LIÇÕES BÍBLICAS CPAD

JOVENS

 

 

1º Trimestre de 2020

 

Título: Jesus Cristo — Filho do Homem, Filho de Deus

Comentarista: Thiago Brazil

 

 

Lição 12: O Código de Ética de Jesus

Data: 22 de Março de 2020

 

 

TEXTO DO DIA

 

Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas(Mt 7.12).

 

SÍNTESE

 

Ser cristão é assumir a radicalidade do discurso de Jesus para si em primeiro lugar.

 

AGENDA DE LEITURA

 

SEGUNDA — Mt 5.48

O padrão ético de Jesus

 

 

TERÇA — Mt 6.4

Nossa generosidade deve ser para a glória de Deus

 

 

QUARTA — Mt 6.10

A oração é aproximação com o Pai

 

 

QUINTA — Mt 6.18

Nossas disciplinas espirituais não são para promoção pessoal

 

 

SEXTA — Mt 12.7

Todo juízo deve ser executado pelo crivo da misericórdia

 

 

SÁBADO — Rm 14.4

Não é nossa tarefa condenar outros

 

OBJETIVOS

 

Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:

  • RESSALTAR a necessidade da privacidade em nossas disciplinas espirituais;
  • IDENTIFICAR a natureza e características daquilo que Jesus denomina de “tesouros”;
  • APONTAR os princípios para um julgamento reto e justo segundo os critérios do Reino.

 

INTERAÇÃO

 

Esta é uma lição dedicada a alguns aspectos da vida cristã extraídos do discurso de Jesus no Sermão da Montanha. Falando em disciplinas espirituais, valores e moralidade cristã, como vai sua vida? Você tem dedicado tempo suficiente para o desenvolvimento saudável de uma vida de oração e devoção pessoal a Deus? Cuidado, às vezes, cegos por um ativismo desenfreado, estamos fazendo tantas coisas ao mesmo tempo que nos esquecemos do básico: vida de integridade moral e comunhão com Deus.

Sua vida, certamente, é muito perseguida pelo inimigo da obra de Deus, por isso, esteja atento, desenvolva uma rotina para garantir que um “tempo de qualidade” seja desenvolvido por você e também seus amados.

Ore, até manter comunhão plena com Deus; jejue até sentir duas limitações e fraqueza, para que assim você possa ser ouvido pelo Criador.

 

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

 

Já que neste domingo falaremos sobre julgamentos e juízos, faça uma atividade de Júri Simulado em sua sala. Selecione um caso bem polêmico das Escrituras (O voto de Jefté, entre culpados e sacrificados; Sansão e sua salvação; A mentira de Raabe etc.), da história do Protestantismo (Lutero e a revolta dos camponeses; Calvino e a violenta repressão aos opositores em Genebra etc.) ou mesmo um caso hipotético. A atividade pode ser realizada com a divisão da sala inteira em dois grandes blocos — acusação/denúncia e defesa — ou apenas com a subdivisão de dois pequenos blocos para cumprir tais papéis e com restante da sala como júri. Após os “julgamentos”, lembre de apresentar a seus educandos os três princípios para um bom julgamento que podem ser extraídos do discurso de Jesus em Mateus 7. Para organizar o debate, controle o tempo, organize as regras de resposta/réplica/tréplica, e oriente que — acima de tudo — o respeito sempre esteja presente no debate.

 

TEXTO BÍBLICO

 

Mateus 6.1-8,14-18.

 

1 — Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.

2 — Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.

3 — Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita,

4 — Para que a tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.

5 — E, quando orares, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.

6 — Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará.

7 — E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que, por muito falarem, serão ouvidos.

8 — Não vos assemelheis, pois, a eles, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário antes de vós lho pedirdes.

14 — Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós.

15 — Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas.

16 — E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas, porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.

17 — Porém tu, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto,

18 — Para não pareceres aos homens que jejuas, mas sim a teu Pai, que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará.

