Título: A Justiça Divina — A preparação do povo de Deus para os últimos dias no livro de Ezequiel
Comentarista: Esequias Soares
Lição 7: A responsabilidade é individual
Data: 13 de Novembro de 2022
“A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele.” (Ez 18.20).
Para além da responsabilidade individual, a Palavra de Deus se posiciona contra o fatalismo, isto é, contra a ideia de que tudo está determinado por um rígido destino.
Segunda — Dt 24.16
Na lei de Moisés, cada um vive e morre pelos seus próprios atos
Terça — Ec 12.14
Os seres humanos são responsáveis pelos seus atos
Quarta — Jr 31.29
A parábola das uvas verdes e os dentes, um ditado falso
Quinta — Ez 18.2,3
Os exilados da Babilônia deviam rejeitar o uso dessa máxima
Sexta — At 17.30
Deus oferece oportunidade de arrependimento aos pecadores
Sábado — Jo 17.12
É possível o justo se desviar e perder a salvação
Ezequiel 18.20-28.
20 — A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele.
21 — Mas, se o ímpio se converter de todos os seus pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e fizer juízo e justiça, certamente viverá; não morrerá.
22 — De todas as suas transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela sua justiça que praticou, viverá.
23 — Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? Diz o Senhor JEOVÁ; não desejo, antes, que se converta dos seus caminhos e viva?
24 — Mas, desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniquidade, e fazendo conforme todas as abominações que faz o ímpio, porventura viverá? De todas as suas justiças que tiver feito não se fará memória; na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com que pecou, neles morrerá.
25 — Dizeis, porém: O caminho do Senhor não é direito. Ouvi, agora, ó casa de Israel: Não é o meu caminho direito? Não são os vossos caminhos torcidos?
26 — Desviando-se o justo da sua justiça e cometendo iniquidade, morrerá por ela; na sua iniquidade que cometeu, morrerá.
27 — Mas, convertendo-se o ímpio da sua impiedade que cometeu e praticando o juízo e a justiça, conservará este a sua alma em vida.
28 — Pois quem reconsidera e se converte de todas as suas transgressões que cometeu, certamente viverá, não morrerá.
71, 422 e 484 da Harpa Cristã.
1. INTRODUÇÃO
A salvação é individual. Você já deve ter ouvido essa expressão. É muito comum em nossas igrejas. O que está por trás dessa expressão é a perspectiva da responsabilidade individual diante de Deus. A Palavra de Deus mostra exatamente essa perspectiva. O pecado é um ato individual e não há nada que o justifique diante de Deus. A única saída para o ser humano pecador é arrepender-se de seus pecados e crer no Evangelho.
2. APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO
A) Objetivos da Lição: I) Explicar a máxima usada em Israel; II) Expor a respeito da abrangência da salvação; III) Pontuar a reação de Israel.
B) Motivação: Vivemos um tempo em que as responsabilidades individuais são solapadas pelas realidades contextuais. Há quem defenda que o criminoso não pague pelos seus crimes por causa de sua “circunstância econômica”. A Palavra de Deus mostra que ricos e pobres, homens e mulheres, enfim, o ser humano de modo geral precisa se arrepender dos seus próprios pecados (Lm 3.39; At 3.19).
C) Sugestão de Método: Até que aqui vimos três leis do ensino: a lei do professor, a lei do aluno e a lei da comunicação. Agora veremos a quarta lei: a lei da lição. Essa lei pode ser resumida pela seguinte sentença: “a verdade a ser ensinada deve ser aprendida através de uma verdade já conhecida”. Só se apresenta um novo conceito depois que o conceito ensinado esteja bem estabelecido. A partir dessa compreensão, você deve levar em conta: 1) Certifique-se de que o aluno compreende o assunto A antes de apresentar o assunto B (por exemplo, só ensine a respeito da salvação depois que os alunos aprenderem a respeito da gravidade do pecado); 2) Trace objetivos progressivos de ensino que consta na lição.
3. CONCLUSÃO DA LIÇÃO
A) Aplicação: Traga exemplos que mostrem o quanto o ser humano é responsável pelas suas atitudes. A história de confissão do pecado do rei Davi traz um bom exemplo para o fechamento desta lição.
4. SUBSÍDIO AO PROFESSOR
A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na edição 91, p.39, você encontrará um subsídio especial para esta lição.
