Título: Os bons e maus exemplos — Aprendendo com homens e mulheres da Bíblia
Comentarista: Alexandre Coelho
Lição 6: Natã: Falando o que Deus mandou você falar
Data: 08 de Novembro de 2020
“Conforme todas estas palavras e conforme toda esta visão, assim falou Natã a Davi” (1Cr 17.15).
Devemos resistir à ideia de falar em nome de Deus as nossas próprias palavras.
SEGUNDA — Pv 3.12
Deus repreende ao que ama
TERÇA — Dt 18.20
Não fale o que Deus não mandou
QUARTA — 2Pe 1.21
A profecia não é produzida pela vontade humana
QUINTA — Hb 1.1,2
Deus fala de muitas maneiras
SEXTA — Jr 1.9
Deus tocou os lábios do profeta
SÁBADO — 1Co 14.3
O propósito da profecia: edificar, exortar e consolar
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Natã foi um profeta que atuou junto à monarquia. Sua função no reino não era fácil, pois tinha como função apontar os erros dos reis, sacerdotes e do povo quando esses se desviavam da Leis do Senhor. Nem todos os monarcas aceitavam serem confrontados e exortados pelos profetas. Por isso, eles precisavam de muita coragem e ousadia.
Na lição desse domingo veremos que Natã teve que aprender uma importante lição durante o exercício do seu ministério: Resistir à ideia de falar em nome de Deus as suas próprias palavras. Quando Davi pecou, tomando uma mulher que não era sua, Natã entra em cena para confrontar o rei. Ele foi muito cauteloso e sábio, ao contar uma história para Davi envolvendo uma ovelha. Depois de ouvir o profeta, logo o rei declarou uma sentença. Então Natã mostrou a Davi que ele havia agido da mesma maneira e também merecia a mesma sentença, pois havia pecado. Natã agiu com muita sabedoria, mas não deixou de apontar o pecado e falar o que Deus havia mandado. Com Natã aprendemos que os dons são bênçãos do Senhor e precisamos utilizá-los para que o Reino de Deus seja estabelecido e o nome dEle seja exaltado.
Para aula dessa semana, sugerimos que você faça um debate com os alunos. Escreva as questões abaixo no quadro. Depois peça que eles formem dois grupos (rapazes e moças) e discutam a questão. Abaixo duas questões que serão debatidas pelos alunos antes do início da lição:
Deus repreende ao que ama? Por quê?
Natã teve medo de falar a Davi a respeito do seu pecado? Por quê?
1 Crônicas 17.1-12.
1 — Sucedeu, pois, que, morando Davi já em sua casa, disse Davi ao profeta Natã: Eis que moro em casa de cedros, mas a arca do concerto do SENHOR está debaixo de cortinas.
2 — Então, Natã disse a Davi: Tudo quanto tens no teu coração faze, porque Deus é contigo.
3 — Mas sucedeu, na mesma noite, que a palavra do SENHOR veio a Natã, dizendo:
4 — Vai e dize a Davi, meu servo: Assim diz o SENHOR: Tu me não edificarás uma casa para morar.
5 — Porque em casa nenhuma morei, desde o dia em que fiz subir a Israel, até ao dia de hoje; mas fui de tenda em tenda e de tabernáculo em tabernáculo.
6 — Por todas as partes por onde andei com todo o Israel, porventura, falei alguma palavra a algum dos juízes de Israel, a quem ordenei que apascentasse o meu povo, dizendo: Por que me não edificais uma casa de cedros?
7 — Agora, pois, assim dirás a meu servo, a Davi: Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Eu te tirei do curral, de detrás das ovelhas, para que fosses chefe do meu povo de Israel.
8 — E estive contigo por toda parte por onde foste, e de diante de ti exterminei todos os teus inimigos, e te fiz um nome como o nome dos grandes que estão na terra.
9 — E ordenarei um lugar para o meu povo de Israel e o plantarei, para que habite no seu lugar e nunca mais seja removido de uma para outra parte; e nunca mais os debilitarão os filhos da perversidade, como ao princípio.
10 — desde os dias em que ordenei juízes sobre o meu povo de Israel; porém abati todos os teus inimigos; também te fiz saber que o SENHOR te edificaria uma casa.
