Título: Na cova dos leões — O exemplo de fé e coragem de Daniel para o testemunho cristão em nossos dias
Comentarista: Valmir Nascimento
Lição 6: Coragem para enfrentar a fornalha ardente
Data: 11 de agosto de 2024
“Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar; ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e da tua mão, ó rei.” (Dn 3.17).
Se demonstrarmos a coragem de recusar a idolatria, podemos confiar que Deus nos protegerá.
SEGUNDA — Êx 20.3
Não terás outros deuses
TERÇA — 2Tm 1.7
Deus não nos deu o espírito de covardia
QUARTA — Rm 8.33-37
É Deus que nos justifica
QUINTA — Cl 2.8
Cuidado com as ideologias
SEXTA — 2Tm 3.2
Amantes de si mesmos, um tipo de idolatria
SÁBADO — Mt 6.24
Não podemos servir a Deus e a Mamom
Prezado(a) professor(a), na sequência do livro de Daniel, mais especificamente no capítulo 3, nos deparamos com uma história muito conhecida, repleta de coragem e ousadia. Esta passagem descreve o momento em que o rei Nabucodonosor decretou que todos se curvassem diante de uma imponente estátua que ele havia erguido, com a pena de serem queimados vivos na fornalha em caso de desobediência. Sem a menção de Daniel no ocorrido, veremos que os três jovens hebreus — Ananias, Misael e Azarias — possuíam a mesma tenacidade e fidelidade do seu líder. Em toda a sua profundidade, a narrativa nos fornece um importante ponto de contato com as tentativas contemporâneas de imposição totalitária, tanto religiosas quanto seculares. Também nos leva a perceber os perigos das formas mais sutis de idolatria, que procuram, de maneiras diversas, retirar a primazia de Deus em nossas vidas.
Prezado(a) professor(a), comece a aula contextualizando o capítulo 3. Explique o cenário, o rei Nabucodonosor e a construção da estátua de ouro. Destaque o desafio que os três jovens enfrentaram diante da ordem imperial de adoração do ídolo. Em seguida, promova uma discussão em classe, incentivando os alunos a compartilhar suas impressões e observações sobre a história. Discuta como os personagens agiram diante da ameaça da fornalha ardente. Peça aos alunos que reflitam sobre situações da vida real em que a coragem e a fé são necessárias. Eles podem escrever ou compartilhar exemplos de desafios pessoais, éticos ou morais que exigem decisões difíceis. Convide-os a compartilhar suas reflexões sobre situações modernas que exigem coragem para resistir às novas formas de idolatria no mundo.
Daniel 3.1-6.
1 — O Rei Nabucodonosor fez uma estátua de ouro, cuja altura era de sessenta côvados, e a sua largura, de seis côvados; levantou-a no campo de Dura, na província de Babilônia.
2 — E o rei Nabucodonosor mandou ajuntar os sátrapas, os prefeitos, os presidentes, os juízes, os tesoureiros, os conselheiros, os oficiais e todos os governadores das províncias, para que viessem à consagração da estátua que o rei Nabucodonosor tinha levantado.
3 — Então, se ajuntaram os sátrapas, os prefeitos, os presidentes, os juízes, os tesoureiros, os conselheiros, os oficiais e todos os governadores das províncias, para a consagração da estátua que o rei Nabucodonosor tinha levantado, e estavam em pé diante da imagem que Nabucodonosor tinha levantado.
4 — E o arauto apregoava em alta voz: Ordena-se a vós, ó povos, nações e gente de todas as línguas:
5 — Quando ouvirdes o som da buzina, do pífaro, da harpa, da sambuca, do saltério, da gaita de foles e de toda sorte de música, vos prostrareis e adorareis a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor tem levantado.
6 — E qualquer que se não prostrar e não a adorar será na mesma hora lançado dentro do forno de fogo ardente.
INTRODUÇÃO
Nesta lição trataremos do episódio em que Ananias, Misael e Azarias resistem bravamente à ordem de Nabucodonosor para que todos adorassem a estátua de ouro por ele erigida. Esse é um relato de como três jovens tementes a Deus ousam enfrentar um monarca tirano e totalitário que procurou impor sua religião a todas as pessoas. Mesmo ameaçados de morte, eles não negaram ao Deus Altíssimo, preferindo enfrentar a fornalha ardente. Neste estudo, além de inspirados pela resistência dos jovens hebreus, seremos advertidos sobre os cuidados com as formas sutis de idolatria que procuram retirar a centralidade de Deus de nossas vidas.
