Título: Na cova dos leões — O exemplo de fé e coragem de Daniel para o testemunho cristão em nossos dias
Comentarista: Valmir Nascimento
Lição 1: Daniel: uma jornada de fidelidade
Data: 7 de julho de 2024
“E disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, e da linhagem real, e dos nobres.” (Dn 1.3).
Daniel é um exemplo inspirador de fidelidade em uma cultura hostil.
SEGUNDA — Mt 24.15
Jesus testifica de Daniel
TERÇA — Jr 46.2
Nabucodonosor vence o Egito
QUARTA — Jr 36.20-26
A impiedade do rei
QUINTA — 2Cr 36.14
Um povo infiel
SEXTA — Hb 12.6
O Senhor corrige quem Ele ama
SÁBADO — 2Co 10.5
Destruindo os conselhos contrários
Prezado(a) professor(a), é com grande alegria e com a graça de Deus que damos início a um novo trimestre. Neste período, teremos a oportunidade de estudar treze lições do livro do profeta Daniel, cujo exemplo de fé, coragem e fidelidade ao Senhor em meio a uma cultura secularista e relativista serve de inspiração para todos nós, que vivemos como estrangeiros nesta Terra. O comentarista é o Pr. Valmir Nascimento, jurista, mestre em Teologia e doutorando em Filosofia. Ele é pastor auxiliar na Assembleia de Deus em Cuiabá, MT, onde preside o Conselho de Educação e Cultura local e do estado. Autor de várias obras publicadas pela CPAD. Nossa oração é para que este trimestre seja repleto de bênçãos e crescimento espiritual.
Professor(a), ao iniciar um novo trimestre, é fundamental ressaltar a importância e a atualidade do tema que será estudado. Isso não apenas demonstra a relevância da lição, mas também desperta o interesse dos jovens e incentiva sua participação ativa. Para isso, comece a aula solicitando que os alunos compartilhem suas expectativas em relação ao estudo do livro de Daniel. Isso permite que eles expressem suas ideias e se envolvam desde o início. Aproveite para apresentar o esboço de todo o livro, conforme esquema abaixo:
I. A HISTÓRIA DO EXÍLIO DE DANIEL, 1.1-21
Prelúdio Histórico, 1.1-2
Jovens Provados, 1.3-16
Integridade vindicada, 1.17-21
II. APOCALIPSE CALDEU, 2.1 — 7.28
O Sonho de Nabucodonosor, 2.1-29
A Estátua Colossal de Nabucodonosor, 3.1-30
O Julgamento Pessoal de Nabucodonosor, 4.1-37
A Queda do Império Caldeu, 5.1-31
O Reinado de Dario, o Medo, 6.1-28
Impérios Ascendem e Minguam até a Consumação, 7.1-28
III. O APOCALIPSE HEBRAICO, 8.1 — 12.13
A Visão de Daniel de Impérios em Guerra, 8.1-27
A Intercessão de Daniel por Israel, 9.1-27
Daniel 1.5-14.
5 — E o rei lhes determinou a ração de cada dia, da porção do manjar do rei e do vinho que ele bebia, e que assim fossem criados por três anos, para que no fim deles pudessem estar diante do rei.
6 — E entre eles se achavam, dos filhos de Judá, Daniel, Hananias, Misael e Azarias.
7 — E o chefe dos eunucos lhes pôs outros nomes, a saber: a Daniel pôs o de Beltessazar, e a Hananias o de Sadraque, e a Misael, o de Mesaque, e a Azarias o de Abednego.
8 — E Daniel assentou no seu coração não se contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto, pediu ao chefe dos eunucos que lhe concedesse não se contaminar.
9 — Ora, deu Deus a Daniel graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos.
10 — E disse o chefe dos eunucos a Daniel: Tenho medo do meu senhor, o rei, que determinou a vossa comida e a vossa bebida; por que veria ele os vossos rostos mais tristes do que os jovens que são vosso iguais? Assim, arriscareis a minha cabeça para com o rei.
11 — Então, disse Daniel ao despenseiro a quem o chefe dos eunucos havia constituído sobre Daniel, Hananias, Misael e Azarias:
12 — Experimenta, peço-te, os teus servos dez dias, fazendo que se nos deem legumes a comer e água a beber.