 

COMENTÁRIO DA LIÇÃO

 

INTRODUÇÃO

 

É um consenso entre os especialistas que temos em Mateus 5—7, o cerne da mensagem de Jesus à humanidade. O Sermão da Montanha pode ser definido como a síntese da teologia prática cristã. De modo absolutamente claro, Jesus aborda as mais diversas questões que dizem respeito ao nosso viver cotidiano. Felicidade, testemunho cristão, disciplinas espirituais, relação graça e lei, são algumas das temáticas discutidas pelo Mestre nessas espetaculares linhas.

 

I. ESMOLAS, ORAÇÃO E JEJUM

 

1. Nossa vida devocional é para Deus. Em seu célebre Sermão da Montanha (Mt 5—7), Jesus dedica um considerável tempo para discutir as questões das práticas devocionais cotidianas — oração, jejum e as obras de generosidade.

A tradição religiosa de Jesus convivia com estas disciplinas espirituais desde tempos milenares, todavia, com o passar do tempo elas formam perdendo seu caráter celebrativo, voluntário e espontâneo para tornarem-se meras expressões ritualísticas. Diante deste quadro, o Mestre apresenta no início do Evangelho de Mateus, uma reflexão aprofundada sobre a necessidade de resignificar as nossas atitudes cotidianas, mui especialmente aquelas que se referem à nossa espiritualidade. Dentre outras questões que se podem destacar, o princípio da discrição ou da privacidade (Mt 6.4,6,18) é um conceito-chave para compreensão do bem-estar espiritual de um discípulo de Jesus.

O primeiro aspecto a ser analisado com relação a nossas práticas devocionais cotidianas, é a finalidade delas. Você ora com que objetivo? Ao Jejuar você espera o que? A generosidade que você pratica tem qual intenção? A resposta das três perguntas precisa ser exclusivamente única: A glória de Deus (1Co 10.31; 1Pe 4.11). Toda prática devocional que não atinja esse objetivo é em vão. Por isso em vários momentos das Escrituras, especialmente no Antigo Testamento, o Senhor repreendeu o povo em virtude da mecanização e da “despessoalização” das práticas devocionais (Is 1.13-17; Ml 2.17). Orações, sacrifícios e generosidade não devem ser praticadas como se fossem “moeda de troca”, isto é, instrumentos ou argumentos para negociar com Deus bênçãos, perdões e milagres. Nossa oração não tem por objetivo modificar nada no coração de Deus; pelo contrário, oramos para que haja em nós sensibilidade e maturidade suficientes para ouvirmos a voz do Criador (Sl 143.8).

Nosso jejum não é combustível para nenhum tipo de batalha espiritual, e sim, uma prática devocional com a finalidade de lembrarmo-nos como somos frágeis e efêmeros. Nossa generosidade não pode ser instrumento de vanglória, mas um ato de justiça para com os vulneráveis e para louvor do Altíssimo (Pv 19.17). Se fizermos tudo para a glória de Deus, iremos bem (Cl 3.17).

2. Cuidado para não sermos enganados pela maldade de nosso próprio coração. Um dos perigos da publicidade da vida devocional é a produção de arrogância e soberba em nós mesmos; ou seja, ao invés de realizarmos algo para que o nome de Jesus seja bendito, somos tentados a agir para massagear nosso próprio coração mal (Jr 17.9). Quem vive alimentando suas arrogâncias nunca estará próximo do Criador (Sl 75.5-7). Por isso, a exortação de Jesus orienta-nos a evitar que nossos corações sejam alimentados por nossa própria arrogância (Mt 6.3). Corremos o risco de cair no mesmo erro dos fariseus (Jo 12.43), valorizar mais a glória humana do que a vontade de Deus.