I. O REI TOTALITÁRIO MANDA CONSTRUIR UMA ESTÁTUA DE OURO
1. O endeusamento do rei. Ao longo da história muitos homens tentaram assumir a posição de deuses, em busca de glória e reverência. Envenenado pelo poder, Nabucodonosor também fez isso. O monarca mandou construir no campo de Dura uma estátua de ouro com mais de vinte e sete metros de altura. O fato de ter ouvido anteriormente que ele era a cabeça de ouro da estátua de seu próprio sonho seria a causa dessa soberba construção? A Bíblia não dá detalhes sobre isso. Também não menciona de quem era a representação da imagem, se dele mesmo ou se de alguma de suas divindades. Seja como for, vemos aqui um ato extremo de auto-exaltação e demonstração de poder. Muitas vezes a religião é somente um pretexto para alguém esconder o desejo de ser notado pelo mundo, usando-a para fins egoístas. Não era incomum também entre os monarcas babilônios o levantamento de imagens em sua própria honra.
2. Em busca de adoração. O rei extravagante mandou convocar todas as autoridades do seu reino para comparecerem à cerimônia de consagração da imagem levantada. Mais que um simples convite, era uma ordem! Dessa forma ele queria impor sua religião a todos. Além da presença, todos deveriam se prostrar em adoração diante da suntuosa imagem assim que os instrumentos fossem tocados. A estátua sobrepujava um objeto arquitetônico; era um ídolo que deveria ser reverenciado por todos os súditos, tanto que a palavra “adorar” (hb. sãghadh) é mencionada diversas vezes (vv.5-7,10-12,14,15,18,28). A punição para o descumprimento seria a morte dentro da fornalha.
A solenidade é extravagante e pomposa. Assim que os instrumentos musicais fossem tocados, todos, incluindo as autoridades, deveriam se prostrar e adorar a imagem levantada pelo rei.
3. A ausência de Daniel. Daniel não é mencionado neste episódio. Onde estava e o que fazia na ocasião não é revelado. Mesmo aqui extraímos algumas lições. O fato dele não estar diretamente envolvido nesse relato, apesar de ser o personagem humano principal no livro, indica que a coragem e a fé não eram exclusivas dele. Mostra que a fé e a fidelidade ao Senhor eram qualidades compartilhadas igualmente pelos outros jovens judeus. Além disso, o fato de Daniel, autor do livro, ter registrado o episódio sem a sua presença, demonstra sua humildade ao não se colocar como a única testemunha fiel na Babilônia, mas sim como alguém que deseja transmitir as lições e os exemplos de fé de seus companheiros. A fidelidade não é exclusiva de alguém. Da mesma forma, não existem heróis solitários na vida cristã e sempre há alguém com que podemos contar. A igreja é um corpo, formado por muitos membros (Rm 12.4,5).
“[...] uma estátua de ouro [...]
Alguns comentadores de renome têm pensado que a estátua do presente texto fosse uma ‘imagem do deus Merodaque, o padroeiro da cidade de Babilônia; ou do deus Nebo, do qual derivava o nome do rei’. Outros, porém são de opinião que a estátua ali erigida era do próprio monarca Nabucodonosor (Ver Jz 8.27; 2Sm 18.18). Entre os antigos conquistadores era natural que, após uma grande conquista, o conquistador fizesse uma estátua de sua própria pessoa, gravando nela o seu nome e o nome de seu deus Segundo Heródoto, a ‘estátua de Sesostris, do Egito, tinha na largura do peito, de ombro a ombro, uma inscrição com os caracteres sagrados do Egito, onde se lia: Com meus próprios ombros conquistei esta terra’. E, segundo Cícero, havia ‘uma bela estátua de Apolo, em cuja coxa estava o nome de Miro, em minúsculas letras de prata’. Pode, de fato, ser imaginado que a estátua erigida ali, fosse a do próprio rei, contendo, na altura do peito, o nome de seu deus (compare com Ap 13.15). Quanto ao testemunho da Arqueologia, Operte, que fez escavações nas ruínas de Babilônia, em 1854, achou o pedestal de uma colossal estátua que pode ter sido um resto da gigante imagem de ouro de Nabucodonosor” (SILVA, Severino Pedro da. Daniel Versículo por Versículo: As Visões para Estes Últimos Dias. Rio de Janeiro: CPAD, 1985, pp.53,54).