13 — Então, se examine diante de ti a nossa aparência e a aparência dos jovens que comem a porção do manjar do rei, e, conforme vires, te hajas com os teus servos.
14 — E ele conveio nisso e os experimentou dez dias.
INTRODUÇÃO
Neste trimestre, teremos o privilégio de nos aprofundar nos estudos do Livro de Daniel. Considerado o “Apocalipse do Antigo Testamento”, em virtude das revelações e visões escatológicas que o Senhor deu ao profeta, Daniel é um livro histórico e profético. Ele abrange o período no qual os israelitas estiveram exilados na Babilônia, destacando as experiências marcantes e desafiadoras de Daniel e seus amigos em terra estrangeira.
Ao percorrermos os seus 12 capítulos, seremos conduzidos a uma compreensão mais profunda da relevância e urgência da mensagem de Daniel para os nossos dias. Daniel é um exemplo inspirador para os cristãos em geral e os jovens em particular. Seu testemunho de vida nos encoraja a enfrentar as adversidades e a cultura secularizada, pluralista e neopagã que predomina na sociedade ocidental contemporânea. É um modelo de líder levantado por Deus numa cultura hostil.
Na primeira lição, teremos uma visão panorâmica do livro e do seu contexto, e o início da vida dos jovens hebreus no cativeiro babilônico.
I. O LIVRO DE DANIEL
1. Panorama geral. Os 12 capítulos do Livro de Daniel percorrem um longo período histórico que começa com a primeira invasão babilônica ao Reino de Judá (605 a.C.), até a queda da Babilônia diante de Ciro da Pérsia (536 a.C.). O livro narra a trajetória de Daniel e de seus amigos, destacando os desafios culturais, políticos, morais e espirituais que eles suportaram em terra estrangeira. Ao longo de todo esse tempo, o profeta viveu e serviu com fidelidade a Deus perante as cortes imperiais, desde a juventude até a sua velhice. Também registra as mensagens proféticas que o Senhor lhe revelou, inclusive interpretações de sonhos, visões de animais simbólicos e uma visão detalhada dos eventos escatológicos. Por isso, o livro é chamado de “Apocalipse do Antigo Testamento”.
2. Autoria e mensagem. É dominante entre estudiosos judeus e cristãos que o autor deste livro é o próprio Daniel, conforme atestam as evidências internas (Dn 8.15,27; 9.2; 10.2) e a referência de Jesus ao profeta (Mt 24.15). Os seus registros históricos revelam um período crucial e angustiante para os israelitas, no qual viveram exilados em meio a uma cultura diferente e hostil. O seu conteúdo vibrante compõe uma mensagem repleta de significados e ensinamentos. Destaca a necessidade de o crente manter a fé inabalável em momentos de adversidades e nos recorda de que podemos ser íntegros em qualquer ambiente. Mostra que Deus é soberano e o Senhor da história, pois o reino, o domínio e a majestade dos reinos lhe pertencem (Dn 7.27).
3. Estrutura e peculiaridades. Por se tratar de um documento histórico, e ao mesmo tempo, profético, é possível dividir o livro em duas seções que formam um todo perfeito. Na primeira parte (capítulos 1 a 6), são narrados os fatos e as experiências importantes na vida de Daniel dentro da Babilônia. Na segunda (capítulos 7 a 12), estão as visões e as mensagens proféticas, que revelam acontecimentos dos séculos seguintes e até o tempo do fim. Uma das peculiaridades do Livro de Daniel é que, embora seja considerado um profeta, Daniel não profetizou diretamente ao povo, como outros profetas do Antigo Testamento. Em vez disso, ele serviu como um conselheiro e intérprete de sonhos e visões para reis e governantes da Babilônia. Outra característica notável deste livro é o uso de duas línguas diferentes. A maior parte, do capítulo 2 ao capítulo 7, está escrita em aramaico. Os capítulos 1 e 8 até o final do livro são escritos em hebraico. Essa mudança de língua reflete a natureza do livro, que abrange eventos ocorridos na Babilônia e profecias relacionadas a Israel.