3. Os riscos da “espetacularização” da fé. Um terceiro e último risco de estabelecer vivências espirituais como práticas públicas é aquilo que se pode definir como “espetacularização” da fé. “Igrejas-shoppings”, “pregadores-coach”, “pseudomilagres” por meio de técnicas de manipulação de massas etc., tudo isso atrai pessoas, produz uma lógica de resultados financeiros de sucesso, porém, não glorifica o nome de Jesus. Em tempos de massivo uso de redes sociais, a tênue linha entre evangelização e promoção pessoal é algo muito problemático. Jesus poderia ter ido à Grécia — centro cultural da época —, porém preferiu ficar na pacata Judeia e de lá promover uma revolução no mundo, através da humildade. Sigamos os passos do Mestre e façamos da fé uma experiência de proximidade com o Criador e afastamento das ilusões deste mundo.

 

 

II. O TESOURO NO CÉU

 

1. Que tesouro é esse? Ao refletir sobre nossas relações de prioridade e necessidade com relação àquilo que desejamos, Jesus ensina-nos sobre como devemos “entesourar”, isto é, a maneira pela qual devemos administrar nossos bens e desejos. Esses ensinamentos de Jesus nunca foram tão atuais como hoje, nesta sociedade consumista e imediatista em que vivemos.

Ao lermos as palavras do Mestre, certamente poderemos aprender a lidar com nossos sonhos com mais sabedoria, afinal de contas, até em sonhos e palavras devemos ter prudência (Ec 5.7). Devemos, em primeiro lugar, levar em consideração que ao falar destes “tesouros” Jesus não está referindo-se apenas a bens materiais, e sim, de tudo aquilo que se torna prioridade, destaque, o centro das atenções em nossas vidas. Por sua vez a oposição inerente entre terra e céu demonstra a variabilidade de objetos, pessoas ou circunstâncias que podem referir-se a estes tesouros. Se levarmos em consideração o amplo contexto em que tais palavras são proferidas — isto é, o sermão do monte —, podemos entender tais recompensas como a consequências imediatas de nossas ações.

Aqueles que buscam a glória terrena receberão seus galardões imediatamente, conforme a efemeridade da condição humana (Mt 6.2,5,16), todavia, Jesus promete, e os escritores sagrados também registram, o estabelecimento de um prêmio futuro maravilhoso e inefável, para aqueles que se mantiverem fiéis (1Co 9.17; Fp 3.14).

2. Onde juntar tesouros? Existem, conforme as palavras de Jesus, duas possibilidades de valorizar aquilo que temos: Tratando tudo como resultado exclusivo do esforço, dedicação e mérito humano, ou como consequência da infinita, imerecida e bondosa graça de Deus. O Mestre traduz as diferenças entre estas alternativas através da oposição “entesourar na terra” ou “entesourar no céu”. Em outros momentos dos Evangelhos Jesus reprova a mentalidade terrena que atribui apenas à capacidade humana as conquistas que alcançamos (Lc 12.16-21).

A lógica do Evangelho é outra, conforme afirma Tiago em sua Epístola: tudo o que há de bom e temos acesso, tem apenas uma origem: Deus (Tg 1.17). Este tipo de análise não retira a responsabilidade e esforço humano em nada, até porque em vários momentos a Escritura condena o preguiçoso (Pv 13.4). Entretanto, reorienta a avaliação humana para o reconhecimento que o Senhor Deus é a fonte de todo o bem existente no universo (Sl 13.6; 34.10). Assim sendo, cabe-nos a responsabilidade de valorizar a benignidade de Deus, escolhendo sempre a boa semente que Ele nos dá para plantar. Por fim, mais do que uma lógica mercantil de acúmulo de bens, as palavras de Jesus refletem a necessidade de reconhecer a repercussão eterna de tudo aquilo que fazemos, quer para o bem quer para o mal (Ec 12.14).

 

 

CONCLUSÃO

 

As riquezas dos princípios ensinados por Jesus no Sermão da Montanha devem servir-nos de inspiração para tornarmo-nos pessoas melhores a cada dia.

 

ESTANTE DO PROFESSOR

 

 

CARVALHO, César Moisés. O Sermão do Monte: A justiça Sob a Ótica de Jesus. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2017.

 

HORA DA REVISÃO

 

1. Quais os dois princípios que Jesus relaciona às nossas disciplinas espirituais em Mateus 6?

Prioridade do Reino de Deus e Justiça.