II. A CORAGEM DOS AMIGOS DE DANIEL
1. A denúncia e o perfil dos acusadores. Diante do decreto, alguns caldeus (3.8) se dirigem ao rei e denunciam o trio de jovens hebreus, dizendo: “Há uns homens judeus, que tu constituíste sobre os negócios da província de Babilônia: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego; esses homens, ó rei, não fizeram caso de ti: a teus deuses não servem, nem a estátua de ouro, que levantaste, adoraram” (3.12). Em primeiro lugar, as palavras dos acusadores revelam que eram invejosos, ao mencionar a posição privilegiada que os jovens judeus conquistaram em tão pouco tempo. Em segundo lugar, eram bajuladores, ao apelarem para o ego do rei (“não fizeram caso de ti”). Em terceiro lugar, eram ingratos, porquanto se esqueceram que eles tiveram a vida poupada pela intervenção de Daniel e destes jovens que agora denunciam (2.24).
2. A bravura dos jovens. Tomado de fúria, o rei manda chamar os três rapazes e lhes dá o ultimato: se adorassem a estátua estariam livres; do contrário seriam lançados imediatamente na fornalha. Em sua prepotência, ainda diz: “[...] e quem é o Deus que vos poderá livrar das minhas mãos?” (v.15). Mostrando profunda convicção e força de caráter, que se manifesta em crentes sinceros que não se acovardam (2Tm 1.7), os três rapazes rejeitam até mesmo se defender. Eles não precisam se justificar diante da injustiça; é Deus quem os justifica (Rm 8.33). Com bravura, afirmam que se forem lançados na fornalha Deus os livrará. E mesmo se isso não ocorresse, em hipótese alguma iriam cultuar a imagem (v.18). Não negociaram a fé. Mesmo que as pessoas mais influentes tivessem cedido e ainda que a multidão tenha se curvado à estátua, eles não o fariam. Tal resposta mostra que estes jovens eram novos em idade, mas maduros na fé. Sabiam que eventualmente, dependendo da vontade de Deus, estariam preparados para a morte. Preferiam morrer a ceder ao pecado!
3. O Deus que salva na fornalha. Nabucodonosor mandou aquecera fornalha sete vezes mais, e determinou que os moços fossem amarrados e jogados dentro dela. E o milagre acontece. O próprio rei percebeu que eles não estavam sós, mas havia um quarto homem com eles, com aparência divina. Eles estão vivos, e caminham livremente pelo fogo (v.25). O fogo queimou as cordas, mas eles estão ilesos. O Senhor permite que passemos por vales e provações, mas sempre está conosco (Is 43.2; Mt 28.20). Como resultado da fidelidade e bom testemunho dos jovens, o rei, agora, em vez de exigir adoração, louva a Deus (v.28). Quando o crente é fiel, o Senhor é exaltado. Quando o crente honra a Deus, Deus também o honra (v.26).
“A religião e o estado
Fomos apresentados à questão dos valores em Daniel 1, onde observamos que o modo de Nabucodonosor tratar os utensílios do Templo de Jerusalém representa a tendência generalizar de relativizar o absoluto. Em Daniel 2, é mostrado para Nabucodonosor que nenhum Estado ou sistema político tem valor absoluto aos olhos de Deus. No entanto, agora, em Daniel 3, Nabucodonosor desafia a noção, fazendo do seu império e governo um absoluto, na medida em que insiste em ser tratado como deus e adorado. E assim, Nabucodonosor absolutiza o relativo.” (LENNOX, John. Contra a Correnteza: A Inspiração de Daniel para uma Época de Relativismo. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p.155).