B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na preparação de sua aula: 1) O texto “Responsabilidade Individual (Ez 18.1-20)” traz uma explicação teológica a respeito da relação do pecado dos pais com a vida dos filhos; 2) O texto “Os Justos podem Cair da graça (Ez 18.21-32)” traz uma excelente abordagem a respeito da possibilidade da queda do justo.
INTRODUÇÃO
O ponto de partida desta lição é uma máxima muito usada em Jerusalém e, também, entre os exilados de Babilônia que diziam: “Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram” (Jr 31.29; Ez 18.2). Com base nesse ditado, eles diziam que estavam sendo punidos por causa dos pecados de seus antepassados.
Palavra-Chave:
RESPONSABILIDADE
I. SOBRE A MÁXIMA USADA EM ISRAEL
1. Uma máxima equivocada. O ditado popular “Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram” se baseava numa interpretação equivocada sobre o terceiro mandamento do Decálogo (Êx 20.5; Dt 5.9). A maldição não é hereditária, ela só permanece quando os filhos continuam nos pecados dos pais; veja a expressão “daqueles que me aborrecem”. É um princípio divino estabelecido desde a lei de Moisés (Dt 24.16). Isso é lembrado na história de Israel (2Rs 14.5,6).
2. Jeremias e Ezequiel trataram do assunto. A palavra profética em Jeremias é escatológica. A seção de Jeremias 30-33 é o Livro da Consolação, que não foi editado separadamente como Lamentações, essa parte da profecia anuncia a restauração de Israel e de Judá e contempla o futuro glorioso da nação unificada. Esse oráculo está nesse contexto, como nos revela também a profecia no livro de Jeremias (Jr 31.29,30). É nesse contexto escatológico que nunca mais será pronunciado em Israel tal provérbio popular. Mas a proibição anunciada por Ezequiel é imediata (Ez 18.2,3).
3. O problema em nosso tempo. A doutrina das “uvas verdes e dentes embotados” que predominou o imaginário popular de Israel (Jr 31.29; Ez 18.2) veio a ser parte do cardápio doutrinário de um movimento infiltrado em algumas igrejas conhecido como “Batalha Espiritual”. Essa parte do ensino é a conhecida extravagante doutrina da maldição hereditária. Quando alguém se converte a Cristo, deixa de aborrecer a Deus, logo, essa passagem do terceiro mandamento do Decálogo não pode se aplicar aos crentes (Rm 5.8-10), pois eles se tornam em uma nova criatura, pois “as coisas velhas já passaram, e eis que tudo se fez novo” (2Co 5.17). Devemos orar e agir para que esses ensinos equivocados não prosperem em nossas igrejas (Jd v.3).
SINOPSE I
A máxima popular “Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram” remetia à ideia de que os filhos pagariam os pecados dos pais.
II. SOBRE A SALVAÇÃO PARA TODOS OS SERES HUMANOS
1. Há esperança para o pecador (vv.21,22,23). Essa ideia está muito clara no capítulo inteiro, que, para não deixar dúvidas, Ezequiel afirma de maneira direta (vv.4,20), reiterando diversas vezes com exemplos claros e ilustrações. A vontade de Deus é a salvação de todos os seres humanos para que ninguém se perca, e nisso o profeta antecipa o pensamento do Novo Testamento (Jo 5.40; 1Tm 2.4; 2Pe 3.9).
2. Refutando um pensamento fatalista (v.20). Tanto os exilados na Babilônia como os que estavam em Judá e em Jerusalém acreditavam ou se justificavam numa ideia falsa de que estavam pagando pelos pecados dos pais, mesmo depois da destruição de Jerusalém (Lm 5.7). Deus proíbe o uso desse ditado popular porque a responsabilidade é individual. O profeta Ezequiel fecha a porta fatalista do imaginário popular do povo de Judá e dos exilados de Babilônia. Ele torna claro o pensamento bíblico da responsabilidade individual de maneira textual e direta (v.20). A palavra “alma”, nesse contexto, significa a própria pessoa.
3. Duas situações (vv.2,22,24). O profeta explica, com clareza, os oráculos divinos sobre a relação de Deus com os seres humanos. Se o pecador abandona a sua vida cheia de pecados, todo tipo de maldade, iniquidade e se volta para Deus, tal pessoa é perdoada, e se “fizer juízo e justiça, certamente viverá; não morrerá” (vv.21,22). Mas, se pelo contrário, o justo se desviar de sua justiça e cometer injustiça e iniquidade “conforme todas as abominações que faz o ímpio [ ]. De todas as suas justiças que tiver feito não se fará memória; na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com que pecou, neles morrerá” (v.24). É possível, sim, o salvo perder a salvação temporariamente (Lc 15.32) ou definitivamente (2Pe 2.20-22).