11 — Há de ser que, quando forem cumpridos os teus dias, para ires a teus pais, suscitarei a tua semente depois de ti, a qual será dos teus filhos, e confirmarei o seu reino.
12 — Este me edificará casa; e eu confirmarei o seu trono para sempre.
INTRODUÇÃO
Um dos maiores desafios para quem serve ao Senhor é estar em sintonia com Ele. Falar em nome de Deus é um desafio, pois precisamos discernir quando Ele está ou não falando, e não confundir a nossa vontade com a vontade dEle, ainda que a nossa vontade esteja aparentemente em sintonia com o Senhor.
Na lição deste domingo, veremos o exemplo de Natã, o profeta que precisou voltar atrás numa coisa que disse.
I. QUEM FOI NATÃ
1. Natã, um profeta e escritor. Natã é descrito em 2 Samuel como um homem de Deus, profeta (1Cr 29.29), e tem sido apontado como escritor das crônicas a respeito de Davi. Ele é apresentado como uma das pessoas que auxiliou na instalação do culto na Casa do Senhor, por orientação do próprio Deus, ajudando na organização dos levitas que tocariam alaúdes e harpas (2Cr 29.25).
Seu ministério junto a Davi, e posteriormente, a Salomão, teve importância devido às suas ações. Sendo profeta, teve diante de si desafios com os quais só por orientação divina poderia agir. Sua ligação com a monarquia não deve nos surpreender, pois diferente do rei Saul, Davi buscava ao Senhor, e este respondia ao seu servo por diversos meios, inclusive usando pessoas como Natã.
Davi também é tido por profeta. Ele compôs versos no Salmo 22, que são entendidos como profecias acerca do Senhor Jesus Cristo, como o desamparo de Deus na hora da crucificação e a repartição de sua capa.
2. Um profeta ligado à monarquia. Deus tem servos seus em todas as esferas da sociedade, e aqueles que estão em posição de poder e temem ao Senhor podem e devem depender dEle em seus atos. Natã, como veremos, era ligado à monarquia, à pessoa de Davi, e estando nesse círculo social, foi usado por Deus para falar com o rei. Não nos é dito como ele e Davi se conheceram, mas nos é informado que Davi respeitava bastante as palavras de Natã, a ponto de ser confrontado pelo profeta sobre um pecado e pedir perdão a Deus. Daniel também foi usado para falar com reis, mas não em Israel, e sim no exílio babilônico. Nisso não há qualquer problema, pois Deus fala também para com os poderosos. Ele “[…] é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (2Pe 3.9).
3. Profetas, servos de Deus. Os profetas eram homens e mulheres usados por Deus para trazerem a sua Palavra de forma impactante. Suas palavras vinham direto do próprio Deus. Não era o fruto de um estudo dos textos bíblicos, de sua organização em forma de sermão, da retórica para a comunicação e nem da prática da homilética. A revelação direta de Deus era a sua fonte, e suas profecias poderiam se relacionar a eventos futuros, ou a situações correntes de seus dias, como a injustiça social, pecados individuais ou nacionais. Nas Escrituras temos nomes de diversos desses profetas, e suas mensagens permanecem como referência em nossos dias.
Pense!
Você crê que Deus escolhe seus servos para atuarem em locais de influência política?
Ponto Importante
O Eterno deseja falar com todas as pessoas, e para isso, pode colocar servos seus em posições sociais onde serão usados para fazer a diferença e trazer a glória para Deus.
II. CONFRONTANDO O REI DAVI
1. Um pecado consumado. Davi pecou contra Deus ao se envolver com uma mulher que não era sua. Como resultado do seu adultério a mulher engravidou e Davi, na tentativa de encobrir seu pecado, mandou buscar o marido dela, que estava nos campos de batalha. Urias retornou da guerra, mas não foi para sua casa. Então o rei preparou um plano para que Urias fosse morto durante as batalhas. O que Davi fez foi criminoso e maligno. Além de adúltero, se tornara um assassino. Ele já havia matado homens em batalhas, mas o que ele havia feito contra Urias não se enquadrou em uma morte por legítima defesa na guerra. Ele planejou a morte de um homem inocente, permitindo que este fosse morto covardemente pelo inimigo.