“A história de Daniel é uma história de fé extraordinária depositada em Deus e vivida no auge do poder executivo no pleno resplendor da vida pública. Relata os acontecimentos cruciais da vida de quatro amigos — Daniel, Hananias, Misael e Azarias — que nasceram no pequeno estado de Judá, no Oriente Médio, em torno de dois mil e quinhentos anos atrás. Como jovens membros da nobreza, ainda adolescentes, foram levados cativos pelo imperador Nabucodonosor e transportados para a capital Babilônia, a fim de serem educados na administração babilônica. Daniel conta que eles subiram aos altos escalões do poder não só do império mundial da Babilônia, mas também do Império Medo-Persa que o sucedeu. [...] O que torna notável a história de fé desses jovens é que eles não só continuaram a devoção particular prestada a Deus que desenvolveram na terra natal, mas também mantiveram um notório testemunho público em uma sociedade pluralista que se tornava cada vez mais antagônica à fé deles. É por isso que sua história tem uma mensagem tão poderosa para nós hoje. As fortes correntezas do pluralismo e do secularismo na sociedade ocidental contemporânea, reforçadas pela correção politicamente paralisante, jogam cada mais para escanteio a expressão da fé em Deus, confinando-a, se possível, à esfera particular.” (LENNOX, John. Contra a Correnteza: A inspiração de Daniel para uma época de Relativismo. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, pp.15,16).
II. COMPREENDENDO O CONTEXTO
1. O contexto histórico. No pano de fundo histórico dos primeiros capítulos do Livro de Daniel, há um cenário de agitação e instabilidade decorrente da disputa pelo predomínio político na região. Em 605 a.C., após derrotar o Faraó Neco do Egito, na Batalha de Carquemis (Jr 46.2), a Babilônia estava se consolidando como grande potência mundial. Liderada por Nabucodonosor, o exército babilônico invadiu e sitiou Jerusalém no terceiro ano do reinado de Jeoaquim (2Rs 24.1-6). Era o início das invasões babilônicas ao Reino de Judá e sua capital. Posteriormente, em duas outras oportunidades, a cidade voltou a ser invadida: em 597 a.C. (2Rs 24.10-14), e a terceira, a maior de todas elas, em 586 a.C., ocasião em que a cidade foi arrasada e o Templo, destruído.
2. Um rei ímpio. Jeoaquim era filho de Josias e sucedeu seu pai como rei de Judá aos vinte e cinco anos de idade (2Rs 23.36). Foi um rei ímpio que não andou nos caminhos do Senhor. O profeta Jeremias proclamou a mensagem de Deus, alertando Jeoaquim e o povo de Judá sobre a vinda do juízo divino devido à idolatria e à injustiça. Ele exortou o rei e o povo a se arrependerem e a se voltarem para Deus. Jeoaquim não apenas rejeitou as palavras do profeta, mas também queimou o rolo no qual a Palavra de Deus estava escrita (Jr 36.20-26).
3. Deus castiga seu povo. Israel havia virado as costas para Deus. Em vez de arrependimento, os líderes e a nação endureceram o coração para não seguirem os seus estatutos (2Cr 36.14). Por essa razão, o Senhor estava disciplinando o povo da promessa, ao permitir o seu cativeiro e a destruição da cidade. O profeta Daniel é enfático ao escrever que foi o Senhor que entregou o rei de Judá nas mãos de Nabucodonosor e permitiu que os utensílios do Templo fossem saqueados e profanados. O Senhor corrige quem Ele ama (Hb 12.6) e toda a história está sob o seu controle. Ele é soberano sobre todas as coisas e até mesmo os ímpios podem ser usados para cumprir a sua vontade!
III. A RELEVÂNCIA DO LIVRO DE DANIEL PARA OS NOSSOS DIAS
1. Um livro para todas as épocas. Olhando para a jornada íntegra deste jovem hebreu até a sua velhice, chegamos à conclusão de que o Livro de Daniel é para todas as épocas. Retirado à força de sua casa, quando ainda tinha cerca de quatorze anos, Daniel foi conduzido até uma terra estrangeira. Dentro de uma cultura hostil, cercado por inimigos, enfrentou diversos ataques e desafios ao longo de sua trajetória. Esteve exilado por mais de setenta anos até o fim da vida. Enfrentou conspirações, mudanças culturais e políticas, sendo pressionado de diversas formas, mas não negando a sua fé. Embora centenas de anos tenham se passado desde a sua época, sua trajetória é um exemplo inspirador para os dias em que estamos vivendo. O Livro de Daniel, por ser a Palavra de Deus, continua atual e a sua mensagem urge para esse tempo. A história de Daniel pode ser a nossa história!