III. IDOLATRIAS E FORNALHAS DO TEMPO PRESENTE
1. O pecado da idolatria. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento a Palavra de Deus adverte enfaticamente sobre a idolatria (Dt 5.7; 1Co 10.14; Gl 5.20; 1Pe 4.3). É um pecado grave que viola o primeiro mandamento (Êx 20.3). É a adoração a um ídolo, uma imagem ou qualquer outra coisa que seja considerada um falso deus ou objeto de adoração no lugar do Deus verdadeiro. Por essa razão, os jovens hebreus se negaram a atender à ordem do rei. A sua nação estava sendo castigada pelo Senhor por causa da idolatria, e eles não estavam dispostos a cometer o mesmo erro do povo. Eles não chegaram a considerar sequer a possibilidade de realizar uma adoração falsa em público enquanto mantinham a fé em Deus dentro de seus corações. Sabiam eles que qualquer forma de compromisso com a idolatria já era uma negação de Deus, pois o verdadeiro testemunho é baseado na integridade, expresso pelos lábios e guardado no coração.
2. Tipos de idolatria. Além da devoção religiosa a falsos deuses e imagens de escultura, a idolatria também pode se manifestar em várias outras condutas que excluem a primazia do Senhor da vida:
a) Autolatria. Forma de idolatria própria que conduz ao egoísmo, ao individualismo e ao narcisismo. Quando o ego e a autoimagem são colocados acima de tudo, as pessoas se tornam amantes de si mesmas (2Tm 3.2).
b) Culto à personalidade. Valorização e veneração excessiva de outras pessoas, tais como figuras públicas, artistas, influencers e até mesmo religiosos. Paulo combateu esse tipo de prática que levava ao partidarismo na igreja de Corinto (1Co 1.12,13).
c) Amor ao dinheiro e à riqueza. A busca desenfreada por riqueza e o foco no dinheiro como o principal objetivo da vida. Jesus disse que ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom (Mt 6.24).
d) Idolatria política. Esse pecado também se manifesta na supervalorização de ideias e formas de pensamento segundo a tradição dos homens (Cl 2.8). Em nossos dias, novas formas de idolatria se escondem em ideologias políticas que prometem algum tipo de salvação ou redenção humana. Devemos ter a convicção de que nenhum homem, partido e nem mesmo o Estado é capaz de salvar. Só temos um Deus e Salvador!
3. As novas fornalhas. Nabucodonosor não foi o único governante a exigir das pessoas lealdade absoluta. Esse tipo de regime totalitário aconteceu diversas vezes na história, transformando o Estado ou o líder político em objeto de reverência absoluta, por meio do culto à personalidade. É um sistema no qual o governo possui controle sobre todos os aspectos da vida dos cidadãos, e não há espaço para oposição política ou liberdades individuais. Em muitos casos, a religião é distorcida e usada como instrumento desse tipo de regime.
Em nossa cultura ocidental, os cristãos estão sendo empurrados para formas atualizadas de fornalhas ardentes. Elas não queimam o corpo, mas tentam destruir a fé. a espiritualidade e as convicções daqueles que servem ao Deus das Escrituras. Pensamentos totalitários procuram jogar os cristãos para a morte na cultura, caso não adoremos os seus ídolos. As fornalhas são novas, mas a estratégia é antiga. Vale a pena seguir o exemplo dos jovens hebreus e batalhar pela fé.
CONCLUSÃO
Muitos anos se passaram desde o episódio em que os jovens hebreus enfrentaram a ameaça de serem lançados em um forno ardente por não adorarem a estátua do rei. Hoje, a Igreja de Cristo se depara com pressões para ceder às ideologias prejudiciais. E essencial encontrar a coragem de resistir a essas pressões idólatras evidentes e, ao mesmo tempo, discernimento para evitar a adoração de Ídolos que sutilmente se ocultam em outras formas de expressão.
NASCIMENTO, Valmir. Entre a Fé e a Política. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.
1. Em que local o Nabucodonosor mandou construir a estátua de ouro?
No campo de Dura.
2. O fato de Daniel não estar diretamente envolvido nesse relato, apesar de ser o personagem humano principal no livro, indica o quê?
Indica que a coragem e a fé não eram exclusivas dele.
3. Quantas vezes Nabucodonosor mandou aquecer a fornalha?
Sete vezes mais.
4. O que é a idolatria?
É um pecado grave que viola o primeiro mandamento (Êx 20.3). É a adoração a um ídolo, uma imagem ou qualquer outra coisa que seja considerada um falso deus ou objeto de adoração no lugar do Deus verdadeiro.
5. Além da devoção religiosa a falsos deuses e imagens de escultura, de que outra forma a idolatria pode se manifestar?
Autolatria, culto à personalidade, amor ao dinheiro e à riqueza e idolatria política.