Mesmo sendo um homem segundo o coração de Deus, Davi se deixou levar pelos seus desejos, e por causa deles o rei pagou um alto preço, dentro de sua própria casa.
2. Falando por parábola. Para chegar ao coração do homem segundo o coração de Deus. Natã busca um método bastante didático: contar uma história. Histórias costumam prender a atenção de quem as ouve, e esse mecanismo captou a atenção do rei. Natã não se utilizou de sua prerrogativa de profeta para empurrar as portas do palácio e gritar contra o rei, acusando-o de ter matado um de seus mais fiéis guerreiros e de apropriar-se da viúva, grávida. Ele contou a história de um homem rico que tinha várias ovelhas, e que era vizinho de um homem simples, dono de uma única ovelha. Num dia em que recebeu uma visita, o homem rico sacrificou a ovelha única do homem pobre e usou sua carne para servir à visita. Essa história deixou Davi muito irritado. Ele havia sido pastor de ovelhas quando adolescente, e impressionado pela história, disse que aquele homem rico deveria ser morto pelo que fizera, sem saber que suas palavras eram o veredito do pecado que ele mesmo havia cometido.
3. Um rei que se arrependeu. Natã, cheio de Deus, disse ao rei que ele era o homem que deveria ser morto. A seguir, ele mostra o pecado de Davi, e diz que as consequências seriam vistas em sua própria casa. Convencido de seu erro, Davi demonstra arrependimento, pois sabia que o seu pecado era digno de morte. Sua maior preocupação era perder a presença de Deus em sua vida: “Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo” (Sl 51.11). Diferente de Saul, Davi não se envergonhou de pedir perdão ao Altíssimo pelo pecado que cometeu. Ele sabia que a comunhão que tinha com Deus era mais importante do que ocultar um pecado, e se sujeitou à disciplina imposta. O preço que pagou foi alto, mas mesmo nesse processo, contou com a misericórdia de Deus.
Pense!
Basta ter um dom ou talento para ser usado por Deus?
Ponto Importante
Dons e talentos são bênçãos do Senhor, mas usá-los com sabedoria faz com que o projeto de Deus seja estabelecido no tocante à comunicação conosco.
III. FALANDO O QUE DEUS MANDOU
1. Um desejo lícito. “Sucedeu, pois, que, morando Davi já em sua casa, disse Davi ao profeta Natã: Eis que moro em casa de cedros, mas a arca do concerto do SENHOR está debaixo de cortinas” (1Cr 17.1). A Palavra de Deus nos mostra que Davi, antes de morrer, teve o desejo de construir um santuário para o Eterno. Sendo ele o segundo rei da monarquia, desejava deixar um legado não apenas para ser lembrado, mas igualmente para refletir a sua fé e a sua devoção a Deus. Esse legado seria um santuário ao Deus que escolheu Davi para ser rei. Davi tinha um coração agradecido, e não queria entrar para a eternidade sem antes construir um lugar onde o povo de Israel congregasse para cultuar ao Todo-Poderoso.
2. Falando por si mesmo. “Então, Natã disse a Davi: Tudo quanto tens no teu coração faze, porque Deus é contigo.” (1Cr 17.2). Ao ouvir o desejo de Davi, de construir o templo para o Senhor, Natã, sem consultar a Deus, fala como se o Todo-Poderoso estivesse com Davi naquela empreitada. O objetivo de construir uma casa onde o culto a Deus pudesse ser uma referência era louvável, mas havia um porém: Davi tinha as mãos manchadas com sangue das guerras que fez (1Cr 22.8). O santuário para o Altíssimo, em Israel, seria construído sim, mas pelas mãos de outra pessoa, Salomão.