SINOPSE II
O ensino no livro de Ezequiel revela que a salvação está disponível a todos.
RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL (Ez 18.1-20)
“Aqui Ezequiel se torna um teólogo. Ele é geralmente um pastor, preocupado com o cuidado e a cura das almas; ou ele é um profeta, que declara conselhos de Deus com franqueza e determinação. Mas aqui se trata de doutrina. [ ] O que Ezequiel diz é que, mesmo que os filhos possam sofrer por causa dos pecados dos seus pais em uma ordem natural de causa e efeito, Deus não vai castigar um filho pelos pecados do pai e também não considerará justo o filho injusto porque seu pai foi justo. Duas vezes no capítulo Ezequiel diz: a alma que pecar, essa morrerá (4,20)” (Comentário Bíblico Beacon: Isaías a Daniel. Volume 4. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p.456).
III. SOBRE A REAÇÃO DE ISRAEL
1. Uma pergunta retórica (v.25). Na verdade, são duas perguntas: “Não é o meu caminho direito? Não são os vossos caminhos torcidos?”. A pergunta retórica não espera resposta, trata-se de uma afirmação em forma de pergunta. É o que Javé afirma nessa passagem. Esses recursos estilísticos são frequentes nas Escrituras, veja esses exemplos: “Não é Arão, o levita, teu irmão?” (Êx 4.14); “Não errais vós em razão de não saberdes as Escrituras e nem o poder de Deus?” (Mc 12.24; cf. Ez 8.6; Jo 4.35; 6.70; 1Co 10.16). Depois de explicar essa verdade e apresentar os fatos vem a conclusão: os caminhos do Senhor são corretos e os do povo, torcidos.
2. Sobre a justiça. Ezequiel deixa claro mais que o sol do meio-dia que a lei da responsabilidade individual é justa e está de acordo com os atributos divinos. Esse atributo é manifesto no castigo do pecador e na premiação do justo: “O qual recompensará cada um segundo as suas obras” (Rm 2.6). Esse atributo se harmoniza com a santidade de Deus. A Bíblia declara, com todas as letras, que somente Deus é justo, considerando justiça como atributo, no sentido absoluto de perfeição: “Deus é um juiz justo” (Sl 7.11).
3. O arrependimento (vv.27,28). Deus é justo e misericordioso. A retribuição ao pecador contumaz vem depois de muitos anos de apelo ao arrependimento sem resposta do povo. A resposta dada aos críticos deixa claro também que, mesmo o ímpio na sua impiedade, deixando o pecado e voltando a praticar a justiça, tem o perdão. Todos precisam de arrependimento e buscar o perdão de Deus e não acusar o próprio Deus (Is 55.6,7; At 3.19). Essa história se repete em nossos dias, porque é tendência dessas pessoas culparem a Deus pelas suas mazelas. Devemos levar a Palavra de Deus a essas pessoas, pois nenhuma felicidade pode ser plena sem Jesus.
SINOPSE III
A acusação dos exilados em Babilônia contra Javé, seu Deus, de injustiça, se reverte contra eles mesmos.
OS JUSTOS PODEM CAIR DA GRAÇA (Ez 18.21-32)
“Ezequiel explica que se o ímpio se converter de todos os seus pecados [ ] certamente viverá (21). Deus tem prazer em dar-lhe vida (23). Por outro lado, o profeta pergunta: desviando-se o justo da sua justiça [ ] porventura viverá? (24). A resposta é: ‘Não’. De todas as suas justiças [ ] não se fará memória (‘Nenhum de seus atos justos será lembrado’, NVI) [ ] e no seu pecado com que pecou, neles morrerá (24). O profeta explica mais adiante: Desviando-se o justo da sua justiça e cometendo iniquidade, morrerá por ela; na sua iniquidade que cometeu, morrerá (26). Essa pessoa realmente foi justa e realmente caiu da graça. Se ela não voltar para Deus, mas morrer em seu estado caído, sofrerá a ira santa de Deus.
