específico da natureza do Salvador, sua condição humana, é urgente que esclareçamos de início o que se deseja afirmar ao falar sobre a humanidade de Jesus de Nazaré. Não se pode pensar na natureza de Jesus como sendo “duas essências”, uma humana e outra divina, afinal de contas quando se fala de natureza-essência-substância discute-se sobre algo uno, indivisível fundamental. O que a Bíblia afirma, e também todos os credos mais antigos do Cristianismo registram, é que em Jesus manifesta-se a essência humano-divina / divino-humana. No Salvador a humanidade e divindade são impossíveis de serem isoladas, antes, encontram-se unas numa condição única e sem correlação na história do universo. Assim, não temos “duas naturezas” em Cristo, e sim, uma essência que se constitui plenamente divina-humana / humana-divina. É sobre isso que atestam os escritores sagrados em textos como Filipenses 2.5-8, Hebreus 2.14-18 e 1 João 1.1,2. Títulos como “Último Adão” (1Co 15.45) e “Filho do homem” (Mt 26.45) procuram registrar esse caráter simultaneamente divino-humano / humano-divino da natureza de Jesus.
2. Em Jesus o Cristo mostrou-se ao mundo. Em Jesus, a concepção de Deus para os judeus (Êx 3.13,14), ganha nome, rosto e endereço: Ele é Jesus de Nazaré, morador da pequena Cafarnaum (Cl 1.15). Com Jesus, a olimpiana, transcendente e imortal definição de divindade para os gregos, sofre e morre na cruz (At 17.18-34). É por isso que Paulo atesta-nos que a mensagem evangélica, aos ouvidos de judeus e gregos, é escândalo e loucura (1Co 1.22,23).
A história nunca havia testemunhado alguém como Jesus. Declarar-se “filho de Abraão” era a honra que todo judeu trazia em sua vida, Jesus, porém apresentou-se como “filho de Deus”, ou seja, sua filiação não era uma questão étnica, e sim, uma prova de sua essência humana-divina (Jo 10.25-39).
Os gregos estavam acostumados com mitos sobre deuses disfarçando-se de humanos — o clássico antropomorfismo divino — para realizarem suas ganâncias e ambições; Jesus, no entanto, não era um deus “mascarado” de humano; Ele era a revelação da plenitude de Deus acessível à humanidade (Cl 2.9). Em Jesus de Nazaré podemos conhecer Deus sem mitos, lendas ou enigmas; vemo-lo em toda glória possível a nós compreendermos (Jo 1.14,18).
3. A experiência humana de Jesus. A questão da existência de um Jesus histórico é um fato inconteste. Não há dúvida alguma de que no século primeiro existiu, na colônia romana da Judeia, o líder de um movimento espiritual que começou como uma pequena seita derivada do Judaísmo, e depois ganhou força determinando grandes mudanças em todo mundo antigo. A Escritura registra inúmeras circunstâncias em que se pode indicar a rica vivência humana de Jesus; os dois momentos cruciais que podem ser destacados, no entanto, são o nascimento (Lc 2.6,7) e a morte (Jo 19.33,34). Essas são experiências humanas e que em Jesus não foram simplesmente emuladas ou fingidas, mas vivenciadas em sua plenitude (Rm 14.15; 2Co 5.14,15; Gl 4.4).
Fome, sede, cansaço são experiências que poderiam ser simuladas, contudo, estes dois fatos (nascimento e morte) — os quais são historicamente atestáveis inclusive por fontes externas à própria literatura cristã — não poderiam ser imitados, teatralizados. A natureza de Jesus de Nazaré — que neste ponto de nosso debate já deve ser subentendida como humano-divina — é uma prova do seu cuidado e interesse por nós.
II. CRISTO JESUS, NOSSO DEUS
1. O Deus que está conosco. Como se pode demonstrar que Jesus é Deus? Bem, através das Escrituras existem várias maneiras, mas de modo especial por meio de dois aspectos: sua consciente aceitação de adoração e sua autoridade para perdoar pecados (Mc 2.10). A Bíblia narra vários episódios onde pessoas, e até mesmo seres espirituais (Mc 5.6; Ap 5.8), adoram a Jesus e Este nunca às repreende (Mt 8.2; 15.25; Jo 9.38).
Conforme o princípio divino registrado no Decálogo, só Deus é digno de adoração (Êx 20.1-6). Os seres criados por Deus, que estão a serviço dos homens, os anjos, não têm o direito de serem adorados; antes, sempre que alguém oferece-lhe adoração eles a rejeitam (Ap 22.9). Sobre o segundo aspecto, não estamos falando sobre a necessidade individual que cada um de nós precisa ter com relação à comunhão com os irmãos (Mt 6.12), e sim sobre a mudança da condição eterna de cada um de nós (Mc 2.5; 1Jo 1.9). Somente Deus tem o poder de retirar a culpa condenatória do pecado que há sobre nós, e então fazermos dignos do seu Reino eterno (2Ts 1.5).