Natã não confirmou o desejo do rei por má-fé. Como profeta de Deus, pareceu aos seus olhos que aquele era um desejo espiritual adequado. Davi havia recebido vitórias da parte de Deus, unificou o reino e queria dar um destaque ao culto ao Senhor. Isso não era errado, mas é preciso entender que praticar ou desejar coisas, mesmo lícitas, pode não ser a vontade de Deus para as nossas vidas. O projeto de Davi seria executado por seu filho, Salomão. Mas para isso, era necessário que Davi soubesse da vontade de Deus, e não a opinião do profeta. Aqui reside a lição: Nunca se utilize de um dom sem que Deus chancele o que você vai dizer, nem se use em nome de Deus.
3. Falando em nome de Deus. O Senhor chama a atenção do profeta: “Mas sucedeu, na mesma noite, que a palavra do SENHOR veio a Natã, dizendo: Vai e dize a Davi, meu servo: Assim diz o SENHOR: Tu me não edificarás uma casa para morar” (1Cr 17.3.4). É curioso que o cuidado de Deus para com Natã e Davi se mostra nesse texto. Para com Natã, Deus o manda ir ao rei e dizer que o intento do seu coração não vai se concretizar. Para Davi, a orientação divina era que seu filho, Salomão, construísse a Casa de Deus. Resguardar a nossa opinião e distingui-la da orientação de Deus deve ser uma atitude corrente em nossos dias.
No Novo Testamento, o apóstolo Paulo faz a distinção entre o que era sua opinião e o que era a orientação de Deus, com as palavras “digo eu, não o Senhor” (1Co 7.12). Deus não disse nada ao apóstolo a respeito daquele assunto, por isso Paulo usa a distinção entre a sua opinião e a orientação divina. O apóstolo falou tendo como objetivo a preservação do casamento e da família no caso de um casamento em que um cônjuge era crente, e o outro não.
CONCLUSÃO
A vida de Natã nos mostra que não estamos imunes a apresentar nossas próprias opiniões como se as mesmas fossem Palavras de Deus. O fato de Deus falar conosco não cria necessariamente em nós o discernimento para saber o que é nosso pensamento e o que é a Palavra de Deus. Por isso, é preciso depender de Deus em cada situação, para que não nos usemos em lugar de Deus. Ter um dom da parte do Eterno não nos isenta de usá-lo com sabedoria. É necessário que estejamos alinhados com a sua Palavra, revelada nas Escrituras, e saibamos ouvir o Eterno falando conosco.
MERRILL, Eugene H. História no Antigo Testamento: O Reino de Sacerdotes que Deus Colocou entre as Nações. 6ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
1. Como Natã é descrito na Palavra de Deus?
Como um homem de Deus, um profeta e como escritor das crônicas a respeito de Davi.
2. Natã exerceu seu ministério junto a qual rei?
Junto ao rei Davi.
3. Segundo as Escrituras Sagradas, Davi também pode ser considerado um profeta?
Davi também é tido por profeta. Ele compôs o Salmo 22, cujos versos são entendidos como profecias acerca do Senhor Jesus.
4. Qual o método utilizado por Natã para falar a respeito do pecado que Davi havia cometido?
Ele usou uma parábola.
5. O que pareceu a Natã o desejo de Davi construir o templo? Mas essa era a vontade de Deus?
Pareceu um desejo lícito. Mas essa não era a vontade de Deus.
“Natã
Este profeta viveu à altura do significado do seu nome. ‘Ele [Deus deu]’. Ele foi um presente necessário e útil de Deus a Davi. Serviu como porta-voz de Davi e provou ser um amigo e conselheiro destemido, alguém que sempre estava disposto a dizer a verdade, mesmo quando sabia que o resultado seria uma grande dor.
Ao confrontar os múltiplos pecados de Davi, de cobiça, adultério e assassinato, em seu caso amoroso com Bate-Seba. Natã pôde ajudar Davi a ver sua própria injustiça, mostrando que ele, Davi não teria tolerado tais atos de ninguém. O arrependimento de Davi permitiu que Natã o consolasse com a realidade do perdão de Deus e, ao mesmo tempo, o lembrou das dolorosas consequências que seu pecado traria.
A abordagem de Natã nos ajuda avaliar nossas ações. Com que frequência fazemos as mesmas escolhas pelas quais condenaríamos outras pessoas? É útil que nos perguntemos como Deus e os outros veem nossas ações” (Bíblia de Estudo Cronológica Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p.1293).