A ideia, aceita amplamente no Protestantismo, de que se alguém tornar-se um cristão não pode cair da graça e perder-se vai contra o ensino desse texto. Isso foi ensinado por João Calvino (1509-1564), pelos calvinistas nos tempos de Jacó Armínio, e continua sendo ensinado por muitos teólogos calvinistas, que, mesmo assim, aceitam o arminianismo em outros pontos importantes — e.g. que qualquer pessoa pode ser salva. É difícil entender como alguém pode conciliar a teologia de ‘uma vez na graça, sempre na graça’ com o claro ensino bíblico dessa passagem” (Comentário Bíblico Beacon: Isaías a Daniel. Volume 4. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, pp.456,457).
CONCLUSÃO
Depois de refutar o imaginário popular de que Deus estivesse sendo injusto pelo castigo do povo, o profeta chama os seus leitores para uma reflexão. Esse discurso soteriológico é muito importante e continua atual na vida da igreja e na pregação cristã. É nossa responsabilidade levar essa mensagem aos perdidos da terra.
1. O que significava a máxima “Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram”?
Com base nesse ditado, eles diziam que estavam sendo punidos por causa dos pecados de seus antepassados.
2. Como se chama o movimento que hoje segue esse pensamento das uvas verdes e dentes embotados?
Esse movimento é conhecido como “Batalha Espiritual” que inclui a doutrina da maldição hereditária.
3. Por que Deus proibiu o uso desse ditado popular em Israel?
Deus proíbe o uso desse ditado popular porque a responsabilidade é individual. O profeta Ezequiel fecha a porta fatalista do imaginário popular do povo de Judá e dos exilados de Babilônia.
4. Qual a conclusão depois de Ezequiel explicar a verdade e apresentar os fatos?
Depois de explicar essa verdade e apresentar os fatos vem a conclusão: os caminhos do Senhor são corretos e os do povo, torcidos.
5. Qual a tendência das pessoas hoje ao explicar suas aflições?
É tendência dessas pessoas culparem a Deus pelas suas mazelas.
A RESPONSABILIDADE É INDIVIDUAL
Após a destruição de Jerusalém e com o exílio babilônico, havia uma compreensão equivocada na mente dos israelitas. Eles não admitiam que o juízo divino trazido sobre a nação era correto, visto que os pais haviam pecado, porém os filhos estavam carregando indevidamente as consequências de seus erros (Ez 18.2). No comentário da lição, fica clara a desconstrução do falso conceito de maldição hereditária, encontrado no ditado popular de Israel, que dizia: “Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram”. O próprio Deus se encarrega de afirmar ao profeta que tais palavras deveriam ser proibidas, pois não refletiam a verdade sobre os últimos acontecimentos.
O castigo sobreveio em razão da rebeldia contumaz dos israelitas e permaneceria sobre todos os que continuassem na condição de pecado. O fato é que a dureza de coração e a cauterização do entendimento deles eram tão intensas a ponto de pensarem que Deus estava sendo injusto com a nação ao trazer tamanha punição. A ignorância do povo, assim como a procura por justificativas insustentáveis eram sinais da cegueira espiritual. Em vez de buscarem a face do Senhor com lágrimas sinceras de arrependimento, vestirem-se de saco e cinza, humilhando-se perante Deus, e se converterem de seus maus caminhos, eles preferiam questionar os caminhos do Senhor.
A mensagem de Deus ao profeta tinha caráter normativo para os israelitas que sofreram com o cativeiro. Eles deveriam aceitar o castigo divino e converterem-se dos seus maus caminhos, pois a promessa de Deus era a restauração completa da nação. De outro modo, a mensagem possuía também caráter escatológico, indicando a maneira como Deus lida com todos os pecadores. O pecado original trouxe sequelas permanentes para a natureza humana. Como afirma Stanley Horton, toda a humanidade, em algum sentido, está vinculada a Adão. Por causa dele, todas as pessoas estão fora da bem-aventurança do Éden (Rm 5.12-21; 1Co 15.21,22). Teologicamente, essa ideia recebe o nome de solidariedade, visto que todos compartilham da mesma culpa. Outro conceito é o de corrupção, isto é, a natureza humana está deteriorada e não pode fazer o que é espiritualmente bom sem a ajuda graciosa de Deus (CPAD, 1996, p.269).
Apesar da herança pecaminosa estar presente na natureza humana, sujeitar-se às suas inclinações é uma escolha individual. Deus já proveu o meio pelo qual o pecador pode encontrar não apenas a remissão da culpa, como também o novo nascimento (Jo 3.36).