 

2. O que são nossos tesouros segundo Jesus no Sermão da Montanha?

Tudo aquilo que atribuímos relevância e prioridade em nossas vidas, sejam coisa, pessoas ou acontecimentos.

 

3. As palavras de Jesus em Mateus 7 desautorizam-nos a qualquer tipo de julgamento? Justifique sua resposta.

Não, ao contrário, conforme Jesus argumenta nosso dever é garantir a aplicação do justo julgamento.

 

4. Qual a diferença entre entesourar na terra e entesourar no céu?

Quem entesoura na terra atribui ao esforço humano a prioridade em todas as coisas que faz; já quem entesoura no céu reconhece que vem de Deus toda boa dádiva e todo dom perfeito.

 

5. Quais os três princípios que podemos extrair das palavras de Jesus sobre o julgamento dos outros em Mateus 7?

Empatia no juízo, moralidade no julgamento e justiça para a promoção do bem.

 

SUBSÍDIO I

 

 

“O fato de nos dirigirmos a Deus como ‘Pai nosso’ (Mt 6.9) deveria nos fazer lembrar da benevolência daquEle de quem nos aproximamos. Quanta bênção nos é conferida quando, ao orarmos, nossos corações se conscientizam de que é um amoroso Pai celeste que está dirigindo sua atenção para nós, tal como estamos dirigindo a nossa para Ele. Deus é o nosso Pai, ‘o Pai das misericórdias’ (2Co 1.3) e nós somos seus filhos. ‘Como um pai se compadece de seus filhos, assim o senhor se compadece daqueles que o temem’ (Sl 103.13). Identificar Deus como o nosso Pai que está ‘nos céus’ (Mt 6.9), implica no reconhecimento de sua superioridade ao melhor dos pais terrenos. A oração, assim posta em prática, deve ser dirigida àquEle que está acima de todas as coisas, sendo Ele próprio superior a qualquer pessoa ou ser que se nomeie.

‘Santificado seja o teu nome’ (Mt 6.9) não é apenas uma declaração ou mero desejo expresso em oração. Antes, trata-se de um pedido genuíno, o primeiro de uma lista de petições: ‘Que o teu nome [ou a tua Pessoa] seja mantido santo [ou com reverência] entre toda a humanidade’. Essa petição será finalmente respondida quando o próprio Deus santificar o seu nome sobre todos os habitantes da Terra, no seu Reino vindouro (Ez 36.22,23)” (BRANDT, Robert L. e BICKET, Zenas. Teologia Bíblica da Oração. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2007. p.197).

 

SUBSÍDIO II

 

 

“Intérpretes protestantes continuadamente deixaram de captar importantes distinções entre Jesus e Paulo, e interpretaram ensinamentos, como o Sermão da Montanha de Cristo, como se Paulo o tivesse escrito, e como se ele refletisse exigências legais impossíveis, designadas a nos deixar de joelhos para confiar em Jesus, e abandonar tentativas de obedecer à Lei. De modo geral, no entanto, Jesus não impõe um comportamento ético, em conformidade com os dois primeiros usos que Paulo faz da Lei.

Por outro lado, há uma considerável sobreposição entre o apelo de Jesus às Escrituras legais e o terceiro uso que Paulo faz da Lei ( outertius usus legis , como os reformistas o chamaram). Mateus 5.17-20 condensa o entendimento básico de Jesus sobre a função da lei, em consideração à sua vinda: ‘Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir’. O Senhor Jesus considera todo o Antigo Testamento como uma autoridade; mas, ao mesmo tempo, Ele não se limita a aceitar este status quo. ‘Cumprir’ a Lei, como exemplificado pela subsequente ‘antítese’ do Sermão da Montanha (5.21-48) significa que Cristo se tornou o intérprete soberano dela, algumas vezes internalizando-a ou radicalizando-a, às vezes transcendendo ou excedendo-a, mas, de maneira alguma, deixando-a intocada” (BLOMBERG, C. L. Questões Cruciais do Novo Testamento. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2010. p.90).