2. Ele é como Deus é. Em Cristo nós temos a oportunidade de conhecer e entender exatamente como Deus é. Na maioria dos casos as pessoas tendem a perder tempo desejando saber trivialidades sobre Deus, de modo especial com relação a sua descrição física: qual seu tamanho, cor dos olhos, aspecto do rosto, etc. Existe inclusive um curioso caso desse tipo de comportamento narrado na Bíblia em João 14.8,9. Neste conhecidíssimo episódio Filipe pede a Jesus que mostre aos seus discípulos o Pai, e prontamente o Salvador declara ao seu discípulo que quem olha para Ele, contempla o Pai, vê Deus. A divindade está revelada em Cristo, por um simples motivo. Ele é Deus (Fp 2.11). Jesus mostra como Deus ama, porque ele é Deus amando-nos (Rm 8.39); revela a misericórdia de Deus, pois Ele é Deus misericordioso (Jd 21), em Jesus conhecemos a salvação, uma vez que Ele — o Cristo — é Deus Salvador (Tt 2.13,14). Em Cristo Jesus, Deus pode ser visto, abraçado e alegremente amado — todo distanciamento foi quebrado. Deus anda com os homens e revela sua glória, não através de raios e trovões, e sim de sorrisos e abraços.
3. O Cristo humilde. Talvez uma das percepções mais difundidas sobre Deus entre a maior parte das pessoas é que jamais seríamos capazes de compreendê-lo por ser Ele um ser elevado e sublime; que de tão superior a nós, todo e qualquer conhecimento ou contato com Altíssimo seria impossível. O Cristo não é assim; em Jesus o Deus magnífico faz questão de revelar-se de modo simples e acessível até para mais a ingênua criança (Mc 10.13-16). Na pessoa bendita de Jesus, a divindade soberana do universo perdoa os mais maléficos pecados, mas também senta no chão e escreve com o dedo na areia (Jo 8.1-11); Cristo é o Messias que através de seu sacrifício incomparável concedeu-nos salvação; contudo, Ele serve-se à mesa com seus amigos e come da mesma comida simples que eles (Mt 26.17-30). Cristo é Deus próximo de nós (Mt 1.23), tão sublime e grandioso que em nada é diminuído em sua encarnação. Em momento algum Jesus poderia deixar de ser Deus — isto seria um abandono de sua essência-natureza-fundamento, o que seria simplesmente impossível. A kenosis do Senhor (o seu despojamento) (Fp 2.5-8) diz respeito a qualidades que podiam ser suprimidas, jamais com relação à sua natureza. Aquilo que Ele era, é e continuará sendo eternamente, não pode ser alterado (Hb 13.8).
III. UM CRISTO QUE CONHECE AS NOSSAS DORES
1. Da teoria à prática. O conhecimento que o Senhor Jesus tem sobre aquilo que enfrentamos não diz respeito apenas à sua onisciência, mas também a sua encarnação, isto é, o tipo de compreensão que o Salvador tem sobre as nossas dores não é apenas algo “em tese”, superficial, presumível mas real, vivencial, histórico (Is 53.4). Ele sofreu como um de nós por nos amar. Sua generosa decisão não foi um improviso divino, e sim, parte do soberano projeto que envolvia ao mesmo tempo o sacrifício dEle e a nossa salvação (1Pe 1.18-21). Ele assumiu uma vida simples para possibilitar-nos abundância (2Co 8.9), e as muitas dores e conflitos a que Ele foi submetido garantem a paz e a alegria a que temos acesso. Se os nossos atos inconsequentes separam-nos do nosso Deus (Is 59.2), tudo o que Jesus enfrentou aproximou-nos mais dEle, o amor trouxe-nos de volta ao centro da vontade de Deus (Cl 1.21,22). Por isso podemos afirmar de maneira categórica: o que era necessário fazer para proporcionar-nos um mundo melhor, Jesus já realizou, pois, o comprometimento dEle conosco não é o de um expectador distante que torce por um conjunto de estranhos, antes, é o de um amigo que nos trouxe para perto dEle (Jo 15.15).
2. Ele intercede por nós. A Escritura revela-nos que o Senhor Jesus está eternamente comprometido em interceder por nossas vidas (Rm 8.34), isto é, o nosso Senhor não nos trata com arrogância e desprezo — mesmo sabendo de nossas falhas e fragilidades. Pelo contrário, Ele acolhe-nos e considera-nos seus irmãos (Hb 2.11) e filhos (2Co 6.18). Se Satanás empenha-se em acusar-nos dia e noite (Ap 12.10), podemos viver em paz, pois a intercessão de Cristo por nós é superior a qualquer mentira e subterfúgio das trevas contra nós. A majestade de Cristo revela-se exatamente nisto, uma vez que estando num nível muito acima do nosso, sendo Deus Todo-Poderoso, mesmo assim importa-se conosco e interessa-se em abençoar-nos. Por isso Paulo proclamar de modo triunfal que a vida daqueles que estão novamente nascidos em Cristo não está sujeita à acusação do inferno, pois já não obedecem mais a lógica deste mundo decadente, mas vivem apenas para a glória de Deus (Rm 8.1).