2. Um mundo transtornado. O período do profeta foi um dos mais turbulentos em termos de mudanças geopolíticas na região do Oriente Médio e no Mundo Antigo. Ele viveu em um mundo cujas características se repetem hoje:
a) Mundo frágil e cheio de incertezas. Estudiosos têm caracterizado o período recente, principalmente pós-pandemia, como um mundo frágil, ansioso, não-linear e incompreensível. A Babilônia era palco das transformações e agitações globais da sua época. Daniel viu impérios desmoronarem e reis caírem, enquanto as pessoas sobreviviam com expectativas aterrorizantes. A sua trajetória irá nos ensinar a encontrar resistência e coragem em dias ruins além de esperança numa época de desespero.
b) Mundo com constante transição de poder. Daniel serviu nos impérios babilônico e medo-persa com a mesma fé e fidelidade. Nenhum soberano o fez mudar suas convicções, tampouco o poder o seduziu. Com ele, somos lembrados de que os reis, presidentes e governantes desta terra passam, mas o Senhor permanece para sempre. Não importa quem esteja no poder político, o cristão mantém sua esperança sempre em Deus.
c) Mundo de conflitos e violência. Daniel viu de perto os horrores da destruição provocada pelas guerras entre nações e sentiu na pele o sofrimento decorrente do exílio. Semelhantemente, o mundo contemporâneo continua a ser palco de conflitos internos e internacionais, ações terroristas e violências de todas as formas, provocando dor e migração forçada. Isso nos faz recordar das pessoas que se encontram nessas situações, que precisam da nossa oração, apoio e busca por soluções.
d) Mundo hostil aos valores judaico-cristãos. É possível traçar um paralelo da época de Daniel com o panorama da cultura contemporânea, essencialmente hostil à visão de mundo judaico-cristã. Da mesma forma que aquele jovem hebreu foi pressionado a abandonar sua crença em razão das pressões culturais e religiosas dentro da Babilônia, os cristãos de hoje estão enfrentando ataques severos da cultura anticristã, a exemplo do Relativismo e do Secularismo, dentre outras correntes filosóficas. Como veremos no decorrer do trimestre, o Livro de Daniel nos ensinará a ter sabedoria e inteligência espiritual para combater as estratégias do Inimigo no tempo presente.
3. Devoção e testemunho público. A inspiração do Livro de Daniel vai além da devoção pessoal. O seu testemunho nos mostra que a sua convicção não estava confinada ao ambiente privado, preferindo enfrentar os leões a renunciar uma confissão pública da fé. Ele é um grande exemplo bíblico de como podemos usar a sabedoria e o conhecimento de Deus para testificar em diversos lugares da sociedade.
CONCLUSÃO
O livro de Daniel possui uma mensagem singular para a Igreja na atualidade. A sua vida na Babilônia é um exemplo de coragem, fé e integridade diante de circunstâncias adversas. Ele nos ensina a confiar em Deus em todas as situações e a buscar a sua vontade para a nossa vida.
LENNOX, John. Contra a Correnteza. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
1. Por que o Livro de Daniel é considerado o “Apocalipse do Antigo Testamento”?
Porque registra as mensagens proféticas que o Senhor revelou a Daniel, inclusive interpretações de sonhos, visões de animais simbólicos e uma visão detalhada dos eventos escatológicos.
2. Em quantas partes podemos dividir o Livro de Daniel?
Em duas. Na primeira parte (capítulos 1 a 6), são narrados os fatos e as experiências importantes na vida de Daniel dentro da Babilônia. Na segunda parte (capítulos 7 a 12), estão as visões e as mensagens proféticas.
3. Quem entregou Jeoaquim, rei de Judá, nas mãos de Nabucodonosor?
O Senhor (Dn 1.2).
4. O que Daniel enfrentou ao longo da sua vida?
Enfrentou conspirações, mudanças culturais e políticas.
5. O que o testemunho de Daniel nos mostra?
O seu testemunho nos mostra que a sua convicção não estava confinada ao ambiente privado, preferindo enfrentar os leões a renunciar uma confissão pública da fé.