3. Ele está atento a todas as nossas dores. Jesus leva a sério nossas dores e sofrimentos (Mt 9.36), pois assim como as multidões daquela época, nós continuamos carentes da graça e misericórdia divinas. Diferente de muitas pessoas à nossa volta, o Salvador sabe de nossas limitações, respeita nossos sentimentos e está comprometido com a tarefa de nos ajudar a construir um mundo melhor (1Co 10.13). A insensibilidade da sociedade a nossa volta é algo assustador, o filho de Deus, no entanto, fez e continuará fazendo tudo para identificar-se conosco nos momentos adversos (Mq 7.8). E esta aproximação de Jesus não é algo envolvido em interesses outros, como se a misericórdia concedida a nós fosse uma moeda de troca com a intenção de exigir-nos alguma coisa. Sigamos o exemplo de Cristo, e estejamos mais sensíveis ao sofrimento alheio.
CONCLUSÃO
Tratar sobre a natureza de Jesus Cristo é sempre uma questão instigante e desafiadora, uma vez que esse é um tema que se debate na Igreja desde seu nascedouro e foi, em várias ocasiões, um assunto associado a heresias e controvérsias. Contudo, ao superarmos as dúvidas e concentrarmo-nos em tratar a revelação da natureza de Cristo Jesus nas Escrituras como uma ação da benevolência de Deus em nosso favor, tudo torna-se mais fantástico ainda, pois Jesus de Nazaré é nosso Deus.
ZACHARIAS, Ravi. Quem é Jesus? 1ª Edição. RJ: CPAD, 2015.
1. É correto afirmar que Jesus tem duas naturezas? Justifique sua resposta.
No Salvador a humanidade e divindade são impossíveis de serem isoladas, antes, encontram-se unas numa condição única e sem correlata na história do universo. Assim, não temos “duas naturezas” em Cristo, e sim, uma essência que se constitui plenamente divina-humana / humana-divina.
2. Que dois aspectos fundamentais da humanidade de Jesus podem ser destacados segundo a lição?
O nascimento e a morte de Jesus.
3. Que argumentos podem ser apresentados para demonstrar a afirmação de que Jesus é Deus?
PESSOAL. Sugestão: Em virtude da consciente aceitação de adoração que Jesus tinha e sua autoridade para perdoar pecados.
4. Que relação pode-se fazer entre a humanidade de Jesus Cristo e seu cuidado conosco?
Em sua encarnação Jesus experimentou a vida como qualquer um de nós, em suas dores e angústias, por isso, quando oramos Ele sabe o que sentimos, não apenas em virtude de sua onisciência, mas também de sua vivência.
5. Como podemos, seguindo o exemplo de Jesus Cristo, servir nossa geração?
PESSOAL. Sugestão: Por meio de uma vida de doação e entrega aos outros de tal modo que Cristo seja sempre o centro de nossas vidas e relacionamentos.
“As Escrituras Sagradas apresentam diversas características humanas em Jesus. O relato de sua infância enfoca o seu desenvolvimento físico, intelectual e espiritual: […] (Lc 2.40,52). O profeta Isaías anunciou de antemão sobre Emanuel: […] (Is 7.15). Ele tornou-se homem para suprir a necessidade de salvação da humanidade. O termo ‘Emanuel’, que o próprio escritor sagrado traduziu por ‘DEUS CONOSCO’ (Mt 1.23), mostra que Deus assumiu a forma humana e veio habitar entre os homens: […] (Jo 1.14). A Bíblia ensina tanto a divindade como a humanidade de Cristo: […] (1Jo 4.3). […] A encarnação do Senhor Jesus fez-se necessária para satisfazer a justiça de Deus: o pecado entrou no mundo por um homem, Adão, assim, tinha de ser vencido por um homem, Jesus. […] A deidade absoluta de Jesus. A Bíblia afirma com frequência que Jesus é Deus: ‘No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus’ (Jo 1.1); ‘Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade’' (Cl 2.9). As Escrituras Sagradas revelam os atributos divinos na pessoa de Jesus. Ele é eterno: […] (Is 9.6); onipotente: ‘Eu sou o Alfa e o Ômega. o princípio e o fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há devir, o Todo-Poderoso’ (Ap 1.8)” (SILVA, Ezequias Soares (Org